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O problema do esoterismo

As diversas congregações iniciáticas, cujo conjunto forma o que se chama de "contra-Igreja", dispensam aos seus adeptos um ensinamento ESOTÉRICO, ou seja, oculto. De acordo com a etimologia, essa palavra, de origem grega, significa "interior" (em oposição a "exotérico", que quer dizer "exterior", ou seja, público e oficial).

Uma doutrina merece o nome de esoterismo, no sentido etimológico, desde que não seja destinada ao grande público e, portanto, seja reservada a um círculo restrito, independentemente de seu conteúdo substancial. Pode-se imaginar, teoricamente ao menos, um esoterismo católico reservado aos fiéis e oculto aos profanos, assim como um esoterismo luciferiano reservado aos adeptos e oculto aos cristãos. Em ambos os casos, a palavra esoterismo é utilizável no sentido etimológico, pois trata-se de um mesmo modo de difusão restrita.

O problema do esoterismo se desdobra em duas subquestões:

  1. A palavra "esoterismo" manteve seu sentido etimológico na linguagem moderna corrente?
  2. Pode-se qualificar a doutrina cristã como esotérica:
    • no sentido etimológico
    • no sentido corrente

Veremos, por fim, que esse problema não pode ser negligenciado, pois há numerosos inimigos da Igreja que o complicaram gravemente para tirar proveito da confusão.

Comecemos, então, procurando o sentido corrente da palavra em questão em um dicionário moderno:

ESOTERISMO: (do grego esoterikos - interior) "que é ensinado apenas aos iniciados"

  • Os discípulos de Pitágoras teriam sido divididos em exotéricos e esotéricos; os primeiros, simples postulantes, os segundos, iniciados completamente na doutrina do mestre.
  • Em Platão e Aristóteles, os termos esotérico e exotérico não se aplicam mais às pessoas, mas apenas às doutrinas. Em Platão, haveria uma dupla filosofia: uma acessível a todos e exposta na forma dos "Diálogos" que conhecemos; a outra, mais técnica, reservada apenas aos iniciados. Aristóteles, por sua vez, divide suas obras em esotéricas ou "acroamáticas" e em exotéricas. Os comentaristas admitem que essa distinção não se refere nem às questões nem às suas soluções, mas à forma e aos métodos de exposição. Nos trabalhos exotéricos, são apresentados apenas os argumentos mais claros; nos trabalhos esotéricos, são reservados os mais obscuros, que às vezes são os mais decisivos. Essa ideia de uma doutrina misteriosa reservada aos iniciados seduziu muitas mentes e, atualmente, formaram-se numerosas sociedades esotéricas.

CIÊNCIAS OCULTAS: Chama-se "ciência esotérica" a parte misteriosa da ciência cabalística, da qual os magos eram os depositários e que eles só revelavam aos iniciados depois que estes tivessem passado pelos rituais de iniciação. Os manuscritos que contêm os elementos dessa ciência são conhecidos pelo nome de chaves ou clavículas. Esse ensinamento era transmitido de forma oral ou escrita, incluindo a chave do tarô, a explicação dos arcanos e das tradições da cabala e da magia, o rito dos mistérios sagrados, etc. Os segredos ou alegados segredos da alquimia, pelo conhecimento dos quais o iniciado adquire poderes mágicos, também fazem parte do ensino esotérico.

Essa definição, retirada do dicionário Larousse, certamente não ignora o sentido etimológico, utilizado outrora pelos filósofos gregos. Mas ela mostra que, hoje em dia, a palavra "esoterismo" adquiriu um conteúdo substancial de caráter ocultista, do qual é impossível livrá-la.

Portanto, respondemos à primeira subquestão que nos colocamos.

Antes de respondermos à segunda subquestão, vamos nos perguntar por que o termo em questão se degradou e se sobrecarregou com um conteúdo negativo.

