CAPÍTULO V - O SIMBOLISMO METAFÍSICO DA CRUZ
O "Simbolismo da Cruz" de René Guénon é um livro que deve ser lido várias vezes para ser plenamente compreendido. Uma leitura superficial não é suficiente para assimilar a demonstração muito elaborada que ele contém. Sem dúvida, o pensamento expresso é lógico e homogêneo, mas a linguagem não é clara. O autor não define claramente as noções constitutivas de seu raciocínio; intencionalmente ou não, ele desfoca seus contornos e os envolve em neblina. Seu estilo é neutro, geral e abstrato. No entanto, ele sabe manter a mente em uma atitude elevada e proporcionar-lhe uma deliciosa vertigem.
Portanto, é compreensível ter sido cativado inicialmente. Mas também é necessário refletir e não seria bom ficar apenas com uma primeira impressão que, na maioria das vezes, é ao mesmo tempo estranha e agradável. Nosso trabalho será dissipar esse embalo e mostrar as finalidades positivamente heterodoxas das teses de Guénon.
- 1 - A mutação do símbolo cruciforme
- 2 - O simbolismo da natureza
- 3 - A cruz absoluta
- 4 - O homem universal
- 5 - A linha dos marcos
- 6 - A cruz tornada esfera
- 7 - O aprisionamento da cruz
- 8 - A crucificação ideal
1 - A mutação do símbolo cruciforme
No capítulo anterior, resumimos bastante o simbolismo da Cruz cristã, conforme geralmente aceito na Igreja Católica. Hoje, estamos analisando um livro de R. Guénon onde o sentido do símbolo cruciforme é interpretado de maneira completamente diferente.
O livro de René Guénon é intitulado "O Simbolismo da Cruz". Foi publicado em Paris pela Editora Vega em 1931 e teve várias reedições desde então. É o desenvolvimento de uma tese inicial que foi publicada, em uma série de artigos, durante os anos de 1910 e 1911, na revista "A Gnose", revista fundada pelo próprio Guénon. Portanto, trata-se de uma posição já antiga, mas que foi mantida posteriormente e continuou a interessar muitos leitores. É a posição de toda uma escola que ainda a mantém hoje. Portanto, o problema é perfeitamente atual.
O livro é precedido por uma dedicatória muito instrutiva que foi fielmente reproduzida em todas as edições posteriores. Aqui está o texto:
"Ao venerado Sheikh Abder-Rahman Elish El-Kebir, o iluminado, o rei, o do Magrebe, a quem se deve a primeira ideia deste livro. - Cairo, 1329-1349-H".
Esta dedicação já contém dois elementos interessantes. Primeiramente, observamos que "a primeira ideia deste livro é devida" a um dignitário muçulmano. Pois sabemos, além disso, que este Sheikh Elish é aquele que patrocinou a entrada de Guénon na religião de Maomé; ele é, de certa forma, seu padrinho e catequista no Islã.
Em seguida, notamos, no final da dedicação, duas datas no calendário da Hégira. O que significam? O ano 1329-H corresponde aos anos 1911-1912 da era cristã. Foi precisamente em 1912 que R. Guénon ingressou na religião islâmica, recebendo "a Baraka", ou seja, a bênção do Sheikh Elish. E o ano 1349-H corresponde aos anos 1930-1931 da era cristã. É nesse período, estabelecido definitivamente no Cairo, em terra muçulmana, que R. Guénon escreve e conclui o manuscrito do "Simbolismo da Cruz" na versão definitiva que estamos analisando aqui.
Portanto, não há dúvida de que a doutrina que nos será exposta é a professada entre os muçulmanos. E vemos que R. Guénon não esconde sua fonte de inspiração. Ele a menciona, não apenas em sua dedicação, mas também em suas notas de rodapé. Assim, ele cita este juízo expresso por uma grande figura islâmica: "Se os cristãos têm o sinal da cruz, os muçulmanos têm a doutrina."
A opinião de que os Ocidentais em geral e os Cristãos em particular não compreendem seus próprios símbolos é cara a R. Guénon. Ele a expressa desde seu primeiro trabalho, "Introdução Geral ao Estudo das Doutrinas Hindus". Ele diz:
"Ver no símbolo tudo o que ele realmente é, e não apenas sua contingência exterior; é necessário saber ir além da letra para libertar o espírito."
"Ora, é precisamente isso que os ocidentais geralmente não fazem...; a mentalidade ocidental, em sua generalidade, deturpa espontaneamente aqueles que encontra em seu caminho.
"Tomar o próprio símbolo pelo que ele representa, por incapacidade de elevar-se até sua significação puramente intelectual, é, no fundo, a confusão na qual reside a raiz de toda idolatria, no sentido próprio dessa palavra, no sentido que o islamismo lhe dá de maneira especialmente clara.
