DOSSIÊ DO ICLS

Guardai-vos dos falsos profetas que vêm a vós com veste de ovelhas, mas, por  dentro, são lobos rapaces. Pelos seus frutos os conhecereis” Mateus 5: 15.

O documento original pode ser acessado neste link

Parte I

Parte I

Introdução

Por ocasião das brigas que mais e mais tem aparecido desde o final de 2020 no grupo do ICLS, algumas pessoas vieram ao meu encontro perguntar se eu sabia o que estava, de fato, acontecendo. O crescente aumento de confusões pede não só respostas privadas, mas precipita uma resposta pública; e é isto que esse documento se propõe a fazer.

Para que fique claro que não se trata de um texto anônimo de alguém sem skin in the game, informo que meu nome é Leonardo Ferreira Boaski, fui benfeitor do ICLS desde fevereiro de 2014, quando ainda nem havia site do instituto, até setembro de 2015, quando interrompi a ajuda de R$ 500,00 que fazia todo mês. Não sou ativo nas redes sociais, guardei silêncio por anos sobre os acontecimentos que serão aqui narrados limitando-me a divulgá-los a alguns próximos. Igualmente, não faço parte de nenhum grupo sectário, nem instituto, nem vendo cursos, nem nada do tipo; em verdade, tenho mais a perder do que a ganhar com esta exposição pública. Escrevo este documento motivado, tão somente, por uma amarga necessidade.

Nesta primeira parte iremos relatar, em primeira pessoa, alguns fatos ocorridos com membros mais antigos do Instituto Cultural Luz et Sapientia, posteriormente, haverá mais partes deste dossiê sendo lançados em momentos oportunos nos quais trataremos de dos seus líderes, do modus operandi do Instituto como um todo e de, pelo menos, uma aula analisada passo a passo.

Há uma grande rotatividade dos estudantes no ICLS, em parte, é por isso que o Instituto ainda subsiste, mas os estudantes mais antigos do instituto talvez já suspeitem e esperem algo do tipo, porém os mais novos provavelmente considerarão inverossímil aquilo que aqui está escrito. Brevemente, tudo estará exposto claramente sob o Sol.

Aos interessados que desejam um espaço livre em que possam demonstram suas impressões, opiniões ou acompanhar as discussões sobre o caso criei o grupo “Debate Livre do Instituto” no link . Como este documento é fruto do trabalho conjunto de católicos e ortodoxos, peço que evitem discussões entre irmãos — tal ato terá como pena o banimento, pois o assunto do grupo é outro.

Parte I

Um pouco da minha história

Meu nome é Leonardo Ferreira Boaski, venho de uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, e, apesar do cuidado de meus pais com minha educação, como é de praxe no Brasil, ela foi bastante deficitária; Em 2013 foi o ano em que travei contato com o antigo site do Mídia sem Máscara, conheci o professor Olavo, o Seminário de Filosofia e o Curso Online de Filosofia (COF). Acompanhando as aulas e o site pessoal do professor Olavo, conheci o que na época era o Centro Landmark, o qual, na época, salvo engano, era a turma que ficava online nas transmissões das aulas do COF — sim, isso faz tempo. No Centro Landmark conheci o trabalho do professor Luiz Gonzaga e a proposta de um curso sobre os Princípios da Cosmologia Tradicional me pareceu bastante interessante. Em 2013 ainda adquiri o curso e realizei minha primeira transcrição, mas o curso fora cancelado faltando algumas aulas, achei estranho, mas enfim. Neste período também conheci o trabalho do Padre Paulo Ricardo e cada vez mais fui me inclinando para a fé católica, o que de fato aconteceu no início de 2014.

Por acompanhar as atividades do professor Luiz Gonzaga, fiquei sabendo, em primeira mão, da criação do Instituto Cultural Lux et Sapientia (ICLS), buscavam benfeitores para que pudessem efetuar a criação; como tinha uma vida financeiramente tranqüila, prontifiquei-me a ajudar — quem me conhece pessoalmente sabe que costumo ter boa vontade para ajudar com qualquer coisa que me pareça boa, isso não aconteceu só com o ICLS — foram prometidas muitas coisas, inclusive uma sede fixa para que as aulas fossem ministradas, o que nunca aconteceu, mas, de qualquer forma, tenho até mesmo a lista de alguns benfeitores e seus valores contribuídos mensalmente que recebi na troca de e-mails quando tratava do assunto. Nesta época nem site havia ainda, mesmo assim, contribuía com R$ 500,00 todos os meses. Por volta de maio de 2014 surgiu o site.

No decorrer de 2014, estranhei o fato de que o professor Olavo nunca mencionava o instituto de seus filhos em suas aulas que tratava de Guénon, de simbólica e de cosmologia; enquanto que, do outro lado, cada afirmação do professor Olavo era printada e postada pelo Tales com os dizeres “é isso que estamos fazendo” ou “É exatamente isso que estamos fazendo”.

Salvo engano, houve o primeiro encontro presencial do ICLS em março de 2015; por eu ser benfeitor, ganhei a entrada para mim e mais um acompanhante — levei uma ex-namorada daquela época; e tinha, e ainda tenho, uma amiga que será chamada aqui de Maryam, com a qual ocasionalmente conversava. Maryam já flertava com aquele que chamarei aqui de Zayn e mais tarde, já na época do 1º Encontro do ICLS, eles namoravam e formavam um belo casal. Numa das conversas com Maryam, soube que ela havia ganho uma entrada grátis para o Encontro, mas ainda tinha problemas com as passagens, eu prontifiquei-me a pagar-lhe as passagens e ela pagaria a hospedagem dela, íamos ficar nós três em um hostel do bairro Ipiranga, quartos separados por sexo, a ex-namorada e ela em um quarto, eu, noutro, que nem perto era. Para conseguir que ela fosse, conversei com a mãe dela e me responsabilizei pelo que lá acontecesse com ela. Por ocasião do destino, quando comprei a passagem para ela, já havia comprado a minha, houve um desencontro e ela teria de ir um pouco mais cedo, assim, para diminuir as possibilidades de acontecer um problema, conversei com o Tales e verifiquei se ele poderia buscá-la no aeroporto e a levasse lá quando eu chegasse depois das 22h.

Detalhes necessários: tenho de caracterizar minimamente as pessoas envolvidas; Maryam é uma pessoa tão sanguínea, mas tão sanguínea, que enquanto falava gesticulava em Libras o que estava falando, e tive de me responsabilizar porque ela bastante avoada e simpática com todos. Já o Zayn, havia nascido em família muçulmana que veio da Palestina, gostava de usar uns perfumes árabes e já estava um tanto quanto secularizado, de qualquer forma, é um bom amigo e até hoje converso com ele sobre carros antigos.

Quando cheguei no aeroporto, liguei para Maryam e não fui atendido, liguei então na casa do Tales (ele me fornecera o número); fui informado de que ela já dormira e que, se pudesse, ela iria com a família do Tales no dia seguinte. Como não vi maiores problemas, aceitei de bom grado a proposta e rumei para o hostel porque o próximo dia seria longo.

No outro dia, um sábado e primeiro dia do encontro, cheguei ao local, forneci meu nome a algum dos irmãos Alcântara que estava na portaria, entrei, e Maryam já estava lá com um local reservado para mim e minha ex-namorada daquela época logo na frente. Assistimos às palestras e, não me recordo se foi ao meio-dia ou mais tarde, o Tales conversou comigo se Maryam podia passar a próxima noite na casa dele, pois a família dele havia gostado muito dela e o afeto havia sido recíproco por parte de Maryam. Não vi maiores problemas e aceitei.

Terminou o segundo dia, voltamos para Brasília e tudo parecia normal.

Já nessa época aprofundei-me no estudo de astrologia horária — quem me conhece sabe que gosto de testar tudo para ver se não é mera baboseira —, já havia estudado o Manual de Astrologia Horária de Frawley com afinco, então, algumas semanas depois do encontro, prontifiquei-me a responder perguntas com o uso de astrologia horária. Não é “pá mim gambá”, mas sou muito bom nisso.

Alguns dias depois do anúncio, Maryam veio conversar comigo, disse-me que o Tales havia lhe feito uma proposta de casamento e que gostaria de uma resposta usando a astrologia. Fiquei um pouco triste pelo Zayn, mas me pareceu interessante uma amiga minha tornar-se uma de Carvalho. Contou-me alguns detalhes, que havia gostado muito da família dele — que a recepcionaram bem — que Tales comportava-se tal qual um adolescente apaixonado e que, então, tornar-se-ia a quarta esposa dele — essa informação chocou-me um pouco. De qualquer forma, abri a carta astrológica e, quando analisei, notei que não havia nenhuma recepção dos significadores dele em relação aos dela, e, estranhamente, toda a recepção dele estavam em relação à Casa IX, a casa da religião. Como estranhei muito, pois em nada se assemelhava a uma horária de relacionamento com a descrição que ela havia me fornecido, pedi para conversarmos pessoalmente.

Daqui em diante a ladeira começa a inclinar-se vertiginosamente.

Conversando noutro dia, ela me forneceu mais informações: não só Tales se comportava como um adolescente de 15 anos apaixonado, como também, era possuidor de um “carisma”, “talento”, (ou qualquer outra babaquice) que adquiriu por conviver com os santos muçulmanos de Marrocos: a capacidade de saber quem deveria ser sua esposa. E não só isso, se ela não se casasse com ele, não casaria com mais ninguém. Também, que em meados de julho ou junho, ele iria para Marrocos onde deveria permanecer sem mudanças na vida pelos próximos 10 anos, assim, ela tinha a janela de um único mês para decidir se aceitava a proposta ou não.

Agora, paremos por um momento e façamos um exercício de imaginação: como uma jovem garota bastante avoada e inocente, diga-se de passagem, estaria perante uma autoridade como o Tales (porque ele, dentro do ICLS, é uma autoridade) com um prazo de tempo tão curso para decidir algo tão importante? E, cá entre nós homens, essa história de carisma adquirido de santos homens muçulmanos não é conversa fiada de homem para conquistar uma mulher?

Materialmente, para que se cassassem, ela teria de ir para São Paulo, como quem fosse visitar um amigo, eles se casariam e iriam para Marrocos — a família cristã seria avisada posteriormente Só eu que acho estranho essa conversa de “foda-se a família” de quem se diz “muçulmano tradicional”? Por que o Tales não teria a hombridade de chegar nos pais dela e pedir-lhe a mão em casamento?

Não só isso, como também Maryam me pediu que nada falasse sobre o caso com ele, uma vez que, Tales havia a admoestado sobre “não falar nada com o sr. Boaski”. Por fim, detalhei o que havia visto no mapa, que em nada batia com comportamento do Tales por ela citado, Maryam estranhou bastante, ia pensar sobre o caso e me informou que Tales havia a convidado para passar uns dias na casa dele com a família, salvo engano, recomendei-lhe prudência.

Assim que cheguei em casa e abri o computador, lá estava no grupo uma mensagem do Luiz Gonzaga com uma advertência:

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Nos outros dias, o Tales começou:

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Estranho, não? Pela primeira vez na vida, comecei a ter a sensação de estar sendo vigiado.

Alguns dias depois, não me recordo com precisão a data, ela pediu para conversar comigo novamente. Ela foi visitar o Tales e novas informações foram-me passadas: Numa das noites que lá passou, sonhou com uma estranha criatura, salvo engano com muitos olhos, que lhe dissera para “não temer”; adicionalmente a isto, também estranhou que a terceira esposa do Tales, apesar de ter se casado com o Tales há poucos meses, ainda não lhe foram ensinadas as cinco orações diárias em árabe. Maryam estranhou, mas a família do Tales a tratava tão bem que até desconsiderou tal fato; as esposas confidenciaram-lhe que choraram quando o Tales se manifestou interessado em casar-se com Maryam, mas, pelo visto, já estavam calejadas, uma vez que, à sua primeira esposa havia prometido que não teria uma segunda esposa, e que à primeira e à segunda esposa igualmente havia dado a palavra que não haveria uma terceira, e assim por diante.

Soube que, quase todos os dias, conversava com Luiz Gonzaga — numa época em que os alunos comentavam que demoravam semanas para conseguir uma consulta com ele, como ainda é hoje —, até certo dia colocou sua amiga Yasmina — nome fictício, mas ela era aqui de Brasília — em chamada para ajudá-la, pois sua casa parecia assombrada. O professor Luiz Gonzaga pediu-lhe para tampar os espelhos, espalhar um determinado trecho do Alcorão pela casa e, notando que o cabelo dela era colorido na época, pediu-lhe que pintasse o cabelo de uma cor normal.

Soube também que ele, Luiz Gonzaga, apoiava o casamento de Maryam com o Tales e sempre demonstrava boa vontade em abrir-lhe horárias e analisar o seu mapa natal.

