AS ORIGENS E AS FINALIDADES SOBRENATURAIS DA MONARQUIA FRANCESA

Jean Vaquié

O texto original pode ser encontrado no portal Virgo Maria

INTRODUÇÃO

Estou encarregado, então, Senhoras e Senhores, de fazer uma exposição sobre as origens e as finalidades sobrenaturais da monarquia francesa. Portanto, não se surpreendam que esta exposição compreenda duas partes:

  1. As ORIGENS sobrenaturais da nossa monarquia nacional.
  2. As Finalidades sobrenaturais dessas mesmas instituições monárquicas.

PRIMEIRA PARTE


PRIMEIRA PARTE

OS ALICERCES SOBRENATURAIS DO TRONO DA FRANÇA

Veremos que o Trono da França está assentado sobre o que é FIRME, ou seja, sobre o FIRMAMENTO. O Firmamento é assim chamado porque é FIRME, ou seja, eterno. Será necessário evidenciar a sequência das AÇÕES DIVINAS que se exercem em favor desta monarquia:

Foi Deus quem verdadeiramente PROCEDEU à fundação desta monarquia. E Sua proteção, Seu PATRONATO, Ele não o concedeu apenas durante o período das ORIGENS, Ele o RENOVOU (confirmou) de século em século. Pode-se dizer, sem medo de errar, que A INSTITUIÇÃO MONÁRQUICA na França é obra de Deus. Vou tentar administrar a prova disso. Ao longo desta demonstração, teremos em vista ações de ordem sobrenatural. Não se surpreendam, portanto, com a natureza dos marcos históricos que reteremos para nos guiar em nosso caminho, em nosso raciocínio. Reteremos apenas eventos de ordem sobrenatural. Pois esse é precisamente o tema da nossa exposição. Eventos sobrenaturais que a história profana não relata, ou o faz de forma muito acessória, e aos quais, por nossa parte, atribuiremos uma importância maior, determinante. Vamos, portanto, nos comportar como alguém que, querendo traçar a história de um indivíduo cristão, se contentaria com sua HISTÓRIA SACRAMENTAL:

Mas verão que, no fim das contas, a história das ORIGENS da Monarquia Francesa, que vamos traçar seguindo estes MARCOS SOBRENATURAIS, revelar-se-á também REALISTA (e até mais realista) do que se nos contentássemos com sua história, digamos, biológica e profana.

Estamos, então, levados a ENUMERAR um certo número de INTERVENÇÕES DIVINAS historicamente comprovadas.

Eis os PRINCIPAIS EPISÓDIOS onde esta ação divina foi consignada pela História.

Serão estes os parágrafos da nossa exposição.

PRIMEIRA PARTE

OS CAMPOS CATALÁUNICOS

Vejamos, para começar, as circunstâncias da IMPLANTAÇÃO DA ÁRVORE REAL na Gália Galo-Romana e os Sinais Providenciais de que ela está rodeada.

Uma incontestável ASSINATURA DIVINA manifestou-se na Batalha dos CAMPOS CATALÁUNICOS em 451, batalha que durou 3 dias, nos dias 20, 21 e 22 de setembro. Foi na fronteira NORDESTE da atual cidade de Châlons-sur-Marne. Foi nesse local, e durante esses 3 dias, que o germe da Grande Árvore Real foi depositado na terra.

De um lado Átila, terrível Rei dos Hunos, que comandava um exército de 700.000 homens e que havia queimado 70 cidades. Ele pretendia ter encontrado uma ESPADA DIVINA com a qual combatia e, ao mesmo tempo, cúmulo da CONTRADIÇÃO, proclamava-se FLAGELO de DEUS. Do outro, Meroveu, Rei dos Francos, que comandava o exército franco acrescido de 2 contingentes: um fornecido por AÉCIO, general Romano, o outro por Teodorico, Rei dos Visigodos.

Os primeiros embates ocorreram em 20 de setembro de 451. A batalha fez furor durante todo o dia 21 de setembro. Continuou durante parte do dia 22 de setembro. No fim do dia 22 de setembro, Átila refugiou-se no meio de uma muralha de carros onde a cavalaria franca não pôde penetrar. Mas, já no dia seguinte, Átila começou sua retirada na direção do vale do Danúbio.

A VITÓRIA dos Francos foi evidente, para toda a Cristandade, mas sobretudo para a Gália. Ora (e é aqui que discernimos os primeiros MARCOS SOBRENATURAIS que guiarão nossa marcha), a batalha dos Campos Cataláunicos evidencia DOIS SINAIS, DOIS SINAIS de predestinação cristã. O PRIMEIRO SINAL nos é sugerido imperativamente pelas DATAS dos 3 Dias de batalha: 20, 21 e 22 de setembro. O SEGUNDO SINAL nos é sugerido pelo ano da batalha: 451 depois de Jesus Cristo.

Retomemos separadamente esses dois SINAIS. Vejamos primeiro o PRIMEIRO SINAL que inaugura o caminho sobrenatural que queremos seguir: a BATALHA trava-se, dizemos nós, nos dias 20, 21 e 22 de setembro.

São precisamente os DIAS ANIVERSÁRIOS da DECIMAÇÃO DA LEGIÃO TEBANA que ocorreu em AGAUNE, no Valais Suíço, no ano 298 de nossa era, sob o Reinado do Imperador DIOCLECIANO, durante a DÉCIMA e ÚLTIMA PERSEGUIÇÃO. Havia, portanto, 150 anos. O que é a LEGIÃO TEBANA?