"O símbolo não passa então de uma 'ídolo', ou seja, de uma imagem vã, e sua preservação é apenas 'superstição' pura, enquanto não encontrar alguém cuja compreensão seja capaz de restituir-lhe o que perdeu, ou pelo menos o que ele não contém mais senão no estado de possibilidade latente". (Introdução ao Estudo das Doutrinas Hindus, 2ª parte, capítulo VII).
É exatamente essa a intenção de R. Guénon em relação ao simbolismo da Cruz: restituir-lhe o que teria perdido devido à incapacidade intelectual, à idolatria e à superstição dos "Ocidentais", ou seja, dos católicos. Ele vai proceder à mutação do símbolo cruciforme. Ele vai devolver a ele o significado original que os cristãos teriam feito perder.
Um de seus comentadores mais confiáveis, Robert Amadou, confirma essa vontade de transformação simbólica que anima R. Guénon. Ele se expressa assim no prefácio da edição de 1957 (Edições 10-18) do "Simbolismo da Cruz":
"Com R. Guénon, que também deseja penetrar no simbolismo da cruz, tudo muda: a perspectiva, o método, as fontes de informação e, ousaria dizer, até mesmo o assunto".
Assim, somos avisados de que vamos interpretar a Cruz de uma maneira que não é cristã. Conhecemos, por outro lado, as disposições de espírito de R. Guénon em relação à nossa religião. Ele quer, frequentemente declara, que suas doutrinas se sobreponham às da Igreja sem se oporem a ela. É por isso que a Cruz cristã será considerada por ele como uma versão particular do símbolo cruciforme universal. Vamos ver precisamente o que essa pretensão vale.
2 - O simbolismo da natureza
A doutrina de que há uma semelhança entre a criação material e a criação espiritual é uma daquelas que a Igreja Católica herdou da Sinagoga dos Judeus. "O que está embaixo é como o que está em cima". A mesma noção também é encontrada em uma expressão cuja origem se perde no horizonte: "O mundo dos corpos é a imagem do mundo dos espíritos". A mais bela dessas formulações é esta: "O céu que vemos é a imagem do céu em que acreditamos".
Há indiscutivelmente uma simetria entre os diversos graus da existência. Por que é assim? O simbolismo da natureza decorre da harmonia que Deus estabelece entre as diversas partes de Suas obras. As obras de Deus se chamam e se recordam. A Igreja Católica é particularmente consciente dessa harmonia, pois a considera uma das provas naturais da existência de Deus. Entre as criaturas, aquela que melhor manifesta a correspondência do que está embaixo com o que está em cima é o homem, criado precisamente à imagem e semelhança de Deus.
No livro que desejamos analisar, R. Guénon aplica esse princípio do simbolismo universal. Ele escreve, por exemplo: "Toda a natureza é o símbolo das realidades transcendentes" (Capítulo IV). Nada é mais exato. E se discordamos dele, certamente não é do princípio em si. Mas é da maneira como ele o aplica.
É uma doutrina perfeitamente correta a do simbolismo da natureza. O universo é de fato um livro que devemos ler. A criação é o símbolo do pensamento do Criador.
Desde a mais remota antiguidade, os homens tentam resumir este imenso símbolo por meio de sinais gráficos simples que esquematizam a harmonia universal, ou seja, a semelhança do que está embaixo com o que está em cima. E a esses sinais também foi dado o mesmo nome de símbolos. Eles reúnem, de fato, um significado "inferior" e um significado "superior", destacando sua harmonia.
Os mais conhecidos desses símbolos gráficos são o Tai-ki dos chineses, que é um disco bicolor associando os dois princípios Yin e Yang, o Selo de Salomão formado por dois triângulos contrários, e a Árvore sefirótica imaginada pelos judeus da Diáspora.
Muitos autores, incluindo R. Guénon, incluem o símbolo cruciforme entre esses gráficos de síntese destinados a resumir tanto Deus quanto o universo. E de fato, não se pode contestar a antiguidade desse símbolo cruciforme. No entanto, também não se pode contestar duas importantes características. Primeiro, sua distribuição é muito dispersa. A cruz pré-cristã não foi monopolizada por nenhuma religião específica e é encontrada em vários países, figurando entre outros emblemas.
E então, os exemplares que foram descobertos são raros. Três historiadores da antiguidade, R. Christinger, J. Eracle e P. Solier, em um trabalho coletivo, "A Cruz Universal", relatam alguns exemplares na Ásia, no Egito e no México. Mas enfim, não se pode dizer que o símbolo cruciforme tenha sido realmente muito difundido antes do Cristianismo. Essa disseminação e essa raridade demandariam uma interpretação sobre a qual talvez possamos voltar ocasionalmente.