Abro um pequeno parêntese aqui: Não é estranho um irmão, que nos parece bastante sábio, coadunar com a lorota do irmão? Fiquemos com essa dúvida por agora.

Curiosamente, Kalil (nome fictício), um famoso muçulmano nas redes sociais e morador aqui do Distrito Federal, ligou para Maryam para parabenizá-la pelo noivado (quando ela ainda não havia aceitado).

O tempo passou, ela considerou a família, apesar de gostar bastante do Tales, considerou os estudos, considerou arriscado fugir de casa sob a alegação que “daqui uns meses ou anos eles entenderão e você voltará a ter contato com eles”, então, declinou ao pedido.

Passadas algumas semanas, as amigas dela — amigos são tudo para uma sanguínea — visitaram o Tales e vieram sem falar com ela; eram Yasmina, Khadija e mais alguma outra que não lembro; segundo elas, o Tales lhes contara que Maryam havia mencionado a tendência homossexual de Yasmina em tom de desprezo, e inúmeras outras coisas que comprometeram Maryam a ponto de deixá-la totalmente desprovida de seu círculo de amigas. Quando me contou a situação, Maryam estava extremamente abalada, pois, segundo as palavras dela, contou a situação ao Tales para que ele a ajudasse neste problema e, conseqüentemente, Yasmina fosse ajudada. Não só isso, ela não sabia com precisão, mas pelo visto eu também me tornara um monstro diante das amigas dela, surgiram algumas fofocas de que eu gritara com Tales em público e de que ela, aos prantos pediu-lhe que “dormisse na casa dele porque o sr. Boaski a estupraria”. Sim, fui acusado falsamente de coisa tão hedionda.

Conclusão: Maryam perdeu aquilo que tinha de mais valor na vida dela, todas as suas amigas, inclusive das filhas de Kalil, aquele que havia a parabenizado pelo noivado ao telefone, e o namorado, Zayn; e eu, igualmente estava sem chão, porque pessoas que eu respeitava haviam me acusado de coisa tão torpe, enquanto eu lhes ajudava todo mês com dinheiro. Quem me conhece sabe que tenho um estilo muito monotonal, e muitas pessoas que me conhecem há anos nunca me viram mudar o tom de voz.

Fiquei no aguardo esperando um pedido de desculpas ou algo parecido vindo do Tales, afinal, é o mínimo que se espera de um homem que se diz tradicional e honrado, mas tudo o que vi foram ameaças subentendidas em postagens, coisas vagas sobre “Cuidar para não praticar o crime de maledicência, em especial de figuras públicas”. À época, um pedido pessoal in box me bastaria, mas não, tal qual um cão estava ladrando de longe, simplesmente encerrei minhas contribuições ao ICLS em setembro de 2015.

Curiosamente, alguns meses depois, discuti com um muçulmano que gostava de provocar cristãos em seu perfil, Abdul (nome fictício) e ele veio in box me dizer que “O Tales tinha me avisado mesmo que você não gosta de muçulmanos”. OK, agora sei que o negócio se espalhou por toda a comunidade muçulmana do Brasil, talvez, até de Marrocos.

Quando estourou a merda toda, aconteceu outro fato bastante curioso: num almoço entre os membros do COF do DF, Kalil, aquele que parabenizara Maryam por seu noivado com Tales, prontificou-se em fazer o almoço ao estilo árabe. Mais tarde, quando eu estava lavando a louça e nos encontramos sozinhos na cozinha, tentando ajudar Maryam, vou conversar com Kalil, expliquei-lhe que achava ter acontecido um engano no caso da Maryam em que seria ótimo que suas filhas voltassem a conversar com ela; ele olha e diz que não conhece Maryam; eu sem entender, retruco que foi da situação do Tales, que era o grande amigo dele, e ele só me respondeu que conhecia o Tales, mas não era, de modo algum, seu amigo. Intrigado com a situação, a primeira coisa que me vem à mente é a pergunta horária “ele está mentindo?”, tiro o print da tela do celular com o horário, chego em casa e abro a carta. Batata! Estava mentindo.

Esse tempo todo, só o que eu queria era esquecer esse negócio de ICLS, pois, quanto mais eu cavoucava, pior ficava. Mesmo assim, mais e mais informações foram pulando em meu colo.

Em meados do fim de 2015 ou início de 2016 Khadija precisava de uma horária e recorreu a mim para ter uma questão horária pessoal respondida. Encontrei-me na época numa mesa da universidade que coincidentemente ambos fazíamos, apesar de cursos diferentes. Depois de respondida a horária, ela me confidenciou que eu nada tinha a ver com aquilo que o Tales lhe falara; eu já sabia o que mais ou menos era, mesmo assim perguntei-lhe o que era que ele havia contado de mim e Khadija tão somente disse que tinha vergonha de dizer o que era. Como pagamento, pedi-lhe que reatasse sua amizade com Maryam, porque essa situação toda apenas havia sido um grande mal-entendido.

Um pouco antes do fim de 2015, eu soubera por uma amiga, aqui chamada de Daniela, que Hamal — o nome fictício é árabe mas quando o conheci e conversávamos era cristão — casara com uma das filhas de Tales. Como era conhecida a exigência de Tales de suas filhas casarem-se apenas com muçulmanos, Hamal teve de tornar-se muçulmano para casar-se com a filha de Tales:

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Daniela, nome fictício, também me contou já tentaram arranjar-lhe um casamento com Idris, nome fictício. Quem especificamente? O Tales. Ela, cristã, ele, muçulmano, e, para variar, já tratavam os dois como se casados fossem. Como ela foi se desagradando dele, negou o convite do casamento, o qual, certamente, não foi bem visto pelo Tales. Anos depois, o tal Idris, que nunca apareceu num grupo de WhatsApp relacionado ao ICLS, surge do nada enquanto conversávamos sobre algum assunto relacionados aos muçulmanos.

Chamo a atenção para a questão do casamento; sei que o antigo Instituto Olavo de Carvalho sediado em Curitiba, teve sérios em sua organização, a ponto de terem “forçado” 7 um casamento que posteriormente foi anulado. Curioso como as pessoas tentam obter domínio sobre a vida das demais através do casamento; isso é simplesmente doentio, mas o antigo IOC não é questão desse dossiê, então não me demorarei sobre ele, apenas chamo a atenção para essa estranha constante.

Graças a Deus, Daniela hoje é casada com um cristão e tem um filho. Havia outra amiga da Maryam, Amina (nome fictício novamente); conheci-a porque ela gostaria de aprender astrologia horária, e Maryam nos apresentou quando o evento do ICLS ainda nem era cogitado. Amina é uma mulher bastante forte e experiente, tanto que nunca deixou Maryam na mão, como as outras fizeram. Ela começara um relacionamento com Abdul — sim, aquele mesmo citado acima, na época ele tinha uma página com nome de tariqa —, mas como ele era indeciso, acabaram terminando, ou ela terminando. Enfim. A questão é que Abdul contara-lhe que o Tales procurava uma quarta esposa porque a tariqa a qual ele pertencia tinha práticas sexuais — coisas tipo Kundalini ou Tantra, não sei o nome certo disso em se tratando de uma tariqa — informação esta que depois chegou a mim pela Amina.

Em meados de 2015 ou 2016 Amina também fora convidada ao Tales para visitar a casa dele, e, já sabendo da situação toda e de algumas segundas intenções de Tales, deve de transparecer um “não” bastante claro.

No final disso tudo, em meados de 2016, salvo engano, Maryam trocou algumas palavras com o Tales, que se desculpou pela atitude, deixou a entender que se ela quisesse ainda eles se casariam e pediu desculpas para mim por ela — não teve nem a hombridade de pedir diretamente a mim.

Resultado disso tudo: Tales talvez tenha ido para Marrocos, mas não parece ter tido a necessidade de ficar 10 anos sem mudar de vida (atualmente tem quatro esposas). Maryam passou por um baita problema, mas conseguiu se restabelecer e eu, que entrei de gaiato na história, lasquei-me, porque parece que me jogaram uma urubucaba braba, e descobri a realidade acerca de pessoas bastante relevantes no cenário intelectual nacional. Na época, costumava dizer que o Tales havia posto o meu nome na boca do sapo marroquino — o que não é de se duvidar, já que aquele sonho com uma criatura estranha, ao que as pesquisas me indicam, trata-se de um djinn, uma criatura espiritual que ocasionalmente são propriedades que passam de mestre à discípulo nas tariqas.

O segundo semestre de 2015 e o ano de 2016 foi um período que eu passei relativamente parado em relação aos estudos, pois tentava digerir o acontecido ou queria me distanciar mesmo, de qualquer forma, todas essas informações saltavam para o meu colo. Em 2017 voltei aos estudos para entender o que realmente estava acontecendo.

Parte I

Um segundo relato

Com muita dor no coração quero contar como o ICLS quase destruiu minha vida e meu casamento. Digo com muita dor no coração porque os considerava como minha família e acho que por isso mesmo demorei tanto pra enxergar que não está certo o que estão fazendo. Sou aluna do COF desde 2010 e pouco tempo depois comecei a estudar com o Gugu, enquanto ainda nem existia ICLS. Quando o Tales foi morar no Paraguai convidou meu marido e eu pra passarmos uns dias na casa dele, a partir daí começamos a frequentar a casa dele com bastante frequencia e ficamos bem próximos. Muito lentamente nos afastamos do cristianismo e nos aproximamos do islã. Graças a Deus percebi isso a tempo, mas meu marido não. Quando eu vi ele já tinha se convertido ao islã e foi aí que o inferno começou. Eu estava grávida quando ele simplesmente virou pra mim e disse que agora era muçulmano. Eu não aceitei e pedi pro Padre Lucas [nome fictício] conversar com ele pra ver se colocava um pouco de lucidez na cabeça dele. O padre disse pra ele que um cristão que vira muçulmano é inferno na certa porque está negando Cristo. E que eu não podia aceitar essa conversão pelo meu bem, pelo bem do meu filho e do meu marido, e que se ele insistisse nisso viria pessoalmente me buscar e me ajudar até eu refazer minha vida. Meu marido ficou com raiva do padre e foi falar com o Tales. Aí eu ouvi os conselhos mais doentios da minha vida. O Tales disse que se eu quisesse ir embora era pra ele deixar e que não tinha problema porque todas as promessas que ele fez antes de se converter ao islã, incluindo as do casamento, perdiam automaticamente a validade com a conversão. E pra ele ficar tranquilo porque se eu fosse embora em 2 meses ia virar puta e ele ia ficar bem e logo arrumava outra esposa. Inclusive apostou diante de Deus os 4 casamentos dele de que isso aconteceria se meu marido voltasse pro cristianismo. Estou esperando até agora ele largar as esposas porque já se passou mais de um ano e estamos muito bem. Agora me diz quem em sã consciência vai falar pra um homem largar a esposa grávida?! Sobre o filho que eu estava esperando disse que seria muçulmano e não tinha discussão. Pra não deixar eu batizar nem me intrometer em nada da educação religiosa dele, porque quem dá a religião é o pai. Ou seja, eu era apenas a incubadora. Sobre o padre disse que era um absurdo um padre se meter no casamento de alguém, e começou a difamar o padre em vários aspectos da vida privada dele. Pra completar disse que muçulmano nenhum deveria ouvir cristão nenhum, nem padre, nem que fosse o papa em pessoa. Que o pior muçulmano ainda é melhor que o melhor cristão. Que nenhum cristão é superior a nenhum muçulmano. Que a atitude do muçulmano em relação ao cristão é de tolerância, desde que se submetam a autoridade islâmica. Acreditem ou não foram essas as palavras que eu ouvi da boca do Tales, e tentei ser o mais fiel possível as palavras que ele usou. Aí eu percebi que essa conversa perenialista de união transcendente das religiões é blá blá blá, conversa de lobo mau pra chapeuzinho, e que nem eles acreditam nisso. O cristianismo pra eles é uma embalagem pra vender islã disfarçado e se aproveitar da confiança que jovens imaturos depositam neles. É o exemplo claro, e quase literal, de lobo em pele de cordeiro.

Eles te convencem primeiro de que todas as religiões são revelações divinas e vias válidas pra chegar a Deus. Quando veem que você já está acreditando fielmente nisso, vem com “mas o islã é melhor porque é a revelação mais recente e portanto menos deteriorada.” O passo final é a pessoa acreditar no islã como a melhor religião e o cristianismo como tolerável.

