O Graal

O tema do Graal, que é eminentemente cavalheiresco, é muito frequentemente tratado por autores esotéricos e especialmente por aqueles que têm pretensões ao catolicismo mais seguro. Este tema, de fato, é verdadeiramente ideal para transmitir insensibilmente ideias gnósticas, fazendo-as passar por cristãs e até mesmo particularmente tradicionais. É necessário, portanto, retomar toda essa questão, resumindo-a, é claro, e tentando determinar onde termina o cristianismo e onde começa a gnose.

Do que se trata, muito resumidamente, na história do Graal? O Graal da lenda é, originalmente, o cálice no qual o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, caindo da Cruz, teria sido recolhido pelos anjos e então confiado por eles a José de Arimateia. Este "santo vaso" teria sido trazido para a Europa e escondido em uma série de misteriosos castelos da Bretanha e da Inglaterra. Os contos do Graal relatam as peripécias da busca pelo Graal, ou seja, sua procura, e depois sua descoberta por um cavaleiro particularmente irrepreensível. Essa é a estrutura cristã de toda essa lenda.

À primeira vista, nada é mais cristão, mais cavalheiresco e mais edificante do que este tema. Ele se alinha, em princípio, ao gênero do maravilhoso cristão que consiste em bordar sobre uma trama real e embelezá-la, por exemplo, acrescentando milagres à vida de um santo. Além disso, é incontestável que a veneração dos instrumentos da Paixão é um sentimento autenticamente religioso. É a este zelo que se deve a descoberta da Cruz por Santa Helena, assim como a conservação da placa da Cruz (em Roma), da Santa Túnica (em Argenteuil) e do Santo Sudário (em Turim). Da mesma maneira, encontrar o Santo Graal, que descoberta maravilhosa! Se a lenda pudesse ser verdadeira! Em suma, nada mais tranquilizador do que o tema da busca pelo Graal.

Vejamos agora sob qual forma essa lenda entrou na literatura. Sabe-se que existe toda uma família de poemas e romances chamados graalianos. Esta família constitui o que os historiadores literários chamam de subclasse graaliana, que pertence ao grande "ciclo arturiano". Consequentemente, os poemas e romances do Graal não devem ser classificados entre as obras do "ciclo carolíngio", que é anterior, que trata de Carlos Magno e cujas peças principais são a Gesta de Santa Fé e a Canção de Rolando.

Por que se faz da família graaliana um subclasse da gesta arturiana? Porque muitos personagens dos romances arturianos se encontram naqueles do Graal, em particular o próprio rei Arthur, o mago Merlin e o cavaleiro Lancelot, sem contar alguns outros de menor importância.

Eis, portanto, nosso subclasse graaliano situado em relação aos seus vizinhos na literatura da Idade Média. O ramo graaliano se desenvolveu sobre o tronco arturiano, rejuvenescendo-o. Mas ele vai explorar um tema totalmente independente da lenda arturiana, a saber, a história do Santo Vaso de José de Arimateia.

Em quais grimórios "a arte confusa de nossos velhos romancistas" buscou a história deste vaso? Chega-se facilmente a reconstituir a lista. As fontes graalianas são: o proto-evangelho apócrifo de Tiago, o pseudo-evangelho de Nicodemos, os Gesta Pilati, a Vindicta salvatoris, também chamada de História de Vespasiano e, finalmente, uma série de documentos antigos que são reunidos sob o nome de História da Santa Cruz. Nenhum desses documentos é canônico; todos são apócrifos. Entre eles, parece que a principal fonte seja o pseudo-evangelho de Nicodemos.

Os contos do Graal apareceram em dois florescimentos sucessivos. O primeiro florescimento conserva as belas aparências cristãs que o assunto impõe e que o público medieval também exige. No entanto, já se encontram neles bizarrices imaginativas que certamente lhes conferem charme literário, mas que obrigam a constatar neles subentendidos mais ou menos heterodoxos. Os historiadores modernos da literatura concordam em reconhecer neles, ao mesmo tempo, uma influência cisterciense, para a parte cristã, e uma influência cátara para a parte heterodoxa.

