8 - As Metades Atraentes
E eis que Aristófanes decide misturar um pouco de filosofia à sua bufonaria; mas é de tal forma que não se sabe onde começa uma e onde termina a outra.
"Nessas circunstâncias", continua ele, "a divisão havia duplicado o ser natural. Então, cada metade suspirando pela sua outra metade, a alcançava. Agarrando-se um ao outro, entrelaçados, se esforçando para se tornarem um só ser, as metades acabavam caindo ambas de exaustão".
Então Aristófanes começa a dissertar sobre as consequências psicológicas atuais dessa origem comum do homem e da mulher. Ele explica, por essa origem andrógina, não apenas o atrativo recíproco natural deles, mas também as inversões patológicas desse atrativo. Aqui está sua explicação: ele relata que as metades do andrógino, assim amputadas e vagando, às vezes se enganavam de parceiro e acabavam, por acaso, não em uma metade complementar, mas em uma metade idêntica. Mas o atrativo era tão grande que elas se agarravam mesmo assim com a mesma energia. Não surpreenderá ninguém dizer que Aristófanes, bordando nesse tema, obtém efeitos de uma hilaridade enorme.
Pode-se, depois disso, afirmar, como fazem a maioria dos esoteristas contemporâneos, que Platão, que é afinal o verdadeiro redator dos discursos de Aristófanes, concordava com a realidade de nossa ascendência andrógina? Tal dedução é totalmente inverossímil, dada a ironia com que ele usa. É mais lógico pensar que Platão se contentou em relatar uma antiga lenda, mas que, no entanto, não acreditava em sua verdade fundamental; e é por isso que ele acabou ridicularizando-a.