ANEXO III: O VERDADEIRO PENSAMENTO DE MONSENHOR LEFEBVRE
Os inúmeros escritos de Monsenhor Lefebvre parecem por vezes contraditórios. É compreensível que ele tenha tido um discurso diferente dependendo de se dirigir às autoridades romanas, a um público amplo mal formado, a jornalistas confusos ou aos seus próximos.
Mas basta recorrer a eventos graves, como durante a suspens a divinis, ou das consagrações, para conhecer bem o seu pensamento mais seguro.
Recordemos alguns trechos do sermão que ele proferiu durante as ordenações sacerdotais de 29 de junho de 1976, logo após a suspens a divinis, texto suprimido em uma recente reedição [26] de seus discursos de 1976:
"Este novo rito pressupõe uma outra concepção da religião católica, uma outra religião..., este novo rito é obra de uma ideologia diferente, de uma ideologia nova... Bem, nós não somos dessa religião, não aceitamos esta nova religião.
"Nós somos da religião de sempre, nós somos da religião católica, não somos da religião universal, como eles a chamam hoje em dia. Já não é a religião católica.
"Não somos dessa religião liberal, modernista, que tem seu culto, seus sacerdotes, sua fé, seus catecismos, sua bíblia - sua bíblia ecumênica. Nós não as aceitamos... não podemos aceitar essas coisas. É contrário à nossa fé... escolhemos não abandonar a nossa fé... o Papa recebeu o Espírito Santo não para fazer verdades novas, mas para nos manter na fé de sempre".
Essas palavras muito firmes foram confirmadas pelo prefácio de "J'accuse le Concile", escrito algumas semanas depois, onde se pode ler:
"...temos o direito de afirmar que o espírito que dominou no Concílio... não é o Espírito Santo... Eles viraram as costas para a verdadeira Igreja de sempre... declaração herética... espírito não católico... conjuração estupefaciente... qual foi, na verdade, o papel do Papa nessa obra? sua responsabilidade? na verdade, ela parece esmagadora... é-nos impossível entrar nessa conjuração... uma única solução: ABANDONAR ESSAS TESTEMUNHAS PERIGOSAS".
Foi isso que ele fez, pois para Mons. Lefebvre, a seita conciliar não era a Igreja Católica.
Mas o documento essencial é a carta que ele enviou aos quatro futuros bispos.
Esta carta é certamente a mais importante que ele escreveu em toda a sua vida. Compreender-se-á facilmente.
Enviada dez meses antes das consagrações, ela deve ter sido maturada, refletida, meditada longamente, tanto a decisão era grave. Ele havia pensado em consagrar há muito tempo.
"Chegado ao limiar do juízo particular, consciente da sua salvação eterna e das contas a prestar", consciente das batalhas travadas pelos poderes do inferno contra o que foi a sua vida, o seu amor, ou seja, a defesa da Santa Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que ele via atacada de todos os lados, ele decidiu consagrar.
Ele sabia as consequências desse ato, e o que escreve para levar esses quatro jovens sacerdotes a "aceitar receber as graças do episcopado católico"?
Ele lhes apresenta a situação como ela é e que se vê "constrangido pela Divina Providência a transmitir a graça do episcopado que recebi".
E por quê?:
"Para que a Igreja e o Sacerdócio católico continuem a subsistir para a Glória de Deus e a salvação das almas".
Para chegar a tal pedido, ele lhes apresenta primeiro o estado da Roma atual. Reavemos:
"A cátedra de Pedro e os postos de autoridade em Roma, sendo ocupados por anticristos, a destruição do Reino de Nosso Senhor prossegue rapidamente no próprio Seu Corpo místico aqui em baixo, especialmente pela corrupção da Santa Missa, expressão esplendorosa do triunfo de Nosso Senhor pela Cruz "Deus reinou a partir do madeiro" e fonte de extensão de Seu Reino nas almas e nas sociedades".
"Assim aparece com evidência a absoluta necessidade da permanência e da continuação do sacrifício adorável para que 'Seu Reino chegue'".
"A corrupção da Santa Missa trouxe a corrupção do Sacerdócio e o declínio universal da Fé na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo".