Cinco autores estão na origem deste primeiro florescimento: Robert de Boron, Chrétien de Troyes, Wauchier de Dandin, Manessier e Gerbert de Montreuil. Eles pertencem ao início do século XIII. Cada um conta à sua maneira a jornada do Graal, depois a "busca" empreendida por personagens míticos e sobretudo típicos para encontrá-lo. As variantes do relato são notáveis. Mas o que é constante são os heróis que reaparecem em todos os romances e em todos os poemas. O mais característico é Galaad, que encarna a perfeção cavalheiresca.

Quanto aos temas desenvolvidos pelos cinco escritores desta primeira floração grálica, eis os principais:

Esses são os temas mais frequentemente desenvolvidos pelos cinco primeiros cantores do Graal. Não há dúvida de que, sob um cenário cristão de grande beleza, desenrola-se um processo cheio de subtendidos: um novo sacerdócio, a posse de um segredo, um pequeno povo escolhido para cercar uma entidade misteriosa, alusões reiteradas a um ensinamento secreto de Cristo, a ideia de que a perfeição natural e racional coincide com o início do sobrenatural sem solução de continuidade.

No meio do século XIII, uma segunda floração grálica é inaugurada por Wolfram von Eschenbach, que escreve o famoso Parzival. Alguns anos depois, Albrecht (1270) lhe sucede com o Novo Titurel. A partir de então, o esoterismo do mito não deixa mais dúvida.

Wolfram von Eschenbach ainda se inspira em Chrétien de Troyes, de quem retoma e repete, pelo menos em parte. Mas ele também bebe de outra fonte: a obra de Kyot, o Provençal, que é uma lenda análoga à do Graal, mas de tonalidade e espírito claramente árabes. Eis o que ele mesmo diz a respeito:

"Kyot, o mestre bem conhecido, encontrou em Toledo a matéria desta aventura anotada em escrita árabe".

Em outras palavras, Wolfram von Eschenbach vai associar a lenda cristã do Graal à "matéria" de um conto árabe. A partir de então, não se falará mais de José de Arimateia.

As novas aventuras chegarão mesmo a abandonar o mundo e os personagens arturianos para substituí-los pelo mundo oriental e novos atores. O castelo de Corbényc é substituído pelo de Montsalvage (ou Monte Salvífico). O próprio Graal muda de natureza; ele se torna uma "pedra oca possuindo as mais maravilhosas virtudes"; aprende-se mesmo que essa pedra não é outra coisa senão a esmeralda que enfeitava o diadema de Lúcifer e que caiu sobre a Terra no momento da queda do arcanjo. O templo do Graal nem mesmo se encontra mais na Terra. Um certo tom cristão é assegurado por alguns episódios, como, por exemplo, a descida anual de uma pomba que vem renovar a hóstia do novo Graal. No entanto, todo o Parzival imerge em uma estranha atmosfera de astrologia e alquimia. Eis, portanto, a mutação concluída; o mito do Graal da segunda floração tornou-se positivamente esotérico. Mas é preciso reconhecer que esse esoterismo já estava em germe nas produções dos cinco primeiros poetas.

Quando R. Wagner, no século XIX, retomará o facho do Graal, ele se inspirará no Parzival de Wolfram von Eschenbach. Wagner inaugura a onda grálica dos tempos modernos. Depois dele, uma abundante literatura grálica ainda florescerá, na qual só restarão vagas reminiscências do Cálice de Cristo. O Graal da antiga lenda cristã terá produzido duas entidades. Primeiro, a Pedra Caída do Céu, com todas as interpretações luciferinas que isso implica (pois afinal, uma pedra caída do Céu não é o símbolo do próprio Lúcifer?). Mas também a Cornucópia, com todos os comentários que se pode fazer sobre a reabertura do paraíso terrestre. Todos esses temas são retomados hoje e amplamente explorados por uma grande quantidade de obras, revistas, congressos e sociedades grálicas. A obra que marca mais nitidamente o ponto final de todo esse "movimento grálico" é a de Julius Evola, intitulada O Mito do Graal e a Ideia Imperial Gibelina, título atrás do qual sente-se vibrar a ambição de um Sacro Império Gnóstico.

Seja sob a forma da antiga lenda ou sob a do mito moderno, o Graal é um dos temas favoritos dos esoteristas cristãos, pois ele permite a passagem do cristianismo à gnose por uma série de transições imperceptíveis.


Revision #2
Created 9 July 2024 17:25:25 by Admin
Updated 9 July 2024 17:33:35 by Admin