AS HARMONIAS PROVIDENCIAIS QUE ACOMPANHAM O REINADO DE CARLOS MAGNO
Jean Vaquié
O texto original pode ser obtido no site Virgo Maria.
- INTRODUÇÃO
- GENERALIDADES
- OS MARCOS SIMBÓLICOS DURANTE A VIDA DE CARLOS MAGNO
- A GENEALOGIA
- O NOME DE CARLOS MAGNO
- O LOCAL DE NASCIMENTO
- A DATA DE NASCIMENTO
- DATA DA MORTE DE CARLOS MAGNO
- OS MARCOS SIMBÓLICOS QUE SE PODEM OBSERVAR DURANTE A CANONIZAÇÃO DE CARLOS MAGNO
- SÃO CARLOS MAGNO E SÃO CARLOS BORROMEU
- CARLOS MAGNO E AS APARIÇÕES DE LOURDES
- CARLOS MAGNO E A APARIÇÃO DE PONTMAIN
INTRODUÇÃO
Pelo título, já se pode prever que se trata de algumas considerações na ordem do SIMBOLISMO HISTÓRICO com correspondências de lugares, datas e liturgia. Correspondências que, bem interpretadas, evidenciam uma LÓGICA PROVIDENCIAL, um plano providencial que se desenrola inexoravelmente, majestosamente.
Começaremos por uma introdução que conterá evidentemente algumas generalidades e definições das quais não podemos prescindir. Tentaremos torná-las o menos abstratas possível. Após as poucas generalidades indispensáveis, nossa exposição compreenderá três partes:
- 1º - numa primeira parte, examinaremos os MARCOS SIMBÓLICOS que se apresentam durante a vida de Carlos Magno;
- 2º - numa segunda parte, os de sua CANONIZAÇÃO;
- 3º - numa terceira parte, os VESTÍGIOS SOBRENATURAIS tardios.
GENERALIDADES
O pensamento cristão dispõe, devido ao seu TEOCENTRISMO e, em matéria histórica, mais particularmente, devido ao seu CRISTOCENTRISMO, de um certo número de parâmetros dos quais o pensamento profano não dispõe, precisamente porque não é nem teocrático, nem cristocêntrico. Este patrimônio intelectual do cristianismo, com suas verdades de preceito que constituem o Dogma, mas também com suas verdades de conselho que cercam o Dogma, pronto a nele entrar por um sinal do magistério, aporta ao pensamento cristão elementos de reflexão que pertencem à ordem sobrenatural, ordem essencialmente invisível e insensível que o pensamento simplesmente natural não leva em conta (em suas próprias reflexões), mas da qual o pensamento cristão, por sua vez, leva em conta.
Por exemplo, a erudição profana não conhece a distinção entre a verdadeira e a falsa mística e entre as verdadeiras e as falsas revelações. A erudição profana estuda certamente as revelações do ALÉM quando as encontra. Ela as estuda em seus sintomas PSICOLÓGICOS e em seus efeitos SOCIOLÓGICOS. Mas o faz DE TODAS AS ORIGENS CONFUNDIDAS, isto é, sem emitir um julgamento qualitativo sobre a qualidade divina ou demoníaca, sobre a identidade do ESPÍRITO que é seu inspirador inicial. A erudição profana poderá ser extremamente precisa quanto aos fenômenos que observa e descreve, mas não poderá fazer ressaltar sua natureza seja sobrenatural, divina, seja preternatural, demoníaca. Ela não poderá fazer ressaltar a dimensão sobrenatural da História. E isso porque os critérios de que dispõe ignoram essa distinção.
O PENSAMENTO CRISTÃO, ao contrário,
- pelas instituições espirituais,
- pelas noções espirituais,
- pelas autoridades espirituais, pelas quais é enquadrado, terá os meios de submeter os eventos históricos que estuda a todo um sistema de CRITÉRIOS ESPIRITUAIS que darão relevo a esses eventos históricos, fazendo ressaltar APORTES que vêm do mundo espiritual, seja do mundo dos espíritos fiéis, seja do mundo dos espíritos rebeldes. O Pensamento Cristão se aplica à história do mundo, está em condições de discernir a influência do GOVERNO PROVIDENCIAL, ainda que apenas em certa medida.
Acima da trama material da natureza, o pensamento cristão sabe discernir todo um bordado que a atividade da GRAÇA vem aí sobrepor. Bordado que é até mais definitivo que a própria trama natural, pois subsistirá quando "as coisas antigas tiverem passado", como está escrito no Apocalipse (XXI, 4).
É esta VISÃO CRISTÃ que vamos aplicar à observação do reinado de CARLOS MAGNO, esforçando-nos por fazer ressaltar
- os SÍMBOLOS HISTÓRICOS,
- as MARCAS DIVINAS, que nele se manifestaram e que a história profana ignora porque não tem os meios de discerni-las.
OS MARCOS SIMBÓLICOS DURANTE A VIDA DE CARLOS MAGNO
Veremos primeiro os sinais divinos:
- que estão contidos em sua GENEALOGIA,
- em seu NOME,
- em seu LOCAL DE NASCIMENTO,
- em sua DATA DE NASCIMENTO,
- nas circunstâncias de sua MORTE.
A GENEALOGIA
Comecemos pela genealogia de Carlos Magno. Para maior clareza, partiremos de sua pessoa e remontaremos sua ascendência. CARLOS MAGNO era filho de Pepino, o Breve. PEPINO, O BREVE era filho de Carlos Martel. CARLOS MARTEL era filho de Pepino de Herstal. PEPINO DE HERSTAL era, por seu pai ANSÉGISE, neto de São ARNULFO.
São Arnulfo é o personagem mais antigo conhecido desta LINHAGEM Carolíngia. Quem era então São Arnulfo? São Arnulfo descendia de Clóvis por sua mãe Blitilde, que era filha de Clotário II. Ele havia primeiramente exercido grandes cargos na corte de Teodeberto II, Rei da Austrásia. Casou-se com Santa Dode, filha do Conde de Bolonha, com quem teve dois filhos: ANSÉGISE, pai de Pepino de Herstal, e São CLODULFO. Tendo ficado viúvo, entrou para as ordens e tornou-se BISPO de METZ (611). Finalmente, retirou-se para a solidão em um mosteiro dos Vosges.