É precisamente este símbolo cruciforme que R. Guénon vai estudar, de forma abstrata e sem atribuir-lhe uma idade. Ele vai examiná-lo sob todos os ângulos e mostrar que este emblema destaca particularmente bem a harmonia que existe entre as camadas inferiores e superiores da hierarquia dos seres. Da nossa parte, observaremos que durante sua análise, Guénon substitui a Cruz histórica de Nosso Senhor por uma cruz dita metafísica, que não é um enriquecimento como ele declara, mas sim um incontestável empobrecimento.
3 - A cruz absoluta
René Guénon vai meditar sobre a cruz para descobrir seu significado profundo. Em uma única figura, ele observa - e com razão - que ela resume dois termos simétricos que são, por um lado, toda a natureza física e, por outro lado, as realidades transcendentes. Vamos examinar sucessivamente cada um dos dois termos do símbolo cruciforme de acordo com a interpretação de Guénon. Primeiro, vamos ver como a cruz representa, segundo ele, toda a natureza física; então, veremos o que ele entende por "realidades transcendentes".
Para representar o universo, ele considera que não podemos nos contentar com a Cruz histórica de Jesus Cristo porque ela é contingente e, sendo uma figura plana, não abarca todas as dimensões do cosmos. É necessário uma cruz "no espaço".
"O simbolismo das direções do espaço é exatamente aquele que teremos que aplicar no que se segue... A cruz tridimensional constitui, de acordo com a linguagem geométrica, um sistema de coordenadas ao qual todo o espaço pode ser relacionado; e o espaço simbolizará aqui o conjunto de todas as possibilidades, seja de um ser particular, seja da Existência Universal." (Capítulo IV)
Esta é a cruz sobre a qual a meditação de Guénon se concentrará daqui para frente: um sistema de coordenadas tridimensionais. Ele a chama de cruz absoluta, sugerindo assim que a Cruz de Nosso Senhor é uma "cruz relativa", e observando que o símbolo cruciforme transformado dessa forma possui uma compreensão muito mais ampla do que a cruz plana do Cristianismo. Uma compreensão mais ampla não apenas no espaço, mas também no tempo.
De fato, as três dimensões - altura, comprimento e largura - imediatamente dão origem a seis direções: para cima, para baixo, para a direita, para a esquerda, para frente e para trás. Se, a uma distância igual do centro, marcarmos um ponto esquemático em cada uma dessas três direções, obteremos seis pontos equidistantes de um sétimo ponto central. Os seis pontos representam os seis dias da criação, e o sétimo ponto, no centro, representa o dia de descanso do Criador. Assim, a cruz "no espaço" resume o septenário do tempo, ou seja, a Obra dos Seis Dias completada pelo dia do Sabbat.
Aqui, Guénon não despreza a ajuda de são Clemente de Alexandria, já que ela vai, por enquanto, na mesma direção que a dele:
"De Deus, Coração do universo, partem as extensões indefinidas que se dirigem, uma para cima, outra para baixo, uma para a direita, outra para a esquerda, uma para a frente e outra para trás. Direcionando Seu olhar para essas seis extensões como se fossem sempre um número igual, Deus completa o mundo. Ele é o começo e o fim, o alfa e o ômega; Nele se completam as seis fases do tempo, e é Dele que elas recebem sua extensão indefinida: é o segredo do número sete" (São Clemente de Alexandria).
São Clemente apenas expressa aqui uma verdade cosmológica evidente ao notar que o universo se estende segundo os quatro pontos cardeais complementados pela dimensão vertical. E ele estabelece uma relação entre essa disposição geral do mundo e o pensamento divino. É inegável que encontramos, no universo, uma geometria cruciforme, ou seja, uma geometria tridimensional. Na mente divina, houve "uma ideia de cruz", durante a criação do mundo, conforme estabelecido no espaço e no tempo.
Nesse sentido, a cruz absoluta e metafísica é um bom resumo do universo. Mas ela não nos tira da ordem da natureza. Se a transcende, é mais como uma extensão segundo o mesmo padrão. Ela não a transcende, a estende. Ela não a contém, a perpetua.
Não podemos continuar nossa análise sem observar que agora estamos diante de duas cruzes diferentes: a Cruz simples de Nosso Senhor, que está "no plano", e a chamada cruz "absoluta", que está "no espaço" e pode ser considerada como um múltiplo da cruz simples. Qual das duas é primordial no pensamento divino? A cruz absoluta de R. Guénon ou a cruz simples do Calvário? Qual delas vai simbolizar mais precisamente os três grandes mistérios da Santíssima Trindade, da Encarnação e da Redenção? Qual delas é "o sinal do Filho do Homem"?
A cruz metafísica é capaz de simbolizar o mistério da Santíssima Trindade? Ela não é totalmente inadequada para isso, uma vez que possui três dimensões; no entanto, as posições relativas do Filho e do Espírito Santo não são exatas. Ao contrário, a cruz histórica de Jesus é um símbolo trinitário perfeito. O Pai é representado pelo braço superior. O Filho, que assumiu sua substância da terra, é representado pelo braço inferior, plantado na terra. E o Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, é representado pelo braço horizontal, que ocupa precisamente uma posição intermediária. É esse símbolo trinitário, assim perfeitamente realizado, que reproduzimos quando traçamos o Sinal da Cruz.
