III. A "CRISTOLOGIA" DE RUDOLF STEINER
- UMA OBRA DE VISIONÁRIO
- STEINER, QUINTO EVANGELISTA
- LIVRAR-SE DA IGREJA
- UM PENSAMENTO EXTRASSENSORIAL
- O INSPIRADOR TENEBROSO
- A IMPULSÃO CRÍSTICA UNIVERSAL
- AS RECONSTITUIÇÕES EVANGÉLICAS
- O ARCABOUÇO CONCEITUAL
- COSMOLOGIA GNÓSTICA
- A VISÃO DA ESTRELA
- A ENTIDADE CRÍSTICA SE APROXIMA
- OS DOIS MENINOS JESUS
- O BATISMO-ENCARNAÇÃO
- GÓLGOTA-GÓLGOTA
- UMA ENTIDADE LUCIFERIANA
- O HINO AO CRISTO-SOL
UMA OBRA DE VISIONÁRIO
Quando deixou a Sociedade Teosófica de Madame Blavatsky e Annie Besant para fundar o movimento antroposófico, Rudolf Steiner não abandonou completamente as noções orientais das quais estava impregnado. Foi assim, por exemplo, que ele conservou, em seu novo sistema, a lei do KARMA (lei do encadeamento das consequências), a da MAIA (lei da ilusão universal) e a da REENCARNAÇÃO das almas. Ele se contentou em adicionar alguns elementos "crísticos" que empreendeu harmonizar com suas bases orientais. E começou a falar de Jesus de Nazaré com uma vibrante admiração. Seu lirismo é particularmente intenso quando chega a se expressar sobre o Gólgota:
"Assim, quando a cruz se ergueu sobre o Gólgota e o sangue jorrou das chagas do Cristo, um evento cósmico aconteceu, um novo centro foi criado no universo. E nós, outros homens, assistimos a esse evento, seja em nosso corpo físico ou fora dele, entre duas existências terrestres. Mas agora trata-se de compreendermos que, ao contemplar o Cristo em agonia, é ao nascimento de um novo SOL que assistimos". ("O Evangelho de São João", Éditions Triades p. 195)
A doutrina antroposófica de Steiner contém, portanto, um componente cristológico. E é esta CRISTOLOGIA STEINERIANA que gostaríamos de examinar aqui. O ardente proselitismo que demonstrou dirigiu-se aos cristãos, não para confirmá-los em sua fé, mas, ao contrário, para desviá-los da Igreja e fazê-los adotar sua mistura de cristianismo, hinduísmo e também ocultismo. A Igreja, repete ele, traiu sua missão; ela deformou a mensagem de seu fundador; está em plena decomposição; seu tempo acabou e agora é preciso substituí-la. Pois Steiner também participa da disputa. E é justamente a vocação da Sociedade Antroposófica renovar o cristianismo moribundo.
Basta ler alguns capítulos das obras cristológicas de Rudolf Steiner para perceber que não se trata de um trabalho de crítica histórica ou de discussão doutrinária. As noções novas que ele traz, não as deve à sua erudição, mas à sua mística. Ele fez uma obra de visionário. É em sua CLARIVIDÊNCIA que ele vai buscar. Pois, como vimos em nossos dois capítulos anteriores, ele pacientemente educou em si uma faculdade mental que lhe permite ver, a partir de seu "olhar interior", as forças espirituais (ou que ele crê serem espirituais) que estão em jogo na História. Ele evoca na tela de sua "clarividência" as cenas evangélicas das quais deseja obter uma compreensão profunda. E é baseando-se nessas espécies de visões que ele estabelece seu novo evangelho e sua nova doutrina.
Em suma, ele se comporta como o fazem os místicos cristãos, como São Vicente Ferrer, Santa Hildegarda, Maria de Ágreda ou Catarina Emmerich... (para citar apenas um pequeno número), com a diferença de que os visionários católicos, iluminados por uma luz divina, apenas confirmam ou completam os textos canônicos, "na analogia da fé", enquanto Steiner acumula as inovações e invenções mais extravagantes. Aliás, saberemos a origem de sua clarividência quando tivermos examinado seus frutos.
STEINER, QUINTO EVANGELISTA
As obras completas de Steiner contam com mais de cinquenta volumes, entre os quais uma forte proporção é consagrada a assuntos que tocam muito de perto o cristianismo. Faremos, para seguir a regra, um breve inventário dos documentos que expõem essa cristologia de um gênero particular.
Três obras são comentários sobre cada um dos três evangelistas sinóticos: São Mateus, São Marcos e São Lucas. São três séries de uma dezena de conferências cada, que foram posteriormente reunidas em livros; cada conferência constituindo um capítulo. Quanto ao quarto evangelho, o de São João, ele inspirou Steiner em duas obras. Uma em 1908, "O Evangelho de São João", que é um comentário análogo aos três precedentes. A outra em 1909, que se intitula: "O Evangelho de São João em suas relações com os outros três Evangelhos" e que contém interpretações particularmente estranhas.
E depois, no início de 1914, Steiner profere em Cristiana, em Oslo e em Berlim, uma série de conferências sobre um pretenso QUINTO EVANGELHO, que nada mais é do que o resultado das "pesquisas clarividentes" do próprio Steiner. Ei-lo, portanto, promovido, por si mesmo, à dignidade de "quinto evangelista". Esta obra expõe uma cristologia radicalmente ocultista.
Mas a cristologia steineriana transborda largamente o quadro da interpretação evangélica. Eis alguns títulos de livros, quase todos constituídos por séries de dez ou doze conferências:
- "As Hierarquias Espirituais e seu reflexo no Mundo Físico, Zodíaco, Planetas, Cosmos";
- "A Filosofia de São Tomás de Aquino";
- "O Plano de fundo espiritual do Mundo exterior, a Queda dos Espíritos das Trevas";
- "A Missão de Micael e a Revelação dos Verdadeiros Segredos da Natureza Humana";
- "O Oriente à Luz do Ocidente, os Filhos de Lúcifer e os Irmãos do Cristo";
- "O Impulso do Cristo e a Consciência do Eu";
- "O Cristo e o Mundo Espiritual, a Conquista do Graal";
- "O Esoterismo Cristão, Esboço de uma Cosmogonia Psicológica";
- "A Criação segundo a Bíblia, os Mistérios do Gênese";
- "O Apocalipse".
É no conjunto dessas obras que se encontra expressa a cristologia de Rudolf Steiner. Mas não esqueçamos que essa cristologia representa apenas uma parte de sua doutrina. A trama de fundo continua sendo a teosofia, o hinduísmo e o ocultismo, como bastariam para provar os títulos de suas outras obras:
- "O Homem à Luz do Ocultismo, da Teosofia e da Filosofia";
- "Manifestação do Karma";
- "Pensamento Humano, Pensamento Cósmico" ... etc.
Certamente, Steiner tem a pretensão de nos expor um CRISTIANISMO ENRIQUECIDO pela clarividência. Mas ele não é verdadeiramente cristão. Ele apenas formula uma visão ocultista do cristianismo.
LIVRAR-SE DA IGREJA
Para edificar sua cristologia, Rudolf Steiner começa por fazer tábula rasa de tudo o que ensina o magistério eclesiástico:
"Quero ressaltar que, quando falo aqui do MISTÉRIO DO GÓLGOTA, não coloco nada, nesta expressão, que se relacione à religião; tenho em vista apenas os fatos objetivos que se oferecem à observação material e espiritual. Faço inteira abstração das doutrinas professadas nas diferentes Igrejas sobre o mistério do Gólgota para considerar apenas o que aconteceu no curso da evolução histórica".