ANSÉGISE, filho de São Arnulfo, casou-se com Santa Begga, filha de Pepino de Landen. Santa Begga era irmã de Santa Gertrudes (abadessa de Nivelles em Brabante). Esta Santa Gertrudes, a primeira do nome, não deve ser confundida com Santa Gertrudes Beneditina, que deixou o famoso "Livro das Revelações" e que é uma ilustre mística do século XIV. Anségise foi o pai de Pepino de Herstal.
PEPINO DE HERSTAL era neto de Pepino de Landen por sua mãe Santa Begga. Teve como filho Carlos Martel.
CARLOS MARTEL teve 3 filhos: o mais velho, o bem-aventurado Carlomano, depois Pepino, o Breve, depois o caçula São Remy, arcebispo de Rouen. Ele era ao mesmo tempo (como seu pai) prefeito do palácio da Austrásia e prefeito do palácio da Nêustria.
PEPINO, O BREVE tornou-se Rei da França (o primeiro da dinastia Carolíngia). Foi sagrado duas vezes (Davi o foi 3 vezes): 1º por São Bonifácio (apóstolo dos Germanos em Soissons) 2º pelo Papa Estêvão II em Saint-Denis, perto de Paris. Pepino, o Breve teve 3 filhos: O mais velho, Carlomano (a não confundir com o Bem-aventurado Carlomano, monge em Monte Cassino, que era o irmão mais velho de Pepino, o Breve), depois Carlos Magno, depois Santa Isberga.
Tive diante dos olhos uma recensão que registra cerca de TRINTA santos e santas. É preciso notar que este parentesco de santos e santas que cerca Carlos Magno em seu berço manifestou-se durante o período MEROVÍNGIO, período pelo qual os historiadores profanos só têm desprezo. Este período merovíngio durou, ainda assim, 250 anos (496 a 754 – 2ª sagração de Pepino, o Breve). Não conheceu uma única heresia desde a derrota de Alarico III, Rei dos Visigodos arianos, em Vouillé.
Este período terminou com os Reis "Indolentes" [Fainéants], dos quais se fala tão mal. Se eles eram "Indolentes" é porque:
- não eram ambiciosos,
- não eram déspotas,
- não esmagavam seus súditos sob impostos.
Seus jugos eram suaves e seus fardos leves como os de N.S.J.C. [Nosso Senhor Jesus Cristo].
Eis o que se pode dizer da GENEALOGIA de CARLOS MAGNO.
Ele pertence a uma família real que já havia tomado parte preponderante na CONSOLIDAÇÃO das INSTITUIÇÕES CRISTÃS na Gália Romana. E isso não obstante as apreciações pejorativas de quase todos os historiadores para quem os primeiros príncipes cristãos mal haviam saído da barbárie, da animalidade.
Até aqui, não encontramos simbolismo histórico verdadeiramente excepcional. Apenas observamos uma preparação atávica e um ambiente cristão particularmente cuidado. Vamos agora examinar particularidades mais propriamente sobrenaturais e simbólicas que estão incluídas sucessivamente:
- no NOME de Carlos Magno,
- em seu LOCAL de nascimento,
- em sua DATA de nascimento,
- na DATA de sua morte.
O NOME DE CARLOS MAGNO
A Providência estabelece harmonias e correspondências entre o nome e a pessoa que o porta,
- harmonias quase imperceptíveis quando se trata de um homem comum;
- harmonias mais fáceis de notar quando se trata de um homem público destinado a atrair olhares.
O VERBO permanece o Mestre da Linguagem.
O nome de Carlos Magno pode ser interpretado de duas maneiras, dependendo se tomamos por base sua forma latina CAROLUS ou sua forma germânica KARL.
Vejamos primeiro o nome latino de Carlos Magno: CAROLUS. Qualquer que seja a etimologia gramatical que se atribua a este nome, pode-se sempre considerá-lo como um FONEMA que desperta, por sua simples sonoridade, duas ideias: CARO: que significa CARNE, LUX: que significa LUZ.
Assim decomposto e interpretado, este fonema CAROLUS evoca invencivelmente a ENCARNAÇÃO. A ENCARNAÇÃO tornou VISÍVEL o que é INVISÍVEL. A Encarnação trouxe à luz física o que é, por si só, invisível. Por trás de JESUS CRISTO que vemos, está O PAI que não vemos. "Quem me vê, vê também o Pai".
Deus atribuiu o NOME de CAROLUS a Carlos Magno porque o inclinava de antemão:
- a "encarnar",
- a "concretizar",
- a "institucionalizar" a Religião Daquele que é Invisível.
A Providência dava a Carlos Magno, ao mesmo tempo que este nome, um TALENTO de MATERIALIZAR as coisas da Fé. Reencontraremos este talento em exercício na obra de CAROLUS MAGNUS, "Iluminador Temporal", fundador:
- das instituições feudais,
- das instituições escolares.
Vejamos agora o nome germânico de Carlos Magno: KARL.
É a transposição da raiz europeia KER que tem o sentido de CURVATURA. De KER vêm palavras como círculo [cercle], cérebro [cerveau].
Este sentido de CURVATURA será utilizado, em duas direções diferentes, para designar:
- seja uma CIRCUNVALAÇÃO, uma muralha circular,
- seja uma COROA. No sentido de "Muralha Circular", KER se reencontra em muitos nomes bretões de cidades, por exemplo Kergonan, Kernevel, Kersaint... Os léxicos especializados atribuem a mesma etimologia ao nome do Cairo e de Kairouan.
Em resumo, o radical KER significa Lugar Fortificado [Place Forte], e dado a uma pessoa, este nome significa o Forte, o Vigoroso. KARL significa VIGOROSO.