A cruz metafísica de R. Guénon é capaz de representar o mistério da Encarnação? Ela representa corretamente o espaço e o tempo do universo no qual o Verbo deve descer; também simboliza algumas abstrações metafísicas como, por exemplo, a união dos complementares. Mas sua significância termina aí; ela representa corretamente apenas as coisas da natureza. Porque é uma figura rotativa, sendo fixada apenas arbitrariamente pelas convenções humanas que determinam o norte; portanto, ela permanece como um símbolo giratório, assim como o cata-vento do qual ela tem forma; podemos transformá-la em uma esfera, como veremos em breve; ela continua sendo um símbolo indiferenciado e é por sua plasticidade que R. Guénon a aprecia. Em resumo, a cruz metafísica é um bom resumo da natureza física e de suas extensões filosóficas. Mas não se deve pedir a ela que lembre a ordem da Graça.
Assim que tentamos fazê-la simbolizar a Encarnação, percebemos sua incapacidade: a terra é representada na cruz tridimensional pelo plano horizontal formado pelos pontos cardeais, enquanto o Logos é representado pelo braço vertical da cruz. É a travessia do plano horizontal pela barra vertical que simboliza a Encarnação; o elemento divino é uma linha e o elemento humano é um plano.
A Cruz histórica de Nosso Senhor figura o mistério da Encarnação de uma maneira muito mais simples, homogênea e magistral, pela interseção dos dois únicos ramos: o vertical representa a natureza divina e o horizontal, a natureza humana. Além disso, é a presença do Homem-Deus na Cruz que lhe confere sua orientação. Esta orientação não é mais uma questão de convenções humanas, mas decorre da escolha divina. A Cruz histórica não é um símbolo que pode ser variado à vontade; não é giratória e indiferenciada; apresenta uma frente e um verso, uma direita e uma esquerda, à imagem do Verbo Encarnado. É Ele quem dá sentido a toda a criação, um "sentido" que a cruz absoluta é incapaz de representar.
A cruz metafísica guenoniana é capaz de simbolizar o mistério da Redenção? Basta observar a cruz tridimensional para fazer uma constatação crucial; ela é inadequada para a crucificação. É impossível pregar um crucificado nos ângulos de um gibão desse tipo; é uma disposição que não convém para isso. Para poder fixá-lo na madeira, é necessário primeiro reconstituir uma superfície plana e, portanto, se livrar completamente de uma das duas dimensões horizontais: a parte da frente porque atrapalha a fixação, e a parte de trás porque não tem mais utilidade nem sentido simbólico. Finalmente, reconstituímos a cruz simples e plana do Calvário.
Se, apesar de tudo, quisermos usar a cruz absoluta para realizar um sacrifício redentor, somos obrigados a subjugar a vítima com cordas, seja nos ângulos, seja em um dos ramos. Mas então, estamos realizando uma pendura. Acabam-se as Cinco Chagas, acaba-se o Precioso Sangue.
Poder-se-á objetar que é possível, em última análise, realizar um sacrifício sem derramamento de sangue, uma vez que é a morte da vítima que é oblata e propiciatória. Mas mesmo nessa hipótese extrema, a cruz absoluta não serve. Em qual das quatro forcas vamos pendurar a vítima? Qual delas tem precedência? Para nos livrarmos do dilema, escolheremos a solução de pendurar quatro vítimas, até mesmo devemos dizer, quatro avatares. E se quisermos apenas uma, não precisamos de quatro forcas. Decididamente, a cruz absoluta não quer um Redentor.
Mas o sistema filosófico e religioso de R. Guénon também não precisa de um Redentor. Ele não o inclui, e a cruz absoluta até mesmo o livra de uma preocupação incômoda.
Agora, medimos a distância que separa a Cruz histórica do divino Mestre, simples de forma e rica de significado, da cruz metafísica giratória e indiferenciada de nosso filósofo. Essa distância aumentará ainda mais quando testemunharmos as mutações da cruz absoluta.
4 - O homem universal
Acabamos de ver que a cruz absoluta resume o universo visível. Segundo o princípio geral do simbolismo, ela também deve representar uma realidade transcendente. Essa realidade transcendente, Guénon nos diz, é "O homem universal". Aqui está a definição que ele dá:
"É o ser total, incondicionado e transcendente em relação a todos os modos particulares e determinados de existência, e até mesmo em relação à Existência pura e simples, ser total que designamos simbolicamente como o homem universal".
Ele ainda dá uma definição mais sucinta:
"O homem universal é o princípio de toda a manifestação" (cap. II).
