A BATALHA PRELIMINAR
Introdução
Torna-se cada vez mais evidente que a luta contra-revolucionária ocorre em dois níveis.
1. – Primeiro, devemos lutar para conservar as últimas posições que nos restam. É evidente e necessário conservar nossas capelas, nossos poucos mosteiros, nossas escolas, nossas publicações, nossas associações e, mais geralmente, nossas esperanças de salvação e a ortodoxia de nossas doutrinas. Assim, estamos envolvidos em uma série de combates conservadores de pequena amplitude dos quais não podemos nos esquivar.
De fato, encontramos a menção desses combates na própria Escritura. São João Evangelista, sob o ditado de “Aquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas”, ou seja, sob o ditado de Nosso Senhor, dirige-se ao anjo da igreja de Sardes dizendo: “Esto vigilens et confirma cetera quae moritura erant”, o que significa:
“Seja vigilante e mantenha os restos que estavam prestes a perecer” (Apoc. III, 2).
Sabemos que a Igreja de Sardes corresponde ao nosso tempo. Portanto, essa admoestação “mantenha os restos” é dirigida a nós. O céu espera de nós essa salvaguarda dos restos. Isso formula nossa missão. Constitui nosso combate contra-revolucionário diário. Esta é a batalha inferior. É uma batalha defensiva, uma batalha de manutenção.
2. – Mas acima desses inúmeros compromissos conservadores, uma batalha ainda mais importante começou, cujo objetivo é a mudança do poder.
“Eu reinarei apesar dos meus inimigos”. Quem de nós teria esquecido essa promessa lacônica mas formal, que Nosso Senhor fez a Santa Margarida Maria em 1689? Sozinha, ela poderia nos bastar. Mas foi renovada, durante os séculos XIX e XX, a um grande número de místicos, em particular à senhora Royer. E quando se considera que o juramento resulta da repetição da promessa, pode-se afirmar que o reinado do Sagrado Coração nos foi prometido com juramento. Podemos, portanto, estar seguros de que hoje Nosso Senhor opera misteriosamente conforme Seu modo habitual, com o objetivo de extirpar o poder da Besta e instaurar Seu próprio reinado. Essa misteriosa batalha, da qual Ele é o agente essencial, constitui a batalha superior, a do objetivo principal.
Essas duas batalhas respondem, ambas, à Vontade divina. Entende-se que não possamos eludir nenhuma delas.
Elas estão entrelaçadas porque são sustentadas pelos mesmos combatentes, que assim têm duas lutas diferentes a travar. É de suma importância distinguir essas duas lutas, pois não têm o mesmo objetivo e, portanto, não são suscetíveis da mesma estratégia. Em particular, a parte que cabe a Deus e a que cabe aos homens diferem grandemente entre uma batalha e outra.
As incompreensões que se observam entre os líderes dos grupos provêm do fato de que a maioria vê apenas um único combate e confunde os objetivos secundários, que são os da batalha inferior, com o objetivo principal, que é o da batalha superior.
São precisamente as estratégias respectivas desses dois enfrentamentos sobrepostos que gostaríamos de examinar um pouco mais de perto.
1. A Batalha Inferior
Como conduzir a "batalha de manutenção"? Ela apresenta, devido às suas raízes históricas, um certo número de particularidades das quais decorrem, para os líderes de grupos, servidões táticas. Eles não podem se entregar a quaisquer ações. Suas iniciativas são circunscritas a certos limites. Servidões e limites que evocaremos em quatro parágrafos:
1. O dinamismo reacionário fundamental
As verdadeiras forças vitais da França sempre foram antirrevolucionárias. O dom inicial dado ao nosso país foi a monarquia cristã. A república laica é um castigo causado pelos pecados do povo, "propter peccata populi". A tendência espontânea da França não é para a república, mas para a restauração. Nossa Nação deseja, especialmente, retornar ao dom inicial. Esse é seu dinamismo fundamental.
Essa rejeição instintiva da revolução é particularmente perceptível hoje. Estamos assistindo, indiscutivelmente, a um renascimento das forças vitais. De modo que tradicionalistas, constatando a retomada do potencial reacionário, se consideram suficientemente poderosos para enfrentar, com sérias chances de sucesso, provas de força que os colocariam contra o poder revolucionário. E é preciso reconhecer que, em termos absolutos, eles têm razão, pois a reação elementar da nação, quando considerada isoladamente, é um fenômeno poderoso e particularmente atual.
No entanto, nas antípodas dessa corrente fundamental, "o Adversário" teceu uma rede estreita de constrangimentos revolucionários que é totalmente artificial, mas que se impõe de maneira absoluta. O poder legal pertence a essa rede, e ainda mais o "poder oculto" que é seu conhecido inspirador.