A "contra-Igreja" inicia seus adeptos (é uma noção básica) nos Mistérios de Baixo. Ela se esforça para arrastá-los para o coro dos demônios; esse é seu verdadeiro objetivo; mas esse objetivo é contrário não apenas à ordem da NATUREZA, mas também à ordem da GRAÇA.

Ele é contrário à natureza. Não se pode revelá-lo a nenhum homem, mesmo não cristão; os verdadeiros deuses do paganismo são demônios que "foram homicidas desde o princípio"; portanto, eles são repugnantes para todo homem e até mesmo aterrorizantes quando mostram seu verdadeiro rosto; por isso, os deuses do paganismo eram disfarçados de homens; os verdadeiros mestres se escondiam; daí o esoterismo dos "mistérios pagãos".

O verdadeiro objetivo da contra-Igreja está em contradição com a ordem da Graça inaugurada pelo advento do cristianismo; a dissimulação do verdadeiro objetivo é, portanto, ainda mais necessária do que no regime pagão; pois não se trata mais de esconder o verdadeiro mestre; é necessário que o adepto, que é cristão de início, mude de mestre; é preciso até mesmo fazê-lo adotar um mau mestre depois de ter conhecido um bom. Se lhe revelassem de imediato o verdadeiro objetivo, ele se recusaria a ir; vai-se apresentar-lhe uma doutrina travestida, complicada, escondida, em uma palavra, esotérica, que deve operar nele uma inversão completa.

Essa é, desde a fundação da Igreja, a razão psicológica profunda da "codificação" das doutrinas anticristãs; elas não podem se mostrar como realmente são, porque provêm do "poço do abismo".

É assim que o esoterismo, que de fato pode ter servido outrora como método didático para os antigos filósofos, carregou-se prodigiosamente, já no final da antiguidade, mas especialmente desde o início da era cristã, de um conteúdo substancial verdadeiramente luciferiano.

Agora podemos responder à nossa segunda sub-questão: pode-se qualificar a doutrina cristã como esotérica, seja no sentido etimológico, seja no sentido corrente atual?

Podemos eliminar imediatamente o sentido corrente atual. A Religião de Nosso Senhor obviamente não é esotérica no sentido definido pelo dicionário, que está carregado de ocultismo, magia e todas as falsas aparências do pensamento infernal.

Vejamos agora se ela não conteria um certo esoterismo no sentido etimológico da palavra, ou seja, uma progressividade didática. Se existe um ensinamento reservado, ele pode se esconder em duas ordens de relações:

  • as relações exteriores da Religião com os profanos,
  • as relações interiores dos fiéis com a hierarquia.

Nas relações da Religião com os profanos do exterior, Nosso Senhor afirmou Ele mesmo várias vezes que Sua doutrina era pública e não oculta. Contentemo-nos em citar aqui os três principais textos nesse sentido:

  • "E Ele lhes dizia: Acaso se traz a lâmpada para colocá-la debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é para colocá-la no velador? Pois não há nada oculto que não deva ser revelado, nem nada escondido que não deva vir à luz". Marcos IV:21-22
  • "O que vos digo nas trevas, dizei-o à luz do dia; e o que ouvis ao ouvido, pregai-o sobre os telhados". Mateus X:27
  • "O sumo sacerdote, então, interrogou Jesus acerca de Seus discípulos e de Seu ensino. Jesus lhe respondeu: Eu tenho falado abertamente ao mundo; Eu sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e nada falei em segredo". João XVIII:19-20

Não há, portanto, em nossa religião, nenhum segredo institucional, nenhum esoterismo colegial. O Credo dos Doze Apóstolos não contém cláusulas confidenciais e todas as "verdades de preceito" que dele saíram posteriormente se impõem a todos, abertamente. Elas são as mesmas para os sábios e para os humildes. Os humildes parecem até não ser os mais mal-aquinhoados, pois está escrito:

"Eu vos dou graças, Senhor, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos." Mateus XI:25

A Religião de Nosso Senhor, portanto, não teme a publicidade, a divulgação. O proselitismo, aliás, lhe é recomendado:

"Ide, ensinai a todas as nações..."; "...Pregai a tempo e fora de tempo..."

