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XII.O PRÍNCIPE DESTE MUNDO

Não há dúvida de que Adão foi constituído, desde o início, Rei e Pontífice: este é o ensinamento constante da Escola. E se não fosse pelo drama da queda, ele teria conservado essa dupla prerrogativa até a "plenitude dos tempos", isto é, até o dia da Vinda do Verbo Encarnado, que é o verdadeiro Rei-Pontífice da criação. O "primeiro Adão" estava destinado apenas a anunciar e preparar a vinda do "Ungido do Senhor", que também é chamado de "Novo Adão".

Vimos que Satanás recebeu o poder de vaguear na atmosfera terrestre ao redor de nossos primeiros pais para prová-los. Uma prova era necessária para que os anjos fossem confirmados em seu estado e morada celestiais. Da mesma forma, uma prova era necessária para que o homem fosse confirmado em seu estado de perfeição original.

Certas almas místicas foram privilegiadas ao ver que Adão e Eva, usando sua liberdade, inicialmente cometeram faltas veniais espontaneamente, ou seja, sem serem instigados por uma influência demoníaca. Essas faltas veniais deram a Satanás um pretexto e, como um direito, para se aproximar deles e tentá-los; elas constituíam uma abertura pela qual ele entrou.

Portanto, eis Satanás espionando Adão, que é uma préfiguração do Ungido futuro, do qual ele recebeu o anúncio e que ele odeia desde sua expulsão do céu. Ele pede a Deus permissão para colocar Adão à prova. Como muitos milênios depois ele ainda pedirá a Deus permissão para colocar os Apóstolos à prova: é este episódio que Nosso Senhor relata dizendo:

"Eis que Satanás pediu para vos peneirar como o trigo" (Lucas, XXII, 31).

Em que árvore a serpente apareceu? Ela apareceu precisamente na árvore do "conhecimento do bem e do mal", cujo fruto deveria fazer com que nossos primeiros pais compreendessem que no universo existia não apenas um Deus Bom, mas também um adversário do Deus Bom, um adversário gerador do mal. Esta árvore era boa por si mesma, como tudo o que saía das mãos de Deus. E seu fruto deveria ser consumido um dia pelo homem, quando o tempo estivesse certo. Mas o que foi nefasto foi a seu consumo prematuro.

O demônio estava ansioso para fazer o primeiro homem cair. Ele é de natureza febril, como vimos, e sempre quer antecipar os planos de Deus. Mas também, ao se apressar, ele queria surpreender o homem em um momento em que sua maturidade para consumir tal fruto ainda não estava realizada.

Os Doutores estão certos em dizer que a falta de Adão foi inconcebível. Ela constitui um verdadeiro mistério. Mas o que muitas vezes se esquece é que sua penitência também foi inconcebível. Quando nosso primeiro pai assistia ao progressivo declínio de sua família, da sociedade humana, do mundo animal, do mundo vegetal, e via em si mesmo a origem de toda essa desordem, ele sofria uma penitência de uma terrível gravidade, especialmente para ele que havia conhecido a isenção de todos esses males. Devemos lamentá-lo como se lamenta um pai infeliz, e não o oprimir como muitas vezes se faz. Pois quem entre nós poderia se vangloriar de ter feito melhor em seu lugar?

A falta agora foi cometida. Adão desceu de seu trono real e pontifical. Quem se sentará agora neste trono deixado vago?

Na ordem da natureza, é a lei do mais forte. Aquele que substitui o vencido em seus direitos é o vencedor. Portanto, é Satanás que substituirá Adão como rei e pontífice. Mas Satanás é um puro espírito: ele é invisível ao olho humano, não pode reinar abertamente; ele só pode exercer uma principado invisível. E é porque ele está muito realmente investido deste principado invisível que Nosso Senhor falará dele como sendo o Príncipe deste mundo.

Para que este principado invisível de Satanás sobre o mundo se concretize visivelmente, será necessário que ele consiga se materializar em um homem, realizando assim uma espécie de encarnação. Esta "personificação humana" de Satanás será o Anticristo. Não haverá verdadeira encarnação, é claro, mas sim uma possessão demoníaca em seu grau mais alto.

Agora sabemos que o Anticristo só deve aparecer no fim dos tempos. Durante o curso da História Humana, este Anticristo terá, no entanto, prefigurações. Haverá maus reis que se levantarão e, nas falsas religiões, maus pontífices que se comportarão, todas as proporções guardadas, como anticristos. Uma das primeiras prefigurações do Anticristo foi realizada pelo personagem Nimrod.

Na ordem da Graça, o verdadeiro titular do trono de Adão é o Verbo Encarnado. O "primeiro Adão", antes da queda, não fazia mais do que ocupar o lugar e preparar os homens para a Vinda do Novo Adão. É para ele que é feito o trono universal; o reino é feito para o rei. Esta transmissão em duas fases, uma fase preparatória e uma fase definitiva, é lembrada no seguinte trecho do Evangelho:

"Um homem de alta nascença veio a uma terra longínqua para tomar posse do reino e para lá retornar posteriormente" (Lucas XIX, 12).

Este homem de alta nascença é Nosso Senhor. Durante sua vinda de humildade, ele veio pela primeira vez para tomar posse do reino, por direito. Depois, ele subiu "à direita do Pai" para esperar "a plenitude dos tempos". Durante sua vinda de Majestade, ele retornará para exercer de fato a realeza eterna.

O principado invisível de Satanás sobre o mundo, que Nosso Senhor lhe reconhece quando lhe dá o título de "Príncipe deste mundo", não é, em definitivo, senão o de um usurpador. São Bernardo viu muito bem sua precariedade quando escreve:

"Assim, esse tipo de poder que o demônio adquiriu sem justiça, que ele mesmo usurpou com malícia, não deixa de lhe ter sido atribuído com justiça. Mas se era justo que o homem fosse escravo, a justiça não estava nem do lado do homem, nem do lado do demônio; ela estava toda do lado de Deus." (São Bernardo, Sobre os erros de Abelardo).