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2. A Batalha Superior

1 – Um duplo objetivo

A batalha superior tem um duplo objetivo:

  • a extirpação do poder da Besta;
  • a restauração do poder de direito divino.

No entanto, este duplo objetivo é radicalmente impossível de ser alcançado pela minoria reacionária atualmente existente, neutralizada que está pelo aparato maçônico.

E no entanto, sabemos, através das promessas feitas pelo Sagrado Coração a Santa Margarida Maria e a tantas outras almas privilegiadas, que esta batalha já está ocorrendo invisivelmente e que está progredindo inexoravelmente em direção ao seu fim vitorioso destinado a ela.

Que sabemos sobre o provável desenrolar desta batalha? Sabemos com certeza duas coisas:

  • ela é conduzida pela mesma minoria que já está enfrentando a batalha inferior;
  • ela terminará com um milagre de ressurreição.

Vamos examinar, em dois parágrafos, o lugar e o papel respectivos desta minoria e deste milagre.

A – O pequeno número

Aqueles que compreendem o plano de Deus e se esforçam para corresponder a ele formam, concordemos, esse "pequeno número" ao qual Nossa Senhora de La Salette apela quando diz "combatam, filhos da luz, vocês, pequeno número que vê".

Qual é, no plano sobrenatural, o significado desta minoria, e o que podemos esperar dela em nossa luta terrestre?

Deus sempre reserva um "pequeno número" em quem Ele coloca a Fé como reserva. Às vezes, Ele confia isso a apenas um homem. Por exemplo, Moisés tinha apenas seu cajado e sua fé para conduzir os hebreus para fora do Egito. Da mesma forma, Davi tinha apenas sua funda e sua fé para vencer Golias. Da mesma forma, na época da Encarnação, havia apenas uma família perfeita, a Sagrada Família, cujo chefe era São José.

Esta "reserva de fé" sendo estabelecida, Deus só intervém pessoalmente no último minuto, quando toda esperança humana está perdida. É evidente que um "Salvador" só salva quando tudo está perdido.

Para que o desdobramento do poder divino seja manifesto, a "reserva de fé" precisa ser reduzida a quase nada. Mas não deve desaparecer completamente.

Há aqui uma disposição providencial que precisa ser bem compreendida.

Pareceria, no entanto, que se não restasse absolutamente nada, absolutamente nenhuma fé, se Deus não tivesse mais nenhum "testemunho" na terra, Seu poder e Sua vitória seriam mais evidentes cada vez que Ele restaurasse Suas obras arruinadas pela negligência humana.

Mas é preciso entender bem que se Deus preserva uma base ínfima, um único homem, uma família única, um "pequeno número", é porque Ele não está fazendo hoje uma nova criação. Ele realiza Suas obras terrenas com "nada", mas não com o nada. Ele opera com pequenos restos, ou seja, com coisas insignificantes, com "nada" que lembra o nada do qual Ele criou o universo, mas esses "nadas" não são, no entanto, o nada.

Este é o papel sobrenatural do "pequeno número" evocado por Nossa Senhora de La Salette: um resto ínfimo que Deus pretende usar para restaurar o que foi abolido.

Qual é agora o seu valor na luta terrestre? E, antes de mais nada, podemos atribuir a ele um nível quantitativo?

O "pequeno número" do qual estamos falando é simplesmente uma minoria que Deus constitui por Si mesmo e cujo número Ele aumenta ou diminui conforme Lhe convém. Ele recruta essa minoria onde Ele quer e não apenas entre aqueles que se consideram, corretamente ou não, a elite designada.

Deve essa minoria se proibir de qualquer proselitismo para permanecer fechada? Tal restrição seria impossível de realizar e, aliás, não seria desejável. Um proselitismo moderado é necessário. Ele revela uma vitalidade saudável. Apenas é necessário que seja um proselitismo de detecção, limitando-se a descobrir almas já providencialmente preparadas, almas em "harmonia pré-estabelecida". Ele ultrapassaria seus limites normais se se transformasse em propaganda estridente, utilizando meios midiáticos.

Vamos tentar descobrir, tanto quanto possível, o papel do "pequeno número" na batalha superior. Mas entenderemos melhor esse papel após examinarmos em quais condições poderia ocorrer o "milagre da ressurreição" que o pequeno número precisamente deveria invocar.

B – Um milagre de ressurreição

Ao sintetizarmos as profecias privadas que os arquivos religiosos conservaram desde os primórdios da França cristã, rapidamente nos convencemos de que temos o direito de esperar, em favor da antiga monarquia hoje destruída, uma intervenção divina que podemos chamar de um milagre de ressurreição.