Também estão incutindo ideias islâmicas no Cristianismo. Posso citar vários exemplos, mas vou falar apenas um pro texto não ficar muito longo. Em uma aula o Gugu fala que a festa mais importante do Cristianismo é o Natal e não a Páscoa, porque nao faria diferença Cristo ter morrido de morte natural ou crucificado. Por outro lado São Paulo diz que “se Cristo não morreu e não ressuscitou é vã a nossa Fé”. Ele diz isso porque no islã eles não acreditam que Cristo tenha sido crucificado e muito menos ressuscitado, então a Páscoa realmente não faz sentido pra eles. Mas a cruz é justamente o que da vida ao Cristianismo. Muitos alunos acreditam que o Gugu seja Ortodoxo. Ele não diz a religião mas praticamente só dá aula sobre Cristianismo, escreve um livro sobre o Pai Nosso, faz o sinal da cruz ortodoxo em algumas aulas, o aluno pensa “ah, ele não fala mas óbvio que ele é ortodoxo”. O que os burros, incluindo eu, não percebem é que aí mesmo está o diabo: islamização por infiltração no cristianismo. Eu mesma que fui aluna próxima dele por dez anos só fui saber que ele é muçulmano depois que meu marido se converteu, quando ele mesmo disse com a própria boca que ia ensinar pro meu marido o que o sheike dele ensinasse pra ele.

Tem alguns mecanismos que percebi que estão usando:

  1. Descredibilizar o testemunho do Olavo sobre o islã com uma série de historinhas que o desmoralizam (Não muito diferente do que a Heloísa faz). Histórias de 30 anos atrás que eles fazem questão de contar e repetir junto com frases do tipo “meu pai não é quem vocês pensam”. Lembro que a primeira vez que fui na casa deles voltei desiludida da vida porque destruíram a admiração que eu tinha pelo professor. Quando perguntei, por exemplo, porque o Olavo não apoiava e divulgava o ICLS responderam que era porque ele tem inveja do Gugu, porque o Gugu consegue ensinar o que ele sempre quis ensinar mas não foi capaz, e não aceita que ninguém possa ser mais inteligente que ele. Além de falar aquelas coisas que o islã tradicional é diferente, que o Olavo esteve numa seita, etc.
  2. Apontar EXAUSTIVAMENTE o que eles consideram defeitos e falhas do cristianismo (como que cristianismo só serve pra monge, que é uma religião incompleta, etc) e a situação complicada da igreja atualmente. Fazem um comparativo muito porco entre o pior da igreja e o melhor do islã, e claro, o islã sai vitorioso.
  3. Afastar as pessoas dos sacramentos com essa história de “missa suja”. Segundo o Gugu ir em missa que tem instrumento de percussão é pecado mortal, e a missa mal celebrada é como um remédio com veneno junto, portanto não vale a pena. Só que no Brasil todas as missas tem alguma coisa “não tradicional”, com isso vi grande parte dos alunos terminarem por não ir em missa nenhuma. Virou uma doença entre os alunos a busca pela “missa perfeita”.
  4. Neutralizar a influência da esposa com argumentos de que o homem não pode ouvir a mulher em nada, especialmente em assuntos de religião. Se a esposa te manda ir pra direita você é obrigada a ir pra esquerda, quando o homem ouve a esposa ela perde o tesao por ele, mulher não é capaz de amor verdadeiro e só fica casada por medo de ser largada ou traída, a mulher só tem religião por causa do homem e não gosta de religião e sim de aparência religiosa - diz o Tales. Parece que perceberam que eu não sou o primeiro caso de esposa que “breca” a conversão do marido.
  5. Apresentar o islã como a religião suprema, perfeita, completa, sem decadência, intacta, e com histórias de que o sheyki só de encostar em você te faz ver Deus. Eles sabem que a maioria dos alunos tem disposição religiosa verdadeira e se encantam com essas histórias sufis. Tá aí o combo da conversão.

Meu marido foi um dos que caiu nisso e ficou tão cego que eu já tinha perdido as esperanças de que ele saísse. Ele não ouvia nada nem ninguém a não ser o Tales e o Gugu (efeito típico de seita sobre a pessoa). Graças a Deus ele voltou. Mas muitos acho que não vão voltar. E famílias estão sendo destruídas e pessoas flertando com o inferno. Meu marido não é o único caso recente, outros alunos já se converteram.

Eu realmente não sei se eles estão fazendo isso intencional e deliberadamente, ou se fazem sem perceber e com boa intenção. Mas nesse caso a intenção pouco importa e não muda em nada o dano que estão causando. Cientes ou não estão facilitando muito o trabalho do diabo de destruir vidas e famílias.

Tenho consciência de que o ICLS é o sustento deles, e perder alunos poderia deixá-los numa situação financeira complicada, e apesar de tudo não quero o mal deles. Por outro lado ninguém ali é aleijado que não possa trabalhar igual gente normal, né? Os alunos estão pagando pra serem enganados. Fora as atitudes que beiram ao estelionato. Perdemos muito dinheiro entre doações e propostas de negócios fraudulentas. Numa dessas o Tales disse que queria fazer um curso pra virar mestre de kali filipino e propôs pro meu marido que ele pagasse as despesas do curso e quando voltasse ensinaria pra ele tudo e tornaria ele mestre também. Depositamos xxx mil que ele disse que precisaria pra pagar o curso e as despesas, ele nunca foi fazer o curso, nunca ensinou nada, não devolveu o dinheiro nem deu satisfação. Outra vez falou que com xxx mil poderia comprar umas facas no Nepal e vendendo dividiria o lucro com meu marido. Depois veio com um papo de que o evento do icls tinha dado prejuízo e se ele poderia usar parte do dinheiro pra cobrir o rombo, meu marido, com bom coração que tem, deixou. Só que parte do dinheiro parece que virou o dinheiro todo e nunca vimos nenhuma faca, nem um lucro e nem um centavo devolvido. Uma vez também o Tales pediu pra ele comprar um carro pra eles que iria pagando mensalmente como um financiamento. Graças a Deus meu marido não comprou porque pelo histórico nenhuma parcela ia ser paga e no Paraguai não tem nem como dar busca e apreensão. E com a pandemia pediu não sei mais quantos mil emprestado numa conta do Paraguai pra pagar quando acabar a pandemia porque não está tendo acesso a conta no Brasil. Já dei por perdido esse dinheiro também. Sinceramente eu com 50 anos teria vergonha de ficar pegando dinheiro de um cara com idade pra ser meu filho. Meu marido com o fígado todo estourado de tanto trabalhar, enquanto o bonitão tá em casa sem fazer nada com 4 mulheres.

Desconfio também que ele usa algum tipo de PNL ou hipnose. Me sentia num estado estranho quando ia lá. Acho no mínimo curioso que o Tales passe o dia no quarto e só desça pra conversar com as visitas tarde da noite e vá até de manhã repetindo coisas até a exaustão. Durante a madrugada chega uma hora que a pessoa entra naquele estado meio dormindo meio acordado, no automático. Aí ele fica repetindo a mesma coisa mil vezes. Pelo pouco que eu sei de PNL é assim que funciona: Sonolência e repetição.

Não sei até que ponto o Gugu é tão responsável quanto o Tales. Quanto aos outros professores não sei de nada.

Sem contar que o Tales é um mentiroso compulsivo. Absolutamente tudo que ele me contou até hoje sobre pessoas e fatos eram mentira ou parcialmente mentira. Só pra exemplificar a maluquice, uma vez ele contou que Cristo apareceu em sonho pra um padre e disse que esse padre deveria defende-los perante o Olavo, fui perguntar pro padre em questão e ele disse que isso nunca aconteceu. Ele distorce os fatos e o que as pessoas falam pra chegar onde quer. E o que eles falam nas aulas e pros alunos em geral as vezes chega a ser o oposto do que eles falam pro círculo mais íntimo do qual eu fiz parte.

Esse relato é um breve resumo escrito espontaneamente e sem muitas revisões. Se eu fosse contar todas as minhas histórias em relação ao ICLS ficaria igual São Joao no final do evangelho “se todas elas fossem escritas nem o mundo seria capaz de conter os livros que se escreveriam” kkk Obrigada.

Fim do relato.

Como pode ser visto, mantive o texto em toda a sua originalidade, apenas mudando um nome para evitar identificações.

Há também um terceiro relato, porém anônimo, lançado no grupo no ano 2020, o qual foi prontamente repudiado, mas, a título de curiosidade, disponibilizo um link . Infelizmente trata-se de um relato anônimo, o que perde um pouco de credibilidade, mas tratarei de alguns trechos nas próximas partes e gostaria que seu autor viesse conversar comigo.

Parte I

Considerações finais da Parte I

Isso que foi aqui tratado é apenas a primeira parte de uma série de documentos que em breve serão lançados — seja por mim, seja por outras pessoas, caso meu perfil caia. Tenho consciência de que o efeito de me envolver nessa discussão será deletério, mas esse é o custo da Verdade, pus o meu nome e procurei salvaguardar a autora do segundo relato que, no momento, está cuidando de seu filho pequeno e precisa de paz.

Sei que há pessoas que prometeram até esconder um corpo para o Tales, então, aguardo o impacto que virá deste documento de peito aberto.

Também, desconheço as motivações do Alef e da Julia, nem compreendo aquilo que desejam, imagino apenas que queiram viver a sua vida de casal em paz longe de Tales de Carvalho — O ICLS costuma cobrar um alto preço na vida das pessoas, não só financeiro, mas existencial. Aos estudantes e líderes do ICLS, recomendo que os deixem em paz e, de minha parte, caso esse dossiê chegue até o casal, informo que há muitas pessoas dispostas a ajudá-los.

E já adianto que o professor Olavo em nada tem relação com a atitude que tomamos, seja antes, seja durante, seja depois dos fatos narrados. Fomos, no decorrer de suas aulas no COF, advertidos inúmeras vezes dos perigos de se envolver com muçulmanos — olhando em retrospecto, as advertências eram mais claras do que vocês, leitores, pensam — e pagamos um alto preço pela curiosidade. Todos aqui somos adultos possuidores plenos de suas faculdades e responsáveis por si.

Portanto, Heloísa, se esse documento chegar até você, não vá espalhar as suas baboseiras e venenos costumeiros.

No meio disso tudo, felizmente, o mal só é permitido por Deus, porque sabe que há um bem maior.

Parte II

Tu ne cede malis, sed contra audentior ito” (Virgílio, Canto VI da Eneida) 

Parte II

Introdução (Os cães ladram, mas a caravana não para)

Oi pessoal, Léo aqui.

Passado o primeiro susto, estamos de volta. Já fui excluído de uma penca de grupos, fui chamado de alguns nomes que não devem ser aqui repetidos, mas isso já era o esperado. As boas palavras agradeço de coração.

Sobre as perguntas que o Marcos Monteiro levantou, a autora do segundo relato me disse que ele deve ter se confundido com outro casal, pois ela só entrou em contato com o Marcos duas vezes para ele responder a perguntas usando astrologia horária.

Também ouvi dizer que está circulando por e-mail um material sobre o ICLS, não sei do que se trata, nem recebi tal e-mail; ou seja, não é material produzido por mim; eu disse o meu nome, dei a cara a tapa e todos podem notar que esse material aqui tem uma forma muito pessoal. Curiosamente, mera coincidência, o e-mail foi enviado, pelo visto, somente àqueles que assinam o ICLS, será que estão tentando desviar o foco desta série de documentos?

Como eu disse na Introdução da Parte 1: eu NÃO sou membro de algum grupo sectário, eu NÃO sou membro de nenhum instituto, eu NÃO estou vendendo nem pensando em vender nenhum curso, eu NÃO estou fazendo nenhuma lista de e-mails para vender produtos ou coisa parecida e eu NÃO pedi doações, nem dinheiro nem nada do tipo.

Querem saber minha motivação? Não pecar por omissão contra a Verdade. Se você vê um carro se dirigindo em alta velocidade por uma estrada que termina num precipício, você tem a obrigação de ao menos dar um grito e levantar os braços para evitar algo mais grave.

Confesso que a Parte 1 do dossiê (disponível neste link) soa bastante inverossímil aos alunos do ICLS, estou desde 2014 estudando e analisando o material do Instituto e sei que há bons conteúdos misturados por lá. Há um motivo para eu ter inicialmente declarado que sou do interior do RS e ter assumido que recebi uma educação deficitária, pois essa é a condição de todos nós: nascemos em algum cu do mundo e temos de nos mover por assuntos e realidades que exigem muito além das nossas capacidades. Os conteúdos do ICLS encantam, como as sereias da Odisséia, mas quem, dentre nós, está amarrado ao mastro do navio para escutar o canto das sereias sem se deixar levar por ela?

Falam sempre com muita segurança; as dicotomias apresentadas são facilmente assimiláveis, é sempre o tradicional x moderno (“não, mas isso não é o tradicional... no x, y ou z...”) e, cá entre nós, quem tem leitura e experiência suficiente para dizer aquilo que é tradicional ou não? No fundo, está sempre presente um argumento de autoridade (la garantía soy yo) e tudo não passa de uma confiança depositada em alguém.

