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1. A BATALHA INFERIOR

Como conduzir a "batalha de manutenção"? Ela apresenta, devido às suas raízes históricas, um certo número de particularidades das quais decorrem, para os líderes de grupos, servidões táticas. Eles não podem se entregar a quaisquer ações. Suas iniciativas são circunscritas a certos limites. Servidões e limites que evocaremos em quatro parágrafos:

1. O dinamismo reacionário fundamental

As verdadeiras forças vitais da França sempre foram antirrevolucionárias. O dom inicial dado ao nosso país foi a monarquia cristã. A república laica é um castigo causado pelos pecados do povo, "propter peccata populi". A tendência espontânea da França não é para a república, mas para a restauração. Nossa Nação deseja, especialmente, retornar ao dom inicial. Esse é seu dinamismo fundamental.

Essa rejeição instintiva da revolução é particularmente perceptível hoje. Estamos assistindo, indiscutivelmente, a um renascimento das forças vitais. De modo que tradicionalistas, constatando a retomada do potencial reacionário, se consideram suficientemente poderosos para enfrentar, com sérias chances de sucesso, provas de força que os colocariam contra o poder revolucionário. E é preciso reconhecer que, em termos absolutos, eles têm razão, pois a reação elementar da nação, quando considerada isoladamente, é um fenômeno poderoso e particularmente atual.

No entanto, nos antípodas desse corrente fundamental, "o Adversário" teceu uma rede estreita de constrangimentos revolucionários que é totalmente artificial, mas que se impõe de maneira absoluta. O poder legal pertence a essa rede, e ainda mais o "poder oculto" que é seu conhecido inspirador.

A habilidade de nossos políticos, que é considerável, consiste essencialmente em fazer a França votar contra seu dinamismo fundamental. Esse é o principal trabalho deles, e é considerado admirável. A França é como uma montaria dominada por um cavaleiro que só trabalha para exauri-la. Ela não tem mais força para derrubá-lo. Enfim, a energia reacionária sempre renascente do nosso país é constantemente neutralizada, mutilada e invertida. As novas gerações antirrevolucionárias são ceifadas à medida que surgem. E a França avança de purificação em purificação. O "poder da Besta", embora essencialmente utópico por natureza, tornou-se, de fato, irreversível.

O atual aumento do dinamismo reacionário não deve nos iludir. Ele sofrerá o mesmo destino que os anteriores. Está sendo preparada uma nova purificação para ele.

Essa é a primeira particularidade da batalha inferior: saber que ela é travada por uma minoria, vigorosa, é claro, mas humanamente impotente. É bom que os líderes de grupos tomem consciência dessa primeira dificuldade. O dinamismo reacionário fundamental é real, mas é neutralizado por um dispositivo revolucionário praticamente insuperável.

2. A má posição jurídica

Os tradicionalistas têm consciência de defender os direitos de Deus diante do poder da Besta. Eles tiram daí seu ardor e confiança. Mas eles imaginam facilmente que essa posição de princípio lhes confere, sobre o Estado laico, uma preeminência jurídica. Eles descem às ruas brandindo o Decálogo e o Evangelho, acusando o Estado de violá-los. Eles os opõem aos prefeitos, aos governadores e aos ministros, dizendo-lhes:

"É seu dever, pelo direito divino, que está acima de todas as leis humanas, proibir o aborto, a eutanásia, as blasfêmias públicas nos espetáculos, a construção de mesquitas, a naturalização em massa dos muçulmanos... e todas essas coisas execráveis."

Mas como não ver que agora é tarde demais para sustentar tal discurso? Era preciso começar por se opor à laicização constitucional do Estado. Ora, precisamente, essa laicização foi alcançada, em 1958, graças aos votos dos católicos. Foram os católicos que inclinaram a balança para o lado da apostasia definitiva do Estado. Impulsionados por seus bispos, eles próprios manipulados pelo futuro cardeal Villot, então diretor do secretariado do episcopado francês, votaram em massa pela constituição laica que o general De Gaulle lhes propôs. Não é mais a hora de exigir do Estado sem Deus o reconhecimento dos direitos de Deus.

Na luta "dia a dia" que devemos travar, estamos reduzidos aos meios da legalidade laica que, além disso, se tornará cada vez mais rigorosa, reduzindo cada vez mais nossos meios de defesa.

Uma legalidade socialista está sendo estabelecida, na qual os cristãos e seu Deus serão considerados inimigos públicos. É compreensível que tal situação seja exasperante para os tradicionalistas e seus líderes de grupos.

No entanto, se sob o pretexto de fazer valer um direito divino, empreendermos contra o Estado laico uma guerra de princípios, transgrediríamos os limites da batalha inferior para entrar na zona de ação da batalha superior, que envolve uma estratégia diferente, como veremos.

3. A lamparina a ser mantida

A batalha dia a dia não é uma batalha de ruptura. As forças nela envolvidas não têm os meios para uma ruptura. Seu ministério próprio é o de salvaguardar "os restos que estavam prestes a perecer".

