3 - Séraphitus - Séraphita
Sabemos da grande influência que as visões de J. Böhme e os livros de E. Swedenborg exerceram sobre a primeira geração dos românticos alemães. Entre os temas que eles emprestaram do "Philosophus teutonicus", podemos destacar o do andrógino. É graças aos românticos alemães que esse mito, ao mesmo tempo antigo e novo, ganhou uma extensão popular.
Aqui apresentaremos apenas um exemplo desses empréstimos, embora haja muitos outros para citar. François Xavier Baader (1765-1841), inicialmente naturalista, tornou-se depois filósofo e lecionou na Universidade de Munique. Seu sistema apresenta uma extraordinária mistura de misticismo e sã crítica. Ao que parece, ele tinha uma inclinação pessoal pelo Catolicismo, desde que estivesse livre do papado, e ele colocava a Igreja Grega muito acima da Igreja Latina.
É evidente que F.-X. Baader tinha elementos para atrair as simpatias da escola esotérica moderna. Jean Libis, no livro "O mito do andrógino", cita dele a seguinte frase, bastante característica de fato:
"O amor só é verdadeiro se o homem e a mulher não são interiormente nem homem nem mulher."
Uma concepção singular. F.-X. Baader acreditava que nosso esforço na terra deveria ser acelerar a restauração, inevitável aliás, de nossa androginia primordial. Pois começou-se a falar, um pouco por todo lado, de uma androginia escatológica, isto é, da androginia considerada como o último fim do homem: quando chegar a restauração de todas as coisas, os homens se tornarão novamente, como antes da queda, seres híbridos, portanto perfeitos, poderosos e felizes. F.-X. Baader não é o único escritor romântico alemão que foi fascinado pelo andrógino. Jean Libis, que examinou cuidadosamente o assunto, também cita Karl Ritter:
"Os pensadores românticos, mais receptivos do que seus antecessores às solicitações do inconsciente, às vezes sentiram profundamente, sem no entanto procurar teorizar de forma sistemática, a tragédia existencial que transparece na condição sexual do homem. Assim, para Karl Ritter, a diferença dos sexos é a causa de todos os nossos males, de tal forma que apenas a futura vinda do androgino é capaz de abolir nosso infortúnio ontológico." (O Mito do Andrógino, página 223).
Interrompendo aqui os exemplos dos escritores românticos alemães, chegamos a um romance francês de Balzac, intitulado "Séraphita". O herói deste romance é simplesmente um hermafrodita, cujo nome é duplo; ele se chama "Séraphitus-Séraphita".
Quanto à heroína, ela se chama Minna e está apaixonada por Séraphitus, de quem irradia uma beleza transcendente:
"Nenhum tipo conhecido", escreve Balzac, "poderia dar uma imagem dessa figura majestosamente masculina para Minna, mas que, aos olhos de um homem, eclipsaria, por sua graça feminina, as mais belas cabeças devido a Rafael". E Balzac nos faz redescobrir, nos desenvolvimentos que se seguem, que a essência de seu herói é propriamente angelical, daí seu nome "Séraphitus-Séraphita". É, para concluir, um anjo descido à terra; um anjo ou melhor um demônio.
Entre os continuadores franceses deste tema "romântico alemão", não podemos deixar de mencionar Josephin Peladan (falecido em 1918), que se deu o título de "Sâr" e cujas ideias ocultistas e rosacrucianas são conhecidas. Ele escreveu cerca de vinte obras, incluindo um romance intitulado precisamente "O Andrógino". É mais um manifesto ideológico que trata da origem e das finalidades androgínicas do homem.