Em 298 de nossa era, o comando militar romano, sob a pressão de DIOCLECIANO, exigiu que a legião tebana sacrificasse aos ídolos, e em particular ao do Imperador, como todos os habitantes do Império. Ora, a legião de São Maurício não se recusava a SERVIR MILITARMENTE o Imperador, e disso havia dado provas, mas não queria SACRIFICAR RELIGIOSAMENTE aos ídolos, coisa que, aliás, nunca lhe fora pedida. Seguiram-se negociações entre o comando militar Romano e São Maurício, que era o general desta legião de 6.600 soldados cristãos. São Maurício opôs aos administradores romanos esta fórmula que ficou célebre: "MALUMUS MORI INNOCENTES QUAM VIVERE NOCENTES" (Preferimos morrer inocentes a viver culpados).

O comando romano decidiu DIZIMAR A LEGIÃO até que os sobreviventes aceitassem a AÇÃO RELIGIOSA que se exigia deles. A Legião Tebana, forte de seus 6.600 homens, não se revoltou. Aceitou a decisão. Alinhou-se em ordem e executaram, nas fileiras, um legionário em cada dez. E como a calma determinação se mantinha, retomou-se uma nova rodada de dizimação. Nem um só legionário desertou. A operação durou 3 dias: 20, 21 e 22 de setembro do ano 298.

A festa de São Maurício e de seus companheiros mártires celebra-se em 22 de Setembro. De sorte que a batalha dos CAMPOS CATALÁUNICOS (quase 150 anos depois), iniciada na festa de São Mateus evangelista de Jesus-Rei, filho de Davi, terminou triunfalmente na festa de São Maurício e de seus companheiros mártires.

A CONCOMITÂNCIA DAS DATAS impressionou tanto os contemporâneos que, durante todo um período, a batalha dos "Campos Cataláunicos" foi chamada a BATALHA DOS CAMPOS MAURICIANOS.

Tal é o primeiro sinal, o primeiro marco, a primeira assinatura divina que começa a nos sugerir a ideia de que uma obra cristã de uma ordem particular estava ali em GESTAÇÃO.

E eis agora o SEGUNDO SINAL. É o Milésimo, é o ano da vitória. O que aconteceu, então, nesse ano, que se possa relacionar com os CAMPOS CATALÁUNICOS? 451 é o ano do CONCÍLIO DA CALCEDÔNIA, onde foi confirmada, pelo Magistério, a realidade da NATUREZA HUMANA de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, realidade da Natureza Humana que era contestada pelos MONOFISITAS. Os Monofisitas diziam que a NATUREZA HUMANA de Nosso Senhor Jesus Cristo fora apenas uma APARÊNCIA (uma ilusão). Jesus Cristo, segundo eles, tivera apenas uma natureza, a NATUREZA DIVINA. De modo algum, ensinou São Leão, Papa, no Concílio da Calcedônia: a NATUREZA HUMANA de Nosso Senhor Jesus Cristo não é uma ilusão e uma aparência, é uma REALIDADE terrestre e tangível.

É importante notar a CONCOMITÂNCIA das DUAS VITÓRIAS:

A vitória de Meroveu nos Campos Cataláunicos faz, portanto, aparecer a AJUDA e o FAVOR DIVINOS:

Há aí uma HARMONIA plena de ensinamentos e de encorajamentos para os Cristãos, mas HARMONIA que escapa, evidentemente, àqueles que não têm fé, e para quem uma festa litúrgica é uma CIRCUNSTÂNCIA sem VALOR.

Pode-se dizer que na batalha dos Campos Cataláunicos ocorreram os ESPONSAIS da Gália com a RAÇA dos Soberanos que lhe era destinada por Deus, DESTINADA e já DESIGNADA.

A futura esposa já estava "adornada das Graças divinas", pois fora cuidadosamente evangelizada desde os primeiros anos da era cristã, por São Lázaro, o amigo de Nosso Senhor Jesus Cristo, em Marselha onde desembarcara, por São Marcial, o enviado de São Pedro na parte sul do Loire, por São Dionísio, o enviado de São Paulo ao norte do Loire, e por uma multidão de discípulos como São Fronto, Santo Amador... etc... Por sua parte, o Futuro Esposo (o Rei Franco) acabara de demonstrar a força de seu braço e de mostrar que era capaz de defender sua esposa contra qualquer perigo.

É, portanto, nas planícies de Châlons-sur-Marne que se deve retornar para reencontrar a semente da ÁRVORE REAL.

Uma última prova da importância desta batalha, do que dizemos, nos é fornecida pelos próprios JACOBINOS. Quando o demônio, após muitos séculos, quis tirar vingança dessa implantação e proceder à abolição da monarquia francesa, que data ele escolheu? Ele escolheu o aniversário dos Campos Cataláunicos. A Sessão inaugural da CONVENÇÃO em 1792 ocorreu em 21 de setembro (festa de São Mateus). Foi nessa sessão inaugural que, por proposta do padre Grégoire (padre constitucional), a monarquia foi abolida e a república proclamada. A Árvore Real foi CORTADA no aniversário do dia em que fora semeada. Depois disso, restava apenas processar o Rei e "assegurar-se de sua pessoa" (como se diz).

PRIMEIRA PARTE

TOLBIAC

Um novo sinal de PROTEÇÃO DIVINA vai se revelar, se manifestar na batalha de Tolbiac.