A habilidade de nossos políticos, que é considerável, consiste essencialmente em fazer a França votar contra seu dinamismo fundamental. Esse é o principal trabalho deles, e é considerado admirável. A França é como uma montaria dominada por um cavaleiro que só trabalha para exauri-la. Ela não tem mais força para derrubá-lo. Enfim, a energia reacionária sempre renascente do nosso país é constantemente neutralizada, mutilada e invertida. As novas gerações antirrevolucionárias são ceifadas à medida que surgem. E a França avança de purificação em purificação. O "poder da Besta", embora essencialmente utópico por natureza, tornou-se, de fato, irreversível.
O atual aumento do dinamismo reacionário não deve nos iludir. Ele sofrerá o mesmo destino que os anteriores. Está sendo preparada uma nova purificação para ele.
Essa é a primeira particularidade da batalha inferior: saber que ela é travada por uma minoria, vigorosa, é claro, mas humanamente impotente. É bom que os líderes de grupos tomem consciência dessa primeira dificuldade. O dinamismo reacionário fundamental é real, mas é neutralizado por um dispositivo revolucionário praticamente insuperável.
2. A má posição jurídica
Os tradicionalistas têm consciência de defender os direitos de Deus diante do poder da Besta. Eles tiram daí seu ardor e confiança. Mas eles imaginam facilmente que essa posição de princípio lhes confere, sobre o Estado laico, uma preeminência jurídica. Eles descem às ruas brandindo o Decálogo e o Evangelho, acusando o Estado de violá-los. Eles os opõem aos prefeitos, aos governadores e aos ministros, dizendo-lhes:
"É seu dever, pelo direito divino, que está acima de todas as leis humanas, proibir o aborto, a eutanásia, as blasfêmias públicas nos espetáculos, a construção de mesquitas, a naturalização em massa dos muçulmanos... e todas essas coisas execráveis."
Mas como não ver que agora é tarde demais para sustentar tal discurso? Era preciso começar por se opor à laicização constitucional do Estado. Ora, precisamente, essa laicização foi alcançada, em 1958, graças aos votos dos católicos. Foram os católicos que inclinaram a balança para o lado da apostasia definitiva do Estado. Impulsionados por seus bispos, eles próprios manipulados pelo futuro cardeal Villot, então diretor do secretariado do episcopado francês, votaram em massa pela constituição laica que o general De Gaulle lhes propôs. Não é mais a hora de exigir do Estado sem Deus o reconhecimento dos direitos de Deus.
Na luta "dia a dia" que devemos travar, estamos reduzidos aos meios da legalidade laica que, além disso, se tornará cada vez mais rigorosa, reduzindo cada vez mais nossos meios de defesa.
Uma legalidade socialista está sendo estabelecida, na qual os cristãos e seu Deus serão considerados inimigos públicos. É compreensível que tal situação seja exasperante para os tradicionalistas e seus líderes de grupos.
No entanto, se sob o pretexto de fazer valer um direito divino, empreendermos contra o Estado laico uma guerra de princípios, transgrediríamos os limites da batalha inferior para entrar na zona de ação da batalha superior, que envolve uma estratégia diferente, como veremos.
3. A lamparina a ser mantida
A batalha dia a dia não é uma batalha de ruptura. As forças nela envolvidas não têm os meios para uma ruptura. Seu ministério próprio é o de salvaguardar "os restos que estavam prestes a perecer".
É necessário que o Mestre, quando Ele vier, nos encontre "vigilantes". Ele nos pede precisamente para não desaparecer, para não desperdiçar forças e vidas que são Suas e das quais Ele precisará.
Pois os combatentes da batalha inferior, como já observamos, são os mesmos que os da batalha superior, que visa à mudança do poder. Colocados, pela Providência, na charneira das duas fases, eles devem travar duas guerras que são simultâneas no tempo e diferentes quanto aos seus objetivos e estratégias.
Veremos que, na batalha superior, a parte de Deus domina tudo e obscurece totalmente a do homem. Mas vamos concluir daí que essa "parte divina" é negligenciável nos combates conservadores? Certamente que não. Como poderíamos, sem a ajuda do Céu, sem a ajuda dos anjos e dos santos padroeiros, enfrentar as etapas obrigatórias de uma guerra civil e estrangeira que podem ser resumidas em poucas palavras: provocações, desestabilização, reféns, represálias, delação, tribunais populares, tribunais clandestinos, terror político, vinganças pessoais, inflação, falência, anarquia?