Quem sabe onde termina Aristóteles e começa a cosmologia tradicional? Há, de fato, uma fronteira? Será que não quase são as mesmas coisas diferenciando-se um pouquinho aqui ou ali? Quem é capaz de identificar o joio do trigo e separá-los na colheita? Ficam as perguntas.

Parte II

Tales

Iniciemos com o Tales:

Muita coisa aconteceu no grupo do ICLS nos anos que venho estudando, houve, por exemplo, em 18 de setembro de 2020 o compartilhamento de um artigo do professor Olavo chamado “Muçulmano Tradicionais” — que consta neste link ; nesta situação, o Tales ficou transtornado, mandou vários áudios, ameaçou bater no cara caso aparecesse em um encontro do ICLS e argumentava um atentado contra o Quarto Mandamento por estar colocando pai contra filho; algumas pessoas argumentaram que não parecia nada demais, mas o Tales duramente respondia, quase um “cala a boca”, pois dizia, “eu já vi isso inúmeras vezes, já sei quem costuma fazer isso, você é uma pessoa nova aqui e blá blá blá”. Por fim, o tópico foi excluído, mas guardei um print do tópico.

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Muitas pessoas realmente avacalharam com o rapaz e houve muitas manifestações a favor do Tales; mas pergunto: E aqueles que têm real interesse em entender essa divergência, se não num grupo de estudos, onde mais poderiam sanar esta dúvida? Pois, sabemos da posição do professor Olavo, não só publicamente, mas também nas aulas do COF, conhecemos também a posição dos professores do ICLS, e ambas opiniões são diametralmente opostas.

Já em dezembro de 2020 algumas pessoas vieram me perguntar da treta entre o ICLS e o Italo Marsili (que dura até hoje). Basicamente, acusaram-no de copiar a aula do pão (isso será tratado futuramente), acusação esta que pode ser respondida por uma citação de um áudio de Tales que me mandaram na ocasião:

O problema, olha só, quando você dá uma aula ou quando você faz uma postagem no Facebook ou Instagram, tal, não é um livro, não precisa citar a fonte, não é isso, não é esse o problema [tosse] óbvio que não, não se trata disso. A [nome retirado] é uma aluna tentando virar professora, você entendeu? Ela não tem nada de errado nisso aí, cê entendeu? Ela, ora vai acertar, ora ela vai errar, e assim continua, isso é o normal, isso é o que se espera, realmente isso não é o problema; ela não precisa colocar lá ‘Gugu disse isso na aula tal, cê entendeu? Isso é besteira, nem deve fazer isso você não deve fazer isso, isso não é o problema; isso aí é você transformar o discurso dos seus professores, o discurso que você considera sábio, o discurso dos seus professores no seu discurso isso é o natural, isso é o que deve acontecer, certo?

Mas as tensões foram aumentando, podemos notar já no início de 2021 algumas ameaças não só contra o Italo, como em relação aos alunos (provavelmente chantagem barata para que andassem na linha):

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Há também um áudio que ele diz:

Quanto às insinuações que eles andam fazendo de que ‘ah! A gente sabe de um monte de coisas de pessoas e não sei o que’, ó, nesses sete anos, oito anos, o Gugu atendeu a umas milhares de pessoas, milhares, milhares, algumas consultas eu fui autorizado a gravar, certo? Cara, tem muitos podres, viu?! Quer brincar de podre? Tem muito pode e tem gente que espera só uma autorização nossa para contar em público todos os podres aí, de gente importante, então, esse tipo de insinuação é ridícula, você entendeu? Eu sei de podre de muita gente aí de primeira mão, com testemunho, quer brincar de podre a gente brinca de podre, entendeu? Mas eu acho isso infantil e feminino esse tipo de insinuação, sabe? “ai, eu sei de coisas” isso aí é assim, sabe, homem não faz assim não, né? Homem fala “vamo que vamo, você mostra o seu, eu mostro o meu”, e vamo lá, ninguém aqui é velho, idoso, aleijado, né? Homem é assim, só que eu já espero sentado isso aí, é tudo piada.

E há outras provocações como esta:

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Sim, ele continuou falando e, curiosamente, quem está sendo feminino sem dar nomes tem sido o Tales, mas sigamos.

Sobre o que Tales pode falar, considerando as experiências contadas na Parte 1, podemos prever que a possibilidade de elas serem verdadeiras beiram a zero, trata-se, muito mais, de um mentiroso compulsivo.

Dado alguns elementos para contextualização, passemos para a análise:

Da parte de Tales, sabemos razoavelmente a posição dele acerca do tema islã: ele separa os muçulmanos tradicionais — sunitas e xiitas, apresentando claramente críticas à posição xiita — dos wahabistas ou salafistas, que nada em a ver com a tradição alegada por ele. Tales gosta de nos pintar um belo islã sempre com a palavra tradicional à boca e, para quem o escuta, parece algo muito coeso. Um exemplo disso é dizer que o terrorismo é de origem wahabista ou salafista, mas, tentando cruzar algumas fontes de informações dos próprios muçulmanos, por exemplo, verifiquei que existe um site chamado al-muminun de orientação wahabista que diz o seguinte:

Osama bin Laden vem de uma família Iemenita que está baseada em Hadramaute, uma secção litorânea de Iêmen que está bem conhecida por ser a base da seita particular do Islam chamada Sufismo. O Sufismo pode ser brevemente resumido como sendo a antítese do “Wahhabismo”. O próprio Bin Laden não se preocupa com assuntos de fé (ou crença), e algumas das suas afirmações indicam que ele ainda confirma certas práticas Sufis. Ele abraçou também o Talibã como amigos íntimos e protectores, é bem sabido que a grande maioria deste grupo pertence ao Deobandismo, um movimento Sufi.
[...]
A afirmação de Bin Laden “Fatiha foi lida para eles em suas casas” refere-se à leitura do capítulo da abertura do Alcorão (al-Fatihah) para as almas dos falecidos, uma prática comum dos Sufis. Este acto de adoração não tem base no Islam, nem no Alcorão, nem na Sunnah, ou na prática das gerações predecessoras. Mais precisamente, isto é uma prática inovada que as gerações dos Sufis Muçulmanos fabricaram. Esta afirmação indica que Osama bin Laden nem é versado sobre o Islam, nem é ele ligado aos princípios e às prácticas do Salafismo. Fonte

Como podemos ver, os próprios wahabistas põe a causa do terrorismo em outra coisa que não eles próprios. Sobre o sufismo, ele continua em outro texto:

Os Sufis pertencem à escola Iluminista de filosofia que afirma que conhecimento e consciência é produzido na alma através de exercícios espirituais. O Islam Ortodoxo afirma [i.e. o ponto de vista do Islam Ortodoxo é] que uma pessoa pode alcançar verdadeiro conhecimento e consciência através de actos de adoração que existem no Alcorão e na Sunnah.

Os Sufis acreditam que os seus professores são também uma fonte para a legislação em adoração, visto que eles mandam-lhes realizar actos de adoração que não têm base nem no Alcorão nem na Sunnah. Os extremistas entre eles afirmam com frequencia que Allah reside dentro da sua criação (i.e. dentro dos corações, orgãos internos, etc… das pessas). Consequentemente, eles atribuiem aos seus professores atributos e poderes que pertencem somente a Allah, como o conhecimento do invisível.

Eles afirmam muitas vezes que os textos do Alcorão e da Sunnah têm um significado exterior e aparente, como também, um significado interior e oculto. Eles afirmam que o significado exterior e aparente é conhecido por aqueles que praticam o Islam Ortodoxo, enquanto que os significados interiores e ocultos são apenas conhecidos pelo professor e a ordem deles. Estes professores afirmam com frequência que visto que eles avançaram para o significado interior e oculto dos significados do Islam, eles não precisam de orar ou jejuar, algo de que mesmo os Profetas não foram dispensados sobre. Fonte

Pesquisando nas mais diversas fontes dos próprios muçulmanos, notamos que o islã é uma verdadeira confusão, muito diferente daquilo que é apresentado por Tales. O marido da autora do segundo relato, inclusive, reclamou muito do “pós-venda”, pois sentia-se numa confusão dos diabos.

Outro ponto muito interessante a se analisar é a questão das conversões ao islã dentro do ICLS: muitas vezes o Tales argumenta que não sabe das conversões que aconteceram “conheço umas 20 conversões para a Igreja Romana, umas 10 para a Igreja Ortodoxa, e só esses dias soube de uns 2 convertidos aos muçulmanos, que posteriormente me avisaram”. Observemos bem, num grupo em que mesmo católicos apostólicos romanos estão todos os dias marcando o Tales em perguntas relativamente idiotas — falta apenas perguntar qual cor de cueca é tradicional — os que tem interesse no islã não irão contactá-lo para fazer-lhe perguntas? Não é só inverossímil o que ele afirma, como é estultice crer nisso.

Quer outra evidência? Aqui:

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Pergunto a quem quer que acredite no que Tales diz: Se as pessoas vão conversar com ele para dizer os seus pecados mais infames, não é estranho que aqueles que queiram se tornar muçulmanos não venham a ele, nem mesmo, para pedir-lhe uma orientação? Faz algum sentido todo mundo lhe perguntar sobre coisas particulares e só os que se converteram ao islã não recorrerem a ele para nada?

A conversão descrita no relato da autora anônima (em tempo oportuno ela aparecerá) descreve muito bem o modus operandi: todos eles somem do mapa sob a retórica de “deseja fazer um sacrifício de Caim ou de Abel?”, insinuando que sumir é um sacrifício que agrada a Deus pois é um sacrifício na carne, os convertidos ao islã simplesmente somem do mapa. Mais tarde veremos esses símbolos mais de perto. Ainda veremos um pouco desses símbolos adiante.

Parte II

Mas e o Gugu?

Mas e seu irmão, Luiz Gonzaga, onde fica no meio disso tudo? Na história da situação que vivi e descrevi, ele não parecia se opor às veleidades do irmão, inclusive apoiava o casamento de Maryam com Tales e quotidianamente conversava com ela — enquanto muitos outros esperavam semanas; o que se depreende disso? Vejamos.

Paira no ar dúvidas quanto à religião de Luiz Gonzaga no ICLS, muitos já fizeram perguntas (ainda pode-se fazer perguntas no ICLS?), as quais foram prontamente respondidas com piadas, memes e banimentos. É razoável fazer essa pergunta?

No meu entender, sim. Muito têm Luiz Gonzaga na conta de sábio, diretor espiritual e santo. Exagero meu? Vejamos alguns relatos do encontro do ICLS em São Paulo, dias 10 e 11:

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Há outro mais antigo bastante interessante:

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Hehe, bode.

Há algum problema em manifestar apreço pelo professor? De forma alguma, isso é muito bom. Mas, pergunto a todos nós que convivemos nos eventos do ICLS, não é algo bastante recorrente pintarmos Luiz Gonzaga com ares de santidade? Quantos, dentro do ICLS, entre uma ordem de seu diretor espiritual e uma sugestão de Luiz Gonzaga não seguem este em detrimento daquele?

Surgiu, no segundo semestre do ano passado, um relato de autoria anônima (que disponibilizei na parte 1) que confirma isso que digo:

Para quem não conhece de perto, o clima interno do ICLS é de uma veneração à figura do Gugu e, em menor escala, à figura do Tales. De maneira que é muito difícil levantar questionamentos mais horizontais aos seus ensinamentos dentro dos grupos de alunos. Parece que dentro dessas esferas existe também ‘o fenômeno da ‘proibição de perguntar’, que Eric Voegelin discerniu nas ideologias de massa’ — como aponta o professor Olavo no seu artigo As garras da Esfinge

Bom, se tantos consideram o Luiz Gonzaga como sábio, pai espiritual e análogos, que mal há em perguntar-lhe a própria religião?

Se for cristão católico, que mal haverá nisso? Ou se for ortodoxo? Para a maioria do público do ICLS essas condições não fariam diferença alguma, estou correto? Ele não nos ensina todos os dias a sermos mais piedosos? Em breve responderei a esta pergunta.

O autor anônimo citado acima teve o mesmo questionamento:

E cabe com isso perguntar qual seria a inconveniência para os alunos do ICLS se o Gugu fosse católico ou ortodoxo? Não haveria nenhum escândalo, eles não perderiam alunos e todos interpretariam com muita naturalidade se assim o fosse. Agora, não poderíamos dizer o mesmo caso ele professasse abertamente ser um muçulmano como o seu irmão. Nesse caso certamente haveria uma ruptura de muitos alunos, muitos outros deixariam de fazer consultas e teriam um contato mais periférico e o próprio instituto seria mais marginalizado pois não é recomendado a um cristão receber guiamento espiritual de um muçulmano. Ao que podemos concluir que o mistério a respeito da religião professada pelo Gugu no momento só se justifica caso ele seja muçulmano.