Ele manifesta completo desprezo pela teologia eclesiástica:
"Parece que a teologia se deu a tarefa de erguer o maior número possível de obstáculos diante de todo esforço de compreensão neste domínio. Quanto mais avança, mais parece se afastar do objetivo". ("O Cristo e o Mundo Espiritual" Éditions Triades p. 25 e 39).
Não devemos, portanto, esperar de Steiner nem uma exegese da Escritura em boa forma, nem uma investigação patrística, nem uma pesquisa dos escritores escolásticos, nem uma menção às decisões do Magistério, mesmo reservando-se o direito de criticá-las posteriormente. Ele ignora totalmente toda a ciência eclesiástica.
Steiner possui sua própria CIÊNCIA ESPIRITUAL. Ele utiliza sua própria abordagem. A cristologia que ele apresenta é inteiramente repensada por ele. Ele a funda sobre o que chama de suas "observações espirituais". Essas "visões de clarividência", como ele também as chama, ele as declara "CIENTÍFICAS". Ele não quer que sejam discutidas porque são, diz ele, absolutamente objetivas e totalmente independentes da subjetividade do observador. Sobre elas pode-se, estima ele, edificar uma nova, mas verdadeira, ciência espiritual.
UM PENSAMENTO EXTRASSENSORIAL
Qual é, para um cristão, o verdadeiro valor dessa ciência espiritual? Sabemos que uma das grandes ambições de Steiner é penetrar o mundo das forças espirituais. Para consegui-lo, ele trabalha para destacar o pensamento humano de sua base sensorial. Quanto mais o pensamento for DESENCARNADO, pensa ele, melhor será sua apreensão do mundo dos espíritos, já que os espíritos não caem sob nossos sentidos:
"Fortalecer suas faculdades psíquicas de maneira a torná-las progressivamente INDEPENDENTES do organismo físico", tal é o objetivo de Steiner, segundo seu discípulo H. E. Lauer, na obra "A Antroposofia e o Futuro do Cristianismo".
Essa desencarnação do pensamento lhe parece essencial. Na mesma obra, Lauer ressalta em várias ocasiões que Steiner dava o exemplo:
"Seu pensamento tinha naturalmente o caráter de uma intuição suprassensorial". (p. 22)
Um pouco mais abaixo, ele insiste na necessidade de destacar o pensamento de sua dependência em relação ao corpo. É preciso, diz ele:
"transformar a totalidade da atividade psíquica em um órgão capaz de experiências suprassensíveis, tornando-a AUTÔNOMA em relação ao corpo". (p. 80)
Ele estima mesmo que, se conseguirmos adquirir essa autonomia, não somente penetramos o mundo dos espíritos, mas modificamos o estado da consciência humana. E é a isso que, segundo ele, é preciso chegar. Deve-se chegar a:
"libertar o pensamento dos laços que o prendem ao corpo e, por aí, neste domínio do pensamento liberto, a procurar a ressurreição da consciência do Eu". (p. 142)
Mas então, operando assim, aproxima-se o pensamento humano do pensamento angélico. Copiam-se as operações mentais humanas sobre as dos anjos. Os anjos são privados de aparelhos sensoriais. Seu pensamento é intuitivo e não recorre a imagens sensíveis. Seu modo de percepção e de raciocínio é EXTRASSENSORIAL. E é para obter essa semelhança com o modo de pensamento angélico que Steiner se treinou para adquirir uma representação extrassensorial do mundo material. É, pelo menos, o que ele buscou.
Quando ele observa as famosas silhuetas iridescentes, das quais falamos no capítulo precedente, substituírem o aspecto corrente e sensorial das coisas, ele acredita ter dado um grande passo em direção ao modo de percepção e, portanto, de pensamento dos espíritos. Ele acredita ter entrado no mundo dos espíritos e fala da clarividência como sendo uma "investigação espiritual".
Mas, na realidade, ele está aí em plena ilusão.
Qual é, de fato, a natureza da aura vaporosa e colorida que envolve os objetos contemplados pelo clarividente?
Steiner declara que essa aura é de natureza ESPIRITUAL e, em consequência, ele vai se exercitar pacientemente a não ver mais que a aura e a mascarar o objeto ele mesmo. À força de se exercitar, ele conseguirá. E se acreditará habilitado a dizer:
"Adquiri a visão ESPIRITUAL das coisas. Entrei no mundo dos espíritos."
Nada é mais falso; já o dissemos, mas é preciso repeti-lo aqui. Na realidade, a observação clarividente é sensível não a um elemento espiritual que estaria latente na matéria, mas à FRANJA VIBRATÓRIA da qual todo objeto material, e a fortiori todo ser biológico, se encontra rodeado. Trata-se de uma irradiação simplesmente FÍSICA. Não se trata de uma auréola espiritual, mas de uma margem ondulatória, portanto perfeitamente material, embora SUTIL. Steiner prospectou aí uma zona à qual nossos sentidos não nos dão acesso normalmente e naturalmente. Mas é uma zona que não é, por isso, uma zona espiritual.
Steiner acreditou angelizar seu pensamento e torná-lo independente dos sentidos. Acreditou lhe prover a intuição espiritual. Mas, na verdade, ele se contentou em torná-lo sensível a uma franja vibratória sutil que não é acessível aos órgãos dos sentidos em seu estado ordinário, mas que se torna acessível quando esses mesmos órgãos sofreram um treinamento apropriado.
Houve, portanto, nele, CONFUSÃO entre, por um lado, o "espiritual" no qual ele acreditou entrar e, por outro lado, o "físico sutil" no qual ele finalmente permaneceu.
O INSPIRADOR TENEBROSO
É nesta zona do "físico sutil" que o antropósofo clarividente vai doravante se mover para aí buscar informações sempre mais aprofundadas sobre o mundo espiritual. Mas o que ele vai, de fato, encontrar aí, senão os demônios dos quais se pode dizer verdadeiramente que o esperam? Pois os espíritos decaídos assombram esse físico sutil no qual vêm se agarrar como morcegos em uma cabeleira.
Mediante um novo esforço de meditação, nosso clarividente vai se aprofundar nesta zona sutil para aí evocar as cenas marcantes da História religiosa da humanidade, sem hesitar em remontar aos tempos mais recuados.
Os episódios essenciais do Evangelho, os grandes marcos do paganismo, os enigmas nebulosos da civilização atlante e até as emanações sucessivas dos éons celestes serão, um após o outro, objeto da observação prolongada do clarividente.
O que ele vai perscrutar preferencialmente em todas essas evocações?
Deixando como secundárias as particularidades materiais e positivamente históricas das cenas assim imaginadas, o antropósofo buscará principalmente o que é espiritual. Ele vai concentrar sua atenção nas forces espirituais que entram em jogo e em competição no curso da história. Ele não vai elaborar retrospectivamente uma "história factual", mas uma "história espiritual", ou pelo menos o que lhe apareceu como tal. História onde as entidades do mundo dos espíritos, assim como as grandes PULSÕES COLETIVAS da humanidade terrestre, substituirão os episódios históricos precisos. Vamos ver o inspirador tenebroso em ação neste claro-escuro.
