Os dois corpos místicos
Ao prosseguirmos com nossa análise profunda, inevitavelmente encontraremos as áreas de fricção entre os dois "Corpos Místicos":
- o Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja,
- e o corpo místico do Anticristo.
Trata-se aqui de saber se podemos aplicar o termo "corpo místico" ao extraordinariamente polimorfo conjunto das falsas religiões, seitas e todas as congregações heterodoxas.
Esta aplicação levanta de fato uma questão. Pois, enquanto a realidade do Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo é amplamente ensinada (veja a encíclica de Pio XII "Mystici Corporis Christi" de 29 de junho de 1943), a do corpo místico do anticristo não o é.
E isso ocorre por duas razões:
1) A Escola não se pronunciou sobre a personalidade do Anticristo, que muitos teólogos apresentam como um ser coletivo; eles o veem como o tipo de um gênero cujos exemplares aparecem de tempos em tempos ao longo da história (como Antíoco, Nero, Átila, Hitler...). É evidente que, nessa hipótese, hesita-se em qualificar como "corpo" um conjunto que não tem uma única cabeça.
Mas responderemos que esses exemplares de um mesmo gênero são mais figuras, ou melhor, prefigurações, precursores do verdadeiro e pessoal Anticristo, aquele de quem as Escrituras anunciam que presidirá às tribulações finais da Igreja. Nesse caso, o corpo das seitas teria de fato uma cabeça única, embora aparecendo no final. Vamos justificar nossa posição com esta citação de São João:
"Como vocês ouviram que o anticristo está para vir, assim agora já surgiram muitos anticristos." 1 João 2, 18.
As prefigurações não anulam o personagem final.
2) A segunda razão que faz hesitar em falar do corpo místico do anticristo é o estado de guerra incessante que existe entre os membros desse corpo. Onde está a sua unidade, argumenta-se, se ele está se dilacerando.
Respondemos observando que se trata de fato deste "reino dividido contra si mesmo" do qual nos fala o Divino Mestre. É de fato um "reino", mas sua unidade é negativa; é feita de ódio contra o inimigo comum que é Jesus; os membros só se reconciliam à custa do "Justo". E ele está "dividido contra si mesmo" porque o demônio governa pela rivalidade dos membros; é até um dos seus grandes princípios de governo.
Portanto, teremos argumentos a favor da existência de um verdadeiro "corpo místico do anticristo", certamente monstruoso, mas antagonista ao do Cristo. Aproveitaremos o fato de que o assunto é teologicamente livre.
Uma resposta afirmativa a esta questão é ainda mais necessária porque somos convidados pelos próprios maçons. Eles apresentam a iniciação como tendo, entre outros efeitos, o de introduzir o adepto em um corpo espiritual, em uma instituição espiritual imemorial; e eles até fazem dessa incorporação uma das condições para a validade da iniciação. Portanto, eles realmente sentem a existência de um corpo espiritual. A questão que abordamos aqui não é, portanto, ociosa.