Skip to main content

7 - Uma Tradição Infalível

Da origem não humana, e portanto intemporal, da tradição oriental, R. Guénon deduz ainda uma nova consequência: sua INFALIBILIDADE. O capítulo XLV do livro "Vislumbres sobre a Iniciação" é intitulado "Da Infalibilidade Tradicional". Aqui estão alguns trechos desse capítulo.

"...devemos ainda considerar outra questão, que é a da infalibilidade doutrinal; podemos fazê-lo colocando-nos no ponto de vista tradicional em geral... O que é propriamente infalível é a doutrina em si mesma e somente ela, e não os indivíduos humanos como tais; e se a doutrina é infalível, é porque ela é a expressão da verdade que, em si mesma, é absolutamente independente dos indivíduos que a recebem e a compreendem".

"A garantia da doutrina reside, em última análise, em seu caráter não humano... A verdade não é feita pelo homem, mas ela se impõe a ele, não, no entanto, de fora, mas na realidade de dentro, porque o homem obviamente só é obrigado a reconhecê-la como verdade se, antes de tudo, a conhecer...".

Ora, ele a "conhece" no sentido técnico da palavra, quando a apreendeu diretamente pelo que é chamado de intuição metafísica. É esse tipo de infusão intelectual do qual falamos e que chamaríamos de pseudo-mística se pudéssemos usar aqui a linguagem cristã.

Portanto, tendo "conhecido" a verdade pelo caminho metafísico, ou seja, tendo-a assimilado diretamente, pode-se testemunhá-la infalivelmente. Guénon esclarece que não é o testemunho que é infalível, mas sim a tradição metafísica em si mesma. O testemunho só será infalível se for rigorosamente fiel.

Essa noção de infalibilidade aplicada assim à tradição oriental inevitavelmente vai chocar os católicos, acostumados a não ver nenhum abutre pairando sobre a infalibilidade do Pontífice Romano. No entanto, Guénon não quer justamente chocar os católicos, pois ele quer recrutá-los. Portanto, ele vai manter o princípio da infalibilidade na ordem da religião em geral, mantendo assim a infalibilidade do Pontífice Romano como um caso particular. Ele até a justifica, ligando-a à legitimidade canônica e à competência doutrinal.

Mas essa infalibilidade ele a limita à ordem religiosa e especifica que de forma alguma pode ser exercida na ordem tradicional. Pois qualquer pontífice religioso (por exemplo, o Papa dos cristãos) não possui, na ordem metafísica, legitimidade canônica nem competência doutrinal. Portanto, que ele não venha contestar, na esfera metafísica, a infalibilidade da tradição, já que lhe é permitido o livre exercício da sua na ordem religiosa.

Assim, Guénon aplica em relação à Igreja a estratégia que lhe é habitual: "superpor-se sem opor-se". Estratégia que ele expressa nestes termos em seu livro "O Esoterismo de Dante":

"...esotérico não equivale a heresia e uma doutrina reservada a uma elite pode se SUPERPOR ao ensino dispensado a todos os fiéis sem se OPOR".