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1 - Da cruz ao vórtice esférico universal

Continuamos nossa análise do livro de R. Guénon, «O Simbolismo da Cruz». Onde estávamos? Observamos as mutações que o autor impôs à cruz cristã. Essas mutações lhe permitiram, como vimos, subordinar o significado sobrenatural da cruz a um outro significado que ele declarou mais elevado e ao qual deu o nome de simbolismo metafísico. A cruz redentora tornou-se, assim, para ele, o caso particular de um emblema metafísico considerado mais essencial.

Vimos também que, para obter esse resultado, Guénon começou por adicionar à cruz histórica de Nosso Senhor um terceiro braço que a torna inapta para receber um crucificado e que a transforma em um sistema de coordenadas retangulares em três dimensões. A esse sistema ele dá o nome de cruz absoluta.

Depois, ele procedeu a uma segunda transformação. Ele aumentou o número de raios até o infinito, submergindo assim a cruz inicial em sua própria multiplicação. Finalmente, ele colocou, ao redor desse feixe de raios, uma esfera envolvente. A essa associação da cruz e da esfera, ele dá agora o nome de Vórtice Esférico Universal, que simboliza a existência total.

Mas o vórtice não é uma figura fixa e estável. É um símbolo pulsante, animado por uma ondulação permanente sob o efeito das vibrações do centro. A esfera do vórtice é formada pela propagação, sobre os inúmeros raios, das ondas cuja origem é o centro. Apesar de suas vibrações, no entanto, o centro é chamado, como nas religiões do Extremo Oriente, o Meio Invariável.

Mas então, quem colocaremos no centro do vórtice? Pois é necessário haver uma forma humana ali. O Cristo, antigo ocupante da Cruz, deixou um lugar vazio que permanece impregnado de uma nostalgia incontestável. A esse Cristo que foi destituído, é preciso substituir por uma figura mais geral. Será o Homem Universal, porque, nos garantem, ele é encontrado em todas as religiões. E ele será andrógino para ser mais "total".

Eis então o andrógino destronando o Cristo no centro simbólico do mundo e instalando-se no vórtice em uma crucificação ideal. Mas Guénon vai expor as condições que o andrógino deverá cumprir para ter uma representatividade absolutamente universal. Seu raciocínio vale a pena ser examinado, pois revela o significado profundo que ele atribui ao andrógino.