É necessário que o Mestre, quando Ele vier, nos encontre "vigilantes". Ele nos pede precisamente para não desaparecer, para não desperdiçar forças e vidas que são Suas e das quais Ele precisará.

Pois os combatentes da batalha inferior, como já observamos, são os mesmos que os da batalha superior, que visa à mudança do poder. Colocados, pela Providência, na charneira das duas fases, eles devem travar duas guerras que são simultâneas no tempo e diferentes quanto aos seus objetivos e estratégias.

Veremos que, na batalha superior, a parte de Deus domina tudo e obscurece totalmente a do homem. Mas vamos concluir daí que essa "parte divina" é negligenciável nos combates conservadores? Certamente que não. Como poderíamos, sem a ajuda do Céu, sem a ajuda dos anjos e dos santos padroeiros, enfrentar as etapas obrigatórias de uma guerra civil e estrangeira que podem ser resumidas em poucas palavras: provocações, desestabilização, reféns, represálias, delação, tribunais populares, tribunais clandestinos, terror político, vinganças pessoais, inflação, falência, anarquia?

Uma das condições essenciais para manter, ao menos, uma humilde lamparina durante este período complexo e severo é a constante elevação do espírito ao Céu, para obter a cada instante as proteções indispensáveis. A parte de Deus, portanto, não é negligenciável nas lutas de manutenção.

4. Uma estratégia de prudência

Em relação à condução da batalha conservadora, duas observações preliminares se impõem:

  • essa batalha visa apenas objetivos secundários;
  • nenhuma assistência divina excepcional lhe é prometida.

Portanto, a batalha inferior deve ser conduzida segundo os métodos habituais do governo humano. É São Tomás (se nossa memória não nos falha) que nos indicará o essencial dessa conduta.

Conta-se que uma noite ele chegou para passar a noite em um mosteiro onde estava ocorrendo a eleição do Abade. "Elegemos o mais sábio", disseram-lhe. São Tomás objetou:

"Se é o mais sábio, que ele ensine." Os monges repetiram a eleição. "Desta vez, elegemos o mais piedoso." "Se é o mais piedoso", disse ele, "que ele reze." Eles repetiram uma terceira vez. "Elegemos o mais prudente." "Se é o mais prudente, que ele governe."

A batalha conservadora deve ser conduzida com prudência. Ora, o mesmo São Tomás, em outra passagem, aceita, no caso de o povo ser gravemente tiranizado, a possibilidade de uma revolta sob certas condições que se resumem a isto: é necessário que o remédio, ou seja, a revolta, não seja pior do que o mal, ou seja, a tirania. Se a revolta causar mais inconvenientes do que vantagens, ela ultrapassa os limites da prudência e deve-se evitar recorrer a ela para não agravar a situação.

A atividade conservadora pode, em certos momentos, exigir atos de ousadia. A luta dos tradicionalistas já fornece alguns exemplos memoráveis e é provável que forneça outros. Dizemos apenas que esses atos de ousadia não devem ser "golpes de cabeça" e "golpes de sorte" tentados levianamente. Devem conter uma base de reflexão e prudência. Isso é absolutamente incontestável.

Há uma diferença entre a virtude da força, que reside na alma, e a força física. De que nos serve ter a alma cheia de força moral se não temos, nas mãos, nenhuma força material para usar? A virtude da força não nos dá por si só o poder de intervir.

Quando o adversário está no máximo de seu poder e prepara uma nova purificação, o simples bom senso exige que recomendemos, não a inação, é claro, mas, mesmo assim, a prudência.

Conclusão

Acabamos de marcar a diferença entre, por um lado, os objetivos secundários, ou seja, a manutenção das últimas posições tradicionais que constituem o foco da batalha inferior, e, por outro lado, o objetivo principal, a saber, a extirpação do poder da Besta, que é o foco da batalha superior.

Muitos não quererão admitir essa distinção. Eles dirão, e já dizem: "Não há duas batalhas, há apenas uma. A mudança do poder só pode resultar da sucessão de pequenas vitórias elementares da luta dia a dia. Essa mudança é uma questão de longo prazo, nossa recuperação só pode ser muito lenta. É utópico esperar um desfecho abrupto".

Os líderes de grupos que raciocinam assim concentrarão seu esforço principal nos objetivos secundários, precisamente aqueles diante dos quais nossos adversários os esperam, fortalecidos por sua legalidade socialista.

Nossos adversários, de fato, procurarão, como costumam fazer, nos fazer perder a calma e nos levar à violência. E é provável que eles consigam, pelo menos em parte, fazendo assim cair grandes partes da defesa tradicional.

Madame Royer, apóstola da devoção ao Sagrado Coração e alma privilegiada, escreve profeticamente: "Os franceses chegarão aos limites do desespero". Essa expressão mostra bem que ela não prevê uma "lenta recuperação", mas uma sucessão de fracassos.

Esse é o prognóstico, bastante pessimista, é verdade, que se pode fazer em relação à batalha inferior. Vamos ver que o mesmo não se aplica à batalha superior, à qual chegamos agora.