E mais adiante, ele especificará:
"É isso que nos valeu a perseguição da Roma anticristã, dessa Roma modernista e liberal.
"É por isso que, convencido de não cumprir senão a Santa Vontade de Deus..."
E os quatro aceitaram. Certamente após longas orações e meditações. Generosamente. Corajosamente. Eles devem meditar muito frequentemente sobre essa carta de seu fundador que lhes pede para assegurar a transmissão da Fé.
Eis o documento essencial do pensamento de Mons. Lefebvre. Ele se encontra no número especial de Fideliter dedicado às consagrações. Poderemos reler com proveito a conferência de Mons. Lefebvre, impressa em seguida e intitulada: "A obediência pode nos obrigar a desobedecer?", questão que poderia ser novamente muito atual.
E quanto à excomunhão?
Os anos passam e esquecemos.
É bom relembrar o que Mons. Lefebvre pensava a respeito.
No número especial de Fideliter, 29-30 de junho de 1988, dedicado às consagrações, encontramos na p. 18 os comentários que ele fez sobre sua excomunhão, durante a conferência de imprensa de 15 de junho de 1988 em Écône:
"L'Osservatore Romano publicará a excomunhão, uma declaração de cisma, evidentemente. O que tudo isso quer dizer!
"Excomunhão por quem? Por uma Roma modernista, por uma Roma que já não tem perfeitamente a Fé católica... Então somos excomungados por modernistas, por pessoas que foram condenadas pelos Papas anteriores. Então, o que isso pode significar? Somos condenados por pessoas que estão condenadas, e que deveriam ser publicamente condenadas. Isso nos deixa indiferentes. Isso obviamente não tem valor".
Com razão, Mons. Lefebvre estava orgulhoso de sua excomunhão. A Igreja Católica não podia permanecer em comunhão com a seita conciliar. E, acima de tudo, a seita conciliar não podia suportar a comunhão com a Igreja Católica. Prova evidente de que ela não é católica.
Relendo o número 65 da revista Fideliter, número no qual todos se regozijam da excomunhão (particularmente o Padre Aulagnier em seu editorial), lemos na p. 4 estas palavras de Mons. Lefebvre:
"E por que nos excomungam? Porque queremos permanecer católicos, porque não queremos segui-los nesse espírito de demolição da Igreja. Já que você não quer vir conosco para contribuir para a demolição da Igreja, nós o excomungamos.
- Muito bem. Obrigado. Preferimos ser excomungados. (Aplausos vivos e prolongados). Não queremos participar dessa obra terrível que se realiza há vinte anos na Igreja..."
Então, caríssimos amigos, vocês enfrentarão todas essas dificuldades. Vocês serão perseguidos. Serão perseguidos porque querem permanecer fiéis à Igreja Católica de sempre. Porque querem permanecer fiéis ao Santo Sacrifício da Missa, aos sacramentos e ao ensino da Igreja".
E Mons. Lefebvre terminava lembrando a predição da Virgem de La Salette:
"Roma perderá a Fé. Uma eclipse se espalhará sobre Roma".
Fiéis a esse pensamento muito claro, em 6 de julho de 1988, todos os superiores da Fraternidade São Pio X assinaram a carta publicada no número 64 de Fideliter, julho-agosto de 1988, da qual extraímos a seguinte frase:
"Não pedimos nada melhor do que ser declarados ex communione do espírito adúltero que sopra na Igreja há 25 anos, excluídos da comunhão ímpia com os infiéis... seria para nós uma marca de honra e um sinal de ortodoxia diante dos fiéis. Estes têm, de fato, um direito estrito a saber que os sacerdotes a quem se dirigem não são da comunhão de uma contrafação de Igreja, evolucionista, pentecostal e sincretista".
Enfim, todas as pessoas informadas sabem que no final de sua vida Mons. Lefebvre dizia a quem quisesse ouvir:
"Não é possível que esses 'papas' sejam os sucessores de Pedro".
Ele quis ir mais longe e ensinar mais?
É por isso que ninguém pôde se aproximar dele antes de morrer? É por isso que não temos o seu testamento?
[26] Não é a primeira vez que Mons. Lefebvre é censurado por seus sucessores. O que pensar disso?
TRADIDI VOBIS QUOD ET ACCEPI