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6 - A contaminação se espalha

A androginia se espalha até mesmo pela literatura católica. Em "La charité profanée", o Professor Jean Borella adota essa noção e pretende inseri-la no raciocínio teológico. Ele faz o mesmo com a alquimia, a gnose e muitos outros elementos doutrinários que ele empresta da escola esotérica.

Primeiramente, observamos que Jean Borella é favorável à androginia ancestral:

"A relação pré-existente ao êxtase dos amantes, na verdade, está fundamentada na pré-existência do andrógino primordial, no qual homem e mulher estão unidos no início do mundo" (página 308).

"Se no 'êxtase' a natureza suspira pela unidade do andrógino, na 'amizade', a natureza suspira pela singularidade da essência 'humanidade' repetida na multiplicidade dos sujeitos individuais" (p. 307).

O mesmo autor também adota a ideia da androginia de Cristo. Ele escreve, em nota nas páginas 310 e 311:

"A sacralização do êxtase é o casamento; a relação de unidade, de acordo com a estrutura do amor em geral, é assumida por Cristo, em sua função de Andrógino celestial".

O Professor J. Borella até mesmo enuncia uma ideia, expressa bastante raramente, a androginia de Maria:  

"Nesse sentido, a realidade mais profunda do ser mariano não é a natureza feminina, mas além da distinção masculino-feminino" (página 344 em nota).

Finalmente, para o Professor Borella, a vida mística de cada alma consiste na "reconstituição do andrógino primordial", como é dito em toda parte pelos adeptos da mística universal:

"Segundo a natureza, o êxtase manifesta a polaridade cósmica masculino-feminino, cujo protótipo simbólico é a polaridade do céu e da terra. A energia do êxtase, que atrai os sexos um para o outro, tem seu princípio no desejo de reconstituir o andrógino primordial. Como tal, esse amor não é amor por uma pessoa, mas pela natureza masculina ou feminina" (página 305).

Este trecho deve ser associado ao seguinte:

"Também em nós mesmos é necessário restaurar o andrógino primordial através da 'metanoia' do 'eu' que se desvia da psique fascinadora e se volta para o sol espiritual" (página 312).

A adesão do Professor J. Borella a esse tema essencial da escola esotérica não deixa absolutamente nenhuma dúvida. Mas ele não é o único. Janine Chanteur publicou recentemente um livro intitulado "Platão, o desejo e a cidade". O Professor Claude Rousseau dedicou a este livro um artigo analítico na "La Pensée Catholique" de março-abril de 1981, nº 191, e neste artigo, ele parabeniza Janine Chanteur por uma passagem que lhe agradou e "onde ela restitui ao mito do andrógino sua sutil verdade, até então imperceptível pelos comentaristas".

Quanto a nós, sobre o andrógino, não falamos de "verdade sutil", mas de sutil erro.