Uma das condições essenciais para manter, ao menos, uma humilde lamparina durante este período complexo e severo é a constante elevação do espírito ao Céu, para obter a cada instante as proteções indispensáveis. A parte de Deus, portanto, não é negligenciável nas lutas de manutenção.
4. Uma estratégia de prudência
Em relação à condução da batalha conservadora, duas observações preliminares se impõem:
- essa batalha visa apenas objetivos secundários;
- nenhuma assistência divina excepcional lhe é prometida.
Portanto, a batalha inferior deve ser conduzida segundo os métodos habituais do governo humano. É São Tomás (se nossa memória não nos falha) que nos indicará o essencial dessa conduta.
Conta-se que uma noite ele chegou para passar a noite em um mosteiro onde estava ocorrendo a eleição do Abade. "Elegemos o mais sábio", disseram-lhe. São Tomás objetou:
"Se é o mais sábio, que ele ensine." Os monges repetiram a eleição. "Desta vez, elegemos o mais piedoso." "Se é o mais piedoso", disse ele, "que ele reze." Eles repetiram uma terceira vez. "Elegemos o mais prudente." "Se é o mais prudente, que ele governe."
A batalha conservadora deve ser conduzida com prudência. Ora, o mesmo São Tomás, em outra passagem, aceita, no caso de o povo ser gravemente tiranizado, a possibilidade de uma revolta sob certas condições que se resumem a isto: é necessário que o remédio, ou seja, a revolta, não seja pior do que o mal, ou seja, a tirania. Se a revolta causar mais inconvenientes do que vantagens, ela ultrapassa os limites da prudência e deve-se evitar recorrer a ela para não agravar a situação.
A atividade conservadora pode, em certos momentos, exigir atos de ousadia. A luta dos tradicionalistas já fornece alguns exemplos memoráveis e é provável que forneça outros. Dizemos apenas que esses atos de ousadia não devem ser "golpes de cabeça" e "golpes de sorte" tentados levianamente. Devem conter uma base de reflexão e prudência. Isso é absolutamente incontestável.
Há uma diferença entre a virtude da força, que reside na alma, e a força física. De que nos serve ter a alma cheia de força moral se não temos, nas mãos, nenhuma força material para usar? A virtude da força não nos dá por si só o poder de intervir.
Quando o adversário está no máximo de seu poder e prepara uma nova purificação, o simples bom senso exige que recomendemos, não a inação, é claro, mas, mesmo assim, a prudência.
Conclusão
Acabamos de marcar a diferença entre, por um lado, os objetivos secundários, ou seja, a manutenção das últimas posições tradicionais que constituem o foco da batalha inferior, e, por outro lado, o objetivo principal, a saber, a extirpação do poder da Besta, que é o foco da batalha superior.
Muitos não quererão admitir essa distinção. Eles dirão, e já dizem: "Não há duas batalhas, há apenas uma. A mudança do poder só pode resultar da sucessão de pequenas vitórias elementares da luta dia a dia. Essa mudança é uma questão de longo prazo, nossa recuperação só pode ser muito lenta. É utópico esperar um desfecho abrupto".
Os líderes de grupos que raciocinam assim concentrarão seu esforço principal nos objetivos secundários, precisamente aqueles diante dos quais nossos adversários os esperam, fortalecidos por sua legalidade socialista.
Nossos adversários, de fato, procurarão, como costumam fazer, nos fazer perder a calma e nos levar à violência. E é provável que eles consigam, pelo menos em parte, fazendo assim cair grandes partes da defesa tradicional.
Madame Royer, apóstola da devoção ao Sagrado Coração e alma privilegiada, escreve profeticamente: "Os franceses chegarão aos limites do desespero". Essa expressão mostra bem que ela não prevê uma "lenta recuperação", mas uma sucessão de fracassos.
Esse é o prognóstico, bastante pessimista, é verdade, que se pode fazer em relação à batalha inferior. Vamos ver que o mesmo não se aplica à batalha superior, à qual chegamos agora.
2. A Batalha Superior
1 – Um duplo objetivo
A batalha superior tem um duplo objetivo:
- a extirpação do poder da Besta;
- a restauração do poder de direito divino.
No entanto, este duplo objetivo é radicalmente impossível de ser alcançado pela minoria reacionária atualmente existente, neutralizada que está pelo aparato maçônico.
E no entanto, sabemos, através das promessas feitas pelo Sagrado Coração a Santa Margarida Maria e a tantas outras almas privilegiadas, que esta batalha já está ocorrendo invisivelmente e que está progredindo inexoravelmente em direção ao seu fim vitorioso destinado a ela.