Ele observa que essa expressão de Homem Universal é usada especialmente no Islã. Mas a própria noção é encontrada, em várias formas, em outras religiões. Por exemplo, entre os cabalistas da Diáspora, ele é chamado de Adam-Kadmon; nas doutrinas do Extremo Oriente, ele é encontrado como Wang, o rei; entre os cristãos, ele diz, é o logos.
O leitor apressado, que não terá tempo para aprofundar, ficará tranquilizado por esta definição na qual ele pensará reconhecer os traços essenciais do Verbo Encarnado, que de fato é o arquétipo da humanidade. Ele dirá a si mesmo que Guénon não se afasta fundamentalmente do cristianismo. E ele continuará sua leitura sem desconfiança. Ele aceitará uma doutrina que lhe é apresentada com grande habilidade, mas que é, no entanto, muito diferente daquela da Igreja.
O Homem universal, nos diz Guénon, é o princípio da manifestação. Essa essência de todas as coisas, ele também a chama de Eu universal. E ele adiciona que cada homem, tomado individualmente, participa dessa essência universal e possui, portanto, "o Eu" em si mesmo pessoalmente: a essência universal está virtualmente presente no âmago de cada homem e constitui sua personalidade.
"O Eu é o princípio transcendente e permanente do qual o ser manifestado, o ser humano, por exemplo, é apenas uma modificação transitória e contingente, modificação que de forma alguma pode afetar o princípio." (Cap. 1).
Assim, cada homem é, em seu âmago, uma modificação transitória do princípio transcendente universal. O princípio transcendente está contido no homem apenas de forma virtual. Ele está mascarado e como que incrustado pelos acidentes contingentes da existência manifestada. E são esses acidentes transitórios que constituem o ego individual de cada um: são os detritos existenciais que formam a individualidade humana.
Podemos resumir essa teoria dizendo que a essência universal está presente no Eu pessoal e que apenas o ego individual pertence à manifestação e à existência.
Assim, possuímos a chave da vida espiritual no sistema de Guénon. Consiste em separar o que é essencial no homem, ou seja, o Eu pessoal, do que é acidental, ou seja, o ego individual. Para isso, o homem deve ser capaz de se reduzir a um estado não transitório, a um estado não manifestado. Esse estado é necessariamente extra-individual, pois o que é individual é precisamente contingente e transitório.
A obtenção desse estado não manifestado e extra-individual é chamada de libertação. Também é chamada de realização.
Como se alcança a libertação ou realização? Isso é alcançado através dos processos de meditação e contemplação, que são chamados de vias metafísicas. Essas vias, ou métodos, são chamadas metafísicas porque levam o homem que as pratica a participar da essência universal que é "metafísica", uma vez que está acima da existência física.
Quando ele é "realizado", o homem pessoal se une ao homem universal e se torna um só com ele. Ele não é mais distinguível, pois é o homem universal que estava virtualmente oculto dentro do homem durante seu estado de individualização. A "libertação" ou "realização" apenas despojou o "eu" da casca do "eu" que o envolvia.
Agora, em posse de seu conceito de Homem Universal (uma noção complexa, aliás, pois engloba tanto o tipo quanto os inúmeros espécimes surgidos do tipo), o autor do Simbolismo da Cruz faz uma constatação de natureza arqueológica:
"A maioria das doutrinas tradicionais simboliza a realização do Homem Universal por um sinal que é em toda parte o mesmo, é o sinal da cruz" (Capítulo III).
De fato, como vimos, podemos admitir a existência de cruzes pré-cristãs em um pequeno número de exemplos. Essas cruzes realmente simbolizavam o Homem Universal na mente dos antigos que as veneravam? Isso é algo a se considerar? Podemos nos perguntar se Guénon não é ele mesmo o inventor dessa interpretação e se ele não aproveitou essa oportunidade para encontrar cruzes religiosas antes da existência do Calvário. De qualquer forma, ele adota a cruz como tendo sido, desde sempre, o símbolo do Homem Universal. Devemos reconhecer, além disso, que certa lógica o apoia, já que o símbolo cruciforme esquematiza, de fato, um homem com os braços estendidos horizontalmente. Como será realizada a incorporação do homem cruciforme com a cruz absoluta? Isso só é possível se o homem que se deseja fazer coincidir com a cruz possuir, como ela, quatro braços. Este é o caso, precisamente, de certas divindades da Índia. Mas Guénon parece não ter se preocupado com essa dificuldade; ele não a menciona. É verdade que ele raciocina no abstrato. Sua cruz absoluta é abstrata porque é um sistema de coordenadas tridimensionais. Quanto ao seu Homem Universal, ele é transcendente. É fácil para duas nuvens se interpenetrarem. No entanto, devemos notar que Guénon sente a necessidade de associar o homem-tipo com a cruz, que se torna assim o símbolo único representando tanto o universo físico quanto o homem metafísico. A cruz absoluta agora pode ter um segundo nome: cruz metafísica.