Inútil ressaltar que Carlos Magno foi precisamente um modelo de ENERGIA. No sentido de "Coroa", KER (em língua germânica Karl) deu palavras como Cervo [Cerf]. O Cervo é um animal portador de coroa. Seus chifres formam arcos acima de sua cabeça.
KARL estava predestinado à Coroa.
Mas não é proibido levar a análise simbólica ainda mais longe. O CERVO, modelo do animal coroado, é, na Escritura, o símbolo do HOMEM ESPIRITUAL e, mais especialmente, do homem tornado espiritual pelas águas do Batismo. Durante a bênção das Fontes Batismais, canta-se o Salmo XLI (42): "Quemadmodum desiderat CERVUS ad fontes aquarum". (Como o cervo anseia pelas fontes de água)
Ora, vemos bem, na história de seu reinado, que o CERVO (KARL) de que nos ocupamos foi verdadeiramente um Apóstolo do Batismo. Ele fez batizar nações inteiras. O Batismo era frequentemente o único TRIBUTO que exigia de seus vencidos. Isso foi particularmente espetacular com os Saxões, que se fizeram batizar sem reclamar, muito contentes por se safarem a tão bom preço e que, finalmente, se deram muito bem com isso - e a tranquilidade do império cristão também. "Tu que dás as águas aos que têm sede Abre, pois, a rocha pelo ferro. Tu que purificas as nações pelo Batismo Derrama sobre nós uma fonte viva."
Tais são as reflexões simbólicas que pode sugerir a meditação dos nomes latinos e germânicos de Carlos Magno:
CAROLUS: ele traz à luz física o que é por si só invisível KARL: Vigoroso, Coroado (cervo)
O LOCAL DE NASCIMENTO
Carlos Magno nasceu em INGELHEIM (na margem esquerda - portanto, na margem Oeste do Reno, um pouco abaixo de Mainz [Mayence]). Ingelheim interpreta-se: DOMICÍLIO DOS ANJOS (É, portanto, uma palavra construída como ANGOULÊME).
Ora, os ANJOS são MENSAGEIROS DA PAZ Gloria in excelsis Deo et in terra Pax hominibus
Ora, Carlos Magno, nascido no "Domicílio dos Anjos", foi precisamente chamado O IMPERADOR PACÍFICO. Este qualificativo pode parecer surpreendente para designar um PRÍNCIPE que empreendeu nada menos que 50 expedições militares. E, no entanto, é totalmente justificado porque o Reinado de Carlos Magno não conta nenhuma guerra entre Cristãos. Carlos Magno fez apenas expedições exteriores que devem ser chamadas de CRUZADAS:
- cruzadas contra os sarracenos,
- cruzadas contra os saxões.
1- Os Saxões sitiavam a pequena fortaleza de FRITZLAR, onde Carlos Magno se havia entrincheirado com um contingente bastante pequeno. Durante o confronto da guarnição carolíngia, Carlos Magno foi favorecido por uma aparição de ANJOS no momento preciso em que os Saxões, apavorados, começaram a fugir.
2- Outra aparição também deve ser creditada à familiaridade de Carlos Magno com os Anjos: ele teve um dia uma aparição de São Salve, que era precisamente bispo de Angoulême, que é o Ingelheim da Aquitânia.
Todas essas aproximações relativas ao local de nascimento de Carlos Magno formam um feixe coerente. É a Sociedade dos Anjos que fez dele O IMPERADOR PACÍFICO, PACIFICADOR.
Carlos Magno foi elevado ao Império em Roma, em 25 de dezembro de 800, portanto, no aniversário do nascimento temporal do Redentor. E o Martirológio romano, que relata esta solenidade, acrescenta uma constatação de ordem geral: "TODA A TERRA GOZANDO DE UMA GRANDE PAZ".
Esta expressão faz pensar na paz de Augusto que acompanhou o Advento da Humildade (a Natividade).
A DATA DE NASCIMENTO
Carlos Magno nasceu na segunda-feira de Páscoa, 2 de abril de 742. Carlos Magno nos aparecerá como LEGISLADOR. Examinemos a liturgia deste dia que já era, naquela época, posterior à Reforma Gregoriana, tal como ainda é hoje. Vamos encontrar nela expressões que convêm especialmente ao LEGISLADOR que Carlos Magno deveria ser.
Vejamos primeiro o INTRÓITO, depois o EVANGELHO.
Intróito do Dia do Nascimento de Carlos Magno. O Intróito contém esta frase: "LEX DOMINI SEMPER SIT IN ORE VESTRO" (Que a Lei do Senhor esteja sempre em vossos lábios).
Tal foi o desejo que a Igreja formava sobre o Berço da criança que acabava de nascer. E, de fato, Carlos Magno fixou em:
- os Capitulares,
- e os Livros Carolíngios, as grandes linhas da LEGISLAÇÃO CRISTÃ. Ainda hoje os CAPITULARES são reproduzidos na PATROLOGIA LATINA DE MIGNE.
Evangelho do Dia do Nascimento de Carlos Magno. É o Evangelho dos PEREGRINOS DE EMAÚS.
Quando Nosso Senhor, a caminho, empreende explicar a Escritura Santa aos Peregrinos, por onde começa Ele? "Et incipiens a Moyses..." (E começando por Moisés...)
Ele começa, portanto, pelo Legislador do Antigo Testamento. Eis ainda uma particularidade litúrgica que confirma, em Carlos Magno, o Legislador.
LEGISLADOR, ele o foi, não somente pelos CAPITULARES, mas pela ESCOLÁSTICA que organizou e estimulou em toda a Cristandade. Tão bem que Carlos Magno foi nomeado O PAI DA ESCOLÁSTICA.
O Ensino cristão contemporâneo é muito ingrato para com Carlos Magno. Talvez fosse menos imprudente se se referisse mais oficialmente ao seu patronato. É curioso constatar que um Grande Liceu Estatal de Paris ainda está sob o nome de Carlos Magno e que nenhuma escola livre pensou em tomar seu nome e, portanto, em invocar sua intercessão, a qual é certamente muito eficaz.