Se ele fosse muçulmano, certamente, muitos alunos não entrariam no instituto, certo? E você que está lendo teria entrado?

Muitos dos alunos tomam suas menores decisões de vida em consultas com Luiz Gonzaga. Quem convive no meio do ICLS sabe que muitos utilizam-se das consultas para escolher um rumo na vida, decidir se vai namorar com Fulana ou Beltrana, em verdade, muitos discutem seus problemas particulares nestas consultas, tanto que Tales pode afirmar: “o Gugu atendeu a umas milhares de pessoas, milhares, milhares, algumas consultas eu fui autorizado a gravar, certo? Cara, tem muitos podres, viu?! Quer brincar de podre? Tem muito pode e tem gente que espera só uma autorização nossa para contar em público todos os podres aí”.

O nosso querido autor anônimo trata de que ele mesmo fazia isso:

Eu mesmo conheci pessoalmente pessoas que não tomavam mais decisões menores na vida sem consultar a opinião do Gugu. Sua influência na vida de muitos alunos é equivalente a de um diretor espiritual. E isso é problemático considerando que você não sabe qual a religião e qual direcionamento o Gugu irá dar para sua vida pessoal. Claro, você pode confiar nele, aceitando esse mistério e considerá-lo como um mestre das religiões comparadas capaz de dar guiamento espiritual para qualquer pessoal de qualquer religião respeitando inteiramente a doutrina interna da religião. Eu acho esse benefício da dúvida extremamente exagerado especialmente se considerarmos que toda tentativa para saber qual religião professada pelo Gugu é vista pelos alunos e professores do ICLS como uma infantilidade ou uma inconveniência por parte da pessoa que pergunta. Ora, não deveria ser nenhum escândalo saber a religião professada por um indivíduo que se posiciona como diretor espiritual de centenas de pessoas. Não há aqui nenhuma infantilidade e nenhum exagero. Você não necessariamente precisa saber a religião dos seus professores, mas certamente você precisa saber sobre seu pai espiritual.

Sim, é uma dúvida, ao menos, pertinente, não?

Luiz Gonzaga é muçulmano? Hindu? Mestre Taoísta Ascenso do Raio que o Parta?

Olhemos para seu entorno:

O único livro produzido por ele, O Pai Nosso, tem nos agradecimentos um nome bastante comum para quem acompanha o ICLS: Marcello Brandão Cipolla (nas redes sociais conhecido como Marcello Jafar Cipolla), que esteve presente no primeiro encontro do ICLS em São Paulo e que costumeiramente ajuda o instituto em suas gravações.

Soube que ele é o dono da Editora Bismallah. Alguém já deu uma olhada na descrição dessa empresa? No site (Link) temos uma breve descrição da empresa.

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Alguém sabe quem são os sócios? Está disponível publicamente no site.

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Que estranho, parece que nosso querido professor é sócio de uma editora muçulmana e muitos de seus amigos são, por coincidência, muçulmanos.

Bom, já temos um irmão, agora um sócio muçulmano, e o que ais?

Olhemos para a editora:

Nos livros lá editados aparece um tal de Sheik Nazim Al-Haqqani, que já figurou em muitas postagens no grupo do Facebook do ICLS, não? Pessoal gosta muito de dar uns pitacos de fisiognomia:

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Deveras simpático o “santo”:

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E há mais coisas? Talvez...

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Um colega que ajuda na revisão chamado Álvaro Oppermann que é, nas redes sociais, Ibrahim Amjad? Esse nome me parece meeeio árabe, não é? E, que coincidência, o Jafar está aqui novamente.

E, notem que interessante, traduziram Cristianismo Puro e Simples de Lewis para a WMF. Um título pouco convencional para muçulmanos, não é? Até parece que eles estão bastante familiarizados com o tema, devem ter estudado bastante. E, salvo engano, já vi Luiz Gonzaga sugerir este livro, curioso, não?

Apareceram muitas coincidências, não? Se alguém ousasse suspeitar que há muçulmanos produzindo material cristão para adquirir o vocabulário cristão e se infiltrar no Brasil, começaria a ficar mais verossímil, não? Talvez até pudessem, em suas aulas, dar uma islamizada em suas aulas, não é? Será que o segundo relato está certo?

Mas não, provavelmente Luiz Gonzaga não é muçulmano nem faria algo do tipo conosco. Ou sim?gugu-09.png

Bem, talvez sim...

Sim, ele é muçulmano, o marido a autora do segundo relato soube disso após sua conversão, e essa foto acima também depõe nesse sentido.

Mas as aulas são muito boas, não é? Sim, mas quem sabe, talvez, tenha umas coisinhas estranhas lá no meio, talvez umas inversões simbólicas. Logo trataremos disso num capítulo à parte.

Procuremos olhar com olhos poéticos a dinâmica que se estabeleceu a forma como Tales e Luiz Gonzaga interagem e se mostram. Olhando dessa forma, a situação me lembra muito do mito dos gêmeos Castor e Pollux, um dos mitos de que é composto o signo de Gêmeos, inclusive; Pollux era imortal por ser filho de Zeus, Castor, não; este podia morrer, estava associado à Terra, ao peso da existência, enquanto que aquele estava ligado ao céu, era imortal, vivia nas alturas. O Luiz Gonzaga e o Tales compartilham certa semelhança com este mito: Tales está aqui na terra, lida com os meros mortais, sabemos que possui família e o outro, está na Romênia (alguns já sabem que mora no Paraguai, na verdade), naquela distância enorme perante os mortais, é sábio, direciona as pessoas, tem uma aura mística, muitos o consideram o Sócrates brasileiro, um santo. Na real, para um provinciano brasileiro, qualquer coisa um pouco mais elevada é uma amostra de santidade, quando talvez seria o mínimo, e ninguém sabe em que medida esse mínimo é real, pois sempre está pairando naquela distância enorme, inacessível, apenas facilmente acessível aos queridos pelo Tales. Este parágrafo está demasiadamente mítico, mas é assim que percebi: são diferentes e, ao mesmo tempo, muito parecidos.

E claro, essa dinâmica sofreu um pequeno abalo no início de 2021, quando o professor ficou um pouco mais atuante nas redes sociais (a imagem é um compilado feito por mim de uma única postagem, mas há outros exemplos):

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A mudança repentina parece confirmar um áudio antigo do Tales em que ele diz:

E outra coisa: falaram ‘ah não, tem que chamar o Gugu para julgar essas questões, o Tales’, tá, vocês querem que eu chame? Vocês estão pensando que ele é o tira bom e eu sou o tira mau, vocês estão com essa ilusão? Deixa eu avisar uma coisa, eu, eu e o Gugu é assim, ó, o Gugu é o cara com Sol em Áries na 8, eu sou o cara de Sol em peixes na 4, vocês estão pensando que eu sou o tira mal? Vocês querem que eu chame ele? Vocês têm certeza que querem que eu chame ele? Vocês têm certeza? Eu já fiz isso, tá certo? E você não vão querer, acredita em mim, tá certo?

Mas bem, afinal, conhecem-se bem, não é?

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No mais, Luiz Gonzaga, sei de pelo menos um caso em que a pessoa queria se tornar católica e você sugeriu-lhe, em consulta particular, que permanecesse na religião à qual já pertencia. Curioso como a ajuda para a pessoa se tornar católica é negada. Já a conversão ao islã será que podemos dizer a mesma coisa?

E outra consulta de uma moça jovem e católica que, buscando a sua ajuda para lidar com a depressão, tudo o que conseguiu foi arrumar-lhe um maridinho entre as fileiras do ICLS?

Ficam as perguntas.

Parte II

Considerações finais da Parte II

Então, já recebi ameaças, talvez algum hacker pegue alguma conta minha de rede social, mas já há pessoas com o material na íntegra para distribuir na minha ausência.

A Parte 1 desse dossiê foi deprimente, eu bem sei, agora imagine se você estivesse na minha pele ou na pele da autora do segundo relato. A Parte 2 foi ainda mais ou menos, não havia muitas novidades e, pelo visto, aquele e-mail enviado serviu para desviar o foco. Mas, sobre a Parte 3, confesso que será a melhor; vamos analisar alguns o modus operandi geral do ICLS e vamos fazer uma análise da aula “O que é o Pão”. Aguardem.

Parte III - Final

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede o nosso refúgio contra as  maldades e ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e vós,  príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no inferno a satanás e aos  outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém”  (Oração a São Miguel Arcanjo) 

Parte III - Final

Introdução

Bem, finalmente chegamos ao fim dessa jornada. Um peso e uma responsabilidade que me acompanhavam há anos e que mais e mais se agravavam têm o seu término. Daqui para adiante, sob a luz do Sol, cada um é responsável pelas suas escolhas, já o era, mas havia algo como que uma névoa.

Àqueles que estão tomados pela paixão, com dedos nervosos escrevendo por aí, creio que não haja muito o que fazer; há coisas que só o tempo e a experiência são capazes de mostrar. Aos tristes e desesperançados, diria que em breve tudo isso vai passar — não só eu como alguns ex-alunos já passaram por isso. E aos que já sabiam de algo, dei voz.

O preço disso só o tempo dirá.

Você que está lendo este documento, diante de uma injustiça publicamente feita, seria capaz de pagar o preço do ostracismo social por denunciá-la? Muito mais confortável e gostoso é ter o ego afagado em grupo, não é? Aos que gostam de pôr panos quentes falando de “maledicência...”, “pecados pessoais não se comentam publicamente”, e outras coisas do tipo, informo: Eu já fui à mesquita aqui do Distrito Federal e eu poderia ter sido alvo de espancamento naquela época sem nem saber o motivo por causa de um cara que inventou e espalhou coisas hediondas sobre mim, e que pode muito bem torná-las a repetir, como já o fez, E pode inventar coisas não só sobre mim, mas sobre outros.

Muitas justificativas têm surgido e surgirão, mas não me deterei mais nisso; nem de longe quero fazer disso aqui uma busca sem fim — tenho mais o que fazer.

Parte III - Final

O modus operandi do ICLS

O Instituto Cultural Lux et Sapientia pretende-se um instituto multicultural ou inter-religioso que envolva várias religiões e trabalhe aquilo que muitos chamam de cosmologia tradicional, certo?

Começo perguntando: Quem aí já viu um professor budista ministrando aulas? Quem já assistiu a aula de um judeu no ICLS? Por que vimos a aula de nenhum especialista nas religiões animistas indígenas aqui do Brasil?

Não, não é um instituto multicultural ou inter-religioso, há somente duas religiões tratadas: cristianismo e islã. Curioso, não?

Talvez pudéssemos começar a suspeitar de que há uma infiltração muçulmana no Brasil, mas não, deixemos a idéia de lado... Mas, talvez, quem sabe, fizesse algum sentido sob a luz do que já foi dito?

Continuemos.

Já se vão sete anos acompanhando o instituto e, nesse ínterim, já notei famílias que se dividiram e quase acabaram, conversões e pessoas que chegaram ao ponto de fazer uma consulta com o Luiz Gonzaga ou conversar com o Tales esperando guiamento sobre os menores aspectos da vida. Alguns alunos mais antigos viram a conversão de seus amigos, aquele que um dia estava pedindo referências de catecismo, meses ou ano depois aparece transformado. Mas aqui não é lugar de apontar o dedo, isso é conforme a consciência de cada um, tampouco, ameaço “lançar podres” por aí como o Tales faz. O assunto já deu o que tinha de dar.

Olhemos com olhos aguçados para nós mesmos, alunos do ICLS: sabemos pouco da vida, a grande maioria dentre nós foi criado em cidade grande, estudamos em péssimas escolas, tivemos poucos amigos verdadeiros, aqueles dentre nós criados dentro de uma religião teve formação parca. Não somos, acaso, um prato cheio para qualquer um que se apresente como sábio?

Procurando por um método de abordagem da vida de estudos, se olharmos para o COF, por exemplo, notamos que o professor Olavo está sempre a citar livros de referência em suas aulas, o tema às vezes permanece incompleto, mas não é por uma questão de que o curso simplesmente acabou, é por realizar uma abordagem radial dos temas propostos, cada vez mais elevando o nível da discussão; ou seja, os conteúdos ministrados em aula não têm uma relação intrínseca com o professor, mais com a realidade e com a produção intelectual que faz referência a essa realidade mesma — o famoso status quaestionis. No ICLS o procedimento é diferente: tudo está centrado na figura do professor, e quem quiser se aprofundar em algum tema, precisa de uma consulta pessoal. O professor Olavo quer que o aluno caminhe com as próprias pernas e exerça a sua Inteligência na realidade, já no ICLS, não, procuram estabelecer uma relação entre professor e aluno (mestre e discípulo?) deixando a bibliografia bastante de lado, quando não, desdiz dela. Naqueles cursos antigos, ainda havia um remanescente de bibliografia, mas hoje, o que há senão a necessidade de marcar uma consulta para se aprofundar num tema?