Que sabemos sobre o provável desenrolar desta batalha? Sabemos com certeza duas coisas:
- ela é conduzida pela mesma minoria que já está enfrentando a batalha inferior;
- ela terminará com um milagre de ressurreição.
Vamos examinar, em dois parágrafos, o lugar e o papel respectivos desta minoria e deste milagre.
A – O pequeno número
Aqueles que compreendem o plano de Deus e se esforçam para corresponder a ele formam, concordemos, esse "pequeno número" ao qual Nossa Senhora de La Salette apela quando diz "combatam, filhos da luz, vocês, pequeno número que vê".
Qual é, no plano sobrenatural, o significado desta minoria, e o que podemos esperar dela em nossa luta terrestre?
Deus sempre reserva um "pequeno número" em quem Ele coloca a Fé como reserva. Às vezes, Ele confia isso a apenas um homem. Por exemplo, Moisés tinha apenas seu cajado e sua fé para conduzir os hebreus para fora do Egito. Da mesma forma, Davi tinha apenas sua funda e sua fé para vencer Golias. Da mesma forma, na época da Encarnação, havia apenas uma família perfeita, a Sagrada Família, cujo chefe era São José.
Esta "reserva de fé" sendo estabelecida, Deus só intervém pessoalmente no último minuto, quando toda esperança humana está perdida. É evidente que um "Salvador" só salva quando tudo está perdido.
Para que o desdobramento do poder divino seja manifesto, a "reserva de fé" precisa ser reduzida a quase nada. Mas não deve desaparecer completamente.
Há aqui uma disposição providencial que precisa ser bem compreendida.
Pareceria, no entanto, que se não restasse absolutamente nada, absolutamente nenhuma fé, se Deus não tivesse mais nenhum "testemunho" na terra, Seu poder e Sua vitória seriam mais evidentes cada vez que Ele restaurasse Suas obras arruinadas pela negligência humana.
Mas é preciso entender bem que se Deus preserva uma base ínfima, um único homem, uma família única, um "pequeno número", é porque Ele não está fazendo hoje uma nova criação. Ele realiza Suas obras terrenas com "nada", mas não com o nada. Ele opera com pequenos restos, ou seja, com coisas insignificantes, com "nada" que lembra o nada do qual Ele criou o universo, mas esses "nadas" não são, no entanto, o nada.
Este é o papel sobrenatural do "pequeno número" evocado por Nossa Senhora de La Salette: um resto ínfimo que Deus pretende usar para restaurar o que foi abolido.
Qual é agora o seu valor na luta terrestre? E, antes de mais nada, podemos atribuir a ele um nível quantitativo?
O "pequeno número" do qual estamos falando é simplesmente uma minoria que Deus constitui por Si mesmo e cujo número Ele aumenta ou diminui conforme Lhe convém. Ele recruta essa minoria onde Ele quer e não apenas entre aqueles que se consideram, corretamente ou não, a elite designada.
Deve essa minoria se proibir de qualquer proselitismo para permanecer fechada? Tal restrição seria impossível de realizar e, aliás, não seria desejável. Um proselitismo moderado é necessário. Ele revela uma vitalidade saudável. Apenas é necessário que seja um proselitismo de detecção, limitando-se a descobrir almas já providencialmente preparadas, almas em "harmonia pré-estabelecida". Ele ultrapassaria seus limites normais se se transformasse em propaganda estridente, utilizando meios midiáticos.
Vamos tentar descobrir, tanto quanto possível, o papel do "pequeno número" na batalha superior. Mas entenderemos melhor esse papel após examinarmos em quais condições poderia ocorrer o "milagre da ressurreição" que o pequeno número precisamente deveria invocar.
B – Um milagre de ressurreição
Ao sintetizarmos as profecias privadas que os arquivos religiosos conservaram desde os primórdios da França cristã, rapidamente nos convencemos de que temos o direito de esperar, em favor da antiga monarquia hoje destruída, uma intervenção divina que podemos chamar de um milagre de ressurreição.
Quem, então, está prometido a essa ressurreição?
Primeiramente, é a Realeza abolida há 200 anos. Mas também é a França, que, privada de seu chefe, isto é, de sua cabeça, morreu para a graça como nação. E é ainda a Igreja universal, caída sob o poder de seu adversário e que também se encontra em estado de morte mística.
Para compreender o que deve ocorrer, somos naturalmente levados a nos voltar para a ressurreição-tipo, ou seja, a ressurreição de São Lázaro descrita no Evangelho de São João, capítulo XI. As quatro fases desse evento extraordinário nos sugerirão quais podem ser também as quatro fases da ressurreição da França real.