Em resumo, Carlos Magno, nascido em 2 de abril de 742, deveria ser um LEGISLADOR
- Lex domini in ore vestro
- Incipiens a Moyses
- os Capitulares (ao nível dos DOUTORES)
- a Escolástica
DATA DA MORTE DE CARLOS MAGNO
Carlos Magno morreu em 28 de janeiro de 814. Era o sábado da 3ª semana após a Epifania.
Já notamos que Carlos Magno nasceu no tempo Pascal, sob a luz recém-acesa do Círio Pascal, fazendo dele um iluminador da Cristandade, por instituições materiais (não por pregações).
Ele morreu durante o tempo da EPIFANIA, tempo durante o qual a Igreja celebra a luz manifestada às Nações, a Luz reservada até então ao Povo eleito e que doravante se espalhará sobre as Nações da Gentilidade pagã.
Precisemos isso: o Evangelho do sábado da 3ª semana da Epifania (dia da morte de Carlos Magno) contém estas palavras:
"Muitos virão do Oriente e do Ocidente e terão lugar com Abraão, Isaac e Jacó, no Reino dos Céus". (Mt 8, 11)
A quem estas palavras poderiam se aplicar melhor do que ao Imperador Carlos Magno, graças a quem precisamente muitos vieram do Ocidente para tomar lugar, com Abraão, Isaac e Jacó, no Reino dos Céus?
A liturgia do dia de sua morte é o RESUMO de seus TRABALHOS APOSTÓLICOS em sua competência real e imperial. (Trata-se de dar à Fé instituições permanentes)
Mas o SIMBOLISMO do dia de sua morte não para aí. Ele continua sempre com o mesmo significado.
Carlos Magno morreu em seu 72º ano. Qual é o sentido do número 72? 72 é o número dos discípulos. E por que há 72 discípulos? Porque há 72 Nações. O Plano de Deus sobre a Gentilidade comporta 72 Nações. O Povo Eleito é dividido em 12 Tribos. A Gentilidade é dividida em 72 Nações. As 72 Nações aparecem no momento da Dispersão pós-Babel. O texto do Gênesis enumera os 72 patriarcas que foram os ancestrais das 72 Nações da Gentilidade¹.
E N.S.J.C. designou 12 Apóstolos para as 12 Tribos, 72 Discípulos para as 72 Nações.
Certamente o MALIGNO, o DESTRUIDOR DAS NAÇÕES, perturbou posteriormente esta ORDENANÇA (ou melhor, acreditou perturbá-la).
É impressionante constatar que o Imperador que fundou as primícias da Cristandade, isto é, da GENTILIDADE CRISTÃ, tenha precisamente recebido a COROA DE GLÓRIA em seu 72º ano.
Acabamos de ver o SIMBOLISMO que está incluído:
- no NOME de Carlos Magno que faz dele um CERVO COROADO: ILUMINADOR
- em seu LOCAL de nascimento que faz dele um IMPERADOR PACÍFICO
- na DATA de seu nascimento que faz dele o LEGISLADOR da feudalidade e o PAI da ESCOLÁSTICA
- na data de sua MORTE:
"...muitos virão do Oriente e do Ocidente para tomar lugar com Abraão, Isaac e Jacó no Reino dos Céus".
Antes de abordar outra série de HARMONIAS PROVIDENCIAIS, tiremos primeiro uma pequena conclusão destes quatro primeiros parágrafos.
Vimos que o nome de Carlos Magno tem dois significados diferentes dependendo se escolhemos sua forma latina ou sua forma germânica. Em sua forma LATINA - CAROLUS -, ele evoca uma ideia de LUZ. Corresponde, consequentemente, ao ESPÍRITO DE CIÊNCIA.
- a SABEDORIA une,
- a INTELIGÊNCIA distingue,
- a CIÊNCIA explica; ela dá uma explicação, uma justificação, portanto ela ILUMINA o entendimento. A Ciência nos ilumina sobre O QUE É O SERVIÇO DE DEUS.
Carlos Magno recebeu, portanto, um PRIMEIRO ESPÍRITO: O ESPÍRITO DE CIÊNCIA.
Em sua forma GERMÂNICA, o nome de Carlos Magno - KARL, evoca uma ideia de FORÇA. O espírito de força nos faz OPERAR o Serviço de Deus que a Ciência nos faz conhecer.
Para operar o Serviço de Deus, é preciso ter primeiro o CONHECIMENTO deste Serviço e, em seguida, a FORÇA de REALIZÁ-LO.
Carlos Magno é animado por estes DOIS ESPÍRITOS:
- o espírito de CIÊNCIA, segundo o qual ele é o PAI DA ESCOLÁSTICA;
- o espírito de FORÇA, segundo o qual ele é o IMPERADOR PACÍFICO, pois para manter a paz um Rei deve ser FORTE material e moralmente.
São precisamente esses dois espíritos - de ciência e de força - que se pede a Deus na oração chamada "ORAÇÃO DOS FRANCOS", que se encontra em certos missais do século VIII (anos 700), mas que certamente estava em uso no tempo de Carlos Magno. Esta oração dos Francos é uma extrapolação da Oração do Domingo na Oitava da Epifania - que ainda temos em nossos missais. Eis o texto:
"Acolhei, Senhor, com bondade, os votos de Vosso povo em oração, dando a cada um de VER o que deve fazer e a FORÇA de poder realizá-lo".
Desta oração, nossos antepassados das épocas merovíngia e carolíngia haviam tirado a "Oração dita dos Francos", que não está, ainda hoje, desprovida de poder:
"Deus Todo-Poderoso e Eterno, que, para servir de instrumento à Vossa divina vontade no mundo, e para o triunfo e a defesa de Vossa Santa Igreja, estabelecestes o império dos Francos, iluminai sempre e em toda parte seus filhos com Vossas divinas luzes, a fim de que vejam o que devem fazer para estabelecer Vosso reino no mundo e que, perseverando na caridade e na força, realizem o que tiverem visto que deviam fazer". Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei da França. Assim seja.
