6 - As Cruzes dos Ladrões
A Cruz histórica de Jesus foi cercada por personagens, circunstâncias e objetos destinados a enriquecer seu significado. Foi assim que outras duas cruzes foram erguidas ao mesmo tempo, uma de cada lado. Elas também estão repletas de ensinamentos.
Já descobrimos um primeiro significado para essas duas cruzes. Elas nos permitiram identificar a viga horizontal da Cruz central, que de fato está dividida em duas metades, uma apontando para o bom e outra para o mau criminoso; assim, ela sozinha reconstitui a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Agora vamos descobrir um novo significado para essas duas cruzes. Pois o mesmo objeto material pode simbolizar várias ideias diferentes dependendo do ponto de vista sob o qual é considerado. Essa pluralidade de significados é uma das características da dissertação simbólica.
Primeiro, vamos responder a uma pergunta. Qual foi o lado do bom ladrão? Os textos evangélicos não especificam isso. Os quatro Evangelistas apenas dizem que um dos criminosos estava à direita e o outro à esquerda; mas eles não dizem como estavam distribuídos. No entanto, é tradicional que o bom ladrão estivesse à direita. E de fato há uma conveniência lógica nisso. A direita é, em todos os textos dos dois Testamentos, o lado da eleição divina. É uma questão de fé que Nosso Senhor está sentado à direita do Pai: "está à direita do Pai". Por outro lado, a esquerda é o lado "sinistro". É o lado da reprovação divina.
As posições relativas dos três personagens estando assim determinadas, será mais fácil refletir sobre as verdades religiosas que eles nos ensinam. Observamos imediatamente que os três crucificados eram três filhos de Adão. Todos eles tinham o Primeiro Homem como ancestral comum. "O Filho do Homem" estava, portanto, "entre seus irmãos"; a fraternidade humana, que já era buscada por Ele na Encarnação e que é simbolizada pela viga horizontal, é reafirmada, continuada e confirmada na obra da Redenção.
Agora somos impressionados por outra característica significativa: os dois ladrões são dois irmãos separados, e são separados pela Pessoa de Jesus Cristo, em relação ao qual eles se comportam de maneira diferente. Essa separação constitui a imagem e o prelúdio do juízo final, no qual "Aquele que foi pendurado na árvore" separará as ovelhas dos bodes. A Ele foi dado o poder de separar, de acordo com a sentença contida em São João:
"O Pai não julga ninguém, mas confiou ao Filho todo o julgamento, para que todos honrem o Filho como honram o Pai" [João 5:22].
Meditamos ainda mais profundamente sobre esse mesmo mistério. Os dois ladrões simbolizam dois "corpos místicos" que também estão separados. Mas isso requer uma explicação. Vimos anteriormente que a Cruz de Nosso Senhor forma como Sua sombra e representa Seu Corpo místico, ou seja, a Igreja. Considerando agora, não mais a Cruz de Jesus, mas apenas a pessoa do bom ladrão, encontramos nele essa mesma Igreja sob uma outra aparência. De fato, naquela mesma noite, ele será o primeiro redimido da Igreja triunfante. Portanto, ele é o símbolo do Corpo místico de Cristo.
Isso é especialmente impressionante quando o comparamos à pessoa do mau ladrão, que, por sua vez, representa o corpo místico do Anticristo. É certo que essa noção de "corpo místico do Anticristo" não é comumente expressa na literatura eclesiástica. Mas, afinal de contas, ela também não está em contradição com "a analogia da fé" e até tem fortes apoios a seu favor. Portanto, o Divino Mestre está na Cruz com Sua Esposa mística à Sua direita e "a Besta" à Sua esquerda.
Continuemos nossa análise simbólica. Os três filhos de Adão, diferentes entre si, sofrem um destino semelhante. Um é o juiz justo, os outros dois são julgados. E os dois julgados são irmãos inimigos. Eles, juntos, representam toda a humanidade. A identidade de seu destino marca visivelmente a universalidade da lei do sacrifício. Nem os bons nem os maus podem escapar dela. Essa grande lei de nossa condição terrestre é simbolizada pelas três cruzes.