No entanto, o homem real não se ajusta facilmente à cruz absoluta. Portanto, não é o homem real que será colocado lá. Para proceder a esta adaptação difícil, em outras palavras, para realizar a crucificação ideal do homem-tipo na cruz do Cosmos, R. Guénon os submete a uma série de metamorfoses que os identificarão.
5 - A linha dos marcos
Antes de testemunhar as metamorfoses da cruz metafísica e do homem universal, devemos esclarecer, na penumbra esotérica no meio da qual avançamos, alguns marcos capitais de nossa religião, para não nos perdermos no caminho.
Primeiramente, recordemos que o Princípio Supremo do guenonismo não é Deus. Certamente, ele apresenta alguns caracteres, como a infinitude e a unidade. Mas é um princípio abstrato e não mais o "Deus Vivo" das Escrituras Sagradas. O Princípio Supremo não é bom, não é criador, nem mesmo existente. Ele é, repitamos, a Possibilidade universal. Certamente, a religião de Guénon inclui um deus criador, mas é um deus "contingente", pois pertence ao domínio da existência; Ele é, portanto, já um ser diferenciado; assim, perde a infinitude e a unidade.
A manifestação não é a criação. O universo dito "manifestado", no sistema guenoniano, surge do Princípio supremo por uma sucessão de emanações automáticas. Enquanto a criação do tipo cristão é realizada por Deus ex nihilo. Deus fez o mundo aparecer onde não havia nada. E, consequentemente, a criação permanece eternamente distinta do Criador; ela pode ser "glorificada" posteriormente, mas nunca será totalmente "divinizada". Pode haver fusão com Deus, mas nunca confusão.
Quanto ao Homem Universal, ele é apresentado como o arquétipo da humanidade. Ele ocupa, na metafísica de R. Guénon, uma posição análoga ao Verbo Encarnado em nossa religião. Mas ele é descrito como andrógino, ou seja, como "homem-mulher". Em um próximo capítulo, estudaremos essa noção de androginia e veremos que ela está muito distante das concepções cristãs tradicionais.
A realização, ou "libertação", não é a "visão beatífica". Na doutrina cristã, a visão beatífica é Deus fazendo Sua morada na alma que se esvaziou de si mesma para receber "o Hóspede divino". A realização metafísica, pelo contrário, seria o florescimento de um princípio transcendente já presente no homem desde o nascimento.
Veremos também que os "fins últimos" são muito diferentes nas duas doutrinas. A teoria dos Ciclos prevê um eterno recomeço, ou seja, uma reconstituição periódica do estado primordial por um mecanismo natural e automático. Ela é, portanto, incompatível com a noção cristã do Reino dos Céus, que é a passagem de toda a criação para um estado novo e definitivo, uma passagem que requer uma intervenção divina excepcional.
Se é necessário manter essas distinções e definições em mente, é porque R. Guénon nunca ataca diretamente os dogmas cristãos, de modo que nunca suscita desconfiança em seus leitores, especialmente os leitores apressados que todos nós somos mais ou menos hoje em dia. Ele parece até mesmo, a princípio, adotar os grandes princípios cristãos, mas é para transformá-los depois sob o pretexto de lhes dar um sentido mais profundo.
6 - A cruz tornada esfera
Quando um cristão medita sobre a Cruz, a condição essencial que ele deve respeitar é manter o objeto de sua meditação conforme as Escrituras e a Tradição o apresentam. A Cruz histórica é verdadeiramente um dado da Revelação. As mudanças que a imaginação poderia trazer à cena do Calvário levariam a erros na interpretação simbólica. Não há necessidade de transformar o símbolo para compreendê-lo. Pelo contrário, o mistério da Cruz revela sua substância apenas se respeitarmos suas formas materiais.
Por sua vez, R. Guénon tem diante dos olhos, para meditar, uma cruz que ele mesmo compôs. Ele não está obrigado a respeitar sua forma inicial. E como ela não está carregada de relíquias divinas, humanas e históricas, ele é obrigado a transformá-la para extrair todas as combinações e significados dos quais ela é suscetível.
Não é surpreendente que R. Guénon, como o conhecemos agora, tenha buscado o profundo significado da Cruz nas doutrinas da Índia. As três dimensões da cruz absoluta representam, segundo ele, os três Gunas hindus. Qual definição ele dá para os gunas?
O primeiro é sattwa, que denota "a conformidade com a essência pura do Ser". É a luz do conhecimento e também é a tendência ascendente.
O segundo é rajas, que denota "a expansão do ser em um estado determinado", ou seja, o desenvolvimento de suas possibilidades em certo nível de Existência. É a tendência expansiva em todo o plano horizontal. O terceiro é tamas, que denota a escuridão e a ignorância. É a raiz tenebrosa do ser considerado em seus estados inferiores. É a tendência descendente.
