II. A INICIAÇÃO AOS PEQUENOS MISTÉRIOS NA ANTROPOSOFIA DE RUDOLF STEINER
- INTRODUÇÃO
- OS ÓRGÃOS DA CLARIVIDÊNCIA
- A VISÃO ESPIRITUAL
- OS OUVIDOS DA ALMA
- TRÊS ORDENS DE INFORMAÇÕES
- O OLHO ESPIRITUAL
- ENTIDADES FLUORESCENTES
- OS MISTÉRIOS MENORES
- A PROVA DO FOGO
- A PROVA DA ÁGUA
- A PROVA DO AR
- DUAS BEBIDAS
- SALVAGUARDA
INTRODUÇÃO
Por que, entre os grandes capítulos da doutrina antroposófica, escolhemos a mística como tema do nosso primeiro desenvolvimento, em vez de outros capítulos, como o da cosmogonia, por exemplo? É porque a mística é a fonte de inspiração permanente de toda a doutrina.
Portanto, se, ao analisar a mística, conseguirmos determinar de qual espírito ela provém, saberemos, ao mesmo tempo, de qual espírito provém a doutrina inteira, por qual espírito ela é inspirada. E essa informação será preciosa para estimar o grau de nocividade da antroposofia para os Cristãos.
OS ÓRGÃOS DA CLARIVIDÊNCIA
Rudolf Steiner submete seus adeptos a uma disciplina espiritual cujas regras ele descreve em uma obra intitulada "A INICIAÇÃO ou como adquirir conhecimentos sobre os mundos superiores". Faremos frequentes referências a esta obra e a citaremos segundo a edição Triades de 1982.
Essa disciplina espiritual compreende três graus: "Os graus estabelecidos pela tradição à qual nos referimos são os três seguintes: 'a preparação, a iluminação e a iniciação'" (página 53).
A preparação consiste em uma concentração mental exercida sobre certos fenômenos naturais. O discípulo, também chamado de estudante, é convidado a meditar intensa e frequentemente sobre duas ordens de fenômenos: as germinações e os fenecimentos: "Ele dirige sua atenção, ora para seres em via de crescimento, de floração e de desabrochar, ora para coisas que fenecem e morrem". (p. 57).
O estudante vai se exercitar, durante semanas e meses, em uma contemplação, assim orientada, da natureza que o cerca.
Façamos aqui uma primeira constatação: faz-se com que ele medite sobre o mundo, não em seu funcionamento regular, mas em seu estado de devir e eterna renascença. Ele é, desde o início, direcionado para uma tomada de consciência aguda da universal e permanente MUTAÇÃO. Isso porque, de fato, a "transfiguração universal" ocupa, na doutrina antroposófica, um lugar central, como em todas as doutrinas gnósticas atuais.
Ao longo desta primeira fase do treinamento, o discípulo deverá manter uma atitude puramente observadora; sua atenção será retida pelo fenômeno exterior que ele examina: o botão de rosa que se abre ou, ao contrário, o tronco que apodrece. Quando estiver bem treinado na meditação intensiva de todos esses seres em processo de transformação, passará a um segundo exercício.
Neste segundo momento, ele voltará seu pensamento para si mesmo e concentrará sua atenção simultaneamente em duas coisas:
- o fenômeno EXTERIOR que ele observa,
- e o ECO que esse fenômeno provoca em seu espírito; ele se observará a si mesmo durante a observação.
Quando a simultaneidade dessas duas observações, uma objetiva (o fenômeno exterior) e a outra subjetiva (o eco sensorial), for realizada com facilidade e equilíbrio, então o estudante sentirá, ao que parece, germinar nele toda uma nova ordem de sentimentos e pensamentos. Compreende-se que o treinamento para alcançar essa dupla percepção seja muito longo: "Graças a esses sentimentos e a esses pensamentos, edificar-se-ão os ÓRGÃOS DA CLARIVIDÊNCIA". (p. 59)
Em que consistem esses novos órgãos psicológicos? Não nos explicam realmente, sob o pretexto de que, para compreender bem essa edificação, é preciso tê-la experimentado por si mesmo. O estudante, dizem-nos, terá formado em si uma nova faculdade que lhe permitirá entrar em comunhão com a natureza e vibrar em uníssono com ela. Aquele que se entrega a este treinamento com perseverança, regularidade e método "vê abrir-se para si um mundo novo: o MUNDO PSÍQUICO; o que se chama de mundo astral começa a despontar como uma aura. Crescimento e decrescimento não são mais para ele, como antes, fatos que despertam impressões vagas, mas realidades que se expressam em linhas e figuras espirituais cuja existência ele nunca antes suspeitara... Pouco a pouco, o mundo psíquico ou astral se desdobra lentamente diante dele". (p. 60)
Antes de prosseguir, precisemos bem a fase a que chegou o estudante antroposofista. Por uma observação intensiva e penetrante, ele ampliou a impressão que o espetáculo dos objetos materiais, das plantas e dos animais produz nele. Em seguida, ele também ampliou o eco que esses fenômenos sensoriais normalmente provocam nele, estudando-os isoladamente. Finalmente, ele OBJETIVOU o eco assim hipertrofiado, que passará a ter, em seu espírito, o valor de um ser em si. À imagem objetiva do mundo, que ele continua a ver como antes, é claro, vem sobrepor-se uma outra imagem desse mesmo mundo, uma outra imagem que será como uma radiografia desse mesmo mundo.