2 – As quatro fases da ressurreição de Lázaro
Primeira fase
Jesus, sabendo o que deve realizar, avança com deliberada lentidão em direção à casa de Lázaro em Betânia. Ele encontra Marta e imediatamente pergunta sobre seu nível de fé, pois essa é a condição prévia para a ressurreição daquele que acabara de morrer: "Eu sou a ressurreição e a vida... crês tu nisto?" E Marta responde: "Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo".
E ela acredita nisso, não apenas por adesão a uma doutrina magistral, que ainda não existia, mas ela crê por "fé humana", assim como Carlos VII acreditaria nas vozes de Joana d'Arc. Essa ausência de ceticismo em Marta, essa confiança, abre caminho para o exercício do poder divino.
Segunda fase
Jesus, então, estremece novamente em si mesmo e se aproxima do túmulo. Era uma caverna, e uma pedra estava colocada sobre a abertura para fechá-la. Jesus diz: "Tollite lapidem" (tirai a pedra). Esse trabalho, de fato, não é incumbência de Deus, pois está ao alcance da força humana. Por isso, o Verbo Encarnado não se encarrega disso.
Observamos também que a pedra é um obstáculo entre Jesus e o cadáver que Ele pretende trazer de volta à vida. Mais adiante, veremos qual é, na ótica específica de nossa interpretação, o significado desse obstáculo.
Terceira fase
Esta é a fase essencial. Jesus clama com voz forte: "Lázaro, vem para fora" (Lazaro veni foras). Ele faz o que somente Deus pode fazer: ressuscitar um morto. Encontraremos esta fase essencial também no processo de restauração.
Quarta fase
O morto saiu do túmulo, com as mãos e os pés amarrados com faixas, e o seu rosto envolto num sudário. Jesus disse-lhes: "Desatai-o e deixai-o ir" (Solvite eum et sinite abire). Mais uma vez, são os homens que realizam esta ação, pois desatar as faixas não requer a intervenção divina.
Estas são as quatro fases da ressurreição-tipo: "Ego credidi" - "tollite lapidem" - "veni foras" e "solvite eum".
Ao aplicarmos esta distinção quadruplicada, iluminamos os eventos esperados e os tornamos mais compreensíveis. Isto é o que faremos em breve.
Testemunhamos um episódio menos espetacular, mas de significado semelhante, quando Jesus ressuscitou a filha de Jairo, uma menina de doze anos. "Tomando-a pela mão, disse em alta voz: 'Menina, levanta-te!' O espírito dela voltou, ela se levantou imediatamente, e Ele ordenou que lhe dessem comida" (Lucas VIII:54-55).
Neste milagre também observamos a operação divina da ressurreição primeiro. Em seguida, apenas os homens fazem o que lhes compete: alimentar a menina ressuscitada. No milagre da ressurreição de Lázaro, o trabalho de alimentar a menina corresponde ao trabalho de desatar as faixas.
3 – As 4 Fases da Restauração
Ego credidi
Nós não evitaremos o teste preliminar da confiança. Acreditamos que Jesus é capaz de restaurar a monarquia que Ele próprio estabeleceu em Reims no passado? Muitos hoje não acreditam. Mas sempre haverá um "pequeno número" que acreditará. Sobre eles repousa a responsabilidade não de realizar a restauração, mas de torná-la possível, de abrir caminho para ela. Para abrir esse caminho, é preciso começar por crer no poder e na misericórdia do Senhor.
Omnipotens et misericors Dominus
Estamos numa situação muito semelhante à de Marta. Assim como ela, não seguimos uma doutrina magistral, já que a restauração da monarquia não é uma verdade de fé divina. Se acreditamos nisso, é apenas "de fé humana". A Igreja não nos obriga a isso, mas cremos porque provas racionais nos foram fornecidas.
Tollite lapidem
Não haverá intervenção divina antes de remover a pedra. Remover a pedra significa remover o obstáculo que impede Deus de intervir. E esse obstáculo é a insuficiência de nossos desejos e orações.
Como pode ser necessário pedir ao Nosso Senhor, com tanta insistência, por uma intervenção que Ele mesmo nos prometeu e deseja nos conceder? Essa é, no entanto, a economia da Graça, algo que pode surpreender nossa lógica humana.
Para nos ajudar a aceitar essa lógica da graça, observemos que o Verbo Encarnado, para quem o universo foi criado, está sujeito à necessidade de "postular", ou seja, reivindicar sua própria herança. "Postula a me et dabo tibi gentes hereditatem tuam et possessionem tuam terminos terræ" (Pede-Me, e Eu te darei as nações como herança e os confins da terra como tua possessão) (Salmo II, 8). A herança lhe pertence por direito, mas para entrar em posse dela, Ele deve reivindicá-la.