A localidade de TOLBIAC situa-se no limite OESTE da AUSTRÁSIA entre o Reno e o Mosa, ao Norte de TRÉVERIS e não longe de Aachen (Aix-la-Chapelle).

Todo mundo conhece este episódio histórico. É célebre com justeza. Na época de TOLBIAC, CLÓVIS já era Rei, mas ainda era pagão. Havia desposado Santa Clotilde em Soissons alguns anos antes.

Durante um combate contra os ALAMANOS (que tentavam avançar para o OESTE), a situação correu mal, as tropas francas recuando. Clóvis não conseguia reverter a situação. Não era por falta de invocar suas divindades tutelares. Mas o PRESTÍGIO do "Deus de Clotilde", "PODEROSO E MISERICORDIOSO" assombrava seu espírito. Ora, os "Gênios protetores" que ele invocava ordinariamente lhe faltaram. Recorreu ao DEUS de Clotilde, segundo a fórmula que foi recolhida pelos Historiadores, pelos Cronistas. Ao fazer isso, arriscava a cabeça. Pois, se a vitória não se seguisse, os oficiais de seu entorno não teriam deixado de atribuir a derrota a essa "blasfêmia", a essa traição, a essa renegação, e consequentemente acertar as contas com ele.

É preciso reconhecer que Clóvis fez ali um verdadeiro ATO DE FÉ muito meritório. De toda evidência, ele acreditou que o "Deus de Clotilde" era capaz de socorrê-lo.

Foi esse ato de fé que Deus recompensou, dando a vitória a Clóvis. Vitória que assegurou à França a fronteira do Reno. Como então não notar que, ao fazer da Fronteira do Reno a conquista expressa da Fé de Clóvis, Deus mostrou, desde o início de nossa História, que a França só tem sólidas fortificações na fé cristã?

Em reconhecimento por esta vitória de Tolbiac (que, por conseguinte, Ele considerava miraculosa), Clóvis mandou edificar a primeira catedral de ESTRASBURGO. Foi seu "ex-voto". Ela foi reconstruída depois, mas a memória de Clóvis foi conservada na nova construção, já que ainda se vê, na fachada, a ESTÁTUA EQUINA de Clóvis.

PRIMEIRA PARTE

REIMS

A TERCEIRA marca de Predileção divina (PATRONATO) que notaremos (mas houve outras) é a de Reims. Ela é particularmente importante porque deixou VESTÍGIOS JURÍDICOS. Passou PARA A LEGISLAÇÃO. Trata-se da SAGRAÇÃO DE CLÓVIS por São Remígio, Bispo de Reims, no dia de Natal de 496.

Foi ao mesmo tempo o BATISMO e a SAGRAÇÃO de Clóvis.

O DIÁCONO que devia trazer o Santo Crisma da Sacristia ao Batistério foi impedido de passar por causa da extrema densidade da multidão. O tempo passava e os celebrantes começavam a impacientar-se. Foi então que se viu uma POMBA trazer ao Batistério a famosa AMPOLA cheia de um CRISMA, que desde então só podia ser CELESTE, já que fora assim miraculosamente trazido a São Remígio. Foi com este crisma que Clóvis foi sagrado Rei.

Este milagre, eminentemente significativo, foi atestado por AUTORIDADES INCONTESTÁVEIS:

Aqueles que negam a Historicidade deste milagre são animados pelo mesmo ESPÍRITO de DEMOLIÇÃO que as pessoas que negam a historicidade da TRANSFERÊNCIA da CÁTEDRA de São Pedro de Antioquia para Roma, sob pretexto de que essa transferência não está consignada nos ATOS dos APÓSTOLOS (enquanto a transferência de Jerusalém para Antioquia lá se encontra). Na realidade, é para se dispensarem de admitir a SUPREMACIA do Pontífice Romano. O mesmo se dá com aqueles que contestam o milagre da Santa Ampola: é para se dispensarem de admitir o DIREITO DE PRIMOGENITURA dos REIS da FRANÇA e, por via de consequência, o PRIVILÉGIO da FRANÇA FILHA PRIMOGÊNITA da Igreja.

O milagre da Santa Ampola não permaneceu um fenômeno ISOLADO. Primeiro, foi CONFIRMADO de reinado em reinado pelo milagre da CURA DAS ESCROFULAS, que manifesta a manutenção do FAVOR DIVINO sobre a pessoa do Rei reinante. A fórmula era: "O Rei te toca, Deus te cura." À saída da catedral de Reims, no adro, DEPOIS DA SAGRAÇÃO, traziam-se os doentes.

E, sobretudo, o milagre da Santa AMPOLA constituiu o fundamento do Direito Real francês. Doravante, o Rei da França será "Rei pela Graça de Deus". Ele não é "Rei pela autoridade da Sé Apostólica". Ele o é por uma escolha especial, diretamente formulada. De sorte que ninguém tem o direito de DEPOR UM REI DA FRANÇA. A ESCOLHA DIVINA manifestada pessoalmente a Clóvis perpetuou-se por toda a RAÇA REAL FRANCESA. POIS, se o Trono da França mudou de DINASTIA, essas DINASTIAS sucessivas PROVÊM da mesma ascendência. A unidade das 3 raças é agora coisa reconhecida.