Quem, então, está prometido a essa ressurreição?

Primeiramente, é a Realeza abolida há 200 anos. Mas também é a França, que, privada de seu chefe, isto é, de sua cabeça, morreu para a graça como nação. E é ainda a Igreja universal, caída sob o poder de seu adversário e que também se encontra em estado de morte mística.

Para compreender o que deve ocorrer, somos naturalmente levados a nos voltar para a ressurreição-tipo, ou seja, a ressurreição de São Lázaro descrita no Evangelho de São João, capítulo XI. As quatro fases desse evento extraordinário nos sugerirão quais podem ser também as quatro fases da ressurreição da França real.

2 – As quatro fases da ressurreição de Lázaro

Primeira fase

Jesus, sabendo o que deve realizar, avança com deliberada lentidão em direção à casa de Lázaro em Betânia. Ele encontra Marta e imediatamente pergunta sobre seu nível de fé, pois essa é a condição prévia para a ressurreição daquele que acabara de morrer: "Eu sou a ressurreição e a vida... crês tu nisto?" E Marta responde: "Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo".

E ela acredita nisso, não apenas por adesão a uma doutrina magistral, que ainda não existia, mas ela crê por "fé humana", assim como Carlos VII acreditaria nas vozes de Joana d'Arc. Essa ausência de ceticismo em Marta, essa confiança, abre caminho para o exercício do poder divino.

Segunda fase

Jesus, então, estremece novamente em si mesmo e se aproxima do túmulo. Era uma caverna, e uma pedra estava colocada sobre a abertura para fechá-la. Jesus diz: "Tollite lapidem" (tirai a pedra). Esse trabalho, de fato, não é incumbência de Deus, pois está ao alcance da força humana. Por isso, o Verbo Encarnado não se encarrega disso.

Observamos também que a pedra é um obstáculo entre Jesus e o cadáver que Ele pretende trazer de volta à vida. Mais adiante, veremos qual é, na ótica específica de nossa interpretação, o significado desse obstáculo.

Terceira fase

Esta é a fase essencial. Jesus clama com voz forte: "Lazare, vem para fora" (Lazaro veni foras). Ele faz o que somente um Deus pode fazer: ressuscitar um morto. Encontraremos esta fase essencial também no processo de restauração.

Quarta fase

O morto saiu do túmulo, com as mãos e os pés amarrados com faixas, e o seu rosto envolto num sudário. Jesus disse-lhes: "Desatai-o e deixai-o ir" (Solvite eum et sinite abire). Mais uma vez, são os homens que realizam esta ação, pois desatar as faixas não requer a intervenção divina.

Estas são as quatro fases da ressurreição-tipo: "Ego credidi" - "tollite lapidem" - "veni foras" e "solvite eum".

Ao aplicarmos esta distinção quadruplicada, iluminamos os eventos esperados e os tornamos mais compreensíveis. Isto é o que faremos em breve.

Testemunhamos um episódio menos espetacular, mas de significado semelhante, quando Jesus ressuscitou a filha de Jairo, uma menina de doze anos. "Tomando-a pela mão, disse em alta voz: 'Menina, levanta-te!' O espírito dela voltou, ela se levantou imediatamente, e Ele ordenou que lhe dessem comida" (Lucas 8:54-55).

Neste milagre também observamos a operação divina da ressurreição primeiro. Em seguida, apenas os homens fazem o que lhes compete: alimentar a menina ressuscitada. No milagre da ressurreição de Lázaro, o trabalho de alimentar a menina corresponde ao trabalho de desatar as faixas.

3 – As 4 Fases da Restauração

Ego credidi

Nós não evitaremos o teste preliminar da confiança. Acreditamos que Jesus é capaz de restaurar a monarquia que Ele próprio estabeleceu em Reims no passado? Muitos hoje não acreditam. Mas sempre haverá um "pequeno número" que acreditará. Sobre eles repousa a responsabilidade não de realizar a restauração, mas de torná-la possível, de abrir caminho para ela. Para abrir esse caminho, é preciso começar por crer no poder e na misericórdia do Senhor.

Omnipotens et misericors Dominus

Estamos numa situação muito semelhante à de Marta. Assim como ela, não seguimos uma doutrina magistral, já que a restauração da monarquia não é uma verdade de fé divina. Se acreditamos nisso, é apenas "de fé humana". A Igreja não nos obriga a isso, mas cremos porque provas racionais nos foram fornecidas.

Tollite lapidem

Não haverá intervenção divina antes de remover a pedra. Remover a pedra significa remover o obstáculo que impede Deus de intervir. E esse obstáculo é a insuficiência de nossos desejos e orações.

