V. AS CIRCUNSTÂNCIAS DA PROVA
É uma verdade de fé que: uma parte dos anjos se afastou de Deus e mantém uma hostilidade eterna em relação a Ele. Surge então uma pergunta inevitável: em que circunstâncias esses anjos se afastaram de Deus? Qual foi a prova que levou a essa prevaricação dos anjos? A prevaricação é a recusa de cumprir suas obrigações.
A natureza dessa prova não é claramente conhecida. Estamos reduzidos a hipóteses. Escolhemos aquela das hipóteses que melhor coordena os conhecimentos certos sobre os anjos e sobre o Verbo Encarnado. É bem evidente que os anjos sabiam, desde o início, da precariedade de sua situação e de seu status. Eles sabiam que tinham sido tirados do nada por Deus e que, portanto, de certa maneira, se encontravam suspensos entre Deus e o nada, enquanto não fossem, de uma forma ou de outra, integrados a Deus. A estabilização de seu estado bem-aventurado só poderia resultar de sua participação na vida divina.
Os anjos se encontravam, era evidente, em uma situação transitória e preparatória. Os teólogos dizem, com muita razão, que eles estavam em estado de via e acrescentam que tinham consciência disso.
Os comentaristas concordam que os anjos já possuíam uma profunda ciência de Deus. Assim, distinguiam as Três Pessoas da Santíssima Trindade. Conheciam o Logos como agente do poder exterior de Deus. Mas até onde ia essa ciência? E, em particular, poderiam eles conhecer antecipadamente a misteriosa Encarnação do Logos?
Foi nesse "estado de via", nessa situação de expectativa, que os anjos assistiram à "Obra dos seis dias", ou seja, à Criação do universo material e à criação do homem. Foi então que veio a sua prova. Eis em que consistiu.
Para provar os anjos, Deus lhes mostra, por antecipação, a imagem do Verbo Encarnado, que deveria ser, quando a plenitude dos tempos estivesse cumprida, o Adorador supremo de Deus e o Mediador universal entre Ele e a Criação, em suma, o Pontífice e o Rei do Universo visível e invisível. E Ele lhes mostrou também a mulher privilegiada que deveria ser a Mãe desse Homem-Deus.
Pode-se pensar que, diante desse espetáculo, um imenso estremecimento percorreu as hierarquias celestes e que uma prodigiosa emoção as paralisou. Assim, o Homem-Deus que lhes era mostrado se interporia um dia entre a Criação e a Divindade. Seria Ele quem asseguraria a mediação. Seria Ele quem transmitiria a Deus a adoração das criaturas celestes e terrestres. Seria Ele também quem dispensaria a ajuda sobrenatural sem a qual a participação na vida divina não é realizável. Diante Dele, todas as hierarquias angélicas deveriam se inclinar como sendo a principal figura do universo.
Os anjos, que nunca haviam conhecido ninguém entre eles e o Todo-Poderoso, e que já lhe dirigiam diretamente suas adorações, teriam que se inclinar diante do trono universal do Verbo Encarnado, não apenas para lhe confiar suas adorações, mas também para receber Dele, em seu "estado de via", a graça necessária para sua santificação.
Seria necessário ser um anjo para medir a tensão e a efervescência que percorreu a corte celestial ao anúncio de um decreto tão misterioso e diante de uma mutação tão grande.
Lúcifer recusou a soberania do Verbo Encarnado. Sua lógica implacável ditou-lhe uma decisão aterradora. Ele recusou sua submissão ao "Adorador Supremo" porque, estando ele próprio colocado no topo das hierarquias espirituais, queria transmitir diretamente a Deus, como sempre havia feito, sua própria adoração, que era exemplar.
E ele recusou receber, do "Mediador Universal", a ajuda graciosa necessária para sua adoção divina porque se considerava capaz de alcançar a santificação apenas pelas virtudes naturais com as quais estava abundantemente dotado.
Além disso, ele não queria depender de um Homem-Deus que não seria um puro espírito, pois tiraria da terra a substância de seu corpo. Mais radical ainda foi sua recusa em se inclinar diante da "Mãe de Deus", que seria uma criatura meramente humana e que se pretendia lhe impor como Rainha dos Anjos.
Alguns comentaristas e alguns místicos pensam até que Lúcifer pecou venialmente ao recusar a supremacia do Verbo Encarnado, mas mortalmente ao recusar a da Mãe de Deus. Ele, Lúcifer, estimava que, logicamente e, portanto, justamente, era ele quem deveria ser designado para se tornar o adorador supremo e o mediador universal por meio de quem a participação na vida divina deveria ocorrer. Em suma, o Homem-Deus lhe tomava o lugar que ele, Lúcifer, acreditava ser seu por direito. Tais foram seus pensamentos nesta prova crucial.
Compreende-se que essa prova tenha implicado, para um anjo, uma certa dificuldade. Mas não era impossível de superar. Não era mais difícil, para um anjo, inclinar-se diante de um Homem-Deus do que é difícil para um homem inclinar-se diante de uma hóstia que, em suas aparências, é apenas um produto vegetal. Além disso, a inteligência angélica foi feita para perceber, num instante, as consequências a longo prazo da revolta.
É ao Verbo Encarnado que se dirige o famoso "non serviam" de Lúcifer. Esse "non serviam" repercutiu, de eco em eco, entre os anjos e os homens. Nosso Senhor o ouviu ao seu redor quando veio à terra, como Ele mesmo disse nesta parábola:
"Um homem de alta nobreza foi para um país distante para tomar posse do reino e depois voltar... Mas os cidadãos daquele país o odiavam e enviaram uma delegação atrás dele para dizer: 'Não queremos que este homem reine sobre nós.'"
"Não queremos que este homem reine sobre nós." (Lucas XIX, 12-14).