A IMPULSÃO CRÍSTICA UNIVERSAL
Steiner não direciona seu "olhar interior" para o cristianismo institucional que nos descreve a História clássica da Igreja, pois ele não passa, a seu ver, de um invólucro anedótico e material sem importância. O que ele vai observar graças à clarividência é um cristianismo muito mais real e mais profundo. É um pretenso CRISTIANISMO INCONSCIENTE e popular que caminha, de século em século, à margem, ou melhor, abaixo, do cristianismo oficial da hierarquia.
O que vai lhe interessar é O INCONSCIENTE COLETIVO do Cristianismo. É um conjunto de pulsões obscuras das quais ele, aliás, vai sentir manifestações bem anteriores à era cristã, em certos grandes iniciados como, por exemplo, Zoroastro, ou ainda entre as Sibilas da religião greco-romana. É sobre tais pulsões cristianóides que Steiner vai direcionar sua observação espiritual. Somente elas serão objeto de seu exame.
Quanto às modalidades desse exame, nós já as conhecemos, pois as expusemos no capítulo "A Iniciação aos Pequenos Mistérios na Antroposofia de Rudolf Steiner".
Ele vai aplicar, ao objeto de observação que acabamos de definir, a faculdade de clarividência adquirida graças a um treinamento longo e sábio. Pela aplicação desta nova faculdade mental, ele poderá, diz ele, fazer remontar à CONSCIÊNCIA CLARA todas as pulsões obscuras das quais o cristianismo popular foi sede ao longo dos séculos e que ainda nunca foram examinadas. Pois é nelas que reside, segundo ele, o cristianismo verdadeiro e essencial:
"Do ponto de vista da ciência espiritual, é um espetáculo grandioso o da entrada em jogo da IMPULSÃO CRÍSTICA. É preciso ver como, a partir do Concílio de Niceia, discutem e se disputam todos aqueles que se ocupam de fixar os dogmas. Eles só veem as coisas sob o ângulo de sua consciência superficial e, durante esse tempo, o que há de mais importante para o cristianismo se passa nas PROFUNDEZAS SUBCONSCIENTES DAS ALMAS. Pois a impulsão do Cristo não age lá onde se discute, mas nas profundezas." ("O Cristo e o Mundo Espiritual" p. 82-83).
Tais são a matéria a estudar e as modalidades segundo as quais se vai estudá-la:
"O CONHECIMENTO nos revelará ainda muitas coisas que nos surpreenderão talvez, se as olharmos apenas superficialmente, mas que são sintomas da ação do Cristo nas profundezas da alma humana". (ib.)
Impulsos religiosos inconscientes examinados à luz da clarividência, tal é o fundo da cristologia steineriana. Não é uma cristologia histórica. É a história de um certo cristianismo inconsciente.
AS RECONSTITUIÇÕES EVANGÉLICAS
Vejamos agora a clarividência em ação. Ela vai reconstituir, em uma tela interior, as cenas evangélicas das quais quer descobrir o sentido profundo. Peçamos alguns exemplos à obra de Steiner "O Evangelho de São João em suas Relações com os outros Evangelhos" (Éditions Triades).
O clarividente é
"aquele que pode realmente mergulhar tão profundamente nos eventos que ocorreram outrora na Palestina pelo mistério do Gólgota, que se confunde com eles, vê esses eventos como tangíveis diante de si, vivendo de uma vida que se comunica à própria circulação de seu sangue". (p. 13)
"Vedes por aí com que profundidade os evangelhos nos devolvem as verdades espirituais que se pode reencontrar também independentemente dos textos".
"O INVESTIGADOR ESPIRITUAL deve saber que tudo o que se encontra nos evangelhos pode ser assim reencontrado por ele". (p. 117)
"Este relato repousa inteiramente sobre uma observação clarividente, e é falso dizer que seria apenas uma alegoria ou um símbolo. É um FATO ESPIRITUAL que se desenrola na realidade no plano astral." (página 155)
"Se durante semanas e meses, talvez anos, estamos mergulhados em um sentimento de humildade universal, compreendemos o que significa o lava-pés. E todo o sentido deste evento se revela então ao discípulo como em uma VISÃO que lhe ensina que este evento realmente aconteceu. O fio do CONHECIMENTO o leva até o ponto onde toda outra prova é supérflua. Pois ele VÊ DIRETAMENTE, no mundo espiritual, a cena do Cristo no lava-pés". (p. 213)
Se agora explorarmos a obra "O Cristo e o Mundo Espiritual", encontramos as mesmas descrições da clarividência em exercício. Ela estende seu campo de aplicação às manifestações espirituais de um certo PROTO-CRISTIANISMO que teriam ocorrido na antiguidade pagã, tanto no Oriente quanto no Ocidente:
"Consideremos primeiramente os GRANDES INSTRUTORES da Índia antiga. Se, com a ajuda da clarividência, o investigador espiritual se transporta para a alma de um desses grandes instrutores..." (p. 37)
"Se, prosseguindo nossa pesquisa, nos transportarmos para as almas que viveram no tempo da civilização de Zoroastro, veríamos..." (p. 38)
O olhar interior de Rudolf Steiner é, portanto, especialmente dirigido ao estado das almas, mais especificamente às FORÇAS ESPIRITUAIS que são postas em jogo nas cenas históricas que ele se esforça por reviver. Se ele chega a falar das Sibilas, essas profetisas do antigo paganismo, ele se expressa assim:
"Quando, pelos meios da ciência espiritual, se reconstitui o que aconteceu, vê-se cada uma dessas mulheres como possuída por seu fanatismo, surgir diante da multidão que ela força a escutar... "Enfim, o próprio cristianismo foi tocado por essa influência... "Assim, mesmo na época em que o cristianismo se espalhava, alguns, com o olhar ainda voltado para as Sibilas, levam em conta o que elas profetizam: a destruição da ordem estabelecida e a vinda de uma nova ordem no mundo. Seria preciso estar cego pelas concepções do racionalismo moderno para não ver que influência penetrante as Sibilas exerceram no mundo onde nascia o cristianismo". (p. 40-41)
Os Éons das mitologias gnósticas, eles mesmos, tornam-se visíveis ao olhar interior:
" ... os trinta Éons que a clarividência permite ver escalonarem-se de grau em grau em direção a uma perfeição cada vez maior". (p. 29)
"As almas dotadas hoje de clarividência poderiam experimentar uma impressão muito grande se, remontando pelo pensamento puro à época em que esta se aprofundou, e fazendo abstração de qualquer outra coisa, elas refletissem sobre a maneira como nasceram, no mundo greco-romano, as IDEIAS das quais nos nutrimos ainda hoje". (p. 27)
O ARCABOUÇO CONCEITUAL
As fontes inspiradoras de Steiner se reduzem a esse mecanismo místico (ou mais exatamente pseudo-místico) e não acontece de ele recorrer a fontes mais livrescas?
Já observamos que ele não abandona nem a cultura FILOSÓFICA que adquiriu por seu contato com os pensadores alemães de sua época, nem a bagagem ORIENTAL que levou consigo quando deixou a Sociedade Teosófica (a Lei do Karma, a reencarnação, a lei da Maia...)
Mas o arcabouço conceitual sobre o qual a mística steineriana vai então operar não é constituído unicamente por essas duas aquisições, a filosófica e a oriental. É preciso acrescentar outra, que ele cultiva há muito tempo, é o legado GNÓSTICO. Tomemos nota de sua admiração pelos escritores da Gnose:
"Fizeram-se sobre a Gnose as opiniões mais diversas. Ela é em geral muito pouco conhecida e, no entanto, os documentos oficiais já podem dar uma ideia de sua EXTRAORDINÁRIA PROFUNDIDADE. Os gnósticos tiveram a intuição de que era preciso buscar em mundos infinitamente longínquos as causas dos eventos da Palestina". ("O Cristo e o Mundo Espiritual" p. 28).