Se o herdeiro de direito deve pedir sua herança, a fortiori nós, que somos tão insignificantes, devemos pedir por uma restauração à qual não temos direito estrito em justiça. Ela nos é prometida, é verdade, mas não nos é devida.
O Messias prometido sempre deve ser desejado. Ele não pode aparecer em um país que lhe manifesta indiferença. Sempre é necessário uma minoria que o espere. Já era necessário desejá-Lo sob o império da antiga lei. A mesma necessidade persiste hoje para nós, que esperamos Sua vinda em majestade: Ele deve ser desejado antes de todos os eventos que são prefigurações de Sua "segunda vinda".
Nas Escrituras, o Verbo Encarnado é frequentemente chamado de o Desejado das nações. Ele deve ser desejado, Ele e todos aqueles que Ele envia "nos tempos determinados", para prefigurá-Lo e prepará-Lo. E o Rei do Sagrado Coração é precisamente um desses.
Assim, Nosso Senhor nos convoca a um verdadeiro ministério de desejo. Ele nos permite participar, de acordo com nosso estado, no governo providencial sobre a cristandade em perigo.
Que atividade este ministério vai exigir de nós? Para abrir caminho à intervenção divina, é necessário que a soma dos desejos tenha atingido sua plenitude. Remover a pedra é eliminar o obstáculo entre Jesus e o cadáver. Portanto, é também cumprir a medida dos desejos e permitir que a ação divina se exerça.
Lazare veni foras
Não há restauração possível sem uma intervenção divina. Não há meio humano de ressuscitar, seja um cadáver de quatro dias, seja uma monarquia abolida há 200 anos e execrada por uma sociedade secreta mundialmente organizada.
Devemos estar bem convencidos de que a ressurreição que esperamos é primeiramente obra de Deus. Ela está destinada a proporcionar a glória de Deus, como já foi o caso na ressurreição de Lázaro: "Esta doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela" (João XI, 4).
Pois Deus é zeloso por Sua glória: "Não darei a minha glória a outrem" (Isaías XLII, 8). Ou ainda, no Deuteronômio V, 3: "Eu sou o Senhor teu Deus, forte e zeloso".
Deus reserva para Si a glória da ressurreição. Portanto, devemos nos humilhar diante d'Ele, para não lhe roubar nada de Sua glória.
Solvite eum
Após a ação de Deus, virá a nossa. Pois a nossa também virá, mas somente depois, como o desembaraço das faixas de Lázaro e como a refeição dada à filha de Jairo.
O que teremos a fazer então? Sem dúvida, muitas coisas. É até provável que 'a colheita seja abundante e os trabalhadores sejam poucos'. Mas as tarefas daquela época, não podemos conhecê-las agora. Estão fechadas nos segredos do futuro. O texto diz apenas: 'Deixai-o ir'. Esta expressão sugere que Deus dará ao Rei do Sagrado Coração uma inspiração em relação às novas circunstâncias. Só precisaremos nos deixar guiar.
Em suma, a 'batalha superior', aquela que tem como objetivo a mudança de poder, é travada apenas por Nosso Senhor. É sua obra pessoal.
E aliás, por quem mais poderia ser executada? De fato, trata-se principalmente de retirar seu poder da Besta, contra a qual o homem é impotente. É necessário ao mesmo tempo proceder como na segunda fundação de uma monarquia de direito divino. Todas causas que só podem ser operadas por Deus.
Contudo, o divino Mestre, como vimos, deseja que o 'pequeno número' intervenha para remover o obstáculo que se opõe à ação divina, e mesmo, até certo ponto, para desencadeá-la.
Demos o nome de 'Batalha preliminar' a todo esse trabalho preparatório. Este trabalho é um verdadeiro combate porque tem uma hostilidade geral a vencer. É esta fase preparatória que gostaríamos de aprofundar agora tanto quanto possível.
3. A Batalha Preliminar
Nossa análise finalmente nos permitiu distinguir três batalhas sobrepostas:
- A da manutenção, que está na base e que chamamos de 'inferior' por esse motivo;
- A da súplica, que chamamos de 'preliminar', pois abre o caminho;
- E finalmente a da mutação, que visa o objetivo principal e é de competência exclusivamente divina.
É a batalha do desejo e da súplica que nos interessa agora, nesta terceira e última parte.
A quem cabe e quem serão os combatentes? Cabe a essa minoria que assume ao mesmo tempo a manutenção. É preciso ser homem de ação para assumir a manutenção e homem de oração para participar da súplica. Conciliar essas duas atitudes é difícil, concordemos.