Este texto serve de conclusão à primeira série de harmonias providenciais que são observáveis DURANTE O CURSO do Reinado de Carlos Magno.
O Selo da predileção divina será colocado nas circunstâncias que acompanham SUA CANONIZAÇÃO.
¹ "Houve por muito tempo 72 cardeais na Igreja. Havia 72 famílias no povo de Israel. Há 72 línguas no mundo". Abbé Maistre, Histoire des 72 disciples, p. 9.
OS MARCOS SIMBÓLICOS QUE SE PODEM OBSERVAR DURANTE A CANONIZAÇÃO DE CARLOS MAGNO
A simples palavra CANONIZAÇÃO de Carlos Magno é suficiente para surpreender. O imperador do Ocidente, segundo os historiadores oficiais, teria sido um personagem de grande destaque, mas não particularmente mergulhado em devoção. Geralmente, mencionam-se os nomes de suas sucessivas esposas e de suas concubinas.
Gostaria, portanto, de lhes dar algumas explicações sobre dois termos que se encontram fatalmente quando se leem textos da época, retranscritos nas histórias modernas, romanceadas ou não. São os dois termos de:
- MANZER
- e de CONCUBINAS
Vejamos, então, o significado real dessas duas palavras: concubinas e manzer, nos textos antigos.
CONCUBINAS Na Antiguidade romana e até os Carolíngios, chamava-se concubina uma esposa perfeitamente legítima do ponto de vista das leis civis e religiosas, direito imperial, direito canônico, mas que não era de nascimento igual. Podia ser, no entanto, uma filha nobre. Mas se um FILHO DE REI desposasse uma mulher que não fosse FILHA DE REI - fosse essa mulher nobre ou não - ela era chamada "CONCUBINA".
MANZER O termo "manzer" é de origem hebraica. Era empregado, entre os Latinos, para designar os filhos das concubinas. Hoje em dia, traduz-se frequentemente MANZER por BASTARDO, dando-lhe assim a conotação de ILEGITIMIDADE. É um erro. Uma criança "manzer" não é "ilegítima", pois a "concubina" não é uma mulher ilegítima.
Vamos dar alguns exemplos.
- CARLOS MARTEL era filho de uma Concubina, pois sua mãe não era de posição igual à de seu pai. Ele era, portanto, MANZER, mas não BASTARDO.
- SANTA HELENA, mãe de Constantino, é chamada "concubina" de Constâncio Cloro porque ela não era Romana (ela era da Bitínia, Ponto Euxino). Ela havia desposado Constâncio Cloro quando ele ainda era apenas oficial da guarda pretoriana. Quando Constâncio Cloro ascendeu ao Império, ele repudiou Santa Helena porque ela não era Romana, o que não impediu seu filho Constantino de ascender ao Império, proclamado Imperador pelas tropas da Grã-Bretanha, da Gália e da Espanha.
O sentido dessas duas palavras, Manzer e Concubina, deve ser conhecido quando se lê a história de Carlos Magno. Dom Guéranger interessou-se muito pela questão das CONCUBINAS de Carlos Magno. Ele mostrou que ele havia ficado viúvo várias vezes e que havia se casado novamente várias vezes.
O que é certo é que Carlos Magno foi CANONIZADO. Sua canonização ocorreu em 29 DE DEZEMBRO de 1166, ou seja, 352 anos após sua morte. Naquela época, as canonizações ainda não haviam sido incluídas entre as CAUSAS MAIORES e, portanto, reservadas à Santa Sé. As canonizações eram realizadas pelos ORDINÁRIOS.
A Canonização de Carlos Magno foi feita por Renaud, arcebispo de Colônia, e Alexandre, bispo de Liège. Eles exumaram e expuseram os ossos de Carlos Magno à veneração dos fiéis. Esse dia, 29 de dezembro, é aquele em que o martirológio romano faz menção a São DAVI, qualificado como "Rei e Profeta".
A coincidência desta canonização e desta festa milita para sugerir:
- que estes dois Reis são revestidos da mesma Realeza,
- e que a realeza franca (francesa) é da mesma NATUREZA SOBRENATURAL que a realeza davídica e que ela toma sua sucessão.
A canonização é em 29 de dezembro, mas a festa de São Carlos Magno foi fixada em 28 de janeiro, dia do aniversário de sua morte.
Veremos que a canonização de 29 de dezembro de 1166 foi marcada por um MILAGRE PÚBLICO extremamente sintomático.
Pode-se ler nos ACTA SANCTORUM, na data de 28 de janeiro, o seguinte:
"Na terceira noite, após a canonização de Carlos Magno (isto é, na noite de 31 de dezembro de 1166 para 1º de janeiro de 1167) TRÊS TOCHAS [FLAMBEAUX], divinamente acesas, apareceram no topo da catedral de Aix-la-Chapelle, onde repousa seu corpo. Brilhantes de uma claridade admirável, estas três tochas foram vistas por uma multidão de pessoas. Estas mesmas tochas, de esplendor celeste, deram três vezes a volta na CRUZ que encima o cume desta igreja. E iluminaram lugares muito distantes em todas as direções". (fim da citação)
Esta passagem dos "Acta Sanctorum" registra, portanto, por três vezes, o número 3:
- a 3ª noite após a canonização,
- as 3 tochas,
- as três voltas descritas pelas tochas.
Como não ver nesses 3 números 3 o símbolo e, portanto, a manifestação da SANTÍSSIMA TRINDADE.
Expliquemos o simbolismo do número NOVE. A Santíssima Trindade pode ser simbolizada numericamente de várias maneiras. Pode-se simbolizá-la pelo 3. Pode-se simbolizá-la pelo 9.
Há DUAS COISAS A SIMBOLIZAR:
- a DISTINÇÃO DAS PESSOAS in Personis Proprietates
- e a UNIDADE DA ESSÊNCIA in Essentia Unitas A Distinção das PESSOAS é simbolizada pela TRÍPLICE REPETIÇÃO de um número. Resta escolher esse número.