Em resumo: rajas representa as duas dimensões do plano horizontal; sattwa é o eixo ascendente e tamas é o eixo descendente.
R. Guénon conclui essa tripla definição escrevendo:
"Agora podemos ver sem dificuldade a relação de tudo isso com o simbolismo da cruz, seja esse simbolismo considerado do ponto de vista puramente metafísico ou do ponto de vista cosmológico, e seja sua aplicação feita na ordem macrocósmica ou na ordem microcósmica" (Capítulo V).
Observamos imediatamente que ele se contenta em dar à cruz um significado metafísico e um significado cosmológico, mas nem sequer toca no sentido sobrenatural que os cristãos lhe reconhecem. Sua cruz, portanto, é apenas uma extensão ideal da natureza, mas não pertence à ordem da graça.
Então começa a transformação da cruz metafísica. E esta transformação é inspirada, como se poderia esperar, pelo livro sagrado do hinduísmo: o Veda. O Veda ensina que, no princípio, havia "a indiferenciação primordial". Tudo era "tamas", ou seja, escuridão. Mas então o Supremo Brahma ordenou uma mudança. E tamas assumiu a qualidade (ou seja, a natureza) de "rajas", intermediário entre a escuridão e a luz. E rajas, tendo recebido novamente uma ordem, assumiu a qualidade de "sattwa". Assim diz o livro sagrado da Índia.
Essa conversão primordial dos três gunas, R. Guénon vai representar graficamente:
"Se considerarmos a cruz tridimensional como traçada a partir do centro de uma esfera, a conversão de tamas (eixo descendente) em rajas (plano horizontal) pode ser representada como descrevendo a metade inferior da esfera, do polo ao equador. E a conversão de rajas em sattwa (eixo ascendente) como descrevendo a metade superior da esfera, do equador ao outro polo" (Capítulo V).
A cruz absoluta, portanto, se converteu em uma esfera pela rotação dos eixos. Agora, cruz e esfera estarão intimamente ligadas no simbolismo de R. Guénon, e não se saberá mais qual engendra a outra. Uma equivalência acabará sendo estabelecida entre cruz e esfera, que apresentarão, em suma, o mesmo significado simbólico.
Acabamos de criar, diante de nossos olhos, um símbolo complexo que associa a cruz e a esfera. Este símbolo terá pelo menos uma forma fixa e claramente definida? De jeito nenhum, ele permanecerá essencialmente uma noção abstrata. E nos é explicado por quê:
"Para transmitir a ideia de totalidade, a esfera deve ser, além disso, como já dissemos, indefinida, assim como são os eixos que formam a cruz e que são três diâmetros retangulares da esfera" (Capítulo VI). Portanto, vamos construir raciocínios simbólicos sobre uma figura em movimento, pois a esfera está ela mesma em constante expansão indefinida.
"A esfera, sendo constituída pelo próprio raio de seu centro, nunca se fecha, esse raio sendo indefinido e preenchendo todo o espaço por uma série de ondas concêntricas, cada uma reproduzindo as duas fases de concentração e expansão da vibração inicial" (Capítulo VI).
7 - O aprisionamento da cruz
O simbolismo que será exposto daqui em diante é o da cruz tridimensional cercada pela esfera. Em suma, é um novo emblema que poderíamos chamar de cruz-esfera. Ele não exclui a cruz cristã. Ele a preserva, mas a modifica ao implantar um braço adicional e, principalmente, ao circunscrevê-la em um globo, por mais nebuloso que seja. Ela não tem mais seu simbolismo próprio. Agora ela está aprisionada. Algo ainda vago, a esfera indefinida e expansiva, foi sobreposta suavemente à cruz, sem se opor a ela.
Agora vamos passar da cruz para a esfera, às vezes considerando-os separadamente, às vezes observando-os juntos. O que chama a atenção de R. Guénon quando ele observa sua cruz metafísica é que ela é particularmente apta a simbolizar a união dos complementares. Na filosofia hinduísta que ele sempre tem em mente, existem dois complementares típicos e essenciais dos quais todos os outros são derivados por um processo de degradação. Esses dois princípios complementares são "Purusha" e "Prakriti", que ocupam os dois polos da manifestação. O fator ativo da manifestação é Purusha; também é o elemento masculino. R. Guénon atribui a ele, no simbolismo da cruz metafísica, o eixo vertical. O fator passivo universal é Prakriti, também é o elemento feminino. Ele atribui a ela o plano horizontal. A conclusão é óbvia: a interseção desse eixo com esse plano simboliza a união dos complementares. Não discordamos disso; há uma correspondência totalmente exata aqui.
