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2 - O simbolismo da natureza

A doutrina de que há uma semelhança entre a criação material e a criação espiritual é uma daquelas que a Igreja Católica herdou da Sinagoga dos Judeus. "O que está embaixo é como o que está em cima". A mesma noção também é encontrada em uma expressão cuja origem se perde no horizonte: "O mundo dos corpos é a imagem do mundo dos espíritos". A mais bela dessas formulações é esta: "O céu que vemos é a imagem do céu em que acreditamos".

Há indiscutivelmente uma simetria entre os diversos graus da existência. Por que é assim? O simbolismo da natureza decorre da harmonia que Deus estabelece entre as diversas partes de Suas obras. As obras de Deus se chamam e se recordam. A Igreja Católica é particularmente consciente dessa harmonia, pois a considera uma das provas naturais da existência de Deus. Entre as criaturas, aquela que melhor manifesta a correspondência do que está embaixo com o que está em cima é o homem, criado precisamente à imagem e semelhança de Deus.

No livro que desejamos analisar, R. Guénon aplica esse princípio do simbolismo universal. Ele escreve, por exemplo: "Toda a natureza é o símbolo das realidades transcendentes" (Capítulo IV). Nada é mais exato. E se discordamos dele, certamente não é do princípio em si. Mas é da maneira como ele o aplica.

É uma doutrina perfeitamente correta a do simbolismo da natureza. O universo é de fato um livro que devemos ler. A criação é o símbolo do pensamento do Criador.

Desde a mais remota antiguidade, os homens tentam resumir este imenso símbolo por meio de sinais gráficos simples que esquematizam a harmonia universal, ou seja, a semelhança do que está embaixo com o que está em cima. E a esses sinais também foi dado o mesmo nome de símbolos. Eles reúnem, de fato, um significado "inferior" e um significado "superior", destacando sua harmonia.

Os mais conhecidos desses símbolos gráficos são o Tai-ki dos chineses, que é um disco bicolor associando os dois princípios Yin e Yang, o Selo de Salomão formado por dois triângulos contrários, e a Árvore sefirótica imaginada pelos judeus da Diáspora.

Muitos autores, incluindo R. Guénon, incluem o símbolo cruciforme entre esses gráficos de síntese destinados a resumir tanto Deus quanto o universo. E de fato, não se pode contestar a antiguidade desse símbolo cruciforme. No entanto, também não se pode contestar duas importantes características. Primeiro, sua distribuição é muito dispersa. A cruz pré-cristã não foi monopolizada por nenhuma religião específica e é encontrada em vários países, figurando entre outros emblemas.

E então, os exemplares que foram descobertos são raros. Três historiadores da antiguidade, R. Christinger, J. Eracle e P. Solier, em um trabalho coletivo, "A Cruz Universal", relatam alguns exemplares na Ásia, no Egito e no México. Mas enfim, não se pode dizer que o símbolo cruciforme tenha sido realmente muito difundido antes do Cristianismo. Essa disseminação e essa raridade demandariam uma interpretação sobre a qual talvez possamos voltar ocasionalmente.

É precisamente este símbolo cruciforme que R. Guénon vai estudar, de forma abstrata e sem atribuir-lhe uma idade. Ele vai examiná-lo sob todos os ângulos e mostrar que este emblema destaca particularmente bem a harmonia que existe entre as camadas inferiores e superiores da hierarquia dos seres. Da nossa parte, observaremos que durante sua análise, Guénon substitui a Cruz histórica de Nosso Senhor por uma cruz dita metafísica, que não é um enriquecimento como ele declara, mas sim um incontestável empobrecimento.