O arcabouço conceitual sobre o qual a mística de Steiner vai bordar é, portanto, constituído por fibras diversas: a filosofia alemã dos séculos XVIII e XIX, o orientalismo de Madame Blavatsky e a gnose, reforçada aliás por uma forte participação OCULTISTA à qual ele não cessa de fazer alusão. Tal é a luz intelectual pela qual seu "olhar interior" será iluminado.
Tal é a orientação que ele vai tomar. É nesse legado que ele buscará os esquemas de seu pensamento em todas as suas operações discursivas.
E não podemos aqui senão constatar, mais uma vez, o paralelismo entre a verdadeira e a falsa mística. Esse arcabouço de noções intelectuais desempenha, na mística steineriana, um papel semelhante ao da FÉ na mística cristã. Mas é uma fé invertida, uma espécie de anti-fé. O mecanismo das duas místicas, a verdadeira e a falsa, é análogo, pelo menos no início; mais exatamente, é paralelo. O que as diferencia essencialmente, e finalmente as opõe, é a atmosfera na qual elas se desenvolvem respectivamente; é a luz que as ilumina. Essa luz, que não é a mesma para uma e para outra, as orienta em direções diametralmente opostas.
A verdadeira mística, a dos cristãos, é iluminada pela Fé e conduz aos abismos do Alto.
A falsa mística é iluminada pela luz da Gnose e conduz aos abismos de Baixo.
COSMOLOGIA GNÓSTICA
É tempo de examinar enfim a que resultados chegaram todos esses processos psicológicos de gestação, que construção doutrinária e, mais particularmente, que cristologia eles permitiram elaborar.
Steiner estima que foram os gnósticos que viram corretamente quanto às origens do universo:
"Experimenta-se hoje um verdadeiro alívio quando se pode imaginar que existia na origem uma substância muito sutil de onde saíram tanto o espiritual quanto o físico". ("O Cristo e o Mundo Espiritual" p. 28)
Tocamos aqui um dos elementos essenciais da cosmogonia steineriana, a qual se molda assim na cosmogonia gnóstica: na origem de tudo encontra-se uma SUBSTÂNCIA ÚNICA, semi-espiritual e semi-física, de onde saíram posteriormente tanto o mundo dos corpos quanto o mundo dos espíritos. Tendo uma origem comum, o espírito e a matéria não se distinguem essencialmente, ontologicamente diriam os metafísicos. Pode-se reencontrar traços de espírito na matéria e inversamente.
Qual é a origem dessa substância primitiva e única, desse constituinte universal, virtualmente material e espiritual ao mesmo tempo?
Aqui também Steiner segue a lição dos gnósticos:
"Pois a Gnose, no ponto de partida de sua cosmogonia, não coloca nada que se possa chamar de matéria. Para ela, a origem do mundo se encontra em Deus-Pai. Emanando de alguma forma dele, reina o que a alma pode alcançar quando, rejeitando toda representação material, ela desce em si mesma: o silêncio, o silêncio infinito, anterior ao tempo e ao espaço. É este casal, formado pelo PAI do universo e pelo SILÊNCIO preexistente ao espaço, que os gnósticos contemplavam". ("O Cristo e o Mundo Espiritual" p. 99)
Steiner adota, portanto, essencialmente o EMANATISMO GNÓSTICO. Contudo, ele o submete ao controle da clarividência, a qual permite corrigi-lo para modernizá-lo:
"A ciência espiritual do século XX deverá naturalmente ir mais longe que a Gnose. Procuramos apenas nos colocar em seu ponto de vista". (ib. p. 30).
O que ele entende pela expressão "a ciência espiritual do século XX"?
É o nome que ele dá anonimamente à sua própria técnica de clarividência. E se ele a declara científica é porque, segundo ele, ela constitui uma prática experimental que não tem nada de subjetivo e que é, ao contrário, perfeitamente objetiva. Ora, vimos que essa pretensão é verdadeira em parte, mas apenas em parte.
A cosmogonia steineriana se desenvolve na lógica do emanatismo gnóstico:
"Da união do Pai e do Silêncio, o gnóstico via nascer o que se poderia igualmente chamar tanto de MUNDOS quanto de SERES. Destes desciam outros ainda, isso através de trinta graus. E após o trigésimo grau, a partir do trigésimo primeiro, encontrava-se o que se oferece agora aos nossos olhos". (ib. p. 29)
Em outros termos, o universo que habitamos ocupa o 31º grau abaixo do EMANANTE, do qual ele é oriundo e com o qual não apresenta, em última análise, nenhuma solução de continuidade. Uma substância primordial, físico-espiritual, repartiu-se entre dois polos, o polo material e o polo espiritual. A parte da substância primordial que se materializou deu origem a toda sorte de corpos físicos. Da mesma forma, a parte da substância primordial que se espiritualizou deu origem a uma infinidade de seres espirituais. Em particular, as almas humanas pertencem inicialmente a uma única e mesma "substância de alma":
"Esta SUBSTÂNCIA DE ALMA que devia descer dos mundos espirituais sobre a terra para ser partilhada entre as individualidades humanas". (ib. p. 54 em nota).
Tal é a cosmogonia, inspirada na Gnose, que é ensinada na Sociedade Antroposófica. Era preciso passar por ela antes de abordar a cristologia propriamente dita.
A VISÃO DA ESTRELA
Os gnósticos davam a apelação de EONS a cada um desses mundos emanados do casal Pai-Silêncio. Steiner prefere abandonar essa apelação. Ele abandona também a repartição do mundo dos espíritos em trinta graus. Ele se contenta com três escalões:
- o "Devachan superior" que está diretamente em contato com o casal Pai-Silêncio,
- o "Devachan inferior" que constitui um mundo intermediário,
- e enfim o "mundo astral" que é imediatamente contíguo ao mundo material sensível.
E naturalmente ele vai dirigir sua clarividência sobre esses mundos que nos dominam a fim de elucidar seus mistérios. Ei-lo, portanto, dirigindo seu olhar espiritual na zona do Pai-Silêncio "em direção ao plano que está ainda acima do Devachan superior". ("O Cristo e o Mundo Espiritual", p. 27)
Ele está absorto, há um momento, nesta contemplação quando uma VISÃO se apresenta ao seu olho interior:
"Então aparece a ESTRELA que fez sentir sua força no pensamento greco-latino... Vê-se aparecer, além do Devachan, o que se pode chamar simbolicamente de uma estrela, isto é, a ENTIDADE ESPIRITUAL que está na origem do impulso de pensamento ocorrido no início de nossa era." (ib., p. 27)
Ele retorna um pouco mais abaixo sobre esta mesma "visão da estrela" que visivelmente o golpeou e marcou para sempre. Ele buscava a causa do que entrou nas almas na época greco-latina e esperava que sua faculdade de clarividência lhe revelasse essa causa:
"Eu esperava, não em vão, pois surge, no horizonte, infinitamente longínquo da vida espiritual, uma ESTRELA e desta estrela irradia uma força da qual tenho o direito de dizer que está na origem de minha experiência interior." (ib. p. 27-28).
Tal é a famosa "visão da estrela" da qual ele fala sem cessar e que foi para ele uma iluminação.
