XVI. HOMICIDA E MENTIROSO
A Escritura Sagrada nos faz ainda uma revelação muito importante sobre a personalidade do demônio:
"Ele foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (João VIII, 44).
Assim, o homem terá que lutar contra um espírito que se apresentará alternadamente como homicida e como mentiroso. E ele adotará esse duplo comportamento não apenas em relação a cada indivíduo em particular, mas também em relação à sociedade humana como um todo, ao longo de sua história. Vamos examinar sucessivamente as ações do demônio como homicida e depois como mentiroso.
Para realmente agir como homicida, o demônio está sujeito a duas condições: primeiro, ele precisa da permissão de Deus; segundo, ele precisa da cooperação mais ou menos explícita do homem que ele escolheu como alvo. Pois Satanás é como um cão mantido na coleira; é Deus quem segura a coleira e regula seu comprimento; quanto ao homem, ele pode permanecer afastado ou, ao contrário, se aproximar do cão e ser mordido.
No parágrafo XIV, resumimos as modalidades da ação homicida do demônio sobre as almas individuais. Mas o adversário do gênero humano também opera sua obra de morte sobre a alma das nações, ao insuflar seus erros no espírito de seus governantes e conselheiros; pois a alma de uma nação é seu governo. O que ele faz para isso? Ele os leva à falsa contemplação; ele obscurece, em sua inteligência, a lembrança da Revelação verdadeira; ele lhes sugere uma teosofia da qual ele mesmo é o deus. Assim, ele leva as nações, por meio de seus governantes, a se degradarem, a se dilacerarem e a se perderem.
Esta atividade destrutiva de Satanás sobre a mentalidade e as decisões dos governantes não deve fazer esquecer os poderes homicidas que ele e os seus possuem também, embora indiretamente, sobre nosso corpo. Eles têm, de fato, horror do corpo humano, que lhes lembra o do Verbo Encarnado, à imagem do qual ele foi feito e que foi a causa de sua queda. Desde então, eles só pensam em ferir os corpos. No entanto, eles só têm esse poder com a permissão de Deus. É o caso, por exemplo, dessa mulher, "uma filha de Abraão que o demônio tinha curvada há dezoito anos" (Lucas XIII, 16).
Os demônios também podem, embora não tendo nenhum poder direto sobre os corpos, destruí-los indiretamente, de muitas maneiras e, em particular, usando os homens uns contra os outros. O demônio também poderá, sempre com a permissão divina, agir sobre a integridade e a própria vida das nações. De acordo com São Atanásio, é Satanás quem fala pela boca do rei da Assíria quando ele diz:
"Pela força de minhas mãos eu fiz isso, e por minha sabedoria, pois sou inteligente! Eu desloquei as fronteiras dos povos. Eu pilhei seus tesouros e, como um herói, derrubei do trono aqueles que lá estavam sentados. Minha mão agarrou como um ninho a riqueza dos povos. E como se apanha um ovo abandonado, eu apanhei toda a terra..." (Isaías X, 13-14)
Assim, Satanás pode "deslocar as fronteiras das nações". Ora, pode-se deslocar as fronteiras das nações com duas intenções diferentes. As nações fiéis a Deus, Satanás não descansará até tê-las mutilado e fracionado; ele até mesmo poderá fazê-las desaparecer. Quanto às nações que tomaram o seu partido, Satanás as conduzirá à hipertrofia: daí essas nações gigantescas, monstruosas e ameaçadoras que sempre rodearam as fronteiras do povo de Israel e das quais só Deus pode defendê-lo. Assim, ele exerce sua incansável atividade homicida sobre as almas e os corpos dos indivíduos e dos povos.
Ora, enquanto homicidas, os demônios são evidentemente aterrorizantes e horrendos; sob esse aspecto, eles não atrairão o homem, mas, ao contrário, o farão fugir. Deus pode obrigá-los a se mostrarem a nós nesse estado repugnante que é o de sua verdadeira natureza, a fim de nos inspirar um temor salutar.
Portanto, se os demônios nunca tivessem aparecido senão sob essa forma de seres assassinos, eles não teriam feito nenhum adepto e, finalmente, não teriam exercido nenhuma influência no mundo. É por isso que eles se tornam sedutores e se transformam em "anjos de luz". A expressão é de São Paulo:
"...Satanás mesmo se disfarça em anjo de luz" (II Coríntios XI, 14).
O personagem de Labão, o tio de Jacó, é uma das figuras de Satanás disfarçado de anjo de luz. Labão, como se lembra, impôs a Jacó uma longa tirania. Ora, o nome de Labão significa "pintado de branco", significado que sugere perfeitamente a ideia de uma brancura emprestada e superficial.
Como Satanás se apresenta ao homem disfarçado de anjo de luz? Ele se aproxima como um auxiliar atencioso; ele traz promessas; sugere um ideal elevado; ele esclarece os mistérios divinos; ele ajuda a desvendar os segredos da natureza. Mas a ajuda que ele oferece é ilusória; suas promessas são secretamente acompanhadas de condições mortais; o ideal elevado que ele propõe é excessivo e desvia a alma de sua verdadeira vocação; e quando ele pretende esclarecer os mistérios divinos, é para colocar-se no lugar de Deus.
Entende-se a insistência das Escrituras em nos alertar contra esse disfarce.
"Não acreditem em todo espírito, diz São Paulo, e abstenham-se de toda aparência de mal."
O conhecimento dessa capacidade de disfarce do demônio é uma das informações mais importantes e também mais características da demonologia cristã.