Já notamos essa característica, essencial do ponto de vista psicológico, pois ela explica as divergências na avaliação das prioridades.
O que devemos privilegiar, a ação ou a oração? Este é um problema que não podemos evitar. Não podemos negar: a situação é tal que está ocorrendo neste momento uma batalha terrestre retardadora, ao mesmo tempo que uma batalha celestial preparatória. E são os mesmos homens que estão envolvidos em ambos os combates.
Este problema da coabitação do agir e do orar no mesmo combatente é resolvido quando lembramos que há um tempo para tudo. Um tempo para a oração, que deve preceder, e um tempo para a ação, que deve seguir. Um tempo para a 'vida oculta' e um tempo para a 'vida pública'.
O que é certo é que a batalha da súplica é reservada ao 'pequeno número' que mantém a fé, não apenas na verdade do dogma, mas também na confiança das promessas de restauração. Esta confiança é necessária, pois o objetivo da súplica é precisamente obter a realização dessas promessas.
Agora, vamos ver contra quem é dirigida esta 'batalha preliminar'. Por mais estranho que pareça, ela é dirigida contra Deus.
É necessário fazer o assalto aos céus. É Deus que devemos persuadir. E é Deus mesmo quem nos deu armas contra Ele. Essas armas são a oração, à qual devemos acrescentar a penitência, que dá asas à oração. Por meio delas, os obstáculos são removidos, a pedra do túmulo é retirada, e a decisão divina de mostrar misericórdia é finalmente tomada.
No entanto, observamos precisamente que esta decisão divina está demorando. O Esposo tarda em vir. Todas as obras de Jesus Cristo na terra, tanto as eclesiásticas quanto as temporais, estão sendo corroídas por dentro. Restam apenas as aparências e, no entanto, por enquanto, Deus não dá sinais claros de indignação. Isso significa que a plenitude dos desejos ainda não alcançou o máximo. Deus espera. A Escritura nos ensina que Ele é 'lento para a ira'.
Os combatentes da batalha preliminar são como as virgens prudentes que colocaram óleo em suas lâmpadas, o óleo da oração que vigia durante a noite. Mas o Esposo ainda tarda em vir porque a intensidade da súplica não é suficiente. Isso é um grave defeito a ser corrigido. Concordamos prontamente que precisamos orar, mas não o fazemos, pelo menos não com a intensidade necessária.
A Igreja nos faz repetir todas as manhãs, aos pés do altar, a invocação: 'Et clamor meus ad te veniat' ('E que meu clamor chegue a ti'). Na verdade, nossa alma deve emitir um verdadeiro 'clamor'. Talvez um clamor coletivo um dia, mas com certeza um clamor individual hoje. No entanto, estamos longe disso. Nos contentamos com um desejo morno. E, nesse sentido, participamos da letargia espiritual geral.
Para romper a abóbada dos céus e fazer descer a potência e a misericórdia divinas, não seremos tratados de forma diferente do Mestre. Pois foi o grito emitido por Nosso Senhor antes de entregar seu espírito que rompeu a abóbada dos céus e fez descer o Espírito Santo cinquenta dias depois. E esse grito foi arrancado pela dor. É temível que nosso clamor só atinja a intensidade necessária quando for arrancado de nós pela dor. No entanto, não tenhamos medo, mantenhamos a confiança. As graças necessárias sempre acompanham as provações.
O estado de extrema angústia em que estamos diante da ruína iminente de todas as obras terrestres de Nosso Senhor Jesus Cristo gera uma verdadeira espiritualidade, isto é, uma forma particular de piedade. Pois nossa alma está ocupada apenas por essa angústia que apaga e supera todos os outros sentimentos. Tornou-se impossível para nós pensar em outra coisa, tal é a magnitude da situação. Deve ter sido também o estado de espírito de Joana d'Arc, que contemplava com tristeza 'a grande piedade do reino da França'.
Qual é o eixo dessa 'espiritualidade de combate'? Em que preocupações e em que esperança principal ela se centraliza? Tudo termina onde tudo começou. Os propósitos do reino muito cristão serão a ampliação da imagem de suas origens. A França e sua realeza terminarão no milagre como começaram. É o duplo zelo de nossa origem e de nosso destino que guiará nossa espiritualidade de combate, nossa devoção especial para tempos de crise.
"Iniquidade inundou a terra, ela é pura iniquidade. Quais santos devemos invocar?" exclama de repente Dom Caliste, no meio de um profundo silêncio, durante um serviço na Abadia de Cluny, em 1751, trinta e oito anos antes da Revolução.