Cada DINASTIA produziu seu REI TIPO:

Farei notar, Senhoras e Senhores, que é São Carlos Magno quem nos proporciona a ocasião de falar de tudo isso HOJE, já que é sua FESTA: a São Carlos Magno festeja-se em 28 de janeiro, pois ele tem uma festa litúrgica no PRÓPRIO da DIOCESE de Aix-la-Chapelle. Ele tem até VÉSPERAS próprias com um hino soberbo. Carlos Magno morreu em 28 de janeiro de 814. Este ano de 1989 é mesmo um Ano Jubilar, pois há 1175 anos. É este ano o 47º jubileu. Ele morreu num SÁBADO (como hoje), e era a 3ª semana após a Epifania.

PRIMEIRA PARTE

A PROFECIA DE SÃO REMÍGIO

São Remígio é chamado o SAMUEL do Novo Testamento, porque desempenhou junto a Clóvis um papel totalmente análogo ao de SAMUEL junto a DAVI. São Remígio, ao sagrar Clóvis, CONFIRMOU a ESCOLHA DIVINA (ele se fez GARANTE disso).

Mas São Remígio mostrou-se igualmente PROFETA. Temos dele uma PROFECIA, que é uma verdadeira CARTA MAGNA, e da qual eis o texto. Dirigindo-se a Clóvis, ele lhe declara:

"Aprendei, meu filho, que o Reino da França é PREDESTINADO por Deus à Defesa da Igreja romana, que é a única verdadeira Igreja de Cristo. Este Reino será um dia grande entre todos os reinos. Durará até o fim dos Tempos. Será vitorioso e próspero enquanto for FIEL à FÉ ROMANA. Mas será rudemente castigado todas as vezes que for infiel à sua VOCAÇÃO".

Constata-se facilmente a MARCA DIVINA, nesta PROFECIA SIMPLES e neste aviso SEVERO.

Por outros textos místicos, sabemos que o ÚLTIMO REI desta linhagem será também O MAIOR. Sabemos, portanto, que a RAÇA DOS REIS da FRANÇA não se extinguirá na DEGENERAÇÃO e na humilhação, mas, ao contrário, numa APOGEU e no TRIUNFO.

PRIMEIRA PARTE

VOUILLE

E para que a medida das ATENÇÕES DIVINAS transborde, Deus ainda confirmou Sua predileção a Clóvis, por ocasião da Batalha de VOUILLE.

Chegamos aos anos 506-507 de nossa era. Faz 14 anos que Clóvis desposou Santa Clotilde. Faz 10 anos que foi sagrado Rei em REIMS. Clóvis vai incessantemente empreender a campanha contra os VISIGODOS arianos que detêm o Languedoc, a Aquitânia e o Norte da Espanha. A Gália inteira está convencida de que a campanha contra o poderoso exército VISIGODO constituirá um grande desafio.

Toda a catolicidade da Gália mantém-se numa espera mesclada de ansiedade. Pois do resultado do confronto dependerá a paz religiosa da Cristandade. O Ocidente será ARIANO se os Visigodos vencerem; permanecerá católico ortodoxo se for Clóvis quem ganhar. Ora, eis que Clóvis adoece, gravemente doente. Seu estado piora. Os médicos renunciam a curá-lo. O casal real apela então a São Severino. E é aí que reencontramos São MAURÍCIO, ilustre general cristão. Pois São Severino é padre do Mosteiro de Agaune (Valais) no local da famosa DECIMAÇÃO. São Severino tem a reputação de um taumaturgo a quem se podem confiar os casos desesperados. Assim que é avisado, São Severino põe-se a caminho. Mal chega, o santo Taumaturgo deposita com precaução seu manto sobre Clóvis doente e lhe restitui imediatamente a saúde. Eis um PRIMEIRO sintoma que mostra que Deus não abandonou seu LUGAR-TENENTE TEMPORAL. Clóvis restabelecido, põe em movimento o exército FRANCO que ele bem preparara material e espiritualmente. Ele vem da Ile-de-France e dirige-se para Tours com vista a atravessar o Loire e passar para a margem Sul, para ir ao encontro de Alarico II Rei dos Visigodos, que vem da Aquitânia e sobe em direção ao Norte. Tours é a cidade de São Martinho, o Apóstolo das Gálias, que morreu há pouco mais de um século. Clóvis projeta ir à catedral para recomendar sua campanha ao santo e poderoso padroeiro da diocese. Faz-se preceder por uma delegação de oficiais que levará alguns presentes ao clero e anunciará sua visita. Os delegados, não querendo perturbar o ofício que está em curso, param no fundo da nave e prestam atenção à salmodia. Ora, eles ouvem cantar o versículo 40 do Salmo 17 (Salmo 18 na numeração hebraica/moderna), cuja tradução é: "Vós me revestistes de força para a guerra e suplantastes sob mim aqueles que se elevavam contra mim. "Fizestes meus inimigos darem as costas e dispersastes aqueles que me odiavam". Clóvis, a quem se relata o fato, considera que o canto deste versículo, naquele preciso momento, é a resposta de São Martinho ao seu pedido de PROTEÇÃO.

Os Francos já deixaram Tours. Atravessaram o Loire e encontram-se na margem sul do rio. Após terem atravessado o Vienne, o exército acampa a 7 léguas a oeste de Poitiers. Ao cair da noite, eis que um globo de fogo (uma espécie de sol) se eleva do túmulo de Santo Hilário, morto há 140 anos, Santo Hilário, doutor da Igreja. E este globo de fogo, este sol como dizem alguns textos, vem pousar no topo da tenda de Clóvis. O grande doutor gaulês, que São Jerônimo chamava "o Ródano da eloquência latina", manifestava também ele seu encorajamento a Clóvis, por um SOL, que é precisamente o emblema dos DOUTORES porque a DOUTRINA ILUMINA a inteligência.