Mas uma recomendação de sentido contrário lhe é igualmente feita, tão universalmente conhecida quanto as anteriores:

"Nolite dare sanctum canibus..." Math VII, 6. "Não deis o que é santo aos cães, nem lanceis vossas pérolas aos porcos, para que não as pisem com os pés e, voltando-se contra vós, vos despedacem."

O que se deve entender por "sanctus" (o que é santo)?

Todos os comentaristas concordam em dizer que são os sacramentos, mas também as verdades Evangélicas.

E o que se deve entender por "cães" e "porcos"?

São os homens gravemente indignos e, sobretudo, endurecidos, aqueles que diríamos hoje que ultrapassaram o limite da reversibilidade, que são irrecuperáveis. Os cristãos prestarão contas dos tesouros temíveis que guardam. Se a Igreja não teme as divulgações, ela teme as profanações.

Mas podemos dar a esse temor e às precauções que ele justifica o nome de esoterismo, entendido no sentido de procedimento didático?

É preciso reconhecer que esse não é o uso comum. Trata-se mais, de fato, de uma disciplina do que de um segredo.

Examinemos, depois disso, se um certo esoterismo não se infiltraria nas relações dos fiéis com a hierarquia?

Podemos responder imediatamente de forma negativa. Não existe um colégio esotérico na Igreja Católica, o que é fácil de entender após os preceitos evangélicos que acabamos de citar. "Eu não ensinei em segredo".

Resta-nos uma área a explorar, a da doutrina, pois ela apresenta capítulos extremamente difíceis de compreender e cuja inteligência parece reservada a uma elite. Expliquemo-nos sobre esse ponto.

É um velho adágio que o homem pode encontrar Deus em três livros:

  • A Bíblia,
  • A Criação,
  • E em si mesmo (esse livro nunca estando fechado para ninguém).

No entanto, a Bíblia apresenta uma multidão de OBSCURIDADES RELIGIOSAS. Muitos de seus Livros são muito difíceis de compreender ou só podem ser compreendidos por clérigos extremamente eruditos: por exemplo, os "Profetas", o Livro de Jó, o "Cântico dos Cânticos" cuja exegese é tão espinhosa, alguns Salmos, alguns dos quais ainda são totalmente incompreensíveis... etc...

Essas obscuridades, juntamente com os Três Grandes Mistérios (Trindade, Encarnação, Redenção), constituem um esoterismo propriamente dito?

Sem dúvida, a Hierarquia reserva-se o direito de fornecer um comentário autorizado sobre as Sagradas Escrituras, porque a interpretação dos Livros Sagrados requer absolutamente a inspiração do Espírito Santo, que é dada em virtude das Promessas de Assistência. Mas esse comentário interpretativo não é mantido em segredo, muito pelo contrário, é elaborado pela Autoridade Doutrinária, mas não permanece como seu domínio reservado.

O "Livro da Criação" apresenta um problema um pouco mais sutil. A natureza material, de fato, é um manto que revela a existência de Deus, mas que, ao mesmo tempo, a oculta. Ela é constituída por uma grande quantidade de obras distintas nas quais o Criador colocou semelhanças com Ele mesmo e entre as quais Ele colocou harmonia. Ela é formada por uma sucessão de reflexos decrescentes que são chamados de símbolos.

Quando se consegue remontar a cadeia dos símbolos, pode-se adivinhar o modelo que está na origem de todos. No desenrolar do tempo, as obras de Deus se lembram e se anunciam umas às outras. O Simbolismo da Criação não é um simples procedimento de ensino utilizável por poetas imaginativos ou leitores hábeis. Ele pertence à natureza das coisas. É o resultado da harmonia que Deus coloca entre as diversas partes de suas obras.