Após um interminável périplo através dos filósofos gregos e latinos, das sibilas, dos Rishis da Índia para terminar pela lenda do Graal, Steiner chega a desvelar que esta "estrela", esta "entidade espiritual" da qual ele teve a visão não é outra senão o Logos.
Somos obrigados a confessar que estamos muito menos seguros disso do que ele. Dados os procedimentos de mística provocada que Steiner emprega, dada a orientação e a iluminação gnóstica, ocultista e hinduísta no meio das quais sua clarividência se exerce, esta estrela-entidade, que faz assim sua aparição furtiva, nos parece, ao contrário, assemelhar-se muito de perto àquela "estrela caída do Céu" da qual fala Isaías para designar Lúcifer. E se, como ele diz, tal "força" está na origem de sua experiência interior, há grandes chances de que toda essa mística venha, em última instância, do demônio. É a esta mesma conclusão que já nos conduziu a análise da mística steineriana. E a continuação de nossa investigação reforçará ainda mais esta opinião.
A ENTIDADE CRÍSTICA SE APROXIMA
Segundo Steiner, o Sol, a Terra e a Lua não constituíam primitivamente senão um único e mesmo astro. Deste astro inicial, o Sol se destacou primeiro, arrastando consigo, em sua vizinhança, uma certa categoria de almas e de espíritos que se pode desde então chamar de "solares". Depois foi a vez da Lua de se destacar; ela também arrastou as almas e os espíritos lunares. A Terra restou sozinha, ocupada pelos homens; mas não eram os primeiríssimos homens, os quais tinham visto a luz em Saturno em tempos ainda mais longínquos. Os homens terrestres primitivos eram muito diferentes do que são hoje. Suas almas estavam longe de apresentar, com seus corpos, laços tão estreitos quanto os que têm em nossa época. As almas humanas, nessas idades originais, não estavam completamente encarnadas. Quanto aos corpos humanos, eles flutuavam sobre a água e se assemelhavam a corpos de moluscos. Se sabemos tudo isso, é graças à "ciência espiritual do século XX", isto é, mais precisamente à investigação clarividente "científica" de Rudolf Steiner.
Mas já a ENTIDADE CRÍSTICA havia iniciado sua marcha de aproximação em direção à Terra. Sua primeira etapa foi o Sol, assim que ele se tornou um astro independente. Em termos obscuros, quase hesitantes, Steiner coloca a "Entidade" em relação íntima com o Sol, seja porque ela se identificava com ele em um plano simplesmente simbólico, seja porque ela se misturava às almas arrastadas pelo Sol quando ele se separou do astro hélio-terrestre inicial. Seja como for, a frequentação do Sol pela entidade crística "produziu certos resultados que permaneceram ligados às atividades do Sol." ("O Cristo e o Mundo Espiritual", p. 60). Em suas cerimônias do Goetheanum de Dornach, os antropósofos cantam um hino ao CRISTO-SOL.
Por etapas, a Entidade se aproxima da Terra. Os "grandes instrutores" da Índia tiveram a intuição dessa aproximação. As Sibilas do entorno mediterrâneo também. Mas é o personagem de ZOROASTRO que será o primeiro grande beneficiário de sua visita. Zoroastro também, à sua maneira, terá sua "visão da estrela", como mais tarde Steiner:
"Quando Zoroastro elevava seu olhar clarividente em direção ao Sol, ele não via apenas o Sol físico; e ele dizia como se vê, ao redor do homem, uma aura, assim vê-se ao redor do Sol a grande 'aura solar', isto é, 'AHURA MAZDA'. É a grande Aura solar que havia produzido o homem. O homem é a imagem do Espírito solar, de Ahura Mazda". ("O Evangelho de São João em suas relações com os outros Evangelhos", p. 29)
Aquele que Zoroastro via sob a forma de Ahura Mazda não era outro senão a Entidade crística, apressada em se manifestar:
"E a iniciação de Zoroastro teve por efeito fazê-lo sentir esses resultados na atividade do Sol. É daí que nasceu sua doutrina, que é como a projeção, a revelação do que havia ocorrido em tempos infinitamente longínquos." ("O Cristo e o Mundo Espiritual", p. 60)
Continuemos a exposição da doutrina steineriana. Moisés foi o sucessor de Zoroastro na percepção da aproximação do Cristo. É na sarça ardente, depois no Sinai, que ele viu a Entidade crística.
Mas nos é precisado bem que essas manifestações da Entidade-Estrela não devem ser confundidas com as reencarnações sucessivas às quais está submetida a alma daquele que viria a ser o Menino-Jesus. Pois é preciso distinguir dois seres: por um lado, a Entidade crística que se aproxima da Terra, mas que não se encarna ainda; e, por outro lado, a personalidade do Menino-Jesus que deve tornar-se "portadora" do Cristo e cuja alma se prepara também para esse papel por reencarnações sucessivas, sobre a Terra.
O advento terrestre da Entidade crística está agora próximo.
A que fase da evolução histórica da humanidade este advento se produz? É preciso saber que a primeira grande era terrestre é a era ATLANTEANA e que ela se divide em sete períodos fabulosos e pré-históricos. Esta era atlanteana começa no momento em que a Terra adquiriu sua independência como astro separado, e ela termina por ocasião do colapso da Atlântida no mar, catástrofe que corresponde ao Dilúvio da Bíblia.
Depois vem a era PÓS-ATLANTEANA, dividida ela mesma em sete períodos. Quatro desses períodos já se passaram: o período proto-hindu, o período proto-persa, o período caldeu-egípcio e o período greco-latino. O evento do Gólgota se situa no início do quinto período pós-atlanteano, no qual ainda estamos. Ele será seguido por outros dois períodos dos quais não conhecemos os nomes. Depois disso, a grande era pós-atlanteana terminará.
OS DOIS MENINOS JESUS
Rudolf Steiner e seus discípulos falam de Jesus Cristo com uma grande deferência. Nunca lhes escapa uma palavra sarcástica ou mesmo apenas dubitativa. Não há dúvida de que eles pretendem pertencer ao cristianismo e se apresentar como cristãos. Lê-se frequentemente sob sua pena locuções como esta, por exemplo:
"Um precursor (São João Batista) antecipou a aparição da maior personalidade que jamais tenha tomado parte na evolução humana".
Mas não há por que se deixar enternecer por tais declarações. Elas são frequentes mesmo entre os piores inimigos da Religião. O Padre Barruel, em seu "Mémoire pour servir à l'Histoire du Jacobinisme", cita frases do mesmo estilo descobertas entre os Iluminados da Baviera:
"Ninguém abriu caminhos tão seguros para a liberdade quanto nosso Grande Jesus de Nazaré".
Os antropósofos também têm, ao menos ao ouvi-los, um grande respeito pela Escritura Sagrada, que citam de bom grado. Eis, por exemplo, um belo elogio feito por Rudolf Steiner ao Evangelho segundo São João:
"O Evangelho de São João, como os três Evangelhos que o completam, são documentos repletos de PROFUNDEZAS INFINITAS. Acabamos de estudar algumas delas. Se pudéssemos continuar, faríamos ressaltar outras. Nunca teríamos terminado de estudar esses escritos e de tirar deles tudo o que contêm. Não se atingirá verdadeiramente o fundo". ("O Evangelho de São João em suas Relações com os outros Evangelhos", p. 219)
Vamos ver agora como Steiner usa textos que ele saúda tão baixo. Não só ele escolhe as passagens que lhe convêm, ignorando totalmente aquelas que o contradiriam, mas ainda submete aquelas que conserva a uma "investigação espiritual" que as desfigura completamente. Vamos ver, por exemplo, "quais experiências prepararam a encarnação na alma de Jesus de Nazaré".