A rota de Clóvis para as planícies de VOUILLE foi assim marcada por sinais sobrenaturais aos quais, naturalmente, a história oficial não atribui nenhuma espécie de importância, mas que são, para quem crê, sinais muito autênticos de favor divino.

O ENCONTRO dos dois exércitos produziu-se no lugar chamado VOCLADES (hoje Vouillé), o que significa: "Carnificina de Godo". VO = Godo, CLADES = derrota. A História não conservou nenhuma anotação precisa sobre as diversas fases desta batalha. Parece apenas que o assunto foi resolvido bastante rapidamente. Os dois Reis inimigos estavam presentes ambos no campo de batalha e comandavam suas tropas. Clóvis identificou rapidamente o pelotão que escoltava Alarico II. Ele estimou que sua posição no momento tornava o Rei Visigodo bastante vulnerável (talvez porque se encontrasse em nível inferior). Clóvis dirigiu-se diretamente a ele com sua própria escolta e o enfrentou pessoalmente. Combate singular de dois Reis em plena batalha. Clóvis dominou Alarico II e o matou com sua própria mão, conquistando assim o DESPOJO OPIMO de seu adversário. A morte de Alarico II, que ocorreu no início do confronto, foi rapidamente conhecida por todo o exército visigodo. A notícia provocou hesitações nas fileiras, depois, pouco a pouco, uma verdadeira debandada, conforme o versículo 40 do Salmo 17 (18) que fora cantado pelos clérigos na passagem por Tours: "Fizestes meus inimigos darem as costas e dispersastes aqueles que me odiavam".

A Vitória de Vouillé abriu a porta da AQUITAINE a Clóvis. Ela se somou à vitória de Soissons sobre Siágrio, de Tolbiac sobre os Alamanos, de Dijon, um pouco mais tarde, sobre os Burgundios.

Assim, o primeiro Rei Franco, num só Reinado, em poucos anos traçou as fronteiras naturais de seu Reino.

A Gália está doravante liberta da autoridade romana que, após ter sido tão útil, tornara-se pesada. Ela não tem mais a temer nem os invasores vindos da Germânia, desde então contidos a Leste do Reno, nem a retomada das DISCÓRDIAS ARIANAS.

É tempo, para ela, de tomar o NOME de seu Rei como uma esposa toma o NOME de seu esposo e de se chamar FRANÇA.

Observemos a diferença entre a conquista da Gália por César e a conquista da Gália por Clóvis. César havia conquistado a Gália combatendo-a. Clóvis conquistou a Gália libertando-a (em nenhum momento a combateu), LIBERTANDO-A (AFFRANCHISSANT). Clóvis definia assim a VOCAÇÃO da França que é de LIBERTAR (AFFRANCHIR). A França deu o exemplo típico de sua vocação à LIBERTAÇÃO ao LIBERTAR Jerusalém do jugo dos Infiéis em 1099 (tomada de Jerusalém por Godofredo de Bulhão).

PRIMEIRA PARTE

O EMBLEMA DOS REIS DA FRANÇA

Os Reis da França não ESCOLHERAM seu emblema segundo o próprio espírito. Este emblema lhes foi atribuído explicitamente pelo Céu.

As armas de Clóvis pagão eram armas pagãs. Seus estandartes, seus escudos, portavam SAPOS (CRAPAUDS). Ignoro de onde provinha este símbolo. Era SIGNIFICATIVO das Divindades Pagãs. Como Clóvis chegou a mudar seu emblema?

Abramos a mais antiga das "Histórias da França", a de Nicole Gilles (1416). Ele relata uma tradição eclesiástica da igreja de POISSY. Pode-se ler o seguinte:

"Havia naquele tempo um eremita, homem prudente e de santa vida, que habitava num bosque perto de uma fonte, no lugar que, presentemente, é chamado JOYE-EN-VAL, na castelania de POISSY, perto de Paris. No qual eremita, a dita Clotilde, esposa do Rei Clóvis, tinha grande confiança, e por sua santidade, o visitava frequentemente e lhe administrava suas necessidades. E aconteceu um dia que, estando o dito eremita em oração, um ANJO apareceu a ele, dizendo-lhe que fizesse raspar das armas os sapos que Clóvis portava em seu escudo, e, em lugar deles, que portasse um escudo cujo CAMPO fosse de Azul semeado todo de flores de lis de Ouro". 

Assim se exprime Nicole Gilles, acrescentando que o eremita transmitiu a Santa Clotilde os desejos do Anjo, e Clotilde fez o necessário junto ao Rei.

Não creio errar ao dizer que em VOUILLE, Clóvis já havia abandonado o emblema dos sapos para adotar o das flores de lis. DAS FLORES DE LIS SEM NÚMERO: uma semeadura.

Foi somente mais tarde, no tempo dos primeiros Valois, que o número de flores de lis foi reduzido a Três. Porquê "sem número"?

Para representar todos os súditos do Reino.

No primeiro escudo da França nenhum francês era esquecido.

PRIMEIRA PARTE

SIGNIFICADO DAS FLORES DE LIS

A flor de lis é o EMBLEMA do VERBO ENCARNADO.

Jesus Cristo confiou seu "emblema pessoal" ao Rei da França, para bem marcar que este GOVERNA EM SEU NOME e POR SUA CONTA.