Mas, por outro lado, o cristão que olha para a cruz cristã percebe que seu simbolismo, nesse aspecto também, é muito mais elevado, pois não apenas expõe uma verdade natural ou mesmo metafísica, mas revela um mistério de ordem sobrenatural; revela uma complementaridade na ordem da graça e até na ordem da glória, pois a cruz representa a união da natureza divina com a natureza humana, enquanto Purusha e Prakriti são apenas generalizações metafísicas. Em suma, a cruz cristã realmente contém um simbolismo metafísico, mas esse simbolismo é superado, aqui como sempre, por seu simbolismo sobrenatural. E é precisamente porque é superado que ele se torna evidentemente secundário e tende a ser esquecido.
No entanto, a ambição de R. Guénon não é de forma alguma revitalizar um simbolismo metafísico da cruz que teria sido esquecido ou negligenciado. É subordinar o simbolismo religioso ao simbolismo metafísico. Consiste em afirmar que o significado religioso da cruz é apenas um caso particular de seu vasto significado metafísico. E é a essa pretensão que o cristão absolutamente não pode concordar.
Observemos, de fato, a cruz absoluta sem levar em conta a esfera envolvente. Qual poderia ser seu significado do ponto de vista cristão? É feita de duas cruzes contrapostas e entrelaçadas uma na outra, de duas cruzes que teriam em comum seus eixos verticais. Se convidamos os cristãos a adotar essa cruz dupla, é porque atribuímos a Jesus Cristo uma das duas cruzes. Mas então a quem atribuímos a outra? Nosso Senhor vai compartilhar o lugar com outro crucificado? E quem é esse "colega" que não é nomeado? Esse colega não seria "o adversário"? Há um símbolo absolutamente inaceitável para qualquer cristão minimamente perspicaz. Nosso Deus é um "Deus ciumento" que não compartilha Sua glória: "Não darei a Minha glória a outrem". E o cristão também não está disposto a compartilhar sua adoração, especialmente quando não lhe dizem com quem!
Agora consideremos a cruz absoluta dentro de sua esfera. A "cruz-esfera" é um emblema inaceitável para os cristãos, pois o verdadeiro lugar de Cristo não está dentro da esfera, seja a esfera do universo ou a da terra. A Cruz de Cristo deve, sem dúvida alguma, dominar a esfera. "E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim" (João, XII, 32). Essa atração universal é precisamente uma das operações da Graça e uma das características da ordem sobrenatural. A elevação da terra começou no Calvário e foi completada na Ascensão. Ela deve ser claramente evidenciada no autêntico simbolismo da Cruz.
Decididamente, a cruz absoluta, quer a consideremos sozinha ou envolta em sua esfera, não pode simbolizar, para um cristão, senão a vontade de dar a Cristo um lugar secundário, de dominá-lo e até de aprisioná-lo.
8 - A crucificação ideal
Notamos anteriormente que é impossível pregar um homem real na cruz tridimensionalmente. Mas qual é esse atrativo inconsciente em direção ao Cristianismo que secretamente domina suas mentes e leva R. Guénon e seus inspiradores islâmicos e hindus a imaginar um homem ideal, ainda assim, capaz de ser colocado na prestigiosa cruz?
De qualquer forma, as regras do simbolismo o levam a buscar uma "realidade transcendente" que coincida com a cruz-esfera, resumo do cosmos, e a mostrar, por essa coincidência, a harmonia do que está abaixo com o que está acima.
Essa realidade transcendente, ele já nos descreveu, é o Homem Universal. Esse arquétipo, não sendo mais um homem real, torna-se muito mais maleável e mais fácil de integrar à cruz metafísica.
A cruz metafísica é bipolar, como vimos: ela apresenta um eixo ativo e um plano passivo. Mas precisamente, o homem universal também é ao mesmo tempo ativo e passivo. Pois nos é ensinado que ele é andrógino. Ele é necessariamente ao mesmo tempo homem e mulher, já que é universal, portanto absoluto, portanto recapitulativo. E pelo fato de ser andrógino, o Homem Universal também é, simbolicamente, esférico, como nos será explicado.
"Na totalização do ser, os complementares devem estar em perfeito equilíbrio, sem nenhuma predominância de um sobre o outro. Deve-se notar, além disso, que a esta "andrógine" é geralmente atribuída simbolicamente a forma esférica, que é a menos diferenciada de todas, já que se estende igualmente em todas as direções, e os Pitagóricos a consideravam como a forma mais perfeita e como a figura da totalidade universal" (Cap. VI).
Sendo tanto bipolar (como a cruz absoluta) quanto esférico, o Homem Universal poderá se integrar na cruz esférica e assim realizar a Crucificação Ideal, a "proto-crucificação" metafísica da qual aquela do Calvário será apenas a aplicação em um caso particular. Assim, temos novamente um homem na cruz sem que saibamos ainda muito bem se ele coabita com Nosso Senhor ou se O substitui.
Mas é hora de interromper esses desenvolvimentos, talvez um pouco abstratos. Continuaremos em um próximo capítulo, onde estudaremos essa curiosa noção de androginia, mostrando que ela é totalmente estranha à Tradição Apostólica.