É exatamente o que diz, em outras palavras, o próprio Rudolf Steiner: "Quando o estudante chega ao ponto de poder contemplar, sob sua forma espiritual, fenômenos igualmente perceptíveis ao seu olho físico, ele não está muito longe de ver coisas que não têm existência física alguma e que, por conseguinte, permanecem integralmente ocultas (ocultadas) para aquele que ignora a ciência secreta". (p. 61)
A VISÃO ESPIRITUAL
Os fenômenos naturais exteriores (aliás, já escolhidos entre desabrochamentos e degenerescências) contemplados com penetração produzem no espírito do estudante em treinamento duas impressões sucessivas.
- A primeira é a impressão comum a todo observador: é superficial e sensorial.
- A segunda se realiza no nível psíquico profundo: é particular àquele que soube educar e sensibilizar seu psiquismo interno para torná-lo reativo; é, portanto, um eco, como notamos, mas um eco anormalmente amplificado pela atenção sustentada sobre ele. E amplificado a ponto de se tornar, por sua vez, um objeto de observação interna.
O estudante tornou-se capaz de recolher duas versões do mundo:
- uma versão sensorial
- e uma versão interna.
Então, intervém para ele um novo elemento de formação. É a INTERPRETAÇÃO do que acontece agora nele. Seus instrutores antroposóficos vão lhe explicar o sentido e a verdadeira natureza da versão interna recém-recebida: dirão a ele que é uma VISÃO ESPIRITUAL do mundo; ele supostamente verá doravante a "face" espiritual das coisas; e acreditará nisso facilmente, dado o caráter vago e vaporoso das novas imagens que se formam em seu psiquismo.
Esse eco amplificado é agora considerado, pelo sujeito que o experimenta, como pertencente ao mundo das almas, ao mundo das ideias, isto é, ao mundo espiritual ou "mundo superior". Dizem-lhe que adquiriu a visão do Espírito.
O eco de uma coisa material sobre o psiquismo do estudante tornou-se, portanto, uma coisa espiritual. Pelo menos, é essa assimilação, perfeitamente arbitrária, aliás, que vai inspirar doravante todo o resto da espiritualidade antroposófica: "Um ponto importante é o que a ciência secreta chama de 'orientação' nos mundos superiores. Chega-se a essa orientação penetrando-se inteiramente da consciência de que os sentimentos e os pensamentos são fatos reais, da mesma forma que as cadeiras e as mesas no mundo físico". (p. 62)
O estudante agora acredita ter se tornado sensível à estrutura espiritual que estaria subjacente a todo objeto material, a todo vegetal e a todo animal. Esses ditos seres espirituais que ele discerne em transparência no interior de todas as coisas, ele passará a tratá-los como objetos entre os quais deve se orientar e se deslocar, como se faz com os objetos materiais: "Assim como, na vida física, ele encontra seu caminho através das coisas físicas, ele sabe agora se orientar entre os fenômenos de crescimento e de perecimento que acabou de aprofundar da maneira descrita acima". (p. 63)
OS OUVIDOS DA ALMA
Assim como se treinou para penetrar nos objetos visíveis e para se compenetrar deles, o discípulo vai se compenetrar das sensações sonoras para discernir sua espiritualidade oculta. Todo um procedimento lhe é fornecido para que, também aqui, ele se torne co-vibrante a todos os tipos de sons: os ruídos minerais, os gritos dos animais, os risos e os choros dos homens:
"O estudante deve aprender a sentir assim a natureza inteira. Ele semeia, desse modo, novos germes no mundo de suas ideias e de seus sentimentos. A natureza começa então a lhe revelar seus mistérios por intermédio dos sons que expressam a vida... Onde antes se acreditava perceber apenas um som, as ressonâncias dos corpos ditos inanimados, o discípulo percebe agora uma nova linguagem da alma... ele começa a ouvir com a alma". (p. 65)
TRÊS ORDENS DE INFORMAÇÕES
A fase preparatória teve primeiro como objetivo principal fazer nascer, no psiquismo profundo, uma nova faculdade de apreensão das coisas físicas exteriores. Aos nossos olhos e ouvidos agora exercitados, elas se deixam observar como que por transparência até em seu interior "espiritual". Percebemos esse núcleo espiritual em torno do qual elas são construídas. As imagens assim elaboradas são, pelos instrutores antroposóficos, consideradas psíquicas, astrais, superiores e espirituais.