Chegou o momento, de fato, para a Entidade crística que se aproximou lentamente da Terra, de se encarnar enfim. Um "portador" lhe foi preparado, um homem no qual ela deve vir habitar e que deve ser "tomado" por ela:
"É preciso agora sobre a Terra, após esta preparação nas esferas espirituais, que um ser carnal seja TOMADO pela Entidade crística". ("O Cristo e o Mundo Espiritual" p. 66)
Vamos assistir às peripécias bizarras desta "tomada".
Aprendamos primeiramente que não há um Menino-Jesus único, mas que existem dois. Eis algo que a Igreja, naturalmente, sempre nos deixou ignorar. Steiner declara que há dois Meninos-Jesus que correspondem a cada uma das duas genealogias canônicas: a primeira sendo aquela pela qual começa o Evangelho de São Mateus e a segunda aquela que ocupa o capítulo III de São Lucas. Elas conduzem cada uma a um Menino-Jesus diferente. Eis, segundo Steiner, as características dessas duas genealogias e, portanto, de seus dois Meninos-Jesus respectivos.
A genealogia de São Mateus segue, posteriormente a Davi, a linhagem real de Salomão. É ela que transmite o corpo físico no qual se encarnará a alma, mais exatamente "o Eu", do maior dos iniciados solares, a saber, Zoroastro. É este Menino-Jesus que foge para o Egito e que, em seu retorno, se instala em Nazaré. Ele pertence, portanto, à linhagem iniciática real. Nos desenvolvimentos de Steiner, este Menino-Jesus é chamado de "JESUS DE SALOMÃO".
A genealogia de São Lucas, por sua vez, faz aparecer um personagem totalmente diferente. A partir de Davi, ela bifurca para seguir, não mais a linhagem real de Salomão, mas a linhagem sacerdotal de Natã. A criança que nasce desta segunda linhagem é penetrada, graças ao atavismo oriundo de Natã, por uma certa substância etérica. E esta substância etérica nada mais é do que a parte etérica de Adão que reaparece assim nesta criança e que fará dela o digno receptáculo de uma misteriosa incorporação. A Criança da linhagem sacerdotal descrita por São Lucas não contém o Eu de Zoroastro, mas traz a herança espiritual de Buda. Esta criança pertence à linhagem iniciática sacerdotal. Steiner lhe dá o nome de MENINO-JESUS DE NATÃ.
Entre esses dois Meninos-Jesus, tão diferentes um do outro, mas que têm a mesma idade, vai agora ocorrer uma espécie de fusão que Steiner descreve em termos particularmente vaporosos:
"O Jesus de Salomão evoluiu, até seu décimo segundo ano, como podia fazê-lo naquela época um 'Eu' de tal grandeza. Sabemos também que este Eu passou para o corpo do outro Menino-Jesus, aquele cuja personalidade se reflete no Evangelho de São Lucas e que chamamos de Menino-Jesus de Natã. É este Jesus de Natã que devemos considerar agora. Não se trata, em seu caso, de um ser humano no sentido usual da palavra, mas de um ser do qual não se pode dizer que tenha se encarnado precedentemente sobre a Terra. Este Jesus de Natã nunca tinha sido homem sobre a Terra". ("O Cristo e o Mundo Espiritual", p. 54)
Graças à sua visão clarividente, Steiner nos descreve como, na festa da Páscoa, em Jerusalém, quando as duas crianças Jesus tinham ambas 12 anos, o Eu de Zoroastro deixou o corpo do Menino-Jesus de Salomão para vir fecundar o ser predestinado que era o Menino-Jesus de Natã. Por este transplante, as duas correntes espirituais da humanidade, a corrente zoroastriana e a corrente búdica, se uniram.
Mas então o que aconteceu com o pobre Menino-Jesus de Salomão, assim esvaziado de seu "Eu zoroastriano" que ele cedeu ao seu pequeno camarada? Ele morreu?
Steiner não parece ter tido a curiosidade de pedir a solução deste enigma à sua clarividência. Ele nos diz apenas que o Menino-Jesus de Natã, a partir desta fecundação, será nomeado por ele "O MENINO-JESUS DE NAZARÉ". Não há mais, de fato, senão um único Menino-Jesus; nada impede, portanto, Steiner de retornar à terminologia clássica.
Essa duplicação dos meninos Jesus é, aliás, uma velha história. Que Steiner tenha aprofundado a ideia em sua clarividência, é mais que verossímil, já que ele fazia tudo ser controlado por sua "ciência espiritual". Mas é certo também que ele foi ajudado por suas lembranças da arte humanista. Assinalam-se, de fato, alguns raros quadros da Renascença italiana onde a Virgem Santíssima é representada rodeada por três crianças, das quais uma é, com certeza, São João Batista, sempre reconhecível, e das quais as outras duas, da mesma idade, são aparentemente gêmeas.
Esta velha lenda gnóstica, aparentada de longe ao docetismo, circulava nos meios esotéricos da Renascença. Steiner se fez eco dela, confirmado que foi por seu "olho interior".
O BATISMO-ENCARNAÇÃO
Jesus de Nazaré agora completou sua preparação. Mas é preciso saber que ele será apenas o portador (poder-se-ia dizer também o vetor) de uma personalidade superior a ele, esta "Entidade crística" que também terminou sua marcha de aproximação em direção à Terra. Esses dois seres, um terrestre, o outro celeste, estão prontos agora para entrar em contato. Este contato ocorrerá sob a forma de uma "TOMADA" de Jesus de Nazaré pela Entidade crística. E esta tomada se realizará no momento do Batismo no Jordão:
"No momento em que o ser humano Jesus de Nazaré atinge o ponto culminante de seu desenvolvimento, de modo que seu corpo humano é a expressão de seu espírito, nesse momento ele atinge a maturidade necessária para receber o Cristo no Batismo de São João". ("O Evangelho de São João em suas Relações com os outros Evangelhos", p. 32)
"A época em que, por assim dizer, o Cristo se encarna em uma personalidade terrestre é marcada distintamente nos quatro Evangelhos: é o Batismo no Jordão. No momento caracterizado, no Evangelho de São João, pela descida do Espírito sobre Jesus sob a forma de uma pomba, o Cristo nasce na alma de Jesus de Nazaré como um novo EU SUPERIOR". (p. 42-43).
"A Entidade do Cristo desceu das alturas espirituais no momento do Batismo, ela permaneceu no corpo de Jesus de Nazaré." (p. 131).
Para dar lugar a este "Eu superior" que o "tomou" e do qual se tornou o portador, foi preciso que Jesus de Nazaré fizesse o vazio em si. Foi preciso que ele fizesse o sacrifício de seu próprio Eu; pois houve ali, assegura-nos Steiner, um verdadeiro SACRIFÍCIO, anunciador daquele da Cruz:
"Se o Cristo pôde vir habitar um corpo, é porque este corpo lhe foi oferecido em sacrifício". (ib. p. 138)
"Este sacrifício consiste no fato de que, por volta dos trinta anos, o Eu de Jesus de Nazaré pode deixar o corpo físico, o corpo etérico e o corpo astral que ele purificou e enobreceu. Nada é melhor nem mais puro que este triplo receptáculo humano. No momento do Batismo, neste receptáculo abandonado pelo Eu de Jesus de Nazaré, desce a ENTIDADE que ainda não passou por nenhuma encarnação anterior, a Entidade crística". (ib. p. 151)
Ora, não há dúvida de que, no espírito de Steiner, a entidade crística se identifica com o Logos, como vimos. Pode-se dizer, portanto, que, segundo ele, a encarnação só ocorreu realmente no Jordão. O personagem de Jesus Cristo que se afasta do Jordão após este evento memorável é TOTALMENTE OUTRO que o Jesus de Nazaré que dele se aproximara algumas horas antes. Houve ali duas personalidades diferentes.