Expliquemos o SIMBOLISMO da flor de lis. O Verbo Encarnado é Uma PESSOA DIVINA compreendendo uma natureza divina e uma natureza humana, a qual é formada de um corpo e de uma alma.

O FLORÃO do MEIO, que é rígido e erguido para o Céu, representa a Natureza divina de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é firme e que se eleva acima de tudo. Pode-se dizer também que simboliza a FIRMEZA da FÉ. Os FLORÕES LATERAIS, que são recurvados para a terra, significam, um a PRUDÊNCIA nas decisões da alma racional, o outro a MISERICÓRDIA nas obras. O ANEL (BAGUE) que circunda os Três florões representa o CORPO de Nosso Senhor Jesus Cristo que encerra Sua alma e Sua divindade.

Resumo: firmeza na fé, prudência no conselho, misericórdia nas obras. Em suma, acabamos de dizer: Jesus Cristo, pelo ministério do Anjo de Joye-en-Val, confiou Seu emblema pessoal ao Rei da França. Não se pode exprimir mais fortemente e mais simplesmente a ideia (que Santa Joana d'Arc virá recordar), a saber, a IDEIA de "Lugar-Tenência".

O verdadeiro titular da Coroa da França e da REALEZA em geral, é Jesus Cristo.

PRIMEIRA PARTE

A DIVISA

A Divisa agora. Pois as armas da França comportam também uma divisa. Ela é simplesmente tirada do Evangelho de São Mateus (o evangelista de Jesus-Rei). Pois os lírios têm as honras do Evangelho.

Consideremos, pois, os lírios, como São Mateus nos convida: "Considerai os lírios do campo como eles crescem; não trabalham nem fiam." Tal é a DIVISA Neque laborant Neque Nent: Eles não trabalham nem fiam. Os bons heraldistas dão a seguinte explicação: Neque Laborant: os lírios não trabalham porque não fazem nada por si mesmos. Não são ATIVISTAS e ambiciosos. Não são animados pelo PRÓPRIO ESPÍRITO. Deixam operar o Espírito Santo. Correspondem à GRAÇA. Seguem-na. Não a precedem (é injurioso preceder seu superior). Eles não trabalham porque se deixam TRABALHAR.

Neque Nent: os lírios não fiam. Fiar é uma ocupação feminina. Se os lírios não fiam, é porque se sucedem por ordem de PRIMOGENITURA MASCULINA. É a lei sálica. O Reino dos lírios não cai DE LANÇA EM ROCA (DE LANCE EN QUENOUILLE).

Tal é a DIVISA, isto é, o IDEAL VISADO, por vezes atingido.

PRIMEIRA PARTE

CONCLUSÃO

É tempo de concluir nossa PRIMEIRA PARTE: "As Origens sobrenaturais da Monarquia francesa." Desde a Renascença, nossos historiadores humanistas, nossos universitários saídos da enciclopédia, do socialismo e da gnose para os mais recentes, não deixam de nos fazer notar os INÍCIOS SOLENES e ricamente significativos do IMPÉRIO ROMANO, o périplo de Eneias, a fundação do Lácio, a fundação de ROMA em 753 antes de Jesus Cristo por dois gêmeos amamentados por uma LOBA, que abrem um refúgio para os párias... Este simbolismo dos inícios de Roma não é certamente negligenciável. Pode-se mesmo ver aí o anúncio da revelação de DESÍGNIOS PROVIDENCIAIS, sobre os quais não temos que nos estender...

Mas o que é tudo isso em COMPARAÇÃO com os Campos Cataláunicos, sob a proteção dos 6.600 Mártires da Legião Tebana, de TOLBIAC com a intervenção miraculosa do Deus de Clotilde, de REIMS com o crisma celeste e esta profecia de São Remígio que se estende até o fim dos tempos, de Vouillé anunciado pela aparição do Sol dos Doutores, dos LIS designados pelo Anjo de Joye-en-Val e de tantos outros sinais que a história profana oblitera totalmente, mas que nem por isso são menos HISTÓRICOS.

Todos esses sinais de Eleição Divina, procura-se em vão na história da fundação de Roma. Há entre a fundação de ROMA, por mais rica que seja em simbolismo, e a fundação de REIMS, a diferença que há entre a NATUREZA e a GRAÇA, entre o humano e o divino, e para tomar uma comparação mais sensorial, entre o vinho pastoso dos mares quentes e o Champanhe que cintila, que cintila porque é ESPIRITUAL.

Objeta-se por vezes que Clóvis não foi o primeiro cristão que reinou. Claro. Antes dele, por exemplo, Constantino e Teodósio foram cristãos que reinaram. Mas não foram REIS CRISTÃOS. Clóvis é o primeiro REI CRISTÃO, isto é, o primeiro cristão que recebeu da Igreja a UNÇÃO REAL com o Crisma celeste, e é isso que funda seu DIREITO DE PRIMOGENITURA.

Mas então, dir-me-ão, tal PRIVILÉGIO deve obrigatoriamente acarretar, naqueles que dele são TITULARES, um ORGULHO DESMESURADO e, por conseguinte, uma tendência ao DESPOTISMO.