A Unidade da ESSÊNCIA será simbolizada adequadamente se o número para a tríplice repetição marcar bem que: UMA PESSOA TEM TANTO QUANTO TRÊS. E este resultado não é obtido com o número 1. Mas é obtido com o número 3. - Um bom simbolismo da Santíssima Trindade é, portanto: 9: 3-3-3. Daí a TRÍPLICE INVOCAÇÃO DO KYRIE. Daí também a hora da morte de Jesus: "e era cerca da 9ª hora".
Pode-se, portanto, bem dizer que naquela noite, 3ª noite após a CANONIZAÇÃO, a Santíssima Trindade se manifestou em favor, em confirmação da FÉ de Carlos Magno. E ela o fez por meio de Tochas [Flambeaux] para bem mostrar que Carlos Magno havia sido um ILUMINADOR (o que já sabíamos por seu nome CAROLUS).
Os ossos de São Carlos Magno se encontram na câmara do TESOURO de Aix-la-Chapelle, ao lado das relíquias das vestes da Santíssima Virgem, os dois relicários estando colocados lado a lado. Nenhuma revolução, nenhuma invasão, profanou nem um nem outro desses dois relicários.
OS VESTÍGIOS ESPIRITUAIS - SOBRENATURAIS DE CARLOS MAGNO na sucessão dos séculos, pois nossas obras nos seguem.
As Obras de Carlos Magno o SEGUIRAM.
- Os VESTÍGIOS HISTÓRICOS de seu reinado são objeto dos livros de História.
- Mas há vestígios SOBRE-HISTÓRICOS, dever-se-ia mesmo dizer SOBRENATURAIS.
São esses vestígios, esses traços sutis que vamos tentar localizar. Contentar-nos-emos evidentemente em tomar alguns exemplos, não podendo esgotar o assunto. E examinaremos sucessivamente:
- Carlos Magno e São Carlos Borromeu;
- Carlos Magno e as aparições de Lourdes;
- Carlos Magno e a aparição de Pontmain.
SÃO CARLOS MAGNO E SÃO CARLOS BORROMEU
A comparação não deixa de ser muito esclarecedora para compreender um e outro santo.
Dois São Carlos:
- o Borromeu
- o Magno.
Esses dois personagens têm entre si AFINIDADES [APPARENTEMENTS] que não carecem de interesse quando se gosta de seguir os caminhos da GRAÇA divina. Eles são AFINS [APPARENTÉS], pelo menos de três maneiras:
- por seu nome,
- por sua fidelidade Romana,
- por seu culto aos Santos.
Por que São Carlos Borromeu se chamou CARLOS?
São CARLOS BORROMEU era filho do Conde de Arona. E o Conde de Arona tinha um suserano que não era outro senão CARLOS QUINTO. Carlos Quinto era suserano de Arona como Duque de Milão.
O nome de CARLOS havia sido dado no Batismo a São Carlos Borromeu em honra ao suserano de seu Pai: Carlos Quinto.
CARLOS QUINTO havia sido batizado Carlos em memória de seu bisavô CARLOS, O TEMERÁRIO, Duque de Borgonha.
Carlos, o Temerário, tinha seu prenome de CARLOS, O BOM, Conde de Flandres.
Quanto a Carlos, o Bom, ele tinha seu prenome de Carlos Magno, que era, naquela época, o único SANTO do Calendário com o nome de Carlos.
Temos aí uma primeira AFINIDADE, um primeiro APADRINHAMENTO do Borromeu pelo Magno.
Uma SEGUNDA AFINIDADE aparece imediatamente. Ela pode parecer um pouco simplista talvez, mas Deus nos ensina mais frequentemente por sinais que são simples e caem sob o sentido.
O BORROMEU e o MAGNO são ambos BONS ROMANOS, como o fonema de "Borromeu" sugere fortemente. [Nota do tradutor: O autor sugere uma ligação fonética entre Borromée e Bon Romain, "Bom Romano"]
- Carlos Magno BOM-ROMANO (Estados da Igreja) Ele o foi pelo cuidado que teve em confirmar a DOAÇÃO DE PEPINO e em CONSOLIDAR ele mesmo o Poder Temporal dos Papas, assegurando-lhe, por longos séculos, o socorro da França.
- São Carlos Borromeu BOM-ROMANO. Ele o foi sendo a ALMA do Concílio de Trento, que restaurou a Sé Romana em toda a sua autoridade: doutrinal - sacramental - disciplinar.
São Carlos Borromeu era bispo de Milão. Mas São Carlos Magno era rei de Milão e havia recebido a Coroa de ferro dos Reis Lombardos (Prego da Cruz).
São Carlos Magno e São Carlos Borromeu têm ainda um ponto em comum, que é o CULTO DOS SANTOS e as Honras Prestadas às Relíquias.
A - São Carlos Borromeu, no Concílio de Trento, demonstrou grande ardor em defender o CULTO DOS SANTOS contra a heresia protestante que proibia esse culto. Pois bem! Todos os Santos lhe renderam a glória que ele lhes havia rendido. São Carlos Borromeu foi canonizado:
- no dia de Todos os Santos;
- e sua festa é celebrada em 4 de novembro, na oitava de Todos os Santos.
B - São Carlos Magno destacou-se muito particularmente por seu CULTO das Relíquias e pelas honras prestadas aos Santos:
- os Livros Carolíngios são dedicados a defender o culto das IMAGENS contra o bispo Félix de Urgel, que renovava a heresia dos iconoclastas;
- Ele enriqueceu muitas Igrejas com Relíquias;
- as Vestes da Santíssima Virgem em Aix-la-Chapelle;
- as Cabeças dos apóstolos, Simão e Judas, em Saint Sernin de Toulouse;
- a descoberta das relíquias de Santa Ana em Apt.
