8 - A crucificação ideal
Notamos anteriormente que é impossível pregar um homem real na cruz tridimensionalmente. Mas qual é esse atrativo inconsciente em direção ao Cristianismo que secretamente domina suas mentes e leva R. Guénon e seus inspiradores islâmicos e hindus a imaginar um homem ideal, ainda assim, capaz de ser colocado na prestigiosa cruz?
De qualquer forma, as regras do simbolismo o levam a buscar uma "realidade transcendente" que coincida com a cruz-esfera, resumo do cosmos, e a mostrar, por essa coincidência, a harmonia do que está abaixo com o que está acima.
Essa realidade transcendente, ele já nos descreveu, é o Homem Universal. Esse arquétipo, não sendo mais um homem real, torna-se muito mais maleável e mais fácil de integrar à cruz metafísica.
A cruz metafísica é bipolar, como vimos: ela apresenta um eixo ativo e um plano passivo. Mas precisamente, o homem universal também é ao mesmo tempo ativo e passivo. Pois nos é ensinado que ele é andrógino. Ele é necessariamente ao mesmo tempo homem e mulher, já que é universal, portanto absoluto, portanto recapitulativo. E pelo fato de ser andrógino, o Homem Universal também é, simbolicamente, esférico, como nos será explicado.
"Na totalização do ser, os complementares devem estar em perfeito equilíbrio, sem nenhuma predominância de um sobre o outro. Deve-se notar, além disso, que a esta "andrógine" é geralmente atribuída simbolicamente a forma esférica, que é a menos diferenciada de todas, já que se estende igualmente em todas as direções, e os Pitagóricos a consideravam como a forma mais perfeita e como a figura da totalidade universal" (Cap. VI).
Sendo tanto bipolar (como a cruz absoluta) quanto esférico, o Homem Universal poderá se integrar na cruz esférica e assim realizar a Crucificação Ideal, a "proto-crucificação" metafísica da qual aquela do Calvário será apenas a aplicação em um caso particular. Assim, temos novamente um homem na cruz sem que saibamos ainda muito bem se ele coabita com Nosso Senhor ou se O substitui.
Mas é hora de interromper esses desenvolvimentos, talvez um pouco abstratos. Continuaremos em um próximo capítulo, onde estudaremos essa curiosa noção de androginia, mostrando que ela é totalmente estranha à Tradição Apostólica.