Ao mesmo tempo em que se tornou apto a captar essas novas informações, o estudante, graças ao mesmo trabalho, graças à mesma faculdade de clarividência, tornou-se também capaz de receber duas outras categorias de informações.
Primeiramente, o sujeito poderá escutar a si mesmo como que com um amplificador: "Ouve-se então o VERBO INTERIOR".
Por intermédio da faculdade de apreensão recém-edificada, o estudante ouvirá informações provenientes de seu SUBCONSCIENTE, as quais permaneciam antes inaudíveis.
Mas ele também vai "captar informações que emanam do mundo DOS ESPÍRITOS e que não encontram meio de se expressar por sons exteriores perceptíveis ao ouvido físico... verdades de origem espiritual lhe são reveladas progressivamente. Ouve-se em espírito". (p. 67)
Acabamos de operar uma importante distinção entre três ordens de informações:
- as primeiras, que provêm dos objetos exteriores após terem ecoado no psiquismo;
- as segundas, que provêm do inconsciente ou, mais geralmente, do próprio espírito do sujeito;
- as terceiras, que provêm dos seres espirituais e que podem, eventualmente, irromper na vida mental do discípulo.
Certamente, Rudolf Steiner conhece essa distinção e recorre a ela algumas vezes. Mas, na maioria das vezes, ele mantém, ao contrário, a confusão entre essas três ordens de informação, estabelecendo entre elas uma espécie de equivalência. Ainda não estamos suficientemente avançados em nosso estudo para apreender as razões dessa confusão. Que nos baste, por enquanto, notá-la.
O OLHO ESPIRITUAL
O trabalho da fase preparatória está agora concluído. Dotou o estudante de uma faculdade psíquica de recepção que Rudolf Steiner chama de "órgão de clarividência". É uma faculdade, diz ele, que dormita em cada homem e que o treinamento progressivo apenas desperta. O discípulo antroposofista vai agora fazer funcionar esse órgão utilizando o mesmo método de concentração de espírito que lhe serviu para constituí-lo. Ele está agora a caminho da segunda fase de sua ascensão "espiritual": a da ILUMINAÇÃO.
Mas aconselham-no a recorrer doravante, seja a um guia, que deverá ser evidentemente um antroposofista confirmado, seja a obras selecionadas nas quais a ciência oculta será exposta com prudência. O método de observação intensa de um objeto mineral, vegetal ou animal continua sendo a regra essencial e continuará a ser aplicado.
Mas a intensidade da observação não é suficiente. Não basta incrustar em si a natureza e nela se incrustar; é preciso ainda fazê-lo em um certo espírito. É preciso que a meditação já esteja orientada para certos temas de reflexão, como já esteve discretamente, vimos, durante a preparação. E esses temas de reflexão serão fornecidos ao discípulo seja por monitores designados, seja por obras antroposóficas redigidas para esse fim. Eis um exemplo desses temas: "Os primeiros passos consistem em observar de uma forma muito particular certos fenômenos e certos seres naturais; por exemplo, um cristal transparente de belas facetas, depois uma planta, um animal. Que se comece por concentrar toda a atenção na COMPARAÇÃO entre a pedra e o animal da maneira que será descrita. Os pensamentos aqui indicados devem tomar conta de toda a alma, acompanhados de sentimentos muito vivos. Nenhum outro pensamento, nenhum outro sentimento deve se misturar e perturbar a intensidade da observação. Que se diga, então, o seguinte: 'A pedra tem uma forma, o animal também tem uma forma. A pedra permanece imóvel em seu lugar, o animal muda de lugar. É o desejo, o instinto que impele o animal a mudar de lugar, e é também à satisfação de seus instintos que serve a forma do animal; seus órgãos e os membros que lhe servem de instrumentos são moldados, de acordo com esses instintos, pelo desejo, enquanto a forma da pedra é o resultado de forças onde o desejo não entra'". (p. 69-70).
Vê-se imediatamente que transpusemos um novo patamar na condução de nossa meditação. Trata-se agora de entrar no MUNDO DAS CAUSAS e é por isso que se faz o adepto meditar não mais apenas sobre a estrutura profunda (pretensamente espiritual) das coisas, mas sobre seu DINAMISMO interno. O estudante é convidado a buscar "o porquê" dos seres e dos comportamentos. Mais ainda, a perseverança de seus exercícios contemplativos fará dessas "causas" novos seres espirituais. Ele vai objetivá-los. O órgão da clarividência, exercitado nesse sentido, aumentará sua atividade; ele se tornará o que a ciência oculta chama de OLHO ESPIRITUAL, porque vê, não mais as coisas, mas o espírito das coisas, isto é, sua causa. Pelo menos, é o que se ensina.