Estamos aqui na presença de uma noção gnóstica muito antiga e muito conhecida, contra a qual Santo Irineu já se indignava. Em seu "Tratado das Heresias" (Livro III, Iª parte, cap. 2), falando do Batismo de Jesus, ele se expressa assim:
"Pois não houve então uma descida de um pretenso Cristo sobre Jesus, e não se pode pretender que um tenha sido o Cristo e outro Jesus. Mas o Verbo de Deus, o Salvador de todos e o Senhor do céu e da terra, este Verbo que não é outro senão Jesus, assim como já mostramos por ter revestido uma carne e ter sido UNGIDO do Espírito pelo Pai, tornou-se Jesus Cristo".
Portanto, no Jordão, segundo a sã doutrina (aqui expressa por Santo Irineu), não houve "tomada", nem "substituição de Eu", nem "encarnação". O que foi manifestado publicamente foi uma "unção", aquela que Isaías havia profetizado.
Mas então, se a noção que encontramos em Steiner já é uma noção gnóstica, como se explica que ele nos a apresente como oriunda da clarividência?
De duas, uma:
- ou bem suas leituras gnósticas influenciaram, sem que ele soubesse, suas observações clarividentes (as quais não são, portanto, tão objetivas quanto ele declara);
- ou bem o inspirador místico de Steiner é o mesmo espírito que já inspirava os gnósticos e que repete no século XIX o que ensinava no século III.
Que julgamento fazer sobre tudo isso? Não falemos desta acumulação de inverossimilhanças históricas; elas bastam, por si sós, para desacreditar o "visionário" que pretende tê-las observado com seu olho interior.
Restam algumas enormidades teológicas ainda mais inverossímeis. Primeiro, não se trata de uma verdadeira encarnação; é, no máximo, uma espécie de incorporação por troca de "Eu" (operação singular, aliás). E depois, o corolário obrigatório desta pseudo-encarnação é o desaparecimento da "Maternidade divina" de Maria; tal é talvez até o objetivo secreto de todas essas invenções. Notemos também que, segundo esta contagem, o personagem de "Jesus Cristo", sob sua forma completa, teria vivido sobre a terra apenas três anos, entre o Batismo e a Crucificação.
A terminologia cristã pode subsistir nas obras cristológicas de Steiner, ela designará doravante apenas noções bizarras, totalmente estranhas ao cristianismo, mas que, em contrapartida, se aparentam diretamente à mitologia gnóstica.
GÓLGOTA-GÓLGOTA
Em todos os desenvolvimentos de Steiner, a palavra Gólgota retorna com uma frequência que não pode deixar de chamar a atenção; não há dúvida de que essa repetição incansável denota nele um verdadeiro fascínio. Não houve conferência de Steiner (e sabemos que cada conferência se tornou o capítulo de um livro) onde ele não proclame que "o mistério do Gólgota é o pivô essencial da história humana".
Ele não se privou de aplicar, a este evento essencial, um esforço de "investigação espiritual" particularmente insistente. E chegou, como não poderíamos nos espantar, a novas deformações das verdades da fé concernentes à morte de Cristo e à redenção da humanidade. Para ele, a morte de Jesus Cristo na Cruz é algo totalmente diferente do que a quitação, pelo "Justo", da dívida acumulada pelas injustiças dos pecadores para com o legislador divino. Certamente Steiner conserva, aqui também, o vocabulário da Igreja, mas desfigura seu sentido, não expressando mais do que um cristianismo verbal totalmente oco.
Quem é o personagem que, segundo Steiner, se apresenta no Gólgota?
É, portanto, este Jesus Cristo formado, há apenas três anos no Jordão, pela descida, no corpo de Jesus de Nazaré, do "Eu Superior" do Cristo. Trata-se, consequentemente, de um personagem totalmente imaginário que não tem mais nada em comum com o Cristo histórico dos Evangelhos.
O que vai acontecer, na Cruz, para o personagem assim definido?
Certamente vão nos falar, com muito lirismo, de sangue derramado e de redenção; conservar-se-á toda uma parte da terminologia cristã, mas ela recobrirá noções que não têm mais nada de cristão, a não ser a consonância, e que serão próprias da antroposofia. Aqui Jesus Cristo não é mais o cordeiro inocente que Se faz culpado para atrair sobre Si os golpes da Justiça divina. Ele se torna apenas o Espírito que se faz carne para espiritualizar a carne.
A Crucificação não é mais o Sacrifício de reconciliação que apazigua a Justiça de um Deus ofendido. Segundo Steiner, Jesus Cristo seria simplesmente um AGENTE DE ESPIRITUALIZAÇÃO da humanidade e mesmo da Terra. O Gólgota constitui o início da renovação do estatuto da vida humana sobre a Terra. É uma nova INICIAÇÃO da humanidade. A Redenção, da qual se continuará a falar, não se define mais como um resgate, segundo a etimologia da palavra, mas como uma espiritualização. Começada no Gólgota, onde ela se realiza virtualmente, esta espiritualização se tornará efetiva em três fases sucessivas:
- ela vai primeiro transformar o Eu humano individual;
- ela vai em seguida incorporar a vida divina ao conjunto da humanidade;
- enfim, ela vai consagrar um novo tipo de INICIAÇÃO.
Retomemos separadamente cada uma dessas três fases, resumindo o mais fielmente possível as ideias de Rudolf Steiner.
No plano individual, o mistério do Gólgota provocou uma IMPREGNAÇÃO da substância humana pelo divino:
" ...o homem recebeu poder de espiritualizar, nas profundezas de seu Eu, seu ser psíquico, vital e físico. A 'morte-ressurreição' do Cristo 'insuflou uma nova vida ao corpo etérico'. Esta vida nova, imperecível, foi trazida ao corpo etérico pelo Cristo. Depende, portanto, do Cristo que o corpo humano, senão votado à morte, seja transformado, preservado da corrupção, dotado da faculdade de tomar uma forma incorruptível. O Cristo derramou a vida no corpo etérico". ("O Evangelho de São João em suas Relações..." p. 183). Pelo mistério do Gólgota, "O EU HUMANO É CRISTIFICADO".
No plano geral, a virtude do Gólgota incorpora um acréscimo de vida espiritual ao conjunto da humanidade:
"A impulsão crística, após ter se manifestado através de Jesus de Nazaré, uniu-se à EVOLUÇÃO DA TERRA...
Uma nova era começa para a humanidade?