Ele empreendeu campanhas militares para pôr fim a profanações de túmulos de santos, por exemplo em Compostela. Ele também continuava a era das Cruzadas iniciada por seu avô Carlos Martel. Cruzadas cujo apogeu deveria ser a Libertação do Santo Sepulcro.
Assim, o BORROMEU é aparentado ao MAGNO pelo nome, pela boa Romanidade, pelo culto dos Santos.
O Borromeu assumiu, em muitos pontos, a sucessão do Magno, pois as obras de Deus se chamam e se relembram.
CARLOS MAGNO E AS APARIÇÕES DE LOURDES
CARLOS MAGNO E LOURDES
O episódio da TOMADA DE LOURDES por Carlos Magno sobre os Sarracenos é contado em todas as "Histórias de Lourdes".
Carlos Magno sitiava Lourdes, que era mantida pelos Sarracenos. O Emir sarraceno havia se refugiado na pequena fortaleza em ninho de águia, situada sobre um grande rochedo sobranceiro a Lourdes. Cedo ou tarde, ele seria reduzido pela fome. Carlos Magno desejou abreviar as operações. Ele tentou uma última negociação que era apta:
- a levar o emir à resipiscência, poupando seu amor-próprio;
- a levá-lo também a se tornar cristão (a extensão da Religião e a conversão do inimigo sendo sempre o móvel essencial das guerras de Carlos Magno).
Carlos Magno enviou, portanto, Parlamentares encarregados de dizer ao emir:
- que se compreendia que ele não quisesse se render a um Rei da Terra,
- mas que, pelo menos, aceitasse se render à Rainha do Céu, a saber, NOSSA SENHORA DO PUY, que já era honrada sob o nome de NOSSA SENHORA DA FRANÇA e que Carlos Magno declarava expressa e particularmente SUSERANA DE LOURDES.
Se o emir se reconhecesse VASSALO de NOSSA SENHORA DO PUY, Carlos Magno dizia estar pronto para fazer a paz com ele. O Emir aceita a proposta. Ele se declara VASSALO de NOSSA SENHORA DO PUY. Carlos Magno o deixou sair são e salvo da fortaleza. E o Emir se converteu à FÉ CRISTÃ. É para recordar este episódio que as armas de Lourdes ostentam: uma ÁGUIA segurando em seu bico um PEIXE.
- A ÁGUIA: é o imperador Carlos Magno
- O PEIXE: é o emir tornado CRISTÃO e, portanto, passado pelas Águas do BATISMO.
Esta declaração de Soberania de NOSSA SENHORA DO PUY sobre Lourdes não foi uma cerimônia vã e sem consequências. Pelo contrário, foi levada muito a sério. Desde então, no momento de cada mudança de Vassalo, a homenagem feudal era prestada pelo novo vassalo sob a forma de uma taxa paga pelo novo Senhor de Lourdes a NOSSA SENHORA DO PUY.
Aqui façamos uma observação:
- para mostrar as AFINIDADES de Carlos Magno com NOSSA SENHORA DO PUY,
- e para explicar por que ele escolheu NOSSA SENHORA DO PUY para ser Suserana de Lourdes.
De fato, a velha BASÍLICA de NOSSA SENHORA DO PUY possui duas CARACTERÍSTICAS que explicam (e anunciam) essa afinidade e essa suserania:
- A Basílica do Puy é elevada sobre o Monte ANIS. ANIS, cujo anagrama forma SINAI e que lembra o legislador Moisés. Compreende-se a afinidade de Carlos Magno, Legislador Cristão, por NOSSA-SENHORA-DO-MONTE-ANIS.
- A Basílica do Puy é chamada "A CÂMARA DOS ANJOS" após um milagre durante o qual a Basílica foi objeto de uma conservação pelos ANJOS. Aí ainda a afinidade de Carlos Magno se explica, ou melhor, o caminho do GOVERNO PROVIDENCIAL se explica, quando nos lembramos "que Carlos Magno viu a luz em Ingelheim" ou "Domicílio dos Anjos".
Após esta observação, façamos outra que confirmará ainda mais o PATRONATO DE CARLOS MAGNO sobre LOURDES: durante os meses que precederam as Aparições de Lourdes em 1858, a pequena Bernadette Soubirous não morava em Lourdes, ela morava em BARTRÈS.
Pois bem, em que dia a pequena Bernadette veio de Bartrès para Lourdes? Foi em 28 de janeiro de 1858, dia de São Carlos Magno, ou seja, 15 dias antes da primeira aparição. Pode-se dizer que foi Carlos Magno quem trouxe Bernadette a Lourdes. Se não há aí a marca de um desígnio providencial, onde poderíamos encontrá-la?
Em resumo, não há dúvida de que a Santíssima Virgem apareceu em Lourdes porque Ela estava EM SUA CASA [CHEZ ELLE]. E Ela estava em sua casa devido ao zelo cristão de Carlos Magno e devido à EFICÁCIA com a qual ele havia sido investido para espalhar e consolidar o Cristianismo no Ocidente.
CARLOS MAGNO E A APARIÇÃO DE PONTMAIN
A Aparição de Pontmain ocorreu em 17 de janeiro de 1871. Carlos Magno não lhe é estranho. E veremos que encontramos seu rastro preciso:
- na TOPOGRAFIA;
- na data do EVENTO.
1 - O RASTRO TOPOGRÁFICO de Carlos Magno:
Antes de evidenciá-lo, é preciso entregar-se a algumas reflexões na ordem da tática militar. Estamos em 1871, uma parte do exército francês já capitulou em SEDAN, em 2 de setembro de 1870, outra parte capitulou em METZ, em 27 de outubro de 1870.
Entre essas duas datas, situa-se a entrada dos Piemonteses em Roma pela Porta Pia, em 20 de setembro de 1870. É o fim da independência territorial da Santa Sé. É o fim do regime criado por Pepino, o Breve, e Carlos Magno pela criação do ESTADO PONTIFÍCIO.