Se, na tela de seu olho espiritual, o estudante vê aparecer o espírito que supostamente reside nas coisas inanimadas, nas plantas e nos animais, a fortiori verá ele se perfilarem os movimentos de seu próprio espírito. É, em todo caso, o que afirmam todos aqueles que têm a experiência efetiva desses exercícios: "Cada um pode dizer: na esfera dos meus sentimentos pessoais e das minhas ideias, encontram-se ocultos os mistérios mais augustos; mas até agora eu não soube percebê-los. O problema reside, portanto, finalmente nisto: o homem carrega por toda parte consigo seu corpo, sua alma e seu espírito, mas só é CONSCIENTE de seu CORPO e não de sua alma e de seu espírito. Ora, o ocultista torna-se consciente de sua alma e de seu espírito, como o homem comum o é de seu corpo. É por isso que importa orientar na boa direção os sentimentos e os pensamentos. Então se desenvolverá, na vida comum, a faculdade de perceber as coisas invisíveis". (p. 77-78)
ENTIDADES FLUORESCENTES
Para avançar mais um grau, o discípulo vai agora exercer, sobre seres humanos, o método de observação e meditação que até então se contentara em aplicar aos minerais, às plantas e aos animais.
Mas então esses novos objetos de observação diferirão dos antigos, pois não são mais guiados por seus instintos, mas pela vontade de uma alma espiritual e livre. Assim, os monitores antroposóficos aconselharão seu estudante a se tornar sensível, tanto quanto possível, às INTENÇÕES OCULTAS das pessoas cuja gesticulação eles observam e meditam.
Compreendemos bem que eles possam adquirir assim uma grande sagacidade, ainda mais que seu treinamento dura semanas e até anos. Somente o que não podemos compreender é o fenômeno mental que vai se produzir nele após tantos exercícios perseverantes. Não teríamos nenhuma ideia se antroposofistas experientes não nos descrevessem unanimemente esse fenômeno. Com efeito, o discípulo sentirá agora os primeiros sintomas do que os ocultistas chamam de ILUMINAÇÃO. Deixemos o próprio Steiner falar: "...O sentimento que a planta inspira, por sua natureza, assim como por seu grau de intensidade, ocupa o meio-termo entre o sentimento que a pedra desperta e o que o animal provoca. Os órgãos que se formam dessa maneira são 'os olhos espirituais'. Aprende-se progressivamente a perceber através deles AS CORES do mundo da alma e do espírito. Enquanto se assimilou apenas o que foi descrito para a fase preparatória, o mundo espiritual, suas linhas e suas figuras permanecem obscuros.
"Pela 'iluminação', ele se clareia. Aqui também, notemos bem que as palavras 'claro' e 'obscuro'", assim como as outras expressões que empregamos, exprimem nosso pensamento apenas de forma muito aproximada. A partir do momento em que se usa a linguagem comum, não poderia ser de outra forma. Essa linguagem é feita apenas para as condições físicas.
"A ciência secreta qualifica de 'azul' ou 'azul-vermelho' o que os órgãos da clarividência veem irradiar da pedra. O que é sentido como emanação de um animal é visto em 'vermelho' ou 'vermelho-amarelo'. Na realidade, as cores assim percebidas são de natureza espiritual. Aquela que sai da planta é 'verde', tendendo progressivamente para um 'rosa-claro' claro e etéreo. Pois a planta, de todos os seres vivos, é aquela que, nos mundos superiores, se assemelha sob certos aspectos à sua aparência no mundo físico. O mesmo não acontece com a pedra e com o animal". (p. 71-72)
Os próprios espíritos puros, quando observados com o olho espiritual, também têm sua cor própria: "Os seres dos mundos superiores, que nunca revestem um corpo físico, também têm cores muitas vezes admiráveis, mas também muitas vezes hediondas. De fato, nos mundos superiores, a riqueza das cores é infinitamente mais variada do que no mundo físico". (p. 72)
Por qual tipo de radiações o olho espiritual se deixou verdadeiramente impressionar? É uma questão muito difícil à qual não podemos responder aqui. Tentaremos resolver esse problema quando tratarmos da distinção a ser estabelecida entre a mística verdadeira e a falsa. O que é certo por enquanto é que todas essas ENTIDADES FLUORESCENTES não são unicamente subjetivas.
Steiner insiste no fato de que, entre os iluminados, há unanimidade quanto aos efeitos sentidos: as colorações ou as irisações são as mesmas quaisquer que sejam os observadores. Eles podem falar sobre isso entre si sem que surja nenhum mal-entendido. Um mesmo objeto provoca em todos uma mesma cor.