Como pode ser necessário pedir ao Nosso Senhor, com tanta insistência, por uma intervenção que Ele mesmo nos prometeu e deseja nos conceder? Essa é, no entanto, a economia da Graça, algo que pode surpreender nossa lógica humana.

Para nos ajudar a aceitar essa lógica da graça, observemos que o Verbo Encarnado, para quem o universo foi criado, está sujeito à necessidade de "postular", ou seja, reivindicar sua própria herança. "Postula a me et dabo tibi gentes hereditatem tuam et possessionem tuam terminos terræ" (Pede-Me, e Eu te darei as nações como herança e os confins da terra como tua possessão) (Salmo 2, 8). A herança lhe pertence por direito, mas para entrar em posse dela, Ele deve reivindicá-la.

Se o herdeiro de direito deve pedir sua herança, a fortiori nós, que somos tão insignificantes, devemos pedir por uma restauração à qual não temos direito estrito em justiça. Ela nos é prometida, é verdade, mas não nos é devida.

O Messias prometido sempre deve ser desejado. Ele não pode aparecer em um país que lhe manifesta indiferença. Sempre é necessário uma minoria que o espere. Já era necessário desejá-Lo sob o império da antiga lei. A mesma necessidade persiste hoje para nós, que esperamos Sua vinda em majestade: Ele deve ser desejado antes de todos os eventos que são prefigurações de Sua "segunda vinda".

Nas Escrituras, o Verbo Encarnado é frequentemente chamado de o Desejado das nações. Ele deve ser desejado, Ele e todos aqueles que Ele envia "nos tempos determinados", para prefigurá-Lo e prepará-Lo. E o Rei do Sagrado Coração é precisamente um desses.

Assim, Nosso Senhor nos convoca a um verdadeiro ministério de desejo. Ele nos permite participar, de acordo com nosso estado, no governo providencial sobre a cristandade em perigo.

Que atividade este ministério vai exigir de nós? Para abrir caminho à intervenção divina, é necessário que a soma dos desejos tenha atingido sua plenitude. Remover a pedra é eliminar o obstáculo entre Jesus e o cadáver. Portanto, é também cumprir a medida dos desejos e permitir que a ação divina se exerça.

Lazare veni foras

Não há restauração possível sem uma intervenção divina. Não há meio humano de ressuscitar, seja um cadáver de quatro dias, seja uma monarquia abolida há 200 anos e execrada por uma sociedade secreta mundialmente organizada.

Devemos estar bem convencidos de que a ressurreição que esperamos é primeiramente obra de Deus. Ela está destinada a proporcionar a glória de Deus, como já foi o caso na ressurreição de Lázaro: "Esta doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela" (João XI, 4).

Pois Deus é zeloso por Sua glória: "Não darei a minha glória a outrem" (Isaías XLII, 8). Ou ainda, no Deuteronômio V, 3: "Eu sou o Senhor teu Deus, forte e zeloso".

Deus reserva para Si a glória da ressurreição. Portanto, devemos nos humilhar diante d'Ele, para não lhe roubar nada de Sua glória.

Solvite eum

Após a ação de Deus, virá a nossa. Pois a nossa também virá, mas somente depois, como o desembaraço das faixas de Lázaro e como a refeição dada à filha de Jairo.

O que teremos a fazer então? Sem dúvida, muitas coisas. É até provável que 'a colheita seja abundante e os trabalhadores sejam poucos'. Mas as tarefas daquela época, não podemos conhecê-las agora. Estão fechadas nos segredos do futuro. O texto diz apenas: 'Deixai-o ir'. Esta expressão sugere que Deus dará ao Rei do Sagrado Coração uma inspiração em relação às novas circunstâncias. Só precisaremos nos deixar guiar.

Em suma, a 'batalha superior', aquela que tem como objetivo a mudança de poder, é travada apenas por Nosso Senhor. É sua obra pessoal.

E aliás, por quem mais poderia ser executada? De fato, trata-se principalmente de retirar seu poder da Besta, contra a qual o homem é impotente. É necessário ao mesmo tempo proceder como na segunda fundação de uma monarquia de direito divino. Todas causas que só podem ser operadas por Deus.

Contudo, o divino Mestre, como vimos, deseja que o 'pequeno número' intervenha para remover o obstáculo que se opõe à ação divina, e mesmo, até certo ponto, para desencadeá-la.

Demos o nome de 'Batalha preliminar' a todo esse trabalho preparatório. Este trabalho é um verdadeiro combate porque tem uma hostilidade geral a vencer. É esta fase preparatória que gostaríamos de aprofundar agora tanto quanto possível.