1 - A Cruz Latina
Antes de tudo, qual foi a forma da verdadeira Cruz? A forma sobre a qual todas as gerações de cristãos meditaram é, evidentemente, a da Cruz histórica de Nosso Senhor. Eles não meditaram sobre uma Cruz ideal imaginada por eles, mas sobre a Cruz real do Calvário. Ora, a forma tradicional da Cruz é a chamada Cruz Latina, ou seja, aquela em que a viga vertical supera, em direção ao alto, a viga horizontal em cerca de um terço da sua altura.
No entanto, essa não era a forma do instrumento de suplício utilizado pelos romanos para os escravos criminosos. Eles haviam introduzido na Palestina uma Cruz em forma de T, na qual o eixo vertical não se elevava acima da barra transversal. Assim, inscrevia-se o T (a letra tau do alfabeto grego) na camisola dos condenados. O tau havia se tornado sinônimo de morte infamante.
Os Padres da Igreja sabiam muito bem de tudo isso. Eles conheciam a existência da cruz em tau para as crucificações, especialmente a dos escravos. E, no entanto, eles não se opuseram à tradição da "Cruz Latina". Por que isso? Primeiro porque não se pode excluir que a Cruz do Gólgota tenha tido efetivamente a forma mais tarde chamada de "latina". É até provável, já que tal tradição é verdadeiramente muito geral. Pode-se compará-la à tradição, transmitida pela iconografia mais antiga, da barba usada por Nosso Senhor.
Além disso, encontra-se nos Padres outra resposta à objeção do tau:
"Supondo mesmo", dizem eles, "que as duas vigas estivessem dispostas uma sobre a outra à maneira do tau, a inscrição da Cruz, que foi acrescentada por ordem de Pilatos, era suficiente, por si só, para dar ao conjunto a forma da 'Cruz Latina'." Portanto, pode-se considerar a Cruz Latina como a forma historicamente mais provável, esteticamente a mais equilibrada e simbolicamente a mais completa, ao mesmo tempo que a mais simples. Forma, portanto, sobre a qual foi legítimo, e ainda é, basear a meditação cristã do simbolismo da Cruz.