É certo, portanto, que o espírito do iluminado se deixou penetrar por uma forma sutil da matéria, forma sutil à qual o homem normalmente não é sensível. Sua "faculdade de contemplação", latente no início, está agora invadida, não mais por Deus, para quem ela é feita, no entanto, mas pela franja vibratória última da matéria. Uma "comunhão natural" se realizou. Para ser mais geral e mais teórico, fala-se de preferência de uma COMUNHÃO CÓSMICA.
Steiner descreve da seguinte forma a iluminação que encerra esta fase de treinamento do discípulo: "Faz anos que ele espera sem perceber os frutos de seu trabalho; um dia, sentado pacificamente em seu quarto silencioso, de repente uma luz espiritual o envolve; as paredes desaparecem, tornam-se transparentes ao olhar da alma e um novo universo se desenrola diante do olho agora clarividente e ressoa em seu ouvido agora aberto ao espírito". (p. 129)
OS MISTÉRIOS MENORES
Agora que está iluminado, o discípulo empreenderá a terceira fase de sua ascensão na "Sociedade Antroposófica Universal". Ele se dirigirá para a INICIAÇÃO. Mas seus monitores não podem lhe explicar de imediato o caminho que lhe farão seguir; a revelação virá com o avanço: "As comunicações que se seguirão são os elementos de uma disciplina espiritual cujo nome e natureza aparecerão claramente a todos aqueles que souberem aplicá-los como se deve". (p. 55)
Ele sabe apenas que está sendo conduzido à iniciação.
O que é, então, a iniciação? "A iniciação é o grau supremo de uma disciplina oculta sobre o qual se possa, em um livro, dar indicações ainda acessíveis a todos". (p. 97)
Já nos haviam dito, algumas páginas antes: "Não se encontrará aqui, naturalmente, senão o que pode ser exposto ao público. São indicações extraídas de um ensinamento íntimo bem mais profundo". (p.55)
Existe, nas esferas dirigentes da sociedade de Antroposofia, "um ensinamento íntimo muito mais profundo" do qual os livros publicados são apenas EXTRATOS.
Por enquanto, o discípulo deve pensar apenas em uma iniciação menor. Em plena posse de seus órgãos de clarividência, familiarizado com uma visão colorida, iridescente e "iluminativa" do mundo circundante, ele refletirá sobre a natureza interna das coisas, sobre sua causalidade e seu devir, assim como sobre o lugar de seu eu pessoal. E chegará assim à iniciação aos PEQUENOS MISTÉRIOS. Ele não deve querer queimar etapas e visar mais longe por enquanto: "O que se poderia dizer sobre os graus que estão além da iniciação não seria mais compreensível. Mas saber-se-á encontrar o caminho, se através da preparação, da iluminação e da iniciação, penetrou-se até os Mistérios menores". (p. 97)
A iniciação de que trata a obra de Rudolf Steiner conduz apenas à revelação dos mistérios menores. Isso significa, portanto, que existem também "mistérios maiores" dos quais não se fala porque não seriam "minimamente compreensíveis" para nós.
Mas o que compreendemos, em todo caso, é que no livro "A iniciação ou como adquirir conhecimentos sobre os mundos superiores", Rudolf Steiner não fala de CERIMÔNIA RITUAL.
Na Sociedade Antroposófica, a iniciação aos mistérios menores não é ritualizada. Mas é, mesmo assim, muito supervisionada, como veremos. Não se pode, portanto, considerá-la uma "auto-iniciação". O caminho a seguir é marcado por uma série de provas bem graduadas que só podem ser superadas sob o controle de monitores confirmados.
A PROVA DO FOGO
Trata-se aqui muito mais de uma experiência do que de uma prova propriamente dita. Notemos que não é uma experiência no sentido científico da palavra, mas uma "experiência mística". Steiner tem perfeita consciência disso e o especifica nestes termos: "A primeira consiste em adquirir, sobre as propriedades materiais dos corpos inanimados, depois das plantas, dos animais e enfim do homem, visões MAIS exatas do que as visões habituais. Não entendemos por isso o que hoje se chama conhecimento científico. Não se trata de ciência, mas de VISÕES." (p. 99)
Vejamos, então, o que essas visões ensinam ao candidato: "O candidato à iniciação aprende a reconhecer de que maneira as coisas da natureza e os seres vivos se manifestam ao olho e ao ouvido espirituais, de sorte que, em certa medida, esses fenômenos aparecem ao observador como desvelados e nus". (p. 99)
Já notamos que, durante a etapa preparatória, o estudante se exercitava em perceber SIMULTANEAMENTE a visão física e a visão oculta e colorida. Ele cultivou por muito tempo essa dupla visão. Desta vez, durante a prova que lhe é proposta, ele deve se esforçar para suprimir a visão física para deixar aparecer apenas a visão oculta. Ele deve chegar a ver apenas as imagens que lhe são fornecidas pelo olho espiritual (ou pelo ouvido espiritual para os sons).