Nós invocaremos os santos de nossas origens e aqueles que a Igreja nos dá como protetores. Eles nos ajudarão a produzir os frutos de seu espírito: São Denis, São Martinho, São Remígio, São Hilário, Santa Clotilde, Santa Genoveva, São Luís, Santa Joana d'Arc, Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, patronos secundários da França.
Nós habitualmente invocaremos os santos anjos. Eles nos comunicarão seu desejo pela manifestação do Verbo Encarnado, que é chamado de 'Desiderium collium aeternorum' (o desejado das colinas eternas). As colinas eternas são os anjos. Eles são chamados de colinas porque são eminências, cumes.
Os anjos são bons guias. Eles não se desviam. Eles não são movidos pelo espírito próprio, mas pelo Espírito Santo. Eles não fazem nada por si mesmos. Eles esperam tudo da impulsão de Deus, dos quais são apenas mensageiros: 'Benedicite Domine omnes angeli ejus – Potentes virtute, qui facitis verbum ejus – ad audiendam vocem sermonum ejus' (Bendizei ao Senhor, todos os seus anjos, poderosos em força, que executam a sua palavra, obedecendo à voz de suas ordens) (Salmo CII, 20). Nada é mais recomendado hoje do que unir nosso desejo ao dos nove coros dos anjos. A união faz a força. Vamos atrai-los para nós.
Como atrair os anjos? Atraímo-los nos assemelhando a eles. Atraímos São Miguel pela humildade, que é sua virtude cardinal.
As devoções mais fortificantes são aquelas dirigidas à Pessoa de Nosso Senhor, a Seu Sagrado Coração, a Seu Precioso Sangue, a Sua Santa Face ('mostrai-nos Vossa Face e seremos salvos'), Sua Sagrada Cabeça como sede da divina Sabedoria. Cada um escolherá a devoção para a qual se sente mais naturalmente inclinado.
O Rei do Universo sempre recomendou que, para alcançá-Lo, passássemos pelo intermédio de Sua Mãe, a qual Ele instituiu como 'Mediadora de todas as graças' e que participa, como Rainha, de Seu governo.
A Virgem Maria é o 'pescoço' que conecta o 'corpo' místico à Sua 'cabeça'. Ela é chamada de 'Torre de Marfim' e 'Torre de Davi' porque o pescoço tem a forma de uma torre. Nos tempos modernos, ela se manifestou a testemunhas escolhidas, mostrando-nos sua preocupação e também sua angústia diante do aumento da iniquidade, cumprindo assim diante de nossos olhos a famosa profecia contida no Cântico dos Cânticos: 'Quæ est ista quæ progreditur quasi aurora consurgens, pulchra ut luna, electa ut sol, terribilis ut castrum acies ordinata?' ('Quem é esta que avança como a aurora, bela como a lua, resplandecente como o sol, terrível como um exército em ordem de batalha?')
Quanto às práticas, podemos identificar três que estão particularmente em harmonia com a 'espiritualidade de crise' que é a nossa: a prática da Hora Santa, a Missa do primeiro sábado do mês e a Comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados do mês.
A Hora Santa foi instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo nas últimas horas de Sua vida terrestre. É realizada na noite de quinta para sexta-feira de cada mês e consiste na meditação da Santa Agonia no Jardim das Oliveiras. Dela se obtém grande força.
A Missa do primeiro sábado do mês foi solicitada pelo Sagrado Coração a Santa Margarida Maria. Ela possui grande eficácia para preparar a consagração da França ao Sagrado Coração, da qual podemos esperar um dilúvio de graças para nosso país.
A Comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados do mês foi solicitada pela Virgem Maria a Lúcia de Fátima. Ela tem o significado de uma reparação e proporciona grandes benefícios espirituais.
Certamente, essas práticas não são fáceis, especialmente para pessoas que estão em atividade profissional. Além disso, é bem conhecido que o demônio se esforça para dificultá-las. Devemos superar essas resistências; elas fazem parte das exigências da guerra santa.
Exerçamos com constância este ministério da súplica e do desejo que nos é sugerido. Isso é o mais útil que podemos fazer, e muito, neste momento. E coloquemo-nos nessa atitude de expectativa que as Escrituras, e em seguida a liturgia, nos pedem tão frequentemente: 'Expectans expectavi Dominum' ('Esperando, eu esperei no Senhor', Salmo XXXIX, 2). De fato, pedimos, e então esperamos 'o tempo determinado'. O próprio silêncio de Deus deve ser adorado, pois tem sua razão de ser que nos escapa.
Três palavras para concluir: CONFIANÇA - CALMA - CONSTÂNCIA.
Jean Vaquié, Novembro de 1989.