Nas semanas que se seguem a esta capitulação, no Oeste da França, nos arredores de LE MANS, o exército do general Chanzy, o único que resta, acaba de ser abalado e recuou para a margem DIREITA do Mayenne, que corre de Norte a Sul, dirigindo-se para ANGERS. Chanzy coloca, portanto, o Mayenne entre os Alemães e ele. Chanzy deixa apenas uma Divisão em LAVAL como cabeça de ponte para impedir os Alemães de atravessar a ponte de Laval sobre o Mayenne. Mas ele não tem recursos para guardar as passagens que ficam ao Sul de Laval. As tropas alemãs, em seu avanço para o Oeste, apresentam-se na margem esquerda do Mayenne, ou seja, na margem LESTE. Em LAVAL, elas se chocam com a Divisão deixada por Chanzy, em "Cabeça de Ponte", que lhes proíbe a passagem. A precaução mais elementar teria sido, para os Alemães, ir tatear as passagens do Mayenne que ficam ao Sul de Laval e que precisamente não estavam guardadas. Assim, todo o dispositivo francês, estabelecido por Chanzy na margem OESTE do Mayenne, teria sido contornado. O exército de Chanzy (já muito abalado em Le Mans) teria sido envolvido. Teria sido uma TERCEIRA CAPITULAÇÃO (após a de Sedan e de Metz). Os Alemães teriam terminado a guerra em APOTEOSE.
Só que - Carlos Magno velava.
De fato, a primeira passagem que se encontra ao Sul de Laval, não guarnecida pelos Franceses e, portanto, absolutamente livre, é a passagem de VILLIERS-CHARLEMAGNE, a única comuna da França que leva o nome de CARLOS MAGNO, e isso desde os tempos mais remotos.
E como esse nome de "Carlos Magno" havia sido dado a esta ponte de Villiers sobre o Mayenne?
Encontram-se os dois nomes juntos nos documentos do século XI. Trata-se, verossimilmente, de um ESTACIONAMENTO PROLONGADO de Carlos Magno neste local, seja na ida, seja no retorno de uma peregrinação que ele fez ao Monte Saint-Michel. Pois Carlos Magno havia reconhecido oficialmente o PATRONATO de São Miguel sobre a França e havia aposto sua imagem em seus estandartes.
O que é certo é que, em 1871, a inteligência tática dos Alemães foi cegada e eles nem sequer tentaram a passagem de Villiers-Charlemagne. Estávamos por volta de 15 de janeiro de 1871. A Aparição de Pontmain ocorreu em 17 de janeiro.
A Santíssima Virgem disse às crianças BARBEDETTE:
"Rezai meus filhos, Meu Filho se deixa tocar".
Este evento sobrenatural é unanimemente considerado como tendo protegido a França de um novo desastre militar e trazido o fim da guerra.
Para isso, ela havia se servido do Ministério de Carlos Magno. Carlos Magno havia deixado seu rastro no SOLO. Veremos que ele o havia deixado também no CALENDÁRIO.
2 - RASTROS DE CARLOS MAGNO no CALENDÁRIO dos EVENTOS de PONTMAIN
A Aparição ocorre em 17 de janeiro de 1871, entre 6 e 9 horas da noite, nas primeiras vésperas da Cátedra de São Pedro em Roma.
Somos bem forçados a fazer a aproximação destas PRIMEIRAS VÉSPERAS com o que havia acontecido alguns dias antes: A ABOLIÇÃO da DOAÇÃO de Carlos Magno.
A Santíssima Virgem aparece em traje de ADVOGADA porque se trata de pleitear uma CAUSA DESESPERADA.
Pois bem, a intercessão de Carlos Magno não pode ser negada, pois o ARMISTÍCIO FRANCO-ALEMÃO interveio 11 dias depois, em 28 de janeiro de 1871, dia em que, em Aix-la-Chapelle, se festejava São Carlos Magno.
Concluiremos fazendo notar que o SIMBOLISMO HISTÓRICO ao qual acabamos de nos entregar é totalmente UNIVERSAL. Mas é preciso saber que:
- para ser aplicado com felicidade,
- para ser demonstrativo, esse simbolismo exige MUITO CUIDADO. Não só ele exige MUITO CUIDADO, mas também comporta PERIGOS.
Notemos, entre outros: não se deve cair nos exageros inadmissíveis de JOAQUIM DE FIORE sobre as 3 idades do Pai, do Filho, do Espírito Santo; não se deve também abusar das APROPRIAÇÕES.
Mediante um comportamento PRUDENTE, este tipo de especulações é benéfico. Para a França, por exemplo, somos validamente admitidos a reconhecer no Reinado de Clóvis um reflexo mais particular do PAI CRIADOR.
No Reinado de Carlos Magno, um reflexo mais particular do VERBO ILUMINADOR.
No Reinado de São Luís, um reflexo mais particular do ESPÍRITO SANTO SANTIFICADOR.
Essas considerações simbólicas são mais esclarecedoras e nutritivas do que se pensa. Elas confirmam a posteriori a origem divina da INSTITUIÇÃO REAL que começou nas fontes batismais de Reims na noite de Natal de 496.
É nessa origem que sentimos os eflúvios com tanto mais acuidade quanto mais dela estamos privados, que nos faz amar essa instituição e que nos faz desejar sua RESSURREIÇÃO. É essa mesma origem divina que faz detestar em bloco todo o Antigo Regime pelas gentes da Contra-Igreja.
E na própria época da Idade Média, os felizes súditos desses Príncipes merovíngios, carolíngios e capetíngios, que haviam tão valentemente combatido para libertar o SANTO SEPULCRO das mãos dos infiéis, como haviam tão frequentemente contribuído para libertar o túmulo dos santos Apóstolos Pedro e Paulo em Roma das mãos dos ímpios, mereciam bem ouvir dirigir-se a eles, em sua última hora, as palavras que lhes abriam as portas da Jerusalém Celeste.
"Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos foi preparado desde o começo do mundo, porque estive PRESO e viestes Me ver..."
JEAN VAQUIÉ Universidade Saint-Grégoire de Lyon, 8 de janeiro de 1990