"O que ele vê e o que ouve se subtrai ao olho e ao ouvido físicos. Para a visão sensorial, eles estão cobertos por um véu. Esse véu cai, diante do candidato, seguindo um processo que se pode chamar de fenômeno espiritual de CONSUMAÇÃO. É por isso que se nomeia esta primeira provação A PROVA DO FOGO." (p. 99)
A casca física e sensorial dos seres desapareceu. Foi queimada. Resta a visão daquilo que o discípulo toma pela essência profunda das coisas e que não é, na realidade, senão sua franja vibratória última. Seu órgão de clarividência está povoado por essas entidades iridescentes cujas cores características ele já conhece bem.
É então que se produz um novo fenômeno psicológico muito curioso, sob o efeito, aliás, da vontade do estudante: essas entidades se tornarão para ele como as letras e as palavras de uma nova língua, que não se deixará de declarar "espiritual", é claro, "na alma onde cresce o conhecimento clarividente, objetivo, uma faculdade se desenvolve, uma força a impele a decifrar os fenômenos e os seres espirituais como os caracteres de uma escrita (p. 101).
Essa faculdade e essa força são ainda melhor descritas na passagem seguinte: "Os signos da escrita oculta não são arbitrariamente compostos, mas conformes às forças que agem no universo. Aprende-se por eles a linguagem das coisas. O candidato constata logo que os signos que descobre correspondem às figuras, às cores, aos sons... que aprendeu durante a preparação e a iluminação. Ele se dá conta de que ainda só fez soletrar o alfabeto. Somente agora ele vai começar a ler nos mundos superiores". (p. 102)
Assim, pela consumação de seu "véu sensorial", as coisas e os seres do mundo aparecem como as sílabas e as palavras de uma nova linguagem.
A PROVA DA ÁGUA
Os monitores que supervisionam o treinamento iniciático do discípulo vão lhe impor uma certa tarefa a cumprir. Os documentos escritos não dão nenhuma precisão sobre a natureza dessa tarefa; é, portanto, provável que ela seja deixada à apreciação dos monitores. Colocar-se-á o candidato à iniciação na necessidade de tomar uma decisão levando em conta unicamente os dados que seu olho espiritual lhe fornece. Assim se verá se ele está realmente familiarizado com seu universo espiritual.
"Para aquele que chegou a este grau de treinamento, existem deveres que não são mais determinados por nenhum móvel exterior, não são as circunstâncias externas que o guiam neste domínio, mas sim regras de conduta que lhe foram reveladas pela LINGUAGEM OCULTA. Pela segunda prova, ele deve provar agora que essas regras o dirigem com tanta segurança e firmeza quanto um funcionário submetido ao seu regulamento". (p. 104)
Os monitores definirão, portanto, para ele uma certa ação a cumprir sem que lhe seja permitido, na realização dessa ação, levar em conta os dados exteriores. Ele deverá confiar exclusivamente em seus "órgãos de clarividência": "Para este fim, o candidato deve se sentir colocado, em um momento de seu treinamento, diante de uma certa tarefa. Ele deve realizar uma ação inspirando-se no que percebeu durante os períodos de preparação e iluminação. E essa própria ação, ele deve decifrá-la NA LINGUAGEM DOS SINAIS. Se ele souber reconhecer seu dever e agir em consequência, terá superado vitoriosamente a prova". (p. 105)
Por que essa prova se chama "prova da água"?
"Porque, escreve Steiner, o candidato perde o solo firme que as condições exteriores proporcionam, assim como falta todo apoio àquele que nada em águas profundas. A prova deve ser RENOVADA até que o candidato tenha conquistado uma perfeita segurança". (p. 105).
Trata-se de provar o domínio de si mesmo em meio aos "mundos superiores".
A PROVA DO AR
O objetivo da terceira prova é provocar no candidato uma tomada de consciência nítida de seu EU SUPERIOR. Infelizmente, o capítulo que Rudolf Steiner dedica a este assunto em seu livro "A Iniciação" é redigido em termos particularmente velados. Seu curto desenvolvimento permanece em uma névoa que mal permite adivinhar como a prova se desenrola. As diretrizes precisas são certamente dadas de viva voz ao candidato por seus monitores.