Já sabemos que não é segundo um modo de resgate; certamente se conserva a palavra redenção, mas ela toma o sentido de um simples processo de espiritualização. É por um modo de "conhecimento", mais exatamente por uma nova e melhor inteligência do Evangelho que se fará esta incorporação espiritual, esta nova e melhor infusão de vitalidade:
"A inteligência do Evangelho de São João conduzirá a humanidade à compreensão mais ampla do mistério do Gólgota: da morte perdendo, para a evolução humana, seu caráter enganador. O que aconteceu no Gólgota não demonstra apenas ao nosso conhecimento que a morte é na realidade a fonte de toda vida, mas que o homem pode tomar, diante da morte, uma posição que lhe permita infundir sempre mais vida em si, até o ponto de vencer a morte". (ib., p. 200-201)
A ideia de vitória sobre a morte pela espiritualização vai se concretizar cada vez mais, entre os discípulos de Steiner, e se prolongar até suas extremas consequências:
"Enfim, o Eu humano terá adquirido tal poder sobre a matéria de seu corpo físico que o transformará em HOMEM-ESPÍRITO, expressão humana do Logos criador".
Assim se expressa um discípulo de marca de Rudolf Steiner, L. Hadjetlache, em seu prefácio à nova edição de "O Evangelho de São João em suas Relações com os outros Evangelhos", p. 18.
Nos séculos futuros vai se exercer a atividade do Eu humano assim cristificado. Por esta atividade, o homem se tornará por sua vez CRIADOR, pois depositário da Sabedoria criadora de Deus. O eu criador obterá a força de agir sobre os fenômenos da vida. Ele poderá metamorfosear o corpo vital ou etérico. Ele levará à maturidade o germe de vida espiritual e divina que foi depositado outrora, neste corpo etérico, pelas hierarquias espirituais e que a Entidade crística levou ao seu máximo.
Eis enfim quais são os efeitos do "evento do Gólgota", tais como os representa Rudolf Steiner, no plano iniciático.
O Gólgota fez progredir a iniciação humana em um grau. Aqui também a Entidade crística, porque é espiritual, operou no sentido de uma maior espiritualização. Sob o regime do paganismo, era na esfera do INCONSCIENTE que se produzia o contato iniciático do humano com o divino; era ainda apenas uma iniciação no plano psíquico, isto é, na zona inferior do mental.
Desde o evento do Gólgota, é no CONSCIENTE que o espírito do homem pode participar do divino. Em outros termos, a afiliação iniciática, de inconsciente que era sob o regime do paganismo, tornou-se consciente sob o regime cristão e é nisso que ela se espiritualizou.
O que ele entende por iniciação cristã?
Ele não o precisa, pelo menos em sua obra sobre a cristologia. Mas ele a evoca aqui em um sentido certamente muito amplo e muito vago. O que é certo é que Steiner concede à iniciação nova, isto é, cristã, um valor superior à antiga que estava em uso no paganismo. Pode-se notar aí ainda uma vontade de se distinguir das doutrinas orientais que permaneceram as da teosofia, e nas quais tal superioridade da iniciação cristã é absolutamente desconhecida.
UMA ENTIDADE LUCIFERIANA
Vimos que a Entidade crística, da qual nos falaram tantas vezes, aproximou-se da Terra, por etapas, desde o fim da era atlanteana. A tendência de Steiner a considerar este ser como apresentando as características de um anjo é absolutamente evidente. A Entidade crística que ele encontra com tanta frequência em sua investigação espiritual é indubitavelmente um anjo. Ora ele se contenta em sugeri-lo prudentemente, ora ousa afirmá-lo nitidamente:
"Seria preciso dizer que o Cristo se fez alma em um 'SER ANGÉLICO'". ("O Cristo e o Mundo Espiritual", p. 61)
"O ser angélico habitado pelo Cristo teve que cumprir um ato que rejeita fora da alma humana o elemento caótico que devia ser expulso dela para que a harmonia e a ordem pudessem reinar no pensamento, no sentimento e na vontade. Uma imagem se oferece a nós: façamo-la viver diante de nosso olhar interior (clarividência). É a imagem deste SER ANGÉLICO, do Ser que está ainda nos mundos espirituais mas que se tornará mais tarde o Menino-Jesus de Natã..." (ib. p. 61)
Este ser, no espírito de Steiner, é angélico por natureza, ou não seria ele antes o resultado da angelização da divindade, isto é, da descida da divindade em um anjo?
Certas passagens tenderiam a prová-lo:
"Nos mistérios apolíneos, dizia-se que uma divindade muito grande havia um dia tomado posse de um SER DA HIERARQUIA DOS ANJOS e que um reflexo de sua ação harmonizadora sobre o pensamento, o sentimento e a vontade se encontrava na música..." (ib. p. 64)
"Apolo, de fato, é o Ser angélico do qual falamos, é um aspecto, uma projeção na mentalidade grega do Ser angélico cuja ação realmente se exerceu no fim da Atlântida e que era animado pelo Cristo. É este Ser que, pela voz das Pítias, inculcou a sabedoria aos Gregos, este Apolo, reflexo do ANJO HABITADO PELO CRISTO, isto é, o Ser angélico animado pelo Cristo". (ib. p. 65)
E ele termina suas considerações sobre o angelismo da Entidade crística com estas palavras:
"Eis o que nos revela A OBSERVAÇÃO OCULTA". (p. 65)
Tudo isso tem, portanto, por origem a falsa mística na qual ele se tornou mestre. É evidente que toda esta mitologia crística, à qual ele dá o nome de cristologia, ele a deve ao seu "olhar interior", isto é, à sua clarividência. Temos, portanto, um traço suplementar provando que esta falsa mística põe em jogo uma forte participação demoníaca.
Qual é, então, de fato, esta ENTIDADE ANGÉLICA, senão Lúcifer procurando se passar pelo Cristo?
De tal sorte que a pretensa "cristologia" de Rudolf Steiner nos dá do Cristo uma definição na qual Lúcifer pode vir se alojar sem que se tenha que mudar uma palavra. Ao honrar o Cristo da Antroposofia, honra-se o Anticristo.
O HINO AO CRISTO-SOL
Muitos outros aspectos deste CRISTIANISMO ENRIQUECIDO pela clarividência seriam ainda a examinar. Pois a influência do movimento antroposófico é considerável no mundo inteiro e constitui uma real tentação ideológica e religiosa para muitas pessoas. Assim, seremos obrigados a retornar regularmente a este assunto.
Para concluir a presente exposição, não poderíamos fazer melhor do que reproduzir as palavras do hino ao CRISTO-SOL que se canta nas cerimônias antroposóficas que se desenrolam no Goetheanum de Dornach, perto de Basileia, na Suíça, centro mundial do movimento. Vamos aí reconhecer facilmente esta religiosidade fremente e luciferiana que de cristã só tem a pretensão.
Luz do mundo, Cristo-Sol
Aquece nossos corações, ilumina nossas frontes
Para que sejam boas as vontades
Que germinam em nossos corações
E amadurecem em nossos espíritos.
Na virada das eras
A luz espiritual dos mundos
Entrou no fluxo da essência terrestre:
As Trevas da noite deviam cessar de agir;
Então a clara luz do dia raiou nas almas dos homens;
Luz que aquece o coração dos pobres pastores
Luz que ilumina a fronte dos sábios reis.
Alma do homem, tu vives nos membros,
Que pelo mundo da essência
Te levam até a essência do oceano espiritual
Exerce a lembrança do espírito nas profundezas da alma,
Onde na atividade do ser criador dos mundos,
Teu eu, no eu de Deus, haure sua essência;
Em verdade tu viverás na essência cósmica do homem.
Pois o Espírito-Pai age nas alturas,
Nas profundezas dos mundos gerando o ser.
Serafins, Querubins, Tronos, Fazei ressoar, desde as alturas,
A palavra que as profundezas reenviam
E ela diz "Ex Deo nascimur". [Nascemos de Deus]
JEAN VAQUIÉ