Pois bem, de modo algum: o PRIVILÉGIO, se vem verdadeiramente de Deus, engendra a HUMILDADE, e isso por duas razões CONVERGENTES:

Ora, o que sabemos do Temperamento de Nosso Senhor? POUCA COISA. Senão que era MANSO e HUMILDE de Coração. As duas virtudes reais por excelência são, portanto, A MANSIDÃO e a HUMILDADE. Clóvis deu muitos exemplos de humildade. Conhecemos DOIS. Em Tolbiac, não se recusou a suspeitar dos DEUSES de seus PAIS e a invocar o Deus de sua esposa. Não é aí uma marca de orgulho que saibamos. Em Reims, não relutou quando São Remígio lhe pediu para CURVAR A CABEÇA e QUEIMAR o QUE SEUS PAIS HAVIAM ADORADO. Poucos homens são capazes disso.

Falam contra a verdade histórica aqueles que pretendem que nossos reis foram TIRANOS.

SEGUNDA PARTE

SEGUNDA PARTE

INTRODUÇÃO

Ela se reduzirá à sua mais simples expressão, a um embrião de raciocínio. Acabamos de ver que A INSTITUIÇÃO REAL na França é uma OBRA DIVINA, e isso não somente em suas origens, mas ao longo de todo o seu curso. Mas sabemos também que Deus não deixa suas obras inacabadas. Ele as conduz sempre à PERFEIÇÃO. Sabemos também que, para mostrar a divindade de Suas obras, DEUS as RESSUSCITA, assim como mostrou Sua PRÓPRIA DIVINDADE ao Ressuscitar a Si mesmo.

Assim, podemos esperar a RESSURREIÇÃO de nossa Monarquia Muito Cristã, como sendo uma obra divina provisoriamente extinta. Tanto mais podemos esperá-la, que essa ressurreição nos é anunciada por uma grande quantidade de textos PROFÉTICOS que nos deixam esperar essa RESSURREIÇÃO, que no-la afirmam expressamente, que no-la PROMETEM (pode-se bem dizer "com juramento", já que o juramento resulta da Repetição da PROMESSA).

No entanto, essa esperança, essa crença, NÃO é de FÉ. É uma OPÇÃO. É um RISCO A CORRER. Mas esse risco, muitos estão decididos a corrê-lo, devido à sua LÓGICA e porque resume nossa última ESPERANÇA.

Como recusaríamo-nos a crer e a esperar que o Rei da França, que desapareceu na Pessoa de LUÍS XVI em 21 de janeiro de 1793 na Festa de Santa INÊS como um CORDEIRO BENDITO, deva reaparecer um dia, como um LEÃO RUGIDOR?

SEGUNDA PARTE

AS FINALIDADES SOBRENATURAIS DA MONARQUIA FRANCESA

No arsenal corrente das IDEIAS RECEBIDAS, o TRADICIONALISTA é um HOMEM DO PASSADO, um ATRASADO, um ANACRÔNICO que não evoluiu, um homem ENCARQUILHADO, "FIXO NA ESCLEROSE TRADICIONAL".

Tal é o "CLICHÊ CONVENCIONAL" correntemente admitido. Nada está mais longe da verdade. Este clichê é tudo o que há de mais inexato. (E devemos nos regozijar com isso, aliás, pois quanto mais nossos adversários se enganarem a nosso respeito, melhor será.)

Os tradicionalistas não negligenciam os fundamentos históricos da CAUSA que defendem. Eles os CULTIVAM mesmo. É o que acabamos de fazer. Mas não fazem apenas isso.

Os tradicionalistas são também homens do FUTURO, homens de PROFECIAS, porque sua CAUSA está PROMETIDA à RESSURREIÇÃO. Acabamos de ver que A INSTITUIÇÃO REAL na França é uma OBRA DIVINA. É uma Monarquia de Direito divino, isto é, de fundação divina. De "DIREITO DIVINO" não somente na origem, mas ainda no curso da História, pois suas RESTAURAÇÕES (quando as instituições reais serão feridas) se produzirão sempre sob o signo e pela virtude do MILAGRE.

Os mais incontestáveis sendo aqueles que teceram a vida de Santa Joana d'Arc. Sabemos tudo isso, mas sabemos também que DEUS NÃO DEIXA SUAS OBRAS INACABADAS. Eis o ponto-chave do nosso raciocínio.

"Deus não deixa Suas obras inacabadas." Ora, tal como se apresenta hoje, a Monarquia francesa é uma obra inacabada: o último Rei da França segundo o ANTIGO DIREITO é Luís XVI. (Certamente houve depois dele ainda 2 ou 3 outros Reis, mas eles não reinaram segundo o antigo direito). A Luís XVI coube o papel de glorificar pelo martírio a origem divina de seus direitos. Mas se a instituição real devesse terminar com Luís XVI (ou mesmo com Carlos X, se quisermos prolongá-la a todo custo), seria preciso reconhecer que Deus deixou sua obra INACABADA. Se a vida terrestre de Nosso Senhor Jesus Cristo tivesse parado no Calvário, não creríamos em Sua divindade. Se cremos nela, como ensina expressamente São Paulo, é por causa de Sua ressurreição.

Na pessoa de Luís XVI, a instituição monárquica desapareceu em 21 de janeiro de 1793 na festa de Santa Inês, como um CORDEIRO BENDITO. Sabemos que ela deve reaparecer como um LEÃO RUGIDOR, pois o cordeiro ressuscita leão.

E como conhecemos de antemão essa REAPARIÇÃO radicalmente impossível se contarmos apenas com as forças humanas?

Existe na França ARQUIVOS MÍSTICOS e PROFÉTICOS totalmente excepcionais. A PROFECIA PRIVADA francesa é de uma riqueza muito grande. (e não apenas francesa, aliás, todos os países católicos possuem, mas é a França que é a mais rica).

