XXV. O NÚMERO DA BESTA
Ainda nos resta perguntar a nós mesmos uma última questão. "O número da besta", declara São João na Apocalipse, é 666. Por que esse número e qual é sua significância? Aqui está o texto básico:
"É aqui a sabedoria. Que aquele que tem inteligência conte o número da besta; pois é um número de homem e esse número é seiscentos e sessenta e seis" (Apoc. XIII, 18).
Qual é o problema? O Escritor sagrado enuncia o número da besta e nos convida a interpretá-lo. É isso que tentaremos fazer, deixando-nos guiar por tudo o que já foi escrito sobre esse assunto.
A ideia que imediatamente vem à mente é procurar a interpretação do número da besta utilizando os valores numéricos das letras do alfabeto hebraico. Para isso, é necessário reunir os mots cujo valor numérico das letras chega a um total de 666. Então, resta apenas escolher, entre os mots hebraicos assim reunidos, aqueles cujo significado pode mais razoavelmente se relacionar à Besta como ela é descrita na Apocalipse. Portanto, estamos reduzidos a um problema de cálculo quase mecânico. Essa metodologia é a correta? Não parece ser, pois o texto de São João nos aconselha a fazer prova de sabedoria e inteligência.
É aqui a sabedoria, dizem-nos: para entender o significado do número da besta, primeiro é preciso ter sabedoria. O que é a sabedoria? É o gosto pelos princípios. Portanto, nesta matéria, deve-se evitar as complicações da ciência profana e manter-se aos grandes princípios da sabedoria divina, tanto quanto os conhecemos.
São João também nos pede para fazer prova de inteligência. E a característica da inteligência, no sentido religioso desse termo, é a de distinguir. E a distinção fundamental é a do bem e do mal. Precisamente, vamos ver que aqui teremos que conviver com a fronteira entre o bem e o mal. É por isso que precisaremos de inteligência.
O Escritor sagrado nos coloca na senda certa ao dizer que 666 é "um número de homem". De fato, poderíamos esperar que a besta fosse mais adequada com "um número de anjo", já que o demônio é um espírito. Portanto, estamos sendo avisados de que não é o caso. É nos números que concernem ao homem que devemos procurar.
São Bento o Venerável e Santo Alberto Magno acreditavam que esse "número de homem" se referia ao sexto dia da Criação, no qual Adão foi formado da areia da terra. Vamos tentar entender o mecanismo dessa significância. Após a formação do homem, Deus declara que tudo o que Ele fez é bom:
"E Deus viu tudo o que Ele havia feito, e eis, isso era muito bom" (Gênesis I, 31).
Estamos na extremidade do sexto dia. Fazemos uma primeira observação: o número seis não designa, portanto, originariamente uma coisa má, pelo contrário, pois Adão, constituído mestre da terra, é a mais bela obra do Criador. Concorda-se até em pensar que o número seis simboliza a perfeição das coisas terrestres. Ele constitui "a marca" de Adão, pois é o número de sua origem. O homem é fundamentalmente "a criatura do sexto dia".
O número seis contém uma perfeição natural, mas ainda lhe falta a santificação que o número sete traz imediatamente após. É o sétimo dia que é santificado:
"E Deus abençoou o sétimo dia e Ele o santificou" (Gênesis II, 3).
O número sete é o da natureza santificada. É o número do Sábado e, portanto, não se adequava para designar o demônio, que havia precisamente recusado a santificação.
No sétimo dia, o homem já possui uma religião, enquanto o sexto dia era o da Criação sem sábado, sem religião, privado de santificação, reduzido às forças e aos ritmos da natureza sozinha. É portanto bem "o seis" que está mais em harmonia com o naturalismo dos anjos caídos, que só acreditam em suas próprias forças, como já observamos acima.
Agora compreendemos por que é o número seis que está na base do "número de homem" escolhido para marcar a besta. Mas o que não compreendemos é que esse número, bom na origem, agora designa uma besta má. Portanto, houve, a um certo momento, um inversão de significado do seis.
Este inversão foi operado pela revolta de Lúcifer. É precisamente essa revolta que transformou em mau o que era bom e que colocou acima o que deveria ter permanecido abaixo. Esta inversão da ordem primitiva sofreu a maldição divina. Deus amaldiçoou o que Ele acabara de abençoar. E a maldição de Deus contra Satanás foi reiterada três vezes: daí o número de três dígitos que simboliza essa maldição, 666.
A primeira maldição é aquela que expulsou Lúcifer do Céu por não ter querido se inclinar diante do Homem-Deus. Ela corresponde ao número seis ocupando o lugar das unidades.
A segunda maldição é aquela que Deus pronunciou contra a serpente:
"Porque tu fizeste isso, és amaldiçoado entre todas as bestas dos campos" (Gênesis III, 14).
O adversário quis envolver o homem na sua guerra. A segunda maldição corresponde ao número seis ocupando o lugar das dezenas, pois há uma agravamento da maldade, e portanto do castigo.
A terceira maldição é aquela que Deus pronunciará no momento da morte do Anticristo para puni-lo por se ter equiparado ao Filho do Homem. Ela corresponde ao lugar das centenas, pois há um novo agravamento na audácia.
Seiscentos e sessenta e seis resume a tripla maldição que é o justo salário da revolta de Lúcifer contra o Verbo Encarnado, princípio e fim da criação. Não é um "número de anjo"; é um "número de homem" (numerus hominis). Ele reitera três vezes o número de Adão, que é a obra do sexto dia. Aquela que fez Adão cair é punido sob o número de Adão.
Se nos restringirmos à letra do texto apocalíptico, o número 666 é propriamente o da besta. Mas é costume considerar esse número também pertencente ao Anticristo, pois esse personagem recapitulativo sintetiza a besta de qual ele é a cabeça.