Na prova anterior, a da água, ele estava reduzido aos únicos dados de seu olho espiritual para desvendar uma situação difícil. Desta vez, na prova do ar, um degrau a mais é transposto no despojamento. Não lhe é permitido sequer recorrer ao órgão da clarividência que lhe permitia orientar-se no "mundo superior". Ele terá que tomar uma decisão rápida e não lhe resta senão seu julgamento interior. Será colocado em uma situação onde uma referência ao mundo superior lhe seria até impossível, e aliás, de nada lhe serviria. "Se o candidato progrediu o suficiente, a terceira provação o espera. Tudo é entregue em suas mãos. Ele se encontra em uma situação onde nada o impele a agir. Ele está completamente só para encontrar seu caminho. Nada nem ninguém poderia lhe dar a força de que precisa, senão ele mesmo. A coisa essencial consiste em ver claro imediatamente, pois aqui ele deve encontrar seu EU SUPERIOR, no verdadeiro sentido da palavra. Ele deve rapidamente se decidir a seguir a indicação do ESPÍRITO em todas as coisas. O que impede de dar ouvidos aos avisos do ESPÍRITO deve ser superado com firmeza". (p. 109-110)
Esta terceira prova é chamada PROVA DO AR em todas as escolas de ocultismo e não apenas na antroposofia.
Por que este nome?
"Porque o candidato se encontra privado tanto do apoio sólido dos impulsos vindos de fora quanto da ajuda das percepções 'espirituais' de formas, cores... etc... adquiridas durante a preparação e a iluminação. Ele está reduzido exclusivamente a si mesmo". (p. 11?) [Nota: A página original parece ter um erro de digitação, 'p. 11', provavelmente deveria ser 110 ou 111.]
Ele nem sequer é mais carregado pelas águas; está como que "no ar".
Não saberemos mais. Permaneceremos no vago quanto às modalidades desta terceira prova. Contentam-se em nos dizer que ela é a última. O discípulo atingiu agora a consciência de seu "eu superior", ou seja, ele assimilou perfeitamente o novo espírito que lhe foi transmitido, a nova visão do mundo que lhe foi inculcada.
Pode-se declarar que ele se tornou um homem novo. Doravante, o discípulo vitorioso é considerado INICIADO AOS PEQUENOS MISTÉRIOS, e isso, é importante lembrar, sem que a iniciação tenha sido marcada por qualquer cerimônia ritual.
DUAS BEBIDAS
Ao longo das três fases da preparação, da iluminação e da iniciação, o discípulo colocou em jogo uma incontestável RELIGIOSIDADE natural. Essa religiosidade, ele precisará dela ao longo de toda a sua vida de militante antroposofista. É preciso, portanto, que ele a conserve e a discipline. É preciso que cultive simultaneamente o esquecimento do antigo mundo grosseiro e material, e a lembrança do mundo espiritual no qual acaba de entrar.
Para este fim, farão com que ele beba duas bebidas místicas: a "bebida do esquecimento" e a "bebida da lembrança".
O que é a BEBIDA DO ESQUECIMENTO? É a bebida que o novo iniciado supostamente terá absorvido quando tiver relegado o universo sensorial a segundo plano e seu espírito tiver se povoado dessas "entidades de consumação" que a prova do fogo fez aparecer nele. Quando essa "maturidade iniciática" for realizada, então ele terá recebido "o que se chama simbolicamente de bebida do esquecimento, ou seja, ele possuirá o segredo de agir sem se deixar a todo instante perturbar pela MEMÓRIA INFERIOR". (p. 113)
A "memória inferior" é a visão do universo tal como resulta dos "dados não corrigidos" dos sentidos. E a "memória superior" é aquela que é fruto da contemplação permanente da "face oculta das coisas".
O novo iniciado deverá ainda engolir "misticamente" uma segunda bebida: "A segunda bebida que se oferece ao iniciado é a BEBIDA DA LEMBRANÇA. Graças a ela, torna-se possível para ele ter sempre presentes no espírito as verdades superiores. A memória comum não seria suficiente. É preciso incorporá-las e não formar mais com elas senão um único e mesmo ser. Não basta conhecê-las, elas devem se integrar totalmente à ação viva como o alimento ou a bebida da vida física. Elas devem se expressar pelo que é o próprio homem, espalhar-se nele e tornar-se como as funções vitais de seu organismo. Assim, ele realiza sempre mais espiritualmente o objetivo para o qual a natureza o construiu fisicamente". (p. 114)
Todo esse treinamento contemplativo terá, portanto, como resultado, como era fácil de prever desde o início, incorporar intimamente o iniciado À NATUREZA e introduzi-lo numa verdadeira COMUNHÃO CÓSMICA. Esse ponto de chegada ainda é apenas sugerido pelo texto de Rudolf Steiner; será marcado posteriormente com muito mais precisão.