Quando se está na presença desta Preciosa Reserva Profética, é preciso armar-se da maior PRUDÊNCIA. Porque esses textos são sempre mais ou menos OBSCUROS. E sua obscuridade é desejada porque Deus nunca nos revela a TOTALIDADE do FUTURO, "Nós profetizamos apenas em parte", escreve São Paulo.

Certos eventos do futuro são esclarecidos e outros não. Faltam-nos referências. O Tempo não é contado segundo a cronologia terrestre. Múltiplas causas de erro intervêm. É por isso que a Igreja é prudente em matéria de PROFECIAS PRIVADAS. Elas não são "de Fé divina". Se aderimos a elas, é apenas "de fé humana", isto é, após um exame racional. Contudo, mediante a PRUDÊNCIA necessária, pode-se buscar neste estoque profético, pedindo-lhe o que ele pode dar, isto é, suas LINHAS COMUNS. Suas "linhas comuns", isto é, os TRAÇOS que são comuns em todas (ou quase todas) as PROFECIAS sérias (aquelas cuja presunção de inspiração divina é forte).

Quais são esses TRAÇOS COMUNS? Eis, pois, um RESUMO do estoque profético de que dispomos (todas as profecias confundidas, as públicas, como as privadas). A primeira das coisas a saber, porque ela comanda todo o resto, é que a humanidade deve esperar, num futuro mais ou menos próximo, o ADVENTO DE MAJESTADE, a Manifestação Gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo vindo como JUIZ. Tal é a base do Profetismo. Tal é o Grande evento universal que constitui a CAUSA FINAL de toda a História Humana. O Advento de HUMILDADE já ocorreu, é a vida terrestre de Nosso Senhor. Está no PASSADO. Agora, o que a Humanidade espera, inconscientemente, é o ADVENTO DE MAJESTADE. Este "Advento de Majestade" porá fim ao que se convencionou chamar as ÚLTIMAS TRIBULAÇÕES, cujo arrefecimento da Fé e o Reinado do Anticristo marcarão o paroxismo. Sobre este fundo profético, que pertence à Revelação pública, a Revelação Privada (ou "particular") vem trazer uma PRECISÃO de primeira IMPORTÂNCIA neste momento, precisão cuja formulação mais precisa se deve a Santa Margarida Maria (1689), profecia que se resume assim: "Antes do Advento de Majestade, o Divino Mestre se dispõe a dar uma imagem, uma premonição, prefiguração, por um REINO, dito "DO SAGRADO CORAÇÃO". Reino prometido a um Rei da França: "Eu reinarei APESAR de meus inimigos..."

Dado que o Juramento resulta da repetição da promessa e que esta promessa está contida na quase totalidade das profecias sérias, tem-se o direito de pensar que este Reino do Sagrado Coração foi prometido COM JURAMENTO, e como ele ainda não ocorreu, ele ainda está situado NO FUTURO.

Todas ou quase todas as PROFECIAS falam de uma Falsa Paz que entorpecerá os espíritos e lhes tirará sua vigilância, FALSA PAZ interrompida por uma CRISE VIOLENTA, de desencadeamento inesperado.

Depois, um Salvador deve nos ser enviado NO APOGEU da CRISE, porque um Salvador só Salva quando tudo está humanamente perdido.

Tais são as GRANDES, as MUITO GRANDES LINHAS do Movimento profético que começou com São Remígio nas origens, e que se prolongou ao longo de toda a nossa HISTÓRIA até estes últimos anos.

Mas é preciso saber que hoje este Movimento profético está profundamente TURVO e que não é mais confiável, porque o Demônio, assim como conseguiu penetrar na Igreja hierárquica, também conseguiu penetrar na Igreja mística (que não estava mais defendida). Não se pode mais confiar nas profecias recentes. Elas não são todas falsas, mas são todas mais ou menos poluídas. Pouco importa, pois o estoque das ANTIGAS é suficientemente RICO e SÓLIDO e FIÁVEL e SUFICIENTE.

Nossas velhas vaticinações contêm não somente previsões, mas também conselhos. Estes Conselhos resumem-se em TRÊS PALAVRAS: CONFIANÇA, CONSTÂNCIA, CALMA.

CONFIANÇA. A Confiança não nos falta. Para Salvar, é preciso ter o poder de salvar e o querer salvar. Estamos penetrados da ideia de que Deus possui esse poder e esse querer.

CONSTÂNCIA. Ela também não nos faltará. Farei notar que a vidente de Pellevoisin (que representava a França doente junto à Santa Virgem) se chamava CONSTANCE, Estelle Constance. Ora, de Constância, será preciso, pois não sabemos nem o DIA nem a HORA.

Não nos faltará nem CONFIANÇA nem CONSTÂNCIA. Mas é a CALMA que corre o risco de faltar. Há ainda gente demais que elabora planos maquiavélicos arqui-complicados e utópicos, enquanto a conduta que Deus nos pede é SIMPLES, arqui-SIMPLES. Mas não é aqui nem o lugar nem o momento de tratar desses problemas difíceis. Lembremos apenas que DEUS DESEJA SER DESEJADO. Ele só se decide quando "a Soma dos desejos atingiu a MEDIDA COMPLETA".

A Batalha preliminar que temos a travar para DOBRAR O CÉU consiste em COMPLETAR a MEDIDA DOS DESEJOS.

Lyon, 28 de janeiro de 1989