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3 - Os Quatro Instrumentos

É comum observar que há uma simetria entre, por um lado, o consumo do fruto proibido pelo primeiro Adão, no início da humanidade, e, por outro lado, a crucificação do Novo Adão na colina de Jerusalém. Esses dois episódios, ambos relatados com solenidade nas Escrituras, correspondem entre si.

"Assim como quatro instrumentos", escreveu Santo Ambrósio, "serviram para nossa queda: Adão, Eva, a serpente e a árvore, da mesma forma, quatro instrumentos serviram para nossa redenção: Jesus, Maria, José e a Cruz".

Santo Ambrósio utiliza aqui a palavra "instrumento"; nós diríamos mais comumente que são agentes ou ministros. Ele acredita que essas duas séries de quatro agentes se correspondem.

Adão corresponde a Jesus, que é chamado desde sempre de "Novo Adão". Jesus assume todas as consequências do consumo do fruto proibido pelo primeiro Adão e expira exclamando "está consumado".

A correspondência também é muito clara entre Eva e Maria. Eva foi "a auxiliadora semelhante a ele" que Deus modelou para o primeiro homem. Da mesma forma, Maria é a auxiliadora que Deus preparou para "o primogênito de toda a criação", que é Jesus. A Igreja reconhece em Maria as funções de Co-redentora e lhe concede o título de "Auxiliadora", pois ela é a auxiliadora de Jesus. O comportamento de Maria junto a Jesus é como o simétrico daquele de Eva junto a Adão. Maria auxilia a reverter o que Eva auxiliou a desfazer.

É mais surpreendente comparar São José com a serpente. No entanto, essa é a posição que Santo Ambrósio lhe atribui em sua enumeração. A virtude essencial de São José é a prudência. Ele também possui a disciplina do silêncio. No entanto, existem dois tipos de prudência: a prudência segundo o espírito e a prudência segundo a carne.

A prudência segundo o espírito é aquela que se alia à simplicidade da pomba, conforme o preceito: "Sejam prudentes como a serpente e simples como a pomba". Esta prudência segundo o espírito reserva-se, como fez o primeiro José, o Patriarca, ao reservar o trigo para o Faraó. Ela se oculta, é verdade, mas não se esconde, pois é simples. E qual é o trigo que São José tinha que esconder? Esse trigo é Nosso Senhor Jesus Cristo, que ele guardou no Egito até que os inimigos da Criança desaparecessem. Com sua prudência [e com seu silêncio sobre o nascimento miraculoso de Jesus, do qual ele nunca falou], São José enganou a serpente, ele agiu astutamente. Ele é o "agente" mais diretamente oposto à serpente.

Restaria, se ainda não o tivéssemos feito, comparar entre si os quartos "instrumentos" da enumeração ambrosiana: a árvore do Paraíso e a da Cruz. Agora conhecemos sua correspondência. A literatura cristã é rica em meditações de todas as épocas sobre essa comparação entre as duas árvores. Podemos contemplar indefinidamente esses símbolos sem nunca nos cansarmos.