Faço o COF desde 2013 e muitas vezes o professor Olavo contou a história da tariqa do Schuon e detalhou que ele era muito inteligente para tratar dos temas no seu nível mais alto, porém era bem burrinho para o direcionamento pessoal que pretendia. Com o ICLS, parece-me que a situação se inverteu: eles se utilizam muito de direcionamento pessoal da vida dos alunos, e o conteúdo sempre está naquela alta esfera sutil da existência, simbolismo, significados, ritos — e sempre tudo meio incompleto, com cursos pela metade, áudios péssimos, material faltando, livros de referência não são citados — quase como uma isca para os incautos que, por uma inclinação natural, têm interesse nessas áreas do conhecimento.

E, cá entre nós, quem acompanha o professor Olavo sabe o quanto ele já advertiu do risco das tariqas e da influência muçulmana, não foi nem uma, nem duas, nem três, foram algumas dezenas de vezes. Ele fez a parte dele, nós é que não o ouvimos — sim, coloco-me entre os que erraram e a autora do segundo relato também admite.

Não só o ensino é centrado no professor, como em muitas aulas sempre são utilizadas alguns argumentos de autoridade (que nunca são citadas com nome) como “Já conversei com um monge muito santo, e ele disse isso” “Conheci bispo comunista que pegava o dinheiro do dízimo e financiava a guerrilha” “Está lá no Código do Direito Canônico que a missa é sacrílega se...” ou, quando um aluno faz uma pequena objeção sempre tem o clássico “Ah, eu conversei com um monge muito santo e aprendi isso, e você aprendeu isso de quem?”. Obviamente, o aluno se cala.

Curiosamente, quando um aluno procura ter uma referência bibliográfica, logo é taxado de legalista ou coisa do tipo, como aconteceu tempo desses no grupo do Telegram quando um aluno tentou verificar a lista do que seria sacrilégio no Código de Direito Canônico.

O próprio fato de os conteúdos ministrados pelo ICLS serem bastante sublimes, simbólicos e rarefeitos é bastante significativo:

Não me aprofundarei ainda aqui (será no próximo capítulo), mas o peguemos como exemplo a aula sobre o pão; muitas religiões têm o jejum, a esmola e a oração como práticas (até o longínquo budismo) falar sobre o simbolismo do pão ou pode encaixar-se nas mais várias religiões.

Façamos aqui uma pequena analogia da fé católica com o corpo humano: nosso corpo é composto de partes gradualmente grosseiras, há o ar nos nossos pulmões que nunca se esvaziam, os tecidos moles, os órgãos, os músculos e os ossos, a última coisa a se desfazer num cadáver. Para que o corpo bem funcione, são necessárias todas estas partes, mas fornecer apenas simbolismo e demonstrar certo desprezo para com o Catecismo ou o Direito Canônico, é como ter bons pulmões ou um cérebro que funcione bem, mas não ter ossos: não há como ficarmos de pé, tornamo-nos uma massa amorfa que pode ser facilmente manipulada. Por isso o ensinamento da fé dada aos pequenos começa pelo Catecismo, saber recitar um Pai-Nosso, uma Ave-Maria, saber que a Missa é o sumo sacrifício de Deus que nos ama, fazer um sinal da cruz em respeito a um lugar religioso, e por aí vai, primeiro recebe o básico e depois parte-se para as áreas mais sutis do conhecimento.

A formação religiosa da maioria que entra em contato com o ICLS é, no mínimo, deficitária, e então, repentinamente, descortina-se um vasto mundo de símbolos, é o pão, é o fogo da tradição, é ser piedoso, sem nunca ter parado e lido uma sentença do Catecismo. Graças a Deus, fez parte da minha conversão o material do Pe. Paulo Ricardo, então sempre pude, mesmo embebido em tanto simbolismo, pôr os pés no chão.

Quantos não abandonaram seu fervor religioso em favor de pesquisar sobre seres sutis?

Há o desenvolvimento de uma imaginação hipertrofiada ou, nos termos do curso sobre Antropologia Escolástica (que de escolástica só tem o nome), poderíamos dizer que é um excesso de Lua. Sentar a bunda na cadeira para aprender latim ou grego é muito difícil, relações sintáticas complicam muito a nossa vida; Literatura Clássica para quê? Mais fácil ler literatura infanto-juvenil do que gastar 1h para entender alguns versinhos de Virgílio ou Horácio. Gramática? Retórica? Dialética? Não, mais fácil pegar alguns símbolos dispersos por aí e ficar viajando na maionese.

Algumas pessoas poderão perguntar: Mas isso não é coisa de que a pessoa tem de correr atrás? Se o foco escolhido por eles for uma coisa, o que eles podem fazer? A formação humana integral que eles pretendem, dando aulas inclusive sobre relacionamentos e sobre literatura, deveriam integrar — ou, ao menos, ser sugeridos — esses conteúdos mais básicos: se você não entendeu uns versinhos de Camões, que é muito mais simples, o que o faz pensar que consegue entender, manejar e compreender as demais coisas a partir de um símbolo?

Claro, atualmente temos o campo oposto se formando no Brasil, pessoas que se apegam à letra do Catecismo, ao rito extraordinário em latim que dizem ser “A Missa de sempre” — sem saber que antes da instituição do rito gregoriano, havia muitos ritos diferentes só na Europa —, aos vestidos compridos e aos ternos e esquecem-se das partes mais sublimes, mas rad-trads — ou fari-trads, hehe — não são o assunto aqui. E tal ação é como um corpo sem ar, sem espírito — a letra mata, mas o Espírito vivifica.

Pense, leitor, quem mais ensina simbólica no Brasil? Vai, pense.

Difícil pensar fora do ICLS, não é?

Adianto alguns: o Oleniski há 14 anos mantém um blog em que trata do tema. Também há o André Muniz, o popular “Arya”, que tinha um blog e agora migrou para o YouTube, budista e maçom declarado. “Ah, Léo, mas ele é maçom!”, certo, mas pelo menos é declarado. “Ah, Léo, mas ele é budista!” sim, declarado, ele assumiu uma posição clara. Tem treta no meio? Não sei. Eu não estou aqui dizendo para você leitor eleger outra espada do discernimento infalível, apreenda o conteúdo e não se apegue à figura. Enquanto o ensino depender mais da figura do professor do que da realidade e da aplicação da sua própria inteligência, você estará sujeito às tempestades.

Eu nada teria a escrever caso, desde o início, as cartas já estivessem na mesa, “somos muçulmanos e ensinamos isso aqui no nosso instituto, seguimos a tradição tal, estão aqui os livros e o valor é tanto”. Por que camuflar algo tão nobre quanto uma religião? Por que segredinhos? Por que se aproveitar da vontade das boas pessoas em ajudar? Já pensaram que coisa feia seria um cristão fazer tal ato num país muçulmano? Eu teria vergonha.

Acerca dos professores e conferencistas do ICLS, desconheço as relações, e nem faço questão de conhecer. Muitos parecem-me ser muito gente boa e talvez tenham entrado de gaiato na história. E como já disse anteriormente, há muitas coisas interessantes por lá, mas quem é capaz de separar o joio do trigo?

E com quem mais aprender cosmologia?

Pesquisem pelas aulas antigas, pesquisem pelas bibliografias antigas de Luiz Gonzaga, e o que encontrarão lá? Basicamente Aristóteles, Liber de Causis, Plotino. Será que não há mais lugares para estudar Aristóteles? Já experimentou pesquisar pelo professor Victor Sales Pinheiro? Professor Sidney Silveira? Já viram os livros da Polar Editora? Há muitas pessoas e material nesse meio.

E língua portuguesa, o quanto você realmente sabe?

Parte III - Final

Análise do conteúdo

Creio que neste documento já está suficientemente descrita a problemática dos dois principais articuladores do ICLS, Tales e Luiz Gonzaga. Também, creio que esteja suficientemente detalhado as circunstâncias dos alunos e o modus operandi adaptado para a circunstância brasileira. Resta-nos, fazer uma análise detalhada do conteúdo ensinado.

Muito se fala (e principalmente, se ri) de que “como assim os professores do ICLS querem islamizar o Brasil ensinando-nos a sermos bons cristãos?”. Pois bem, ensina-se corretamente os símbolos a estes cristãos? Quantos, dentre estes cristãos, não estão subjugados a autoridade de Tales e de Luiz Gonzaga? Não se trata, tão somente, de uma conversão, mas também de colocar sob a sua autoridade uma série de cristãos que estão por aí ganhando mais e mais respeito diante da comunidade. Martin Lings não precisou proclamar nas praças para islamizar a Inglaterra, precisou, tão somente, da família real, o restante do país está sendo mera conseqüência.

Analisarei a aula “O Que é o Pão”, que foi um marco ao longo do tempo de vida do ICLS. Outro motivo para analisar esta aula é que ela é, para a massa de alunos do ICLS, o motivo da treta com o Italo Marsili (sei que não é, o problema é bem mais embaixo, mas sigamos).

Farei um breve resumo para que confirmemos que não estou criando um espantalho e, em seguida, tratarei de pontos específicos:

Em primeiro lugar, devemos procurar Missas sem sacrilégios (é esta a palavra usada por ele ao longo da aula). E Luiz Gonzaga acrescenta (daqui para baixo as citações são da aula sobre o Pão):

Se alguém frequenta a missa no domingo, o seu dever é procurar por uma missa válida o dia inteiro. Se alguém procurou o dia inteiro e não achou nenhuma, então essa pessoa cometeu apenas um pecado venial. Essa é a lei, é assim que funciona. Isso dá trabalho? Claro que sim, mas queremos o Céu, a felicidade eterna, e não queremos ter trabalho ao menos uma vez por semana? Uma vez por semana é muito pouco!

Numa Missa válida recebemos trigo espiritual que, nas palavras ditas por ele, “em termos técnicos, em linguagem jurídica da Igreja, se chama graça santificante”. E se a Missa for inválida, o trigo vem com veneno.

E Luiz Gonzaga acrescenta: “E também devemos ser sensatos e prudentes como serpentes. O que é uma pessoa sensata e prudente como uma serpente? Quando encontrarmos uma missa em que recebamos trigo limpo, não devemos parar de procurar outras missas limpas”, O número, ao longo da aula, varia de vinte à duzentas missas (e claro, considero que há um fundo hiperbólico neste número).

O segundo passo é moer este trigo que significa o esforço constante e cotidiano e, também, a intenção de a pessoa praticar a religião até a morte.

O terceiro passo é acrescentar água à farinha, ato relacionado ao jejum, pois, da mesma forma que a água reúne a farinha, a fome reúne todos os desejos em um único desejo: o de alimento. Resistindo ao desejo de alimentos, é como se resistíssemos aos demais desejos reunidos na fome.

O quarto passo está relacionado ao ato de sovar a massa, em que, através do esforço, acrescentamos ar à mistura. Tal passo está relacionado com a constância na oração, pois “sopramos” sobre esta massa. Luiz Gonzaga acrescenta:

Ter uma religião é ter de fazer essas coisas. E, fazendo isso, a religião recebe o Espírito de Deus. A palavra espírito significa ar, e é esse ar que fará com que a nossa massa cresça e fique macia. Se não fizermos isso, o que acontece? Nosso pão ficará duro como pedra e se não poderá ser comido.

O quinto passo está relacionado com o elemento fogo, quando pomos o pão para assar. O fogo retira o excesso de água do pão (os desejos reunidos anteriormente), expande o ar e transforma aquela massa em alimento verdadeiramente humano. Assar o pão está relacionado com o ato de dar esmolas, em que retiramos o nosso “excesso” (nossos desejos e assemelhados) ao ministrar esmola àqueles que precisam.

Luiz Gonzaga ressalta a importância de que desses três desses três últimos atos sejam feitos em segredo, pois assim, Cristo recompensa em segredo. Curiosamente, durante a aula, é dito “Agora, honestamente, aqui temos pessoas que se dizem católicas, pessoas que se dizem evangélicas e pessoas que se dizem ortodoxas, mas a realidade é que ninguém de fato tem religião. Quem é que jejua em segredo aqui? Ninguém!”. Mas como ele vai saber disso se é para fazer em segredo? Continuemos.

E depois continua: depois de cinco anos praticando consistentemente, seremos “padeiros”, nos alimentamos de pão espiritual, ficamos fortes, nosso cônjuge e filhos terão religião, pois se alimentarão de pão. Esse é o primeiro estágio da vida cristã e, se não cumprirmos nem isso, os Santos, ele cita Santo Antão, nos bateriam a porta na cara. Felizmente Santo Ambrósio nunca fizera isso com Santo Agostinho, situação na qual, parece ter sido o contrário.