Se ele se impregna cada vez mais desse novo espírito, dessa nova "comunhão", dessa nova mística, o iniciado mostra suas capacidades para subir ainda mais um degrau. Ele pode esperar ultrapassar os "pequenos mistérios". "Ele possui o direito de penetrar no TEMPLO DOS CONHECIMENTOS SUPERIORES. Apenas roçaremos o que haveria ainda a dizer aqui". (p. 111)
É evidente que a ascensão iniciática do militante antroposofista continua em direção aos "mistérios superiores" ou GRANDES MISTÉRIOS. Mas os documentos publicados só fazem menção a essa ascensão em termos velados. O caminho para a iniciação aos "grandes mistérios" não é descrito em detalhes como foi o caminho para os pequenos mistérios.
SALVAGUARDA
Uma tal ginástica de espírito é eminentemente traumatizante. O exercício permanente dessa singular mística leva a fazer o mundo ambiente sofrer uma perpétua INVERSÃO. O que o homem comum considera o lado certo, o iniciado considera O AVESSO. Para ele, ater-se ao testemunho dos sentidos é ver apenas o avesso da cena. Não se vê o mundo em sua verdadeira essência, pensa ele, a não ser que se observe sua radiografia profunda na tela do "olho espiritual" ou órgão da clarividência. O antroposofista encontra-se, portanto, colocado entre duas visões do mundo: a visão sensorial, que ele acredita ser ilusória, e a visão dita "espiritual", que ele acredita ser essencial e superior. Há verdadeiramente motivos para ter vertigem e até mesmo para enlouquecer; aliás, é o que acontece com bastante frequência. Steiner é o primeiro a ter plena consciência disso. E, no entanto, é um perigo ao qual ele submete deliberadamente seu discípulo.
Por que correr tal risco?
Colocamos a questão, mas não a responderemos, pelo menos por enquanto. Rudolf Steiner pensa, é certo, que vale a pena correr esse risco, dada a excelência do mundo "espiritual e superior" com o qual o iniciado é posto em contato. Não queremos aqui iniciar a discussão sobre a verdadeira natureza desse mundo pretensamente "espiritual e superior".
Lembremos aqui que ele é, na realidade, constituído apenas pela franja vibratória última da matéria. E acrescentemos a isso o agravante de que verdadeiros espíritos, mas espíritos decaídos, vêm na maioria das vezes se misturar a essa franja ondulatória material, da maneira como os morcegos se agarram aos nossos cabelos.
Os maus espíritos vêm parasitar essas vibrações sutis, o que explica, de fato, a impressão de espiritualidade que elas produzem. Mas só poderemos aprofundar o problema durante um exame discriminativo aprofundado da mística verdadeira em comparação com a falsa. É o que faremos um dia.
Resta que Steiner está consciente do perigo de vertigem e de loucura, e que ele corre o risco mesmo assim. Mas para diminuir ao máximo esse risco, ele vai erguer uma SALVAGUARDA em torno de seu discípulo em exercício. Ele estabelece toda uma série de precauções psicológicas nas quais se mostrou um PEDAGOGO GENIAL.
O estabelecimento de sua salvaguarda baseia-se na distinção entre a imaginação e o olho espiritual. A imaginação produz fantasmas irreais e diferentes de um sujeito para outro, enquanto o órgão da clarividência percebe entidades que são as mesmas para todos os observadores. Mantendo firme a objetividade dos dados do olho espiritual, ele repelirá os da imaginação. É ela, diz ele, a grande culpada, a grande responsável pelos acidentes. É ela que faz todo o sistema descarrilar. A precaução primeira é, portanto, calar a imaginação: "Não se deve cessar um instante de reforçar o BOM SENSO que distingue a verdade da ilusão. Durante todos esses exercícios, não se deve perder um único minuto o domínio consciente de si mesmo. Deve-se pensar com tanta segurança como se se tratasse das coisas e dos acontecimentos da vida cotidiana. Seria lamentável cair em um estado próximo da alucinação. As ideias devem permanecer claras, para não dizer frias, e isso sem falhas. Se esses exercícios fizessem perder o EQUILÍBRIO INTERIOR, e se impedissem de julgar de forma sã as coisas da vida comum como se fazia antes, uma falta muito grave teria sido cometida". (p. 82)
A salvaguarda de Steiner é, portanto, uma desconfiança sistemática da imaginação aliada, é claro, em contrapartida, a uma confiança absoluta na objetividade do olho espiritual. Mas ele não se contenta com isso; acrescenta outra precaução: a LENTIDÃO e a PROGRESSIVIDADE do treinamento. Ele retorna a essa precaução ainda mais frequentemente do que à primeira. É preciso, insiste ele, proceder por pequenas etapas e refazer incansavelmente os mesmos exercícios para que "tudo corra sobre rodas", como se diz hoje em dia. Ora, é no estabelecimento desses exercícios progressivos que Steiner deu provas de um verdadeiro gênio didático. Ele copiou certos procedimentos das outras escolas de ocultismo, é claro, mas o que acrescentou de sua própria lavra faz dele um "mestre".
Um MESTRE DA FALSA MÍSTICA.