VIII. MELHORIA DAS RELAÇÕES DESDE 1949
A Conferência de 1958
A situação começou a melhorar a partir de dezembro de 1949, devido à publicação em Roma de uma instrução que exortava todos os bispos "não apenas a velar diligentemente e eficazmente sobre todo esse movimento (em vista da unidade cristã), mas também a promovê-lo e dirigi-lo com prudência"[63].
Essa instrução marca um ponto de virada decisivo na atitude do Vaticano em relação ao movimento ecumênico. Ela é a origem da melhoria lenta, mas contínua, que, desde 1950, e em particular sob o pontificado de João XXIII, tem ocorrido nas relações entre a Igreja de Roma e as outras Igrejas cristãs.
A melhoria assim inaugurada foi registrada com satisfação pelo relatório apresentado pela comissão ecumênica na Conferência de Lambeth de 1958:
Embora a Igreja católica romana mantenha sua convicção de que o único objetivo da reunião seja a submissão à papalidade, alguns sinais, que são bem-vindos, mostram que as autoridades romanas reconhecem mais a importância do movimento ecumênico[64].
O relatório, em consequência, dedicou uma breve análise à instrução do Santo Ofício sobre o diálogo ecumênico e ressaltou a participação crescente dos fiéis de todas as Igrejas na Semana Universal de Oração pela Unidade Cristã, de 18 a 25 de janeiro, “com uma ampla aprovação das autoridades católicas romanas”[65].
A comissão manifestou seu acordo com a fórmula da intenção de oração proposta pelo presbítero Couturier para a Semana da Unidade. Essa fórmula exclui qualquer a priori quanto ao caminho da unidade, uma vez que a oração pede que a unidade dos cristãos se realize “como Cristo a quer e pelos meios que Ele desejar”. A comissão é da opinião de que “a observância simultânea dessa Semana pelos católicos romanos e pelos membros de outras Igrejas é uma contribuição valiosa à busca da unidade”[66].
Esse era, portanto, em 1958, o estado das relações entre a Comunhão anglicana e a Igreja de Roma, após mais de meio século de oração, expectativa, reflexão e ação.
Os anos transcorridos desde então testemunharam profundas mudanças na situação ecumênica, graças ao interesse, à compreensão e à caridade do papa João XXIII em relação ao movimento ecumênico. O Concílio Vaticano II, que deveria abrir-se em 11 de outubro de 1962, tinha como principal objetivo o renovamento interior da Igreja de Roma. Mas sabe-se que o papa também o via como uma contribuição essencial para a promoção da unidade cristã.
Não faltam sinais que atestam que a melhoria das relações não se deve apenas à celebração do Concílio em si. Pode-se pensar também em todo o trabalho desencadeado pelas comissões pré-conciliares, que deve continuar posteriormente. Pode-se ainda considerar o Secretariado para a Unidade, presidido pelo cardeal Bea, que tem por tarefa manter relações com os representantes das outras Igrejas. Um secretariado semelhante foi, aliás, instituído na própria Inglaterra. Por fim, deve-se pensar na presença de observadores anglicanos no segundo Concílio do Vaticano como um sinal manifesto do estreitamento em curso. A história nos dirá a participação dos observadores anglicanos no trabalho conciliar.
É com uma impaciência cheia de esperança que aguardamos a próxima reunião da Conferência de Lambeth. Esta está prevista para o verão de 1968, portanto menos de três anos após a conclusão do Concílio Vaticano. A obra realizada pelo Concílio em favor da unidade, e em particular o decreto sobre o ecumenismo, com sua menção especial à Comunhão anglicana[67], não deixará de suscitar entre os bispos reunidos em Lambeth uma nova reflexão sobre o problema das relações entre o anglicanismo e a Igreja romana[68].
[63] Texto em latim: AAS. 42 (1950), pp. 142-147 (a citação está na página 143). Trad. francesa: Irénikon 23 (1950), pp. 221-228, DC, 47 (1950), col. 329-335. (A frase citada está no início do n° I: Irénikon, p. 223 e DC, col. 331.)
[64] «Embora a Igreja Católica Romana mantenha sua convicção de que o único objetivo da reunificação deve ser a submissão ao Papado, há alguns sinais bem-vindos de um reconhecimento crescente por parte das autoridades romanas da importância do Movimento Ecumênico» (A Conferência de Lambeth de 1958, II, p. 48).
[65] «Com muito aval oficial católico romano» (Ibid., p. 49).
[66] «As observâncias simultâneas desta Semana por católicos romanos e por membros de outras Igrejas são uma valiosa contribuição para os esforços em direção à unidade» (Ibid., p. 49).
[67] Concílio Vaticano II, Decreto Unitatis Redintegratio, § 13 (início do capítulo III). (Nota do tradutor.)
[68] As cinco últimas frases deste capítulo foram adaptadas à situação pós-conciliar. (Nota do tradutor.)