Skip to main content

A gnose contemporânea

A partir do século XX, os escritores gnósticos são legião na Inglaterra. Parece-nos fastidioso enumerar livros e expor doutrinas já bem conhecidas de nossos leitores.

Aqui está, por exemplo, o caso de Aldous Huxley. Sua obra se estende pela primeira parte do século. Contraponto em 1928, O anjo e a festa em 1929. Mas já em 1930, Huxley passa por sua crise de misticismo, como muitos outros, ou seja, ele passa ao Ocultismo e à Gnose. Ele lê o pseudo-Denys, Joaquim de Fiore, Meister Eckhart e toda a infinidade de autores da seita. Temos, em 1936, A paz das profundezas, A Eternidade reencontrada e, finalmente, sua obra-prima A Filosofia Eterna (The Perennial Philosophy) em 1946.

Huxley se volta para a Ásia, se apaixona pelas filosofias orientais e fica surpreso ao encontrar os temas habituais de toda Gnose: amor aos homens, não-violência, esquecimento do seu "eu", busca do aniquilamento da pessoa no "Tu" absoluto, o "Tat" dos Vedas, o oceano sem margens do divino.

"O Tu" é idêntico a "isso" e o "isso", segundo a fórmula sânscrita "Tat twam asi", idêntico ao "Tu", é idêntico ao Absoluto, o fundamento eterno, o Atman do Hinduísmo.

O "Logos eterno" é o fundamento absoluto, o abismo que absorve, engloba meu miserabilismo. Este divino, no qual o homem deve se perder, Huxley o chama de "the Ground".

A criação não é um ato livre e gratuito de Deus; é uma “queda da Unidade na sua Dualidade”: o relato da Gênese,nesis, para ser adequado à nossa experiência, deve ser modificado. Em primeiro lugar, deveria ser posto em manifesto que a Criação, ou seja, a passagem incompreensível do Uno não manifestado à multiplicidade manifestada (em linguagem clara, de Deus ao Mundo), não é apenas o prelúdio e a condição necessária da queda (“em certo grau é a queda”), em um sentido, é a Queda! A criação é, portanto, o pecado original de Deus. Não há salvação para o homem senão na evasão do temporal, o retorno da multiplicidade ao seio da Unidade. O que os gnósticos de todos os tempos chamaram de retorno à unidade primordial. Estamos, portanto, em um domínio já bem conhecido. Huxley se contentou em renovar as fórmulas por meio de empréstimos das expressões orientais.

Encontramos, em outro filósofo inglês, Whitehead, uma definição da Trindade gnóstica totalmente original e sutil. O Pai, para os gnósticos, é a fonte do ser sem existência positiva, é, portanto, A NATUREZA PRIMORDIAL, mundo das essências e dos desejos impotentes.

O Filho, é o Demiurgo, incarnado no mundo, é A NATUREZA CONSEQUENTE. O Espírito corresponde à A NATUREZA SUBJETIVA de Deus que modifica a criatividade divina enriquecendo-a.

Mas tudo isso não passa de puro paradoxo, pois o Deus criador é ao mesmo tempo uma criatura infinita em sua virtualidade, mas fúria em sua perfeição. Ora, esta atividade é sobreabundante, em perpétua mobilidade, ela é a atualização do fluxo universal. Estamos sempre em pleno panteísmo.

Encerramos aqui nosso estudo. Sabemos, de fato, que nossos leitores que penetraram bem a essência da Gnose, são capazes por si mesmos de detectar suas manifestações em todos os escritores anglo-saxões que, hoje, inundam o mundo com suas produções satânicas, desde O Código Da Vinci até as séries de Harry Potter e o mundo de Nárnia... onde pululam os feiticeiros, os magos e os demônios...

Etienne COUVERT