3 - As alterações pré-diluvianas da Tradição
As Escrituras dão, para o período que precedeu o dilúvio, o nome de dez patriarcas: Adão, Sete, Enos (foi durante o patriarcado de Enos que "começou-se a invocar o nome do Senhor", Gênesis, III, 26), Cainã, Maalalel, Jarede, Enoque (que "andou com Deus e não foi mais visto, porque Deus o arrebatou", Gênesis, V, 24), Matusalém, Lameque e Noé.
O Gênesis não diz se todos os dez contribuíram para enriquecer a Tradição Revelada. É certo para três deles: Enos, Enoque e Noé. Mas para os outros, não sabemos nada. Nem mesmo temos certeza de que historicamente, durante o período pré-diluviano, tenha havido apenas dez patriarcas. Pode ter havido outros, que as Escrituras não mencionam, contentando-se em nomear os principais. Os registros profanos da humanidade são silenciosos sobre esse assunto e, portanto, incapazes de nos informar. Assim, somos obrigados a recorrer aos registros religiosos, ou seja, aos textos da Bíblia, que pelo menos tiveram o mérito de nos revelar tudo o que é necessário para a salvação.
Também é certo que a humanidade pré-diluviana atraiu de Deus sérias reprovações. É interessante ver como elas foram formuladas:
"O Senhor viu que a maldade dos homens era grande na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre somente para o mal" (Gênesis, VI, 5). Um pouco mais adiante: "E a terra estava corrompida diante de Deus e cheia de violência. Deus viu a terra e eis que estava corrompida, pois toda carne tinha corrompido o seu caminho sobre a terra. Então Deus disse a Noé: "O fim de toda carne veio perante mim, pois a terra está cheia de violência por causa deles" (Gênesis, VI, 11-13).
Portanto, uma repreensão geral: "os pensamentos de seus corações estavam sempre inclinados para o mal" e apenas duas especificações: "corrupção e violência". É pouco para descrever o estado da Tradição, mas é suficiente para nos convencer de que não havia mais nem Tradição nem Religião.
Em relação a Noé, pelo contrário, é dito o seguinte:
"Mas Noé achou graça aos olhos do Senhor. Eis a história de Noé. Noé era um homem justo, íntegro entre os homens de seu tempo; Noé andava com Deus" (Gênesis, VI, 8-9).
Aqui também, as Escrituras dizem pouco, mas contêm muito; como de costume. "Noé andava com Deus" significa que ele praticava integralmente a Religião Revelada como a havia recebido. Portanto, é razoável pensar que ele conhecia a Tradição Primordial e suas quatro componentes essenciais: Um Deus, uma Lei, um Culto e uma Profecia. Ele foi o único a tê-la preservado e é essa Tradição que ele transmitirá a seus descendentes após o dilúvio.