Segue-se a aula com algumas sugestões de jejum e orações e começa a introdução do vinho:

como dissemos, fazer o pão é o estágio inicial da vida cristão, e quem quiser alcançar a santidade deverá aprender também a fazer o vinho. Por quê? Porque não há consagração, não há Eucaristia, não há o Verbo de Deus encarnado para nós sem o pão e sem o vinho. Se perguntarmos a um padre se é possível fazer a consagração somente com o pão ou somente com o vinho, ele nos dirá que isso não é possível. Assim é com a nossa alma. Se ela não produzir esses dois materiais, nunca será transformada em Jesus Cristo. Sem isso, nunca poderemos dizer o que disse São Paulo: ‘Não sou eu mais quem vivo, é o Cristo quem vive em mim’.

Há um ponto bastante importante em seguida sobre “devemos ajudar os piedosos. Devemos ‘comprar’ esses amigos com o dinheiro da iniquidade”, no qual nos é advertido que ajudemos aqueles que sabem fazer pão, mas passam por necessidades financeiras. Segue um trecho muito bonito:

O interessante sobre isso é que o próprio Cristo vivia de esmola! Então, quando ajudamos essas pessoas, é como se tivéssemos ajudado o próprio Nosso Senhor Jesus. E, se pensarmos bem, não fomos nós que O ajudamos, mas sim nós que fomos ajudados, pois ganhamos em troca uma coisa de valor imensamente maior!

E acrescenta:

Não gostamos de ajudar os piedosos, porque eles não afagam o nosso ego. Quando os ajudamos, eles não nos dizem: “Caramba, como você é maravilhoso!”. A única coisa que nos dizem é: “Obrigado.”. Um simples “obrigado”. Por que isso? Pois eles são melhores do que nós, e seria uma falsidade para com Deus que se colocassem numa posição inferior a pessoas que são piores do que eles. No momento em que agradecem a ajuda que receberam, é muito possível que pensemos: “Ele nem me agradeceu direito!”. Mas o que estávamos esperando? Uma medalha, um brilho nos olhos e uma massagem no nosso ego? Tenha santa paciência! Nós é que saímos ganhando nessa troca!

No decorrer da segunda aula esse ressalta a questão da Graça Santificante:

O trigo é aquilo que tecnicamente, em Teologia Católica, chamamos de Graça Santificante; ele é a Graça que recebemos e que vem nos sacramentos. A Graça é como um trigo que ficou em nossa alma. Esta era uma terra vaga e vazia na qual Deus despejou Sua luz. A Graça despejada é um alimento que Ele entrega a nós. Só que temos de pegar e elaborar esse alimento. Porém, devemos notar que Cristo não chega para os apóstolos, pega um monte de trigo e diz “esse é meu corpo”, não pega um monte de uvas e diz “esse é meu sangue”. Esse trigo e essas uvas já foram elaborados pela ação humana. Para que cheguemos a Deus – e não estamos falando de desaparecer em Deus, mas em formar uma unidade com Ele – temos que cooperar. Isso é o que, também em Teologia Cristã Tradicional, chamamos de sinergia ou cooperação: um trabalho cooperativo entre o homem e Deus. [...]

Os sacramentos são sinais visíveis de graças invisíveis: essa é definição católica mais básica, que também vale para a Igreja Ortodoxa, e que, em última análise, também vale para as igrejas protestantes – embora estas últimas não tenham todos os sacramentos católicos e ortodoxos, elas têm alguns sacramentos e atividades sacramentais. A leitura coletiva do Evangelho, por exemplo, é uma atividade sacramental. Se fizerem isso juntos, pensando em Jesus Cristo e com a intenção de cumprir o Evangelho: “Onde houver dois ou três reunidos em Meu nome, Eu estarei lá”. É Ele quem está dizendo que enviará a Graça sobre tal grupo. Claro, isso não é um sacramento no sentido estrito, mas é uma atividade sacramental. É uma maneira que Ele mesmo indicou, e, se assim fizermos, Ele nos dará a Sua Graça.

Na segunda aula muitos dos temas são retomados, mas acrescenta algo novo:

Devemos lembrar que muito antes do Cristo fazer isso, Deus-Pai também ensinou o homem a fazer pão. Quando Adão caiu do Éden, o que Deus lhe disse? “Ganharás o teu pão com o suor do teu rosto”. Ou seja, a partir daí o homem teria que comer pão, e este seria um alimento que ele sozinho teria de produzir, enquanto no Éden não havia essa necessidade de trabalhar e de produzir o próprio alimento. [...]

Também é por isso que, se não fizermos pão, não temos religião, porque o pão é o alimento para o ser caído. Se ele está caindo, ele precisa de um alimento que é enviado pelos Céus e sobre o qual terá de colocar o próprio esforço e suor. E é esse alimento que segura o movimento da queda.

Essas duas imagens correspondem exatamente àquilo que o Cristo fala para o jovem rico. Este pergunta para Aquele: “Senhor, como faço para obter a salvação?”. Jesus diz: “Faça isso, isso, isso e isso”. Ao que o jovem responde: “Ah! Senhor, já faço isso desde a juventude!”. Então Cristo replica: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e depois vem e me segue”. Se alguém então quer vinho, então “vai, vende tudo que tens, dá aos pobres e depois vem e me segue”. O vinho só será dado a quem largou o mundo e entrou solitário numa arca; depois da tormenta, a essa pessoa será dado um novo mundo no qual ela aprenderá a vinicultura. Isso quer dizer o quê? Que o pão é um dever de todos, ou seja, todo mundo deve escapar do Inferno. Por que é um dever de todos? Porque isso é uma necessidade universal. Se não o fizermos, pior para nós. Deus, quando deu o pão a Adão, disse: “Você é um pecador e acabou de inventar o pecado, mas ainda assim te dou o pão, e você vai ter que fazê-lo, porque se não o fizer morrerá de fome”. Já o vinho não, ele é um extra, digamos assim. O vinho é dado na circunstância contrária: é para o sujeito que se separou completamente do pecado e entrou numa arca apertadinha após perder tudo.

E sobre o efeito do vinho acrescenta:

Mas por que isso é assim? Bem, para sabermos isso, temos que nos remeter mais uma vez ao simbolismo do vinho. Qual é a sua característica? Qual é o efeito do vinho em quem o bebe? Imaginemos que um sujeito saiu do trabalho muito bravo e quer brigar com a esposa, e que antes de voltar para casa ele passa no bar e enche a cara. O que ele fará em seguida? Ele voltará para casa e baterá na esposa. Agora, imaginemos outra situação: uma pessoa está muito triste, deprimida e frustrada. Se ela encher a cara, o que acontecerá? Ela certamente irá chorar. Uma última situação: um indivíduo está muito contente e quer festejar, mas está com vergonha. Então ele enche a cara. O que acontecerá? Ele festejará.

E expressa a quem é dado o vinho:

o vinho só pode ser concedido para alguém que sofreu uma profunda transformação espiritual. A partir do momento em que as paixões, representadas pela humanidade do tempo de Noé, representam as paixões humanas, são eliminadas, só então é possível que se revele o que está dentro do sujeito, porque nele sobrou apenas aquilo que é de natureza excelente.

Algumas explanações e detalhes importantes seguem, até que chegamos à explicação do que seria o reino. Cesso o resumo e citações aqui para nos concentrarmos em alguns poucos pontos: Graça Santificante, Pão e Vinho.

Dividirei esse estudo em duas partes: (1) O efeito geral do que aconteceu e (2) análise dos símbolos.

Parte III - Final

Ponto 1

Após o lançamento desta aula aconteceu uma correria atrás do trigo limpo. Alguém bateu palmas no Glória ou levantou o folheto? Corre dessa Missa. Chegou e tem aquele folhetinho azulado da Diocese? Saia. Viu um instrumento de percussão? Corre que satanás está lá. Violão? Fique a postos para sair de lá, conforme o tocarem.

Sacrilégio aqui, sacrilégio acolá, sacrilégio em todo lugar.

Só pode trigo limpo, absolutamente limpo.

Muitos começaram a desdizer de suas paróquias que há anos freqüentavam. Uma onda “puritana” varreu o ICLS, começaram a se movimentar para criarem listas de trigo limpo. Os alunos chegaram aos extremos de manifestarem que mesmo em capitais estaduais não havia trigo limpo. Um exemplo que vi recentemente é um aluno que disse que a única liturgia em Curitiba possível é em uma igreja ortodoxa, sob a condição de ser a menos ruim.

Numa breve procura no Google, descobrimos que há na Arquidiocese de Curitiba 142 paróquias divididas em 11 municípios. 142 paróquias e nenhuma presta? E o que resta de “menos pior” é uma paróquia ortodoxa?

Pare por um momento e pense: Algumas paróquias têm dois ou mais sacerdotes que podem ter modos diferentes de rezar, chutemos um valor baixo de paróquias com dois sacerdotes, imaginemos que totaliza 200 opções só dentro da Igreja Católica. Se alguém for de paróquia em paróquia (em algumas duas vezes pois há dois sacerdotes) num ritmo de 4 missas por semana, (o que é difícil, pois a missa de terça-feira pode ser muito diferente da de domingo), levaria 50 semanas, um ano, só para conhecer uma única Missa por sacerdote. Uma! Nem vamos considerar uma cidade como São Paulo que tem 307 paróquias católicas (nem falo das ortodoxas).

O que foi primeiramente observável (e que algumas pessoas notaram e comentaram nas redes sociais, quando foram execradas) foi um forte movimento de soberba, pois o “fiel” colocava o pé na paróquia como se fosse o Tribunal do Santo Ofício verificando a lista de conformidade.

O segundo ponto, muito bem observado por alguns, é que é muito difícil ser católico e achar uma Missa com “trigo limpo”. Criou-se uma tensão na alma dos alunos do ICLS: É muito difícil achar trigo limpo.

Sinto-lhes informar, mas essa tensão foi propositalmente incutida na aula. Não foi esticada uma “régua” para medir pequenos problemas irrelevantes da Missa, para os médios e daí sacrilégio. Resultado: Um violão ritmado tem a mesma classificação de levar a Eucaristia para um rito satânico, afinal, “é tudo sacrilégio, corre de lá!”.

Ensinam-nos dificuldades para vender facilidades. Ou melhor, centrarem em si o cuidado das almas. Como já foi estudado neste documento, quantos aqui não tem Luiz Gonzaga como fonte de confiança para lidar com esses assuntos? Quantos talvez não foram ao mestre (guru) para receber guiamento e ouvir “olha, o islã tem menos problema com isso, porque cada homem é sacerdote”? De qualquer forma, como já expresso aqui, também, o importante é manter a autoridade perante os demais e subjugá-los.

Alguns dizem que a aula “Como não destruir a sua religião” combate a soberba acima expressa, mas não, ela trata de um outro tipo de soberba, mais exatamente, a soberba do religioso de uma religião perante as demais religiões ou de seus irmãos mais próximos e do conflito entre diferentes civilizações. Curiosamente, Luiz Gonzaga novamente põe na conta de salafistas as críticas dos muçulmanos aos ensinamentos cristãos, quando, na verdade, está literalmente expresso no alcorão uma série de críticas que, muito provavelmente, as mais diversas escolas de interpretação subscrevem (tenho de dizer muito provavelmente porque o islã é uma bagunça). Ademais, este documento não seria possível vir à existência sem a ajuda de ortodoxos.

Outro ponto que merece destaque é que nessa “peregrinação em busca da Missa perfeita”, não há tempo para conviver na paróquia e identificar aqueles que “fazem pão e vinho”. Se alguém tem de conhecer umas 10 missas de trigo limpo e constantemente estar monitorando e talvez mudando de paróquia, que convivência haverá com seus irmãos? Logo, quem resta na lista de pessoas piedosas entre os alunos do ICLS?

Oh, que coincidência! Sobra na memória de um aluno do ICLS Tales e Luiz Gonzaga na lista de pessoas piedosas, vamos ajudá-los a pagar as contas! E se eles disserem apenas um “obrigado”, é assim mesmo, pois eles são melhores do que nós (será que eles podem pisar em nós também?).

Na espiritualidade cristã, isso soa muito estranho — alguém por acaso se lembrou do lava-pés ou do trecho “quem quiser ser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve”? —, mas no conceito de mão de cima e mão de baixo islâmico, no qual sempre temos de saber quem está acima e quem está abaixo, isso soa muito correto.

Parem por um momento e vejam os documentários de São Paísios (disponível no Link e Link. Notem como o santo recebia as pessoas, mesmo estranhas, abraçava-lhes de todo o coração e, diante de um sacerdote, inclinava-se de todo o coração. Acaso ele parece-se com o piedoso descrito pelo ICLS?

Creio que até aqui o ponto 1 já esteja suficientemente demonstrado. Vamos ao ponto 2.

Parte III - Final

Ponto 2 – Análise dos símbolos

Então vamos na Missa buscar trigo, de preferência limpo, que é Graça Santificante, com a prática constante (a pedra de moinho) nós “moemos” o trigo com o Jejum (água) nós juntamos a farinha e o fogo da esmola a assa. E depois temos um trigo que passou pelos processos humanos e se tornou alimento verdadeiramente humano.

Dito de outro modo, já que trigo é Graça Santificante, com a prática constante (a pedra de moinho) nós “moemos” a Graça Santificante, com o Jejum (água) nós juntamos a farinha de Graça Santificante e o fogo da esmola assa a massa de Graça Santificante. E depois temos uma Graça Santificante que passou pelos processos humanos e se tornou alimento verdadeiramente humano. Mas comungar do Cristo não é comungar do pão vivo descido dos céus?

Opa, aí a caixa de marchas começa a arranhar um pouco. Você que está lendo consegue notar? A algumas páginas atrás mencionei que “o simbolismo do pão ou pode encaixar-se nas mais várias religiões”, sim, pois o símbolo do pão ainda está no nível do simbolismo natural e humano. Nós, seres humanos, vivemos e somos ponte entre o material e imaterial. No início da aula até parece fazer algum sentido identificar trigo com Graça Santificante, mas, no prosseguir da aula, símbolo e simbolizado aparentam ter uma desconexão, quando mudamos os níveis, essa mudança arranha a inteligência.

Adão fazia pão e ele tinha Graça Santificante. Ele ia à Missa todo domingo e comungava da Eucaristia? Mas ele não cometeu o Pecado Mortal por excelência? Responda.

Afinal, o que é Graça Santificante? Você leitor, que provavelmente passou anos atrás de trigo limpo, já abriu o Catecismo para pesquisar o que é Graça Santificante ou pesquisou pelo tema no site do Padre Paulo Ricardo?

Casos pressionemos CTRL+F no Catecismo que é disponibilizado pela internet e procuremos por graça simplesmente, a terceira opção que nos aparece é esta:

A terceira parte do Catecismo apresenta o fim último do homem, criado à imagem de Deus: a bem aventurança e os caminhos para chegar a ela: mediante um agir reto e livre, com a ajuda da fé e da graça de Deus (Seção I), por meio de um agir que realiza o duplo mandamento da caridade, desdobrado nos dez Mandamentos de Deus (Seção II) (Catecismo nº 16)

Já notamos que com a ajuda da Graça de Deus e da Fé, mediante um agir reto e livre chegamos à bem aventurança. Mas o que é a Graça? Para isso temos o Catecismo nº 1996 que diz:

Nossa justificação vem da graça de Deus. A graça é favor, o socorro gratuito que Deus nos dá para responder a seu convite: tomar-nos filhos de Deus, filhos adotivos participantes da natureza divina, da Vida Eterna.

Ou seja, não é de nossa natureza nem nos pertence e nem podemos fazê-la por merecer, a Graça é um dom de Deus:

A graça de Cristo é o dom gratuito que Deus nos faz de sua vida infundida pelo Espírito Santo em nossa alma, para curá-la do pecado e santificá-la; trata-se da graça santificante ou deificante, recebida no Batismo. Em nós, ela é a fonte da obra santificadora. (Catecismo nº 1999)

Neste ponto começamos, nós católicos, começamos a diferenciar Graça Atual de Graça Santificante. Pe. Paulo Ricardo diz na aula “O que é Graça Atual” no curso Catecismo para Adultos o seguinte:

A Graça atual Deus está oferecendo a todos os homens muitíssimas vezes durante a sua vida, várias vezes por ti [...] diferentemente da Graça Santificante, a Graça Atual está sendo oferecida a todos os homens sempre. Jesus — sim, Ele Nosso Senhor — está no coração de todo ser humano a todo o momento oferecendo um convite, falando conosco o tempo todo, mas a humanidade boboca não presta atenção, mas Ele atua [...] Jesus envia o Espírito Santo e Ele atua na Inteligência e na vontade. [...] A Graça Atual é uma intervenção de Deus na vida da pessoa onde Deus ilumina a inteligência e convida a vontade.

Para saber mais sobre Graça Atual, assinar o site do Pe. Paulo Ricardo é muito recomendável; no prosseguir da aula ele fala da atuação pontual, mas, também, na possibilidade de Ele permitir desgraças se for para um bem maior — qualquer semelhança com o ICLS não é mera coincidência. E também há bons livros: procurem por O Grande Desconhecido do Fr. Royo Marín ou por Las Tres Edades de la Vida Interior do Fr. Garrigou-Lagrange.

Já Graça Santificante o Catecismo nos diz:

A graça santificante é um dom habitual, uma disposição estável e sobrenatural para aperfeiçoar a própria alma e torná-la capaz de viver com Deus, agir por seu amor. Deve-se distinguir a graça habitual, disposição permanente para viver e agir conforme o chamado divino, e as graças atuais, que designam as intervenções divinas, quer na origem da conversão, quer no decorrer da obra da santificação. (Catecismo nº 2000)

Então já sabemos algumas coisas acerca da Graça Santificante: é um dom de Deus recebido no Batismo e perdura no ser humano enquanto ele não cometer um pecado mortal, pois, conforme o Catecismo nº 1861 “O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, como o próprio amor. Acarreta a perda da caridade e a privação da graça santificante, isto é, do estado de graça”.

O quanto podemos realmente manipular e alterar um dom de Deus? Na verdade, não é alguma coisa que, muito mais, age sobre nós e não nós sobre ela? Não são as coisas do alto que dão forma às coisas de baixo? Ficam as questões em aberto por enquanto.

Outra questão muito importante: Como a Graça Santificante pode vir suja? O Pe. Paulo Ricardo no curso Catecismo da Igreja Católica – Sacramentos ficamos sabendo que no Sacramento da Confissão não acontece que o pecado é simplesmente apagado, na verdade, há um influxo da Graça que, por sua vez, tira o pecado, ou seja, a Graça não pode conviver com o pecado.

O mesmo repete-se na Eucaristia, com a qual, quando comungamos, nossos pecados veniais são perdoados. Acerca dos tipos de pecado e da dinâmica de atuação o Catecismo é bastante claro:

O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da lei de Deus; desvia o homem de Deus, que é seu fim último e sua bem-aventurança, preferindo um bem inferior.

O pecado venial deixa subsistir a caridade, embora a ofenda e fira. O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital, que é a caridade, exige uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do coração, que se realiza normalmente no sacramento da Reconciliação. (Catecismo nº 1855 e 1856)

O pecado venial enfraquece a caridade; traduz uma afeição desordenada pelos bens criados; impede o progresso da alma no exercício das virtudes e a prática do bem moral; merece penas temporais. O pecado venial deliberado e que fica sem arrependimento dispõe-nos pouco a pouco a cometer o pecado mortal. Mas o pecado venial não quebra a aliança com Deus. É humanamente reparável com a graça de Deus. "Não priva da graça santificante, da amizade com Deus, da caridade nem, por conseguinte, da bem-aventurança eterna." (Catecismo nº 1863)

Se pelo influxo da Graça Santificante em uma Confissão, o pecado é expulso, e se quando comungamos em Estado de Graça, nossos pecados veniais são perdoados, como o trigo espiritual, a Graça Santificante pode vir suja? Como é possível a existência de Graça Santificante envenenada?

E agora? Notaram uma desarmonia entre os elementos? Os tijolos não estão bem assentados, há uma corda desafinada, a caixa de marchas está arranhando. Como assim nós moldamos um dom de Deus? Mas não somos nós o barro na mão do Oleiro? Não é a Graça que age sobre o natureza?

Se ter a correta cosmovisão é tão importante no exercício da religião, por que ensinam-nos as coisas dessa forma?

Parte III - Final

Considerações Finais da Parte III - Final

Chegamos ao fim. Fiz o que tinha de ser feito. Falei o que tinha de ser falado. Agora tudo que gostaria é um pouco de paz — o que talvez seja um pouco difícil nessa circunstância.

Antes do fim, gostaria de deixar uma sugestão de sistema simbólico, informo que não passa de um rascunho mal feito:

Olhem para a Santa Missa e verão duas partes, Liturgia da Palavra e o Rito de Consagração. Escutamos o Evangelho e levamos pão e vinho para serem ofertados para serem consagrados pelo sacerdote in persona Christi para Deus.

No Antigo Testamento havia três tipos de sacrifícios: (1) holocausto no qual tudo era queimado e ofertado a Deus em sinal de louvor; (2) sacrifícios pacíficos no quais metade era queimado a Deus e a outra metade era alimento para os homens (simbolizando a manutenção da força dos homens nos caminhos de Deus); e (3) o bode expiatório, nos quais os sacerdotes impunham sobre um animal, geralmente um bode, os pecados deles e da comunidade e o largavam para morrer no deserto.

Nosso rito, tanto católico quanto ortodoxo, é a perfeição desses três simultaneamente: (1) Louvamos a Deus; (2) Pela comunhão recebemos a Graça Santificante; e (3) Cristo redimiu nossos pecados perfeitamente.

A Graça vem pela carne de Cristo, não pelo trigo, nós já comemos o pão vivo descido dos céus. O que fazemos em todas as Santas Missas é um sacrifício de Abel, o mais agradável a Deus. Há uma hierarquia, trigo é natural, pão é humano, mas quem transforma em corpo e sangue de Cristo, um símbolo divino, é Deus.

Trigo, parece-me ser, a Palavra, a Boa Nova, o Evangelho. Muitos santos ao escutar uma pequena frase e elevaram-na a um estado de perfeição. Temos de plantá-la na terra fértil (sem espinhos e sem pedras, prática da virtude) de nosso ser, que deve ser arada (ar, oração), a terra deve ser úmida de amor (água, jejum) e deve receber a Luz do Sol, a Graça Santificante habitual no estado de Graça, o fogo, a esmola. O Sol é o símbolo por excelência de Deus (O Sol de Justiça, o centro, e o Espírito Santo desce, assim como a luz do Sol desce sobre nós.). Vem o maligno e planta joio. Estamos tentando cultivar a palavra, guardamos ela, e temos de fazer frutificar, plantamos a semente na terra do nosso interior, mas uma terra adequada (com ar, se formos muito dura, como na estrada, a palavra não se desenvolve) devemos ser amorosos para com ela (água, sentimos falta de algo na secura do jejum) e cresce com a ajuda da Graça Santificante (a luz do Sol). Só na colheita separamos o joio do trigo, é a Confissão: O que eu fiz de bom? O que fiz de ruim? O que deve ser queimado?

A prática da Confissão renova o ciclo, agora armazenamos os bons grãos, nossas boas ações (o agir reto e livre) e queimamos o joio plantado pelo inimigo à noite. Pela prática do pão, moemos o trigo, (nossas virtudes são conquistadas a duras penas e um simples desvio pode pôr tudo a perder), novamente juntamos o trigo com a água, depois sovamos o pão (ar) depois pomos no forno (o fogo do Espírito Santo que desceu sobre os apóstolos sob a forma de línguas de fogo e hoje sopra sobre nós para manter a chama acesa), o excesso sai, a esmola. E pronto, temos pão para oferecer no altar. Pão é uma vida plenamente dirigida e orientada a Deus, que por sua vez, é oferecida no altar. Em vez de irmos buscar trigo e ficarmos julgando cada detalhe, estamos oferecendo a nossa miserável vida.

Trigo vira Pão, que vira Carne que, por sua vez, é o nosso alimento. Cuidado de quem nos afasta do alimento mais necessário.

Na falta de pão ou vinho, Cristo nunca nos deixou na mão — vide as Bodas de Caná, a multiplicação dos pães (em que, de poucos pães, Cristo saciou a fome de todos), “*eis que estarei convosco todos os dias até o final dos tempos*” e a Comunhão dos Santos.

Cristo é o Logos, o arquétipo dos arquétipos, a estrutura do ser, é a partir do Todo que conseguimos entender as partes, talvez por isso que as outras religiões podem ser entendidas à luz do cristianismo, mas será que as outras religiões podem entender o cristianismo? Que outra religião possui um sacrifício de carne feita pelo próprio Deus?

Algumas perguntas ficam, mas isso é o natural.

Isso é tão somente um breve rascunho, mas talvez ajude algumas pessoas a repensar.

No mais, cuidado com aquilo que presumirem de mim, pois pode ser meramente fruto da imaginação reforçada por um meio social restrito, na verdade, este documento nem foi feito para isso, foi produzido para a consciência de cada um individualmente. Nada do que foi escrito aqui se resume a dicotomias baratas: gosto x não gosto; a favor x contra ou meu time x seu time. Eu mesmo nutro grande apreço por alguns rabinos, cristãos ortodoxos e protestantes, budistas e — por que não? — muçulmanos.

Encerro aqui e informo que retornarei ao meu habitual silêncio